QUE OS DEUSES NOS AJUDEM…
Somente um tenebroso testemunho visual, que deve ser levado muito a sério, para que eu saísse do voluntário mutismo a que me impus, pela mais absoluta visão de uma hecatombe sistematicamente anunciada, discutida e mais do que confirmada pelos tristes e lamentáveis resultados que nos tem assombrado…
E que testemunho foi esse Paulo? Me argui o exigente amigo que não me dá folga em momento algum, desde o início deste humilde blog vinte anos atrás…
Ora muito bem, vamos aos fatos, direta, lógica e friamente. Comecemos com os números da partida que decidiu o NBB desta temporada, ai estão:
O que eles constatam, senão a definição mais exata de como se encontra o atual, moderno e internacional basquetebol brasileiro, onde as duas equipes finalistas, Flamengo e Franca, convergiram seus arremessos de campo contabilizando ambas 38/58 nos dois pontos, 16/59 nos três pontos ( 16/36 para o Flamengo e 16/22 para o Franca nos dois, e 3/32 e 13/27 respectivamente nos três), acrescidos dos 8/20 e 6/10 nos Lances livres, culminando com 30 erros de fundamentos (11 para o Flamengo e 19 para Franca), apresentando o fato inconteste de que as bolinhas cairam somente para o lado de Franca, que mesmo errando quase o dobro de fundamentos soube vencer a falha contestatoria de seu desgovernado adversário…
Tais números retratam e confirmam a lamentável situação em que se encontra o grande jogo entre nós, onde a enxurrada dos longos arremessos impera intocável, assim como o abandono do jogo interno se torna, a cada temporada, inviável por opção, quando deveria ser prioritário face a boa fornada de bons pivôs que atuam na maioria das equipes intervenientes no NBB, que poderiam ser prodigamente abastecidos pelos inúmeros armadores estrangeiros (com maioria argentina), e uns poucos nacionais ainda existentes, e não transformados em finalizadores, penetradores e gerenciadores de bola, atuando num sistema único, aberto e em luta permanente com exigências táticas vindas dos estrategistas pranchetados e suas predisposições ao livre arbítrio, principalmente por parte dos estrangeiros, criando uma cisão responsável por sérios equívocos entre a manipulação de fora e as ações de dentro da quadra, numa surda disputa do quem é quem no efetivo comando das partidas…
Foi uma disputa entre os dois técnicos, digo, estrategistas assistentes da seleção nacional junto ao agora retornado croata, sendo um deles o técnico que o substituiu em sua primeira experiência no país, ambos profetas do sistema internacional de jogar o grande jogo, onde as ações coletivas sucumbem às ações individuais, decalcadas do modelo NBA, amplamente divulgado, e agora coroado neste jogo final, onde ações coletivas deixaram de existir, frente ao individualismo exacerbado, coroado e entronizado pelas equipes de Dallas e Boston. Por lá o placar passou dos 100 pontos, por aqui não chegou aos 70. Marcou-se melhor? Ou uma das equipes se deixou levar pela possibilidade de que a próxima bolinha cairia, a próxima que não vingava, a próxima, quem sabe a próxima…
Num dos tempos finais o técnico rubro-negro exaltava e conclamava pela possibilidade de que elas cairiam, na medida em que os jogadores acreditassem, e que tentassem sempre, e que abdicassem das penetrações que “não dariam certo”, e que “parassem de inventar”, exatamente as tentativas que seus jogadores buscavam confrontados pelas seguidas perdas nas bolinhas…
Deuses meus, jamais, em tempo algum assim falaria a jogadores, ainda mais se os ensinasse e treinasse exatamente na postura criativa, na exata leitura de jogo frente a situações que nunca são repetidas, e sim adaptadas aos comportamentos táticos defensivos do adversário, utilizando um sistema onde a criação e a inventividade fossem plenamente exercidas, por todos, e não por uns poucos investidos, ou auto investidos em donos do jogo…
https://youtube.com/shorts/LTs7js73ctA?si=_-0xFWLQmhiyTSO1
No terceiro jogo da semifinal entre Franca e Minas, essa equipe atuou com dois armadores e três pivôs, mais alas pivôs pela grande mobilidade, vencendo a partida em Franca, só não o fazendo com mais sobras, pela insistência de um dos pivôs vir para fora do perímetro para arremessar de três pontos. No jogo decisivo, se voltasse a atuar daquela forma, e mantendo o referido pivô mais junto a cesta, poderia vencer a série, mesmo jogando na casa do adversário. Por qual motivo o técnico não repetiu o estratagema? Exatamente, por se apegar ao sistema único, do qual é utente de fé, e não arriscando algo que fugia de seus padrões aferrados ao mesmo…
Voltando ao jogo final, o que constatamos constrangidos, foram as sólidas e estrangulantes amarras que cerceiam o basquetebol brasileiro, transformando-o em um jogo tutelado de fora para dentro da quadra, ao bel comando (ou prazer?) de estrategistas amarrados e manietados a um sistema anacrônico e asfixiante, encordoando jogadores tal qual marionetes, onde jogadas são determinadas e expostas em pranchetas (as tais que “falam”), e comandadas ao lado das quadras, das formas mais exibicionistas, patéticas e constrangedoras possíveis, noves fora as pressões inadmissíveis às arbitragens, num espetáculo pífio e absurdo, mas que cai no gosto televisivo daqueles que nada entendem de um outrora grande, grandíssimo jogo…
Concluindo, esta final do campeonato mais importante do calendário nacional, vitrine da forma que praticamos o grande jogo, espelho para os iniciantes mais jovens, testemunhando uma equipe montada para vencer competições, arremessar 3/32 bolas de três pontos, com a primeira das 3 no terceiro quarto, sem que apresentasse uma saída para o impasse, que quando tentada em quadra pelos jogadores foi admoestada e reprimida num dos tempos pedidos a “não inventar”, quando deveria fazê-lo se fosse treinada de verdade, para ser criativa, e acima de tudo, inovadora e proprietária de um sistema de jogo conceitualmente criativo e inovador, fator básico que não será alcançado na seleção, exatamente porque a mesma espelhará o que aí está escancarado a cores e som estéreo, estratificando e pasteurizando essa forma equivocada de jogar o grande jogo, ofensiva e defensivamente, e principalmente, tratando displicentemente a ferramenta básica para sua prática, desde a formação de base, seus fundamentos…
Mas nem tudo está perdido caros e poucos leitores desse humilde blog, pois temos a suprema alegria de ver sequencialmente, em páginas inteiras a cores, matérias da mais alta qualidade sobre o campeonato feitiche da turma que dirige e se apossou do grande jogo (muito pequeno para todos eles) neste imenso, desigual e injusto país, o da gloriosa NBA, que decididamente se inseriu no cerne da educação desportiva de nossos jovens, que não perdem por esperar, pois a NFL já está em campo…
Viva a educação e o desporto nacional, e que os deuses( já mesmo cansados) nos ajudem.
Fotos e video reproduzidos da TV- Clique duplamente nas fotos para ampliá-las.
Amém.
Em tempo – Parabenizo a equipe de Franca pela conquista do NBB, pois soube aproveitar com competência as fraquezas de seu oponente, um Flamengo tropego e vitima de sua arrogância diretiva. PM.