SUSPENSO NO AR…
Nos anos setenta, como técnico da primeira divisão do Olaria, fomos jogar contra a equipe do Botafogo no Maracanãnzinho pelo Campeonato Carioca. Durante o aquecimento, o Washington, nosso melhor arremessador de longa distância, que na época não contavam três pontos, se dirigiu a mim e confidenciou: “Paulo, é como arremessar em um aro suspenso no nada”. Seu arremesso preferido era das laterais da quadra, onde os referenciais em torno do aro são importantes, senão decisivos, para um perfeito enquadramento e dosagem de força e trajetória, principalmente quando executados numa fração de segundos. Fui lá aferir e constatei serem corretas as observações do jogador, ficando em minha retina a imagem daquele solitário aro flutuando no nada. Esse aspecto pode explicar as melhores performances dos grandes arremessadores quando frontais a cesta, pois a tabela , mesmo sendo transparente, conota um razoável referencial inserido dentro daquela vastidão, onde as bancadas se situam a no mínimo 30 metros de distância.
Outro fator determinante para arremessos naquela situação de quadra é a trajetória elevada, necessária às pequenas compensações direcionais em profundidade relativas ao aro, mais accessíveis, tendo a tabela como referencial, além de facilitar muito os rebotes ofensivos em arremessos falhos, pela alta projeção dos mesmos após o toque no aro, dando tempo para melhores posicionamentos.
Essas colocações explicam com boa margem de acerto a excelente performance do jogador Marcelo do Flamengo, cujas características de arremessos com elevada trajetória, e tentados majoritariamente de frente para a cesta, contrastaram com as seguidas falhas do jogador Martinez da equipe argentina, com seus arremessos rasantes e oblíquos à tabela, única referencia tangencial à quadra.
Mas não somente isto, outro fator importante na vitoria rubro-negra foi a determinação defensiva, principalmente fora do perímetro, obstando penetrações dos armadores e arremessos livres de três pontos, como também o cadenciamento dos ataques visando o jogo interior, onde seus pivôs se movimentavam com bastante presteza, originando espaços por onde as penetrações de fora para dentro do perímetro se tornaram constantes, além de propiciarem espaços preciosos para os arremessos equilibrados de três pontos, principalmente os do Marcelo.
Contrastando com algumas opiniões que defendiam a realização destes jogos decisivos no ginásio do Tijuca, onde a presença próxima da torcida exerceria uma pressão psicológica maior no adversário, creio ter sido a escolha do Maracanãnzinho muito mais determinante tecnicamente, mesmo sabedor de que a finalidade da escolha teve como motivação prioritária a maior presença de público, sem levar em consideração se o aro ficava, ou não, “suspenso no nada”.
No jogo de logo mais, decisivo para o Flamengo, a contusão na mão do armador Fred, mais do que nunca destacará a responsabilidade do Helio, que deve ser protegido ao máximo das faltas pessoais, pois como único armador remanescente, armador de verdade, colocará a equipe brasileira perante o real perigo de se ver pressionada se ao Marcelo e/ou ao Duda couber o papel de armador(es)da equipe, talvez a única chance dos argentinos de equilibrarem o jogo ante a realidade inquestionável da debilidade técnica daqueles dois jogadores nos fundamentos de drible e de fintas , a não ser que os argentinos, ainda desambientados com as particularidades exigidas para os arremessos em alvos dissociados de referencias a que não estão acostumados, errem, como erraram bastante no jogo de ontem, propiciando aos pivôs brasileiros o domínio dos rebotes defensivos, desencadeadores dos contra-ataques decisivos, nos quais os dois irmãos são eméritos complementadores.
No mais, devemos torcer para que a equipe do Flamengo consiga essas tão bem vindas vitórias, que sem dúvida nenhuma injetariam uma grande dose de otimismo e esperança ao nosso combalido e desprestigiado basquetebol.
Amém.