O ABISMO…

Amigo Paulo, Olimpíadas à vista, Copa América no feminino, e você mocó? 

Calma cara, não estou ausente, e sim em processo introspectivo, haja vista a mesmice endêmica que se instalou no basquetebol tupiniquim, aspecto este que torna indigesto acompanhá-lo, por mais boa vontade que se tenha para fazê-lo. Porém, por mais uma vez atendo o seu pedido, afinal, são muitos anos de respeitoso e profícuo contato, e que deve ser considerado…

Vamos lá, Copa America, equipe feminina brasileira, assisti os jogos, e francamente continuo não gostando, por um relevante motivo, poucas, muito poucas dominam os fundamentos básicos, porém afogadas pelo sistema único, com passes e muitos passes de contorno da área restritiva, tendo como prioritário objetivo alocar espaços para os arremessos de três pontos, avidamente cobrados pela comentarista Hortência, em detrimento de um eficiente jogo interior, já que possuímos jogadoras altas e razoavelmente aptas na função finalizadora e reboteira, que no confronto com equipes bastante fracas se impõe técnica e taticamente, mas quando frente a equipes mais bem preparadas nos fundamentos, sucumbe irremediavelmente, vide as partidas contra o Canadá e Estados Unidos, sendo esta representada por sua seleção universitária com média de idade de 22 anos. Realmente choca o abismo que separa canadenses e norte americanas das brasileiras no tocante aos fundamentos individuais e coletivos que as separam de nossas esforçadas e talentosas jogadoras, o que nos leva, seguida e insistentemente na cobrança de um preparo centrado no ensino e dura prática nos fundamentos, reservando menos tempo no enfoque sistêmico, pois é sabido desde a criação do grande jogo que uma equipe dominante dos fundamentos tende a superar uma outra que não os tem no mesmo nível, apesar de apresentar uma aparente conhecimento tático…

Que se esfuma no transcorrer da partida, por não apresentar soluções técnicas individuais e coletivas, somente possíveis e factíveis sob o domínio pleno dos fundamentos do grande jogo. Vale sempre lembrar que sem o domínio dos mesmos, nenhum sistema de jogo funcionará com um mínimo de eficiência, já que dependente de bons passes, drible e fintas bem executados, bloqueios e corta luzes eficientes, e acima de tudo, arremessos corretamente executados…

Assim como, pleno posicionamento defensivo, tanto no aspecto individual, como, e principalmente no coletivo, dependentes do pleno conhecimento e domínio do equilíbrio corporal, e gravitacional, elementos decisivos na arte de bem defender…

A quase completa ausência destes conhecimentos por parte de uma jogadora, a situará sempre inferiorizada a uma outra mais preparada, mesmo que esteja situada dentro de um sistema tático tido e havido como de alta eficiência teórica, porém praticamente falho ante a deficiência de jogadoras carentes dos fundamentos básicos na tentativa de exequibilizá-lo, fator que nenhuma prancheta ousa preencher…

Enfim, enquanto continuarmos a perder tempo com discursos táticos em torno de sistematizações de almanaque, modais, repetitivos e estéreis, espelhados em pranchetas impessoais mais estéreis ainda, não evoluiremos, não desenvolveremos melhores jogadoras, criativas e pensantes, e não arremedos de marionetes encordoados de fora para dentro das quadras, como extensões de estrategistas acorrentados a sistemas globalizados e clara e decisivamente corporativados…

Mudanças têm de acontecer, na busca de algo inovador, criativo, e proprietário, elevando o nível do nosso sofrido e decadente basquetebol, pois em caso contrário continuaremos trilhando o penoso e enganoso caminho do “engana que eu gosto” das últimas três décadas…

No masculino, quatro deserções (Didi, Raul, Marcos e Gui), deixam o técnico croata ainda com bons valores para a disputa do pré olímpico, porém com um fator altamente perigoso, uma só vaga em disputa. Croatas, russos, alemães devem ser sérios adversários à pretensão brasileira, ainda mais quando continuamos a professar o sistema único e a mal disfarçada queda pelo “chega e chuta”, tão em voga na liga nacional, sem dúvida alguma a pedra no sapato do Petrovic, além da contumaz fraqueza defensiva de jogadores pouco compromissados  com esse básico fundamento na competição maior do país. Não à toa bradou na imprensa sua exigência no fator defensivo, como ponto fulcral para a campanha classificatória às Olimpíadas…

Bem, caro amigo, são essas as minhas opiniões, sinto que não sejam devidamente otimistas, mas coerente com todo um contexto que venho enfocando a muitos anos, incansável e repetidamente, dentro e fora das quadras, numa epopéia sem fim, mas plena em esperanças em dias melhores…

Amém 

Fotos – Divulgação CBB.



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