DEBATES – O DRIBLE
No debate anterior, sobre o equilíbrio, acredito ter sido a conclusão do Prof.Gil Guadron, excelente técnico salvadorenho que vive na cidade de Chicago a muitos anos, aquela que melhor definiu a importância do equilíbrio para o jogo de basquetebol. Por isso, coloco-a como a primeira definição da série Debates, como veremos à seguir em tradução livre:
O basquetebol é um jogo de equilíbrio e rapidez, e a chamada posição do basquetebolista ( joelhos flexionados, costas retas, pés ligeiramente mais separados da largura dos ombros, etc.) deve ser praticada em união com os demais componentes do chamado jogo de pernas (posição básica, arrancadas, paradas, giros deslizamentos, etc. ) em situações as mais próximas possíveis da realidade do jogo, como na defesa, ao marcar o homem da bola, ao defender em ajuda. E no ataque, na posição de tripla ameaça, a um drible de penetração, ao dar um passe, ao estar sem a bola e deslocar-se para uma porta traseira, ou se situar numa cortina, ou corta-luz, pois a concepção tática deve estar presente. Desta maneira, os exercícios têm “sentido”, e, se está em concordância com o enfoque pedagógico do construtivismo ( aprendizagem significativa), o equilíbrio então, passa a ser parte do contexto do jogo.
No Debates de hoje, abordaremos o fundamento do Drible, colocando como ponto de partida o artigo das série “O que todo jogador deveria saber 2/10”, publicado em 24/4/2006.
O QUE TODO JOGADOR DEVERIA SABER 2/10.
Quando o jogador dribla a bola,fazendo-a quicar no solo e voltando a dominá-la, acontecem alguns pequenos movimentos que detalho:1-Como a impulsão é realizada pelos dedos,ao flexioná-los em direção ao solo forçam a articulação do pulso a um movimento similar,além,é claro das articulações do braço,movimentos estes que incutem uma rotação inversa na bola,que variará de intensidade na medida que aumente a velocidade de deslocamento do jogador. 2-Ao retornar de encontro à mão essa rotação estará revertida,pois no inicio do movimento a bola ao se chocar no solo em rotação inversa mudará de rotação,já que toda força num sentido gera outra em sentido contrario de igual ou maior intensidade.3-Se o jogador não adequar a posição dos dedos na tentativa de anular a rotação para frente,perderá o controle da bola,dai a extrema necessidade de estudar e observar sempre seus comportamentos.4-Todas essas ações devem ser estabelecidas sobre o hemisfério superior da bola,pois se o fizer no inferior interferirá,e até interromperá a livre trajetória da mesma,o que caracterizará a infração dos dois dribles.5-Por esses motivos,todo jogador que na volta da bola do solo dominá-la pelo hemisfério inferior estará cometendo uma infração,além de se utilizar indevidamente da interrupção da livre trajetória para se beneficiar em uma mudança de direção com a bola paralisada em sua mão.Muitos jogadores se utilizam dessa manobra,pois não desenvolveram a técnica de domínio das rotações,e com o beneplácito de muitos juízes se beneficiam inadequadamente em ações de finta.6-Um outro fator deve ser acrescentado,o quanto a bola se mantém em contato com a mão,tanto na impulsão,quanto na recepção.É um tempo de contato que varia com a estatura do jogador,e é um dos componentes do binômio ríimo-passada,ou seja,para cada passada efetuada o jogador manterá o contato com a bola o tempo necessário às ações de impulsão e recepção,sintonizados em cada passo dado.6-Para cada jogador em particular existe uma medida uniforme para esse contato,o qual deverá ser mantido, tanto nas progressões,como nas mudanças de direção.Para que isso ocorra em ambos os movimentos,o cotovelo deverá estar sempre próximo ao corpo,o que garantirá o binômio acima exposto,tanto para o drible linear,como para o drible com mudança de direção. Muitos jogadores efetuam a mudança de direção nesse drible com o cotovelo afastado do corpo,movimento esse facilitado quando os mesmos dominam a bola pelo hemisfério inferior,fazendo com que ela se mantenha por um longo e estendido tempo em contato com a mão,quebrando o ritmo da passada e cometendo a infração de andar com a bola, tendo antes cometido os dois dribles ao interromper sua trajetória,dominando-a por baixo.Duas infrações ao mesmo tempo,e que são raramente marcadas,prejudicando seriamente seu desenvolvimento técnico,principalmente nas divisões de base.Muito bem, compreendidas essas questões,omitidas,esquecidas ou desconhecidas por muitos que se arvoram em formadores de atletas(para que perder tempo com bobagens se existem as pranchetas mágicas?),observemos algumas implicações práticas a serem utilizadas no drible.A primeira e mais importante tem muito a ver com o primeiro artigo dessa serie,ou seja,a chave do bom driblador se situa na fronteira do equilíbrio instável, território onde o domínio das rotações da bola driblada se confunde com o controle do centro de gravidade do corpo em movimentos lentos ou acelerados,à frente,atrás,para os lados nas trocas de direção,nas paradas e partidas.A segunda,quando as distâncias com o marcador(es)se torna critica e urge a criação de um espaço de fuga.Eis a chave do bom driblador,criar os espaços onde não existem.Para tal,dois movimentos se tornam trancedentais:1-O passo atrás com simultânea(simultânea mesmo!)troca de mãos e direção.É um movimento difícil,e somente possível com o cotovelo junto ao corpo e total domínio do centro de gravidade,para mantê-lo em equilíbrio instável.Jogador que se afeiçoou ao domínio da bola por baixo do hemisfério inferior da mesma e com o cotovelo afastado do corpo jamais o conseguirá,já que perderá o domínio do centro de gravidade.2- A reversão com obrigatória troca de mãos,pois se não o fizer exporá a bola ao marcador,facilitando-o na retomada.Esse movimento,mantidas as exigências do item anterior,será tão ou mais veloz,quanto maior for a velocidade em torno de um eixo imaginário projetado dentro da área da base que o jogador ocupar.Mas o que vemos comumente em nossas quadras? Jogadores,que em fase de armação de jogadas se perdem em seguidos dribles por entre as pernas,num exibicionismo barato e perigoso.Pena que a maioria dos marcadores pouco saibam sobre equilíbrio e centro de gravidade em si mesmos,quiçá dos dribladores à sua frente.Se soubessem algo atacariam a bola no momento que estivesse sendo driblada entre as pernas,pois nesses momentos ela encontrará o solo DENTRO da área da base ocupada pelo atacante tornando-o refém de uma escolha se atacado,ou a interrupção do drible,ou o retrocesso,pois estando em equilíbrio estável se torna inabilitado às mudanças de direção.Outra bobagem é a utilização do drible pelas costas visando uma mudança de direção, estando na parte central da quadra. Como se trata de um drible de grande amplitude ele fatalmente levará o jogador para um dos lados da mesma,tornando-o vulnerável a uma dobra defensiva.Trata-se de um drible para ser executado da lateral para o centro da quadra,pois dessa forma estará habilitado a uma penetração,um lançamento frontal à cesta,ou um passe.Com pudemos observar,princípios de equilíbrio e centro de gravidade estão indissoluvelmente ligados à arte do drible,fatores básicos a todo jogador que se proponha ao domínio do mesmo.Para finalizar,sugiro que à partir do drible o jogador passe a se interessar em conhecer o comportamento de um eixo,em torno do qual a bola girará toda vez que for impulsionada ao solo,e de lá retornar à sua mão,e que é denominado eixo diametral.Ele será muito importante nos artigos que se sucederão. Por ora,vamos à quadra praticar o drible como deve ser praticado.
Como esse fundamento é aquele que maiores problemas de aprendizagem apresentam em nossa realidade, haja visto as enormes deficiências técnicas de nossos armadores, acredito que deverá suscitar bons debates entre os técnicos e professores, propiciando uma positiva troca de experiências, nos aspectos didáticos e pedagógicos. Mãos à obra pessoal, o espaço está às ordens.