PARA ONDE ESTAMOS INDO, E COMO?…

Houve um tempo em que falar de dupla armação soava como uma aberração técnica, como algo inverossímil, ilusório, enganador. Tornei-a verossímil, real, competitiva, e vencedora no Saldanha no NBB2, premiando os mais de 40 anos que a empreguei em todas as equipes que preparei da base ao adulto, no masculino e feminino, e com um insuspeitado acréscimo, três pivôs móveis deslocando-se aleatoriamente pela zona restritiva, em permanente movimentação, acionados pelos dois armadores também em continuas ações fora da mesma, criando pequenos espaços, porém letais pela proximidade da cesta, onde o percentual de acertos sobe exponencialmente, otimizando ofensivas com menos desgaste físico e alta produtividade, em contraponto a sucessão de erros nos longos arremessos, e em penetrações pouco eficientes pela carência nos fundamentos, para de 2 em 2 e 1 em 1 vencer jogos onde devem ser vencidos, pela precisão e inteligência, bem ao contrário do cada vez mais contestado chega e chuta, descerebrado e na maioria das vezes, irresponsável, equivocado pelo brutal glamour midiático de como é reverenciado…

De uma só tacada consegui desenvolver um sistema adequado e eficiente, tanto contra defesas individuais, como as zonais, ajustando somente o ritmo e a velocidade para cada uma delas, sem pedidos de tempo e interferências extra quadra, tão ao gosto dos estrategistas de plantão, absolutamente prontos para incutir suas jogadas de prancheta a qualquer pretexto em que as partidas forem interrompidas, pois necessitam provar eficiência profissional, vastos conhecimentos táticos, retirando e obliterando as oportunidades criativas e ações improvisadas por jogadores se bem ensinados, treinados e preparados com bases sólidas, advindas do competente e basilar treino, para o bem compreender, entender e ler o jogo em sua complexidade e beleza coletiva, onde a criatividade e o improviso consciente atinge seu mais alto patamar, e o mais importante e impactante, criando situações difíceis de serem entendidas e controladas por adversários formatados e padronizados pelo sistema único, o tal made NBA, onde ainda conseguem vencer pelo domínio absoluto dos fundamentos, nosso permanente e até o presente incontornável, tendão de Aquiles…  

Também e paralelamente desenvolvi um sistema defensivo individual baseado na Linha da Bola, com as flutuações lateralizadas, jamais verticalizadas, como são utilizadas pelas equipes brasileiras quando defendem individualmente, e onde as trocas são automáticas, tanto dentro, como fora do perímetro (vejam este jogo lapidar)…

Mas, toda essa estratégia foi desenvolvida tendo como base estrutural o extenso, demorado, detalhado ensino, treinamento e entendimento conceitual da essência do grande jogo, seus fundamentos básicos, sem os quais nada do que criamos, planejamos, pesquisamos e trabalhamos arduamente, exequibilizariam os sistemas propostos, com um grau plenamente aceitável de eficiência…

 Nas divisões de base, dirigindo equipes da Escola Carioca de Basquetebol, Flamengo, Fluminense, Vasco da Gama, Vila Izabel, Olaria, numa época dourada e recheada de grandes clubes e excelentes técnicos, sempre tive muitos deles, inclusive de seleções estaduais e nacionais, nas arquibancadas aos sábados à tarde, nos jogos do Infanto e Juvenís, para testemunharem novas formas de jogar o grande jogo, aceitando-as, ou não, mas sempre debatendo comigo detalhes e concepções das mesmas, numa sadia troca de opiniões e sugestões, pois era sabido de longa data que mesmice e repetição sistemática, jamais faziam parte do meu singular modo de ver, sentir e projetar formas diferenciadas de jogar, dando aos adversários a certeza de que para vencer teriam de se adaptar a uma inusitada, nova e ousada forma de conceber o grande jogo…

Foram muitos anos, décadas de muito trabalho, paralelo ao magistério, do primário à universidade, todos concursados, ministrando cursos aqui e no exterior, palestras, congressos, textos, artigos, encontros técnicos por este imenso, desigual e injusto país, doutorado no exterior com pesquisa experimental em basquetebol, lida lá fora, esnobada aqui em terra tupiniquim, mas cujas definições e conclusões, publicadas neste humilde blog nestes teimosos e desgastantes dezesseis anos, batem recordes de menções e procura, assim como os mais de 1600 artigos técnicos, táticos, didáticos, pedagógicos, administrativos, e de política desportiva, lidos e pesquisados a não mais poder, porém na maioria das vezes negados pelos que os acessam…

No entanto, da minha geração vencedora, fui o único que jamais foi agraciado na condução de uma seleção nacional, mesmo as de base, pelo simples motivo de jamais aceitar me submeter  a interesses confederativos e corporativos de qualquer espécie, mantendo minha sagrada independência e responsabilidade ética e pessoal. Claro que o QI jamais me seria sequer mencionado, pois vem revestido de trocas e escambos, onde as diversas partes se locupletam e prosperam, algo que combato e me enoja…

Então, minha gente basqueteira de verdade (dispenso agregados de última hora), quem de dentro deste coloidal mundinho da bola laranja saberia responder, ou mesmo tentar explicar “ os porquês” de após o excelente trabalho no Saldanha da Gama no NBB2, inovador, diferenciado e de qualidade inquestionável, a ponto de até hoje, onze anos depois daquela competição, continuar sendo copiado ( e mal, via vídeos aqui postados) em suas linhas mestras, sem qualquer menção de autor (somente o Renatinho o mencionou algumas vezes em seus comentários televisivos), e com um punhado de pseudos técnicos a frente de franquias que não são baratas, se repetindo, copiando-se uns aos outros, freneticamente, trocando jogadores (“peças” para eles) para continuarem a se repetir, bramindo pranchetas midiáticas, que de mágicas nada são ou representam, a não ser como vitrine de uma sapiência técnico tática que somente alguns poucos possuem na liga? Alguém saberia a resposta?

Eu as tenho, são tristes e constrangedoras, e acima de tudo, covardes…

Pois muito bem pessoal, creio que posso também exercer o contraditório neste imenso tsunami que vem cercando a nova direção da seleção masculina brasileira, porém com um pequeno preâmbulo, o fato, também inconteste, de que muito que defendo e pus em prática por mais de 50 anos, já conta com novos autores, que vêm utilizando a dupla, e até tripla armação (tapeação bem urdida de trocar inábeis alas por armadores cada vez mais altos), agora rotulados de armadores 2, 3, a fim de qualificar tecnicamente o jogo com melhores fundamentos, mas sem, em hipótese alguma, deixar de utilizar o sistema único made NBA, que agora se insinua como método de preparo de jovens em clubes e escolas nacionais, ousando inclusive, preparar professores e técnicos com seus métodos, avalizados por Cref´ s prontos pra provisionar a todos, numa afronta direta aos cursos superiores de educação física, únicos autorizados por lei federal a licenciar e qualificar professores e técnicos no país, ações estas que sequer encontram guarida no grande país do norte, que tem em suas escolas primárias, secundárias. colégios e universidades, a célula mater de seu poderio desportivo, realidade bem distante da nossa. Pergunta-se então, onde se encontra a ENTB/CBB para suplementar um pouco tanta defasagem, onde? Aliás, seu primeiro coordenador agora é o responsável técnico das seleções nacionais, numa evolução que me dá arrepios, só de pensar nas eternas pesquisas científicas que continuarão a assombrar nosso infeliz basquetebol…

Então, vamos aos fatos – Temos um novo comandante, jovem e profundo conhecedor do grande jogo, discreto, porém ousado e inovador, avesso aos malabarismos e encenações ao lado da quadra, despreocupado com as arbitragens, mas atento aos seus comandados, a tal ponto de exigir liturgicamente – Se estiverem livres, chutem, tendo ou não 2 ou 20 segundos de posse de bola, pois temos jogadores para agir dessa forma – Indo além, por ser recentemente a favor da forma NBA de jogar (se sempre vencem, tem de ser copiados), com defesa forte, rebotes precisos e transições (ainda defendo o termo contra ataque), nada justifica mais o chega e chuta com tais competências, utilizadas e exigidas por ele em suas equipes de clubes, mas que apresentam alguns e insofismáveis problemas, a saber:

– Nossa histórica fragilidade nos fundamentos básicos, que nem ganho de quilos e quilos de massa muscular desfigurando corretos biotipos atléticos, em nome de uma pretensa superioridade física, compensa, numa perda absurda de tempo que deveria ser empregue na aprendizagem das habilidades técnicas, já que ferramental do ato de jogar o grande jogo;

-Flacidez no ato de defender, cujas técnicas individuais são negligenciadas desde a base, originando hábitos posturais e posicionais, onde pretensas defesas zonais criam espaço interesseiro de muitos “formadores”, para a conquista de títulos em categorias em que a prioridade seria o domínio pleno dos fundamentos, principalmente os de defesa;

-A absurda e ilusória aceitação do sistema único, formatado e padronizado entre nós desde a base, com seus falhos e pouco eficientes corta luzes fora do perímetro, o jogo solitário de um dos pivôs, ante o imobilismo de seus companheiros situados para um arremesso de três pontos, além dos permanentes corner players, prontos aos disparos redentores;

-A nova moda dos cinco abertos, espaçados, todos na busca do 1 x 1, ponto crucial para os nossos dribladores, que são quase sempre mono destros, ou limitados na medida em que se aproximam da cesta, restando aos mesmos a volta compulsória da bola para fora do perímetro, objetivando o anseio maior do novo comandante, o arremesso de três, o chega e chuta;

-Perguntado no Podcast Ponte Aérea #185, como deverá jogar a seleção sob o seu comando, respondeu – Sem dúvida alguma, como se joga no basquete mais vencedor da história, o da NBA, justificando com juros o convite que a franquia dos Nets fez a ele e outros muitos treinadores internacionais para lá estagiarem, numa inteligente manobra de preservação mercadológica de seus patrocinadores nos países dos mesmos, assim como o recíproco convite ao Spliter que lá se encontra como um dos assistentes da franquia, mas que muito pouco poderá acrescentar no ensino dos fundamentos, necessidade básica de nossos jogadores, a começar pela ultrapassada posição de pivosão, e no ensino de arremessos, seu ponto mais frágil na carreira profissional, principalmente nos lances livres. O outro assistente premiado, somente agora se inicia na carreira, fato que fala por si mesmo…

-A quase certeza de que está imbuído de uma missão redentora, provar que sua maneira de ver, sentir, treinar e preparar uma equipe nos princípios que defende nos campeonatos nacionais e alguns internacionais seja o mais correto para nos reerguermos do enorme buraco em que nos encontramos, porém com um inquisitivo senão, o fato de que a grande maioria de nossos futuros adversários jogam da mesma forma, num mesmo padrão, com muito poucas exceções, porém possuindo uma enorme vantagem e dianteira pela prática sistemática dos fundamentos, desde suas bases (os argentinos aí do lado não deixam dúvidas), contribuindo decisivamente para melhores atuações no sistema único, fator que nos tem custado derrotas, que os “especialistas” sempre conotam aos “detalhes”…

-Finalmente, com quais jogadores nosso estrategista iniciante poderá contar com a qualificação dos armadores argentinos, americanos, virginianos, na seleção, e que em seu atual clube (do qual não irá se desgarrar como garantia…) contava aos magotes, além de ter sob contrato os melhores 3, 4 e 5 da praça, que no frigir dos ovos, e pelo fato de toda a liga jogar de forma tática idêntica, lhe auferiu títulos e garantias ao pódio maior, a seleção;

-Somente acreditarei nele e seu staff, a partir do momento que mudar o discurso inicial, arregaçar as mangas, e partir para algo que nossos adversários jamais imaginariam poder ocorrer conosco, ao assinar, desenvolver, estudar, pesquisar e aplicar sistemas que realmente inovem, envolvam e enfrentem essa mesmice para lá de endêmica, e que pelo discurso até agora apresentado, corre o sério risco de se perpetuar ad eternum, determinando nossa derradeira pá de cal…

-Assistindo alguns jogos da LNB, com sua média de erros de fundamentos bem acima dos 30 por partida, sua chutação desenfreada nos três pontos, seu posicionamento defensivo equivocado e profundamente falho, apesar de apresentar alguns bons e talentosos jogadores, me provoca imensa tristeza, principalmente por não me ter sido dada a oportunidade técnica, tática, didático pedagógica de continuar a contribuir no processo de melhoria do grande jogo dentro de uma quadra, condição sobejamente provada por toda uma vida voltada a seu estudo e compreensão, mas que os tempos em que vivemos, onde QI´ s vicejam e promovem qualquer um alinhado politicamente, me torna dispensável, menos aqui, neste humilde espaço, onde corporativismo nenhum jamais terá vez, onde democraticamente cedo espaço ao debate, ao contraditório, desde que assinado e autenticado, pois anonimato aqui, simplesmente foi, é e sempre será banido, restando a pergunta final – O que temem, do que tem medo, do inovador, ou da confessa incapacidade de competir contra algo que negam poder existir?…

Que os amados deuses se compadeçam do grande, grandíssimo jogo…

Amém. 

Fotos – Reproduções da TV, divulgação LNB, e arquivo próprio. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.