O TRISTE E LAMENTÁVEL OCASO…
Logo mais à tarde a seleção enfrenta a Alemanha, uma equipe bem estruturada, bem preparada, com uma sólida defesa, e um ataque efetivo dentro e fora do perímetro, ao contrário da equipe francesa que nos venceu, desbalanceada, com seus experientes Gobert e Batum afastados em produtividade e sintonia com o jovem promissor Wembahiama, ainda bastante verde no aspecto coletivo, apesar de sua inegável qualidade técnica e invejável altura. Nossa seleção, num breve e bem situado início de jogo, quando pode contar com seu quinteto ideal, dominou a partida com bastante desenvoltura, liderando o placar em todo o primeiro quarto, durante o qual teve seu ala pivô Caboclo retirado pelo técnico Petrovic ao cometer sua terceira falta pessoal, e o Lucas pela mesma situação, assim como assistirmos constrangidos o enorme desgaste do Huertas em sua solitária função de levador de bola, armador de jogadas interiores, defensor exigido bem acima de suas condições físicas e técnicas, com seus quarenta anos se fazendo presente na dura realidade de um jogo pesado e decisivo…
E não deu outra, quando se fizeram presentes na quadra o Felício, uma antítese do Caboclo, o Yago, claramente fora de seu rítmo e temeroso dos bloqueios em suas costumeiras penetrações, o não lançamento do Raul, ambos vindo de contusões e claramente sem os 100% de condições físicas necessárias a um torneio de tiro curtíssimo, porém mantidos na equipe pelo Petrovic, assim como o João Marcelo, o Felício e o Didi (este que entrou em quadra aos 16,6 seg. do término da partida, sem sequer encostar na bola), todos mantidos como prêmio ao esforço grupal pela classificação na Letônia, mas que de forma alguma deveriam constar do elenco olímpico, que coerentemente pudesse realmente fazer frente aos sérios e duros embates em Paris, pois afinal de contas, uma seleção olímpica tem de ser, obrigatoriamente, constituída pelos melhores doze jogadores do país…
Faltou-nos armadores em plena forma física, técnica e tática, pois o Yago, o Raul e o Benite não estavam claramente naquelas condições, cuja plenitude deveria ter sido a prioridade das prioridades, pois se trata de uma seleção nacional, e não um clube de benfeitorias e capitanias hereditárias, onde somente o George poderia ser considerado em forma, mas que foi sempre preterido pelos demais de sua posição…
Faltou-nos alas pivôs, mais técnicos, mais velozes e flexíveis, fator que expus no artigo anterior, como o Jaú, o Deodato, o Márcio, que acrescentariam energia e velocidade para vencer, pela movimentação constante, uma defesa pesada como a francesa, e quem sabe, pendurando alguns de seus básicos jogadores, muito pouco exigidos por nossa opção pelos arremessos de fora, em vez de um vigoroso e continuado jogo interior, assim como dotaria a seleção de uma contestação mais presente e eficiente, o que não permitiria que um veterano Batum, com os dois pés plantados no solo efetuasse com sucesso as duas bolinhas de três nos minutos finais da partida, quando nos aproximamos em quatro pontos no placar…
Faltou-nos coerência, bom senso, e acima de tudo, comando, de verdade, e não refém de interesses outros que jamais poderiam coexistir com o espírito de uma verdadeira representação desportiva, desprovida de uma competente e lógica convocação, ao largo de picuinhas entre entidades gestoras do grande jogo neste imenso, desigual e profundamente injusto país, numa refrega autofágica, cujas resultados aí estão escancarados na mais importante competição desportiva mundial, as Olimpíadas…
Faltou-nos uma seleção que pudesse atuar sem as oscilações desencadeadas pelas profundas diferenças de capacitação técnico individual, provocando quedas acentuadas e irrecuperáveis no tônus coletivo da equipe, conforme ocorreu na classificação e agora na competição maior, e que irremediavelmente voltará a ocorrer na continuidade da mesma, agora impossível de correção em sua constituição, a não ser que uma reversão sistêmica ocorra no plano de jogo, com a utilização dos atuais jogadores, numa ação que opte por algo diferenciado do que vem ocorrendo, ação de difícil concepção, por conta da incontestável realidade que nos assombra desde sempre…
Então, de que forma poderíamos enfrentar a Alemanha, sabendo de antemão de que não possuímos uma rotação confiável para atacar e frear um adversário coeso e equilibrado em suas linhas, com uma equipe fragmentada como a nossa, como?
Que respondam os luminares das pranchetas (aquelas que “falam”), que conceberam e convocaram uma equipe capenga para um magna competição, mantendo-a intocável por conta e prêmio de uma excelente classificação, porém insuficiente física e tecnicamente para uma Olimpíada…
Infelizmente, o grande jogo terá de suportar ainda um longuíssimo e pedregoso caminho, ao encontro de sua redenção no cenário internacional, começando por seu soerguimento dentro do país, o que não será nada fácil, e quem sabe nos livremos de constrangimentos, como uma matéria de página inteira no O Globo, aqui reproduzida, sugerindo ao leitor que tente encontrar a referência Basquete, para avaliar como se encontra o grande jogo em seu humilhante nicho, por conta da incúria e da pusilanimidade daqueles que o vem comandando nas últimas quatro décadas, impune e corporativamente constituídos, lamentavelmente…
Já não peço mais assiduamente ajuda aos deuses, cansados e desiludidos, assim como uns poucos batalhadores também estão, entre os quais me incluo, através das páginas deste humilde e teimoso blog, que se manterá enquanto existir um sopro de esperança em dias melhores.
Amém.
Fotos – Reproduções da TV e do O Globo. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.