SEM SEQUER UMA LUZINHA NO FIM DO TÚNEL…

De ontem para hoje testemunhei três fatos marcantes no mundinho do nosso basquetebol.A importância dos mesmos será medida nos próximos dias, perante as possiveis reações e comentários que deles advirão.Comecemos pelo jogo na Argentina em que o Uberlândia venceu com méritos ao Atenas.Vimos com enorme satisfação o time brasileiro jogar como jogava seu técnico nos áureos tempos, com dois armadores, dois alas e um pivô, evoluindo com velocidade, drible sob controle e luta permanente nas duas tabelas. Somente o fato de utilizarem o sistema”moderno e internacional” de jogo,onde um armador inicia e desencadea as ações da equipe, é que anulou em muito o potencial da ação conjunta dos dois armadores se ambos estivessem mais próximos e mais ligados um ao outro. Mesmo assim,como um deles agia como ala,houve uma substancial melhora no controle dos fundamentos,principalmente nos passes e no drible. Creio que se derem continuidade ao que foi executado na Argentina, muito de evolução poderemos auferir no futuro. O segundo fato foi a ressucitação da APROBAS, associação de técnicos localizada em São Paulo, e que após um longo desaparecimento volta, com seus 60 associados ao cenário da luta. Recebi o email com a notícia, acompanhado do pedido de divulgação para sua implantação em caráter nacional. Já não era sem tempo de que movimentos dessa expressão se desenvolvesse entre nós, e espero que em vez de se dedicarem somente a clinicas e cursos, que se façam representar como
desenvolvedores e incentivadores de políticas regionais nos diversos segmentos em que os técnicos e professores atuam.Ligas estudantis e mesmo de clubes poderão ser organizadas sob supervisão dos mesmos, pois suas funções sócio-educativas os qualificam para esse trabalho.Tenho escrito muitos artigos sobre essas questões aqui nesse blog, e creio que o momento dessas mudanças já está amadurecendo, faltando somente decisão e coragem, ações estas que os politicos vem aplicando, com sucesso a bem da verdade, nos últimos 40 anos! O terceiro fato ocorreu hoje, com a notícia de
que reunidos em São Paulo os clubes que participam do Campeonato Nacional resolveram criar a Liga Nacional, para já começar no segundo semestre seu primeiro campeonato.
Nessa mesma noite, um dos vice-presidantes da CBB e presidente da FPB declara pela TV
que nada existe e que nada existirá sem o aval da CBB. O fato da lei que faculta a criação de Ligas está em vigor não abala nem de longe o poder impositivo e feudal da
CBB, e sabem porque? Porque têm a chave do cofre, e como na piada do patrício português que de tão eficiente era o segredo do seu, que jogou a chave fora.Essa
é a verdadeira briga, e parece-me ver a Lisa Minelli cantando em Cabaret o clássico
Money,money,money…! Não era o momento nem a ocasião, pois fica parecendo um movimento de NOVOS dirigentes contra ANTIGOS dirigentes, como se a salvação técnica do basquetebol nacional se efetuará com a troca dos mesmos. O que se tenta trocar é a
posse da chave do cofre, sob o suporte de que os novos mudarão os resultados pífios que temos alcançado nos últimos anos. Isso só seria possivel com o desenvolvimento de
pequenas ligas regionais unindo escolas e clubes, a Liga de Londrina é um exemplo dessa possibilidade,para aos poucos o trabalho de base sendo desenvolvido, estudado e quantificado em conjunto com as associações de técnicos, evoluirem para efetivas, seguras e fundamentadas tomadas de posição, aí de caráter político, que definiriam as grandes Ligas, que poderiam ser de clubes uma, e de universidades outra. Seria uma retomada com lastro suficiente para evitar que muitos aventureiros se apossassem da fatia maior do bolo. O momento atual só fará reforçar o que já existe, e o politico da CBB de plantão já deu o competente e arrogante recado, nada existe e nem aconteceu, pois ao contrário do patricio a chave está no bolso. Aguardemos…

DEU NO NEW YORK TIMES !

Na edição de hoje do NYT,na página esportiva,foi publicado um artigo que todo técnico deveria ler(http://www.nytimes.com/2005/03/14/sports/ncaabasketball/14jumper.htm).O título-The midrange jump shot:A lost art that only wins games-Trata-se de um artigo que aborda o ressurgimento do arremesso de dois pontos como arma decisiva para as vitorias,e que foi o ponto de partida para muitos dos classificados para as finais do campeonato universitário dos EEUU. Tenho debatido exaustivamente através este site da importância dos técnicos para a manutenção, e mesmo a sobrevivência do basquetebol como veículo sócio-educativo em permanente evolução, principalmente nas divisões de base,onde as técnicas fundamentais são a salvaguarda da modalidade enquanto desporto. E é nesse imenso campo de pesquisa e prática constante que as equipes profissionais vêm abastecer suas hostes através os melhores praticantes, os melhores atletas. Os demais,não escolhidos, seguem suas vidas, garantidas pela boa formação que tiveram nas universidades. Estudar,treinar,jogar e se graduar são atividades que se complementam naquele sistema, que infelizmente não nos é permitido desenvolver por políticas governamentais dissociadas de nossas necessidades básicas.O artigo em questão nos leva a uma importante constatação, a de que a evolução das técnicas do basquetebol inexoravelmente passa através a experimentação acadêmica, para posteriormente alcançar o meio profissional. Enquanto nós cada vez mais afundamos
em sistemas que privilegiam os três pontos e as enterradas,nossos irmãos do norte,que
desde algum tempo reconheceram a grande perda de tentativas de arremessos de três pontos como um fator negativo no aproveitamento ofensivo, principalmente no confronto com defesas cada vez mais fechadas e combativas, retornam a aplicação de sistemas
que incentivam o arrêmesso de media distância, mais preciso e com menos impacto,o que propicia rebotes mais previsíveis e de curto ricochete.São movimentos que se espalham
como um rastilho através organizadas associações de técnicos, que os publicam às centenas, em vários órgãos de midia. Proponho a várias décadas que implantemos associações, participei inclusive das primeiras que tivemos, mas não houve continuidade, principalmente pelo desinterêsse proposital das entidades que comandam a modalidade. Professor, técnico, dirigindo,divulgando,ensinando e principalmente liderando setores normativos, administrando a formação e os campeonatos? Nem pensar, pois somos nós, os dirigentes, os políticos, que TEMOS de ter nas mãos o contrôle e as finanças do esporte nacional.Afinal de contas vamos viver de que? A lei atual permite a existência de Ligas, e por que não os técnicos em uma primeira etapa não se constituirem em associações regionais, para gerar uma nacional, e numa segunda etapa, organizados e fortes em torno de suas Ligas evoluirem para a conquista das federações, para aí sim sonharem com a CBB, e com dias melhores e conquistas maiores?E como vocês acham que os atuais dirigentes lá chegaram? Garanto que não foi através de geração expontânea, e sim de um bem urdido,longamente trabalhado esquema de favorecimentos e sem políticas transparentes, onde o fator “espirito do jogo” sequer foi, nem ligeiramente, defendido e abordado. Favores,benesses,viagens,mordomias, foram a moeda de troca até os dias de hoje.Mas que importa, ideais são para técnicos e professores…

PAPOS QUE NÃO DEVERIAM SER FURADOS.

A discussão do momento é a necessidade de serem criadas Associações de Clubes em torno de uma Liga Nacional,e a criação de Associações de Técnicos, ou mesmo um Sindicato de Jogadores.É um papo-furado que escuto a 30 anos, com a mais primária das constatações,NINGUÉM se apresenta DECISIVAMENTE para liderar tais movimentos, pois os mesmos são fundamentados, única e exclusivamente na credibilidade de quem os propõem, e credibilidade tem como estrutura básica a aceitação de uma liderança que desencadeará as discussões, que quanto mais democráticas forem, maiores as possibilidades de alcançarem sucesso em suas pretensões. O que se vê, e temos visto desde sempre é a proposição desses temas no meio de um tiroteio de interêsses e vaidades, frustrando de saída as possibilidades de entendimento e coesão. Ademais,todo esse emaranhado de futricas e propositais mal-entendidos só beneficia quem se mantêm no poder,e não é surprêsa nenhuma a sua ausência no fóco das discussões.Por que se arriscar discutindo quando se têm os ases nas mangas? Fala-se na Liga Nacional como a salvação do basquetebol,mas no fundo o que se disputa é a apropriação das verbas oficiais, de patrocinadores e da mídia.Com o dominio das mesmas nas mãos TUDO pode ser feito,desde a garantia de salários até o jogo político de influências, como alguns dos interessados já o fazem de a muito tempo. A importância política dos desportos sempre foi uma realidade para os iniciados, aí incluidos os militares pós mundial de futebol de 1970, aos prefeitos construtores de estádios suntuosos, passando pelos médicos que disputaram a tapa as verbas para os laboratórios de fisiologia do esforço, e que se especializaram em dobras cutâneas e débito de oxigênio, assim como os expertos e maquiavélicos empresarios que geraram a era do culto ao corpo, com a facilitação da formação dos professores de Ed.Fisica fora da área humanistica e lançados nos braços da formação paramédica.Centros de formação de administradores,como a FGV,mantêm cursos de MBA para essa área, que se tornou na galinha dos ovos de ouro de nosso tempo. Claro, com a exclusão da Escola e da educação integral e de qualidade.Mencionam o exemplo da Europa,da Argentina,dos Estados Unidos, que têm ligas fortes e organizadas, mas se calam e jamais mencionam que a base de tudo aquilo gira em torno de fortíssimas,coesas e decisivas associações
de técnicos, pois estes,ao contrário dos dirigentes, é que detêm o poder da continuidade do jogo, de suas regras,de seus conceitos, e principalmente de sua ética. Mas entre nós inexiste essa coesão, e sabem porque? Não? Então dou algumas pistas. Para começar definam quais critérios são empregados na escolha de técnicos de seleções nacionais, da formação à principal? São critérios técnicos ou políticos? E quanto aos administradores dessas seleções? São movidos pelo conhecimento da modalidade ou pelo conhecimento e importância política? Quais parâmetros técnicos são
desenvolvidos e incluidos na formação de nossos jóvens,tanto no aspecto regional como nacional? Como são formados nossos técnicos? Nossos árbitros? Nossos estatísticos?
Nossos preparadores físicos? Nossos assistentes? São muitas as perguntas, cuja única
resposta estaria incluida na união, se é que é possivel,dos técnicos desse país. Somente eles terão as respostas, darão seguimento às nossas tradições, defenderão o espirito e a essência do jogo,fundamentando o futuro. Anos atrás ajudei a fundar duas associações nacionais e uma no Rio,que foram sublimes enquanto existiram em torno de nomes como Antenor Horta, Moacyr Daiuto,Geraldo da Conceição, e muitos outros que exerciam verdadeiras e honestas lideranças. Foi uma época de realizações, tanto nas salas de reuniões, nas salas de aulas, como dentro das quadras. Muito foi conseguido,
mas a força dos políticos e da ignorância massificada em torno de influências mercadológicas fizeram que todo aquele esfôrço sucumbisse para o que aí está.Mas foi uma época de construção e não de papo-furado. Sugiro do fundo do coração que todos aqueles que amam realmente o basquetebol, basicamente os técnicos, se reunam,se unam em torno de mesas por esse Brasil afora, na certeza de serem os ÚNICOS que podem nos tirar desse atoleiro de três décadas. Depois disso ser concretizado, a Liga será mais
um dos elementos que comporão nosso futuro.Mas para tudo isso terão de ter peito, e
não vaidade e suscetibilidades anacrônicas e infantís. Levantem a bola, como os antigos fizeram, e dêem seguimento ao jogo. Amén.

UNIFORMIZAR A FILOSOFIA…

Agora é a vez dos rapazes.Reunem-se por dez dias,para entre outras coisas se submeterem a uma “uniformização de filosofia de treinamento e jogo”.Trocando em miúdos,serão submetidos a essa coisa que grassa no seio de nosso basquetebol nos últimos 20 anos e que só nos tem levado para o fundo do poço. Por que não reunir os técnicos, os verdadeiros, os que realmente entedem o jogo, os antigos também,por que não? Foram da época em que fomos campeões de tudo, que dificilmente perdíamos,quando jogavamos basquetebol, para em rodadas de discussão democrática nos ajudassem a reencontrar o caminho perdido? O que veremos é essa turma globalizada,que venera a NBA e sonha com ela permanentemente, que sequer se preocupa em pesquisar o que fomos, o que fizemos e o que conquistamos. Turma essa que qualifica nosso maior cestinha como o melhor jogador brasileiro de todos os tempos, e sequer avalia o fato de que o mesmo jamais jogou para uma equipe,e sim que as equipes jogavam para ele, queiram ou não seus mais ardorosos defensores, e que este fato não o desqualifica perante seu extraordinário poder ofensivo,mas que não pode ser definido como um parâmetro do coletivismo que caracteriza o jogo. Testemunharemos a continuidade do que aí está,medíocre,colonizado e profundamente anacrônico. Teremos nossos longilíneos e velozes pivôs encaminhados a técnicas de musculação, ditadas por gente que se intitula expert na formação de massas disformes, porém adequadas aos sonhos de batalhas em baixo das cêstas, em cópias canhestras dos pivôs americanos e alguns europeus.Se seus ainda frágeis joelhos aguentarão é outra conversa, pois não é atôa que a maioria das contusões de nossos pivôs se localizam nos joelhos. Veremos nossos talentosos armadores se transformarem em passadores de bola e corredores de maratonas em quadra,estando permanentemente fora do fóco das jogadas,mas centrados em suas performances de cestinhas.Pior para os alas,que se manterão na situação de indefinição tática em um sistema de jogo que delega aos mesmos as funções
de pontes,de passadores de bola e de arremessadores em desespêro de causa. Não é coincidência que na maioria dos estouros de tempo de posse de bola a mesma esteja
nas mãos de um ala. Enfim, com essa atitude de “uniformização filosófica”, retira-se
das mãos dos técnicos desses jovens as possibilidades de que os mesmos tenham a oportunidade de testarem outros caminhos, outras soluções técnicas.Ficou estabelecido
em nosso país que somente um pequeno grupo de técnicos detêm os segredos e as verdades do treinamento, mas não é o que vemos nas seleções, onde armadores não armam
pois sequer sabem o valor do drible, alas que se progredirem com a bola tropeçarão na mesma e pivôs que por sua lentidão sequer se situam para os rebotes ofensivos,já que abrem para além da linha dos três pontos para servirem de passadores de bola.De defêsa então nem é bom falar.Uma preparação induzida a um sistema pré-estabelecido de jogo cheira a má fé,pois o contário é que deveria ser concretizado, a construção de um sistema de jogo que aproveitasse as talentosas características desses jovens, e que as mesmas fossem desenvolvidas ao máximo em treinamentos de técnica individual e coletiva, o que de muito foi relegado em nosso país.O que interessa é o sistema, recurso covarde de técnicos despreparados e pretenciosos, que se acham donos de uma verdade que nem os grandes mestres ousavam requerer. Outro dia um jovem me escreveu pedindo uma orientação para a sua dificuldade de driblar com marcação rígida,e enviei a ele dois exercicios que tem por finalidade treiná-lo na arte de criar espaços onde aparentemente não existem, que é a chave dos grandes dribladores. Um dos motivos que
torna muito dificil o aproveitamento daqueles grandes jogadores do street ball americano pelas equipes da NBA, é o fato de que os mesmos somente criam esses espaços
executando o drible fraudulento,ou seja,aquele que é interrompido frequentemente em sua trajetória,a fim de dar tempo para as mudanças de direção e criação de espaços,como vem sendo aplicados por muitos de nossos armadores. Mas a febre do street ball já vem sendo incentivada entre nós dentro dos preceitos americanos,esquecendo nossos luminares que aquela forma de jogar visa exclusivamente o espetáculo, o aspecto financeiro e de sobrevivência de jovens marginalizados.Como seria formidável que a CBB reunisse os técnicos pare que os mesmos discutissem novos caminhos, que ensinassem os mais jovens e que formassem a ala desenvolvimentista de
nosso basquetebol.Creio, porém que já estou sonhando demais. A nossa realidade é essa que aí está, GO AHEAD PASSING GAME!!

6 x 6 …UMA EFICIENTE ESTRATÉGIA.

Lá pelos idos dos anos oitenta estava no Fluminense treinando uma das melhores equipes que dirigi,a de Infanto-juvenis masculina, quando enfrentamos o Flamengo no ginásio do C.Municipal na preliminar dos adultos, perante uma grande platéia. Já naquela época adotava a formação de dois armadores e três pivôs móveis,todos em constante movimentação,com jogadas abertas à criatividade e improvisação em torno de uma formação básica, como o tema em uma reunião de jazz, fosse contra defesa individual ou zona. A equipe do Flamengo,muito alta adotava um sistema profundamente controlado pelo técnico, muito parecido ao que ocorre hoje em dia, onde a movimentação atingia altos graus de previsibilidade, dando oportunidade de defendermos em constante antecipação.Antes do jogo, reuni a equipe e combinamos uma estratégia para dificultarmos ao máximo as intervenções do técnico adversário no controle da equipe.Combinamos utilizar uma defesa extremamente atenta e com variações entre individual,zona e pressão a cada dois ataques que efetuassemos,para provocar os pedidos dos dois tempos a que tinham direito antes da metade do primeiro tempo,e que durante os mesmos a minha intervenção seria nenhuma,e que nossa equipe sequer se aproximaria do banco.Se conseguissemos, o técnico adversário só instruiria a equipe se pedissemos tempo,o que não pretendiamos fazer. A estratégia funcionou de tal maneira que os dois pedidos de tempo aconteceram com 5 minutos de jogo, o que facilitou em muito nossa vitória, desenhada naqueles minutos iniciais.No segundo tempo demos continuidade ao combinado,e foi a primeira vez que nenhum tempo foi pedido por mim em uma partida de campeonato. O técnico adversário ficou muito nervoso pelo fato da minha não participação durante os pedidos de tempo que fazia, como se fosse obrigatório tal participação, afirmando que haviamos faltado com a ética, que haviamos desrespeitado sua equipe.Esqueceu porém que cabe ao técnico traçar sua estratégia da maneira que melhor lhe convier,e não como o adversário determinar, e que treinos existem para preparar a equipe no conhecimento de suas potencialidades e nas dos seus adversários, ai incluindo o técnico. Em algumas situações adversas, onde
ao enfrentarmos equipes que se situam como poderosas e imbatíveis,principalmente quando atuam em seus ginásios,torna-se de capital importância analisarmos atentamente
como atua e se comporta o técnico adversário, pois qualquer equipe tende a se comportar como seu lider de fora da quadra, e se esse tiver um carater previsivel poderá dar margem ao emprego de estratégias bastante eficientes. Por isso sempre afirmo que em jogos dificeis não são confrontados 5 x 5 e sim 6 x 6.Mais recentemente,em 1997,quando dirigia a equipe juvenil masculina do B.da Tijuca,fomos enfrentar o Fluminense nas Laranjeiras, na abertura da temporada.Repeti,com pequenas variações a estratégia de 80 ,com os mesmos resultados alcançados àquela época,e sofrendo as mesmas críticas por parte do adversário, o que me convenceu da pobreza que se instalou em nosso meio, esmagado que se encontra pela globalização que nos impuseram.Tornou-se pecado capital não comungar com a mediocridade que se instalou entre nós, e que cada vez mais escurece as mentes em torno do que designam como”basquetebol internacional”. Acabo de ler uma entrevista de um jovem pivô que entre muitos agradecimentos aos técnicos que o dirigiram destaca um deles que o convenceu a mudar de jogador 3(designio de um ala) para 4(ala-pivô)!Francamente,gostaria imensamente que me explicassem qual as diferenças,quais os limites de atuação entre as duas designações, o que pode ou não ser realizado,ou proibido entre ambas,a não ser a constatação de que não ensinam a nenhuma das duas o drible,as fintas e até os passes.Treinam a intimidação pela força, as enterradas e os rebotes em projeção obliqua, que constituem-se em faltas na maioria das vezes. Quando constatamos a ausência do ensino dos fundamentos mais especializados a jogadores na faixa dos dois metros,vemos como estamos mergulhados na falsa premissa das “battles under basket”,que caracterizam o basquete de nossos irmãos do norte.E pensar que nosso maior armador de todos os tempos começou como pivô,mas pelas suas qualidades de manejo inteligente da bola tornou-se armador,Amauri Passos,que sequer é convidado para passar suas experiências nas seleções que defendeu,sendo somente bi-campeão mundial e duas vezes medalhista olímpico, com pouco menos de dois metros de altura! Com muitos,ou a maioria dos técnicos brasileiros raciocinando em uníssono,planejar uma estratégia de 6×6 torna-se um prato feito para aqueles que os enfrentarem.Aliás, os argentinos já descobriram isso a algum tempo…

UNIFORMES E ADERÊÇOS.

Outro dia testemunhei um fato somente visivel quando acionei a câmera lenta do reprodutor de vídeo,por ter achado um tanto estranha a queda de um armador durante uma finta.Para minha surprêsa constatei que o mesmo havia tropeçado no próprio calção!Não acreditei, e a cada volta da fita lá estava a imagem do calcanhar se enroscando com a bainha do calção,que se estendia até os tornozelos.Seguindo a moda lançada por Michael Jordan,que usava largos calções para disfarçar a utilização de um outro calção por baixo do oficial de jogo,atitude supersticiosa por achar que teria sorte ao usar o calção com que se tornara campeão universitário pela North Carolina, implantou-se pelo mundo a moda do saiote,a moda que sugere a seus utilizadores os poderes extraordinários do inigualável Air Jordan. No mesmo compasso em que desportos como a natação,o atletismo e mesmo o voleibol adequam seus uniformes à leveza,à aerodinâmica e ao confôrto,o”basquetebol internacional” impinge por motivação muito mais econômica do que técnica este verdadeiro carnaval de mau gôsto e inadequação técnica em que se transformaram os uniformes de jogo. Engraçado que alguns atletas de ponta,como os míticos John Stockton, Pat Erwing e outros poucos, se mantiveram fieis ao modêlo tradicional e eficiente dos calções até o meio das coxas, que não prendiam seus movimentos e tornavam suas figuras elegantes sem perder a mobilidade. Na Europa já são esboçadas reações contra a imposição dessa moda Made NBA, ao contrário de nosso país em que cada vez mais os atletas se escondem atrás de metros e metros de tecido, como envergonhados de seus corpos, sufocando-os em um clima tropical no qual a economia nos tecidos deveria ser a regra geral. Aderêços nos braços e nas cabeças,com desenhos estaparfúdios fazem supor o quanto de tempo perdem em se auto-produzirem em vez de o utilizarem em treinos e estudos. Atletas de verdade e de qualidade,que irradiam cultura à juventude, não podem gastar seu tempo em videogames e salões de beleza, como vitrines ambulantes de nada, a não ser imitarem seus ídolos da NBA, estes sim com fortunas incalculáveis para gastarem com modismos,que em muitos disfarçam sua pobreza técnica. Não é por nada que a tendência ascendente de lançarem jogadores vindos diretamente das Escolas Secundárias no Draft da NBA já encontra sérias divergências no seio da sociedade e da imprensa esportiva americana, pela queda cultural e comportamental observada desde que a obrigatoriedade da passagem pelas equipes das universidades deixou de ser condição para o acesso à NBA. Mas como
continuamos a ser colonizados pela influência dos profissionais americanos,mesmo sem termos 1/100 avos das condições que eles tem, ainda sofreremos por um longo tempo os efeitos dessa submissão, até um dia em que tropeçaremos não com um dos calcanhares, e
sim com os dois nas bainhas dos calções. Recordo com grande emoção quando em 1969 trouxe a equipe feminina do CPP de Brasilia para disputar os Jogos da Primavera patrocinados pelo Jornal dos Sports com enormes sacrificios e gastos.No dia da estréia uma das melhores jogadoras, Edilma,me confidenciou que não havia trazido seus tenis que haviam se rompido no último treino. Fizemos uma pequena coleta e compramos um par do popular Conga. E com eles jogou e terminou como a cestinha da equipe, que foi a campeã,além de competir e vencer os 200 metros na pista do Célio de Barros no dia seguinte.Uniformes e calçados são complementos importantes em qualquer equipe de competição, mas quando se transformam em elementos prioritários,mercadológicos e de auto-projeções, determinam que o fator qualidade técnica se encontra em segundo plano, que é a nossa posição no panorama atual. Muitos de nossos jovens atletas se preocupam mais com suas aparências perante a mídia do que o treinamento dos fundamentos do jogo, estes sim,que farão deles jogadores prestigiados e respeitados, é claro, por quem entende de basquetebol.

MANOEL E BENEDITO,QUE SAUDADE.

Assisto mais um jogo da Liga Nacional(mais por teimosia do que hábito)sabendo que testemunharei a mesmice granítica de sempre, quando lá pelo segundo tempo estoura uma briga provocada por um desses americanos de 14ªopção.Explico-Contemos juntos:Itália,Espanha,França,Alemanha,Grécia,Turquia,Israel,Portugal,Argentina, Venezuela, Porto Rico,Panamá,talvez um ou dois mais,e Brasil,que são pela ordem os destinos prioritários desses trotamundos até que cheguem por aqui,salvo uma ou duas honrosas exceções,mais sentimentais do que técnicas.E aqui,a peso de dólares são endeusados de tal maneira que vemos técnicos balbuciarem um inglês macarrônico para se fazerem,ou tentarem,entender com resultados que beiram ao hilário.Mas, o que vimos foi um mascador de chiclete agredir um adversário e sair aplaudido pela torcida após sua expulsão, e tocaiar sua vítima quando retornava ao vestiário por também ter sido excluido pela arbitragem.Arbitragem? Com a invasão da quadra por quase todos os reservas,e pelas regras atuais,todos deveriam ter sido excluidos,mesmo que o jogo tivesse de ser encerrado.Mas em nome do “bom senso” exclui-se a vigência legal das regras e deu-se continuidade ao jogo.Depois querem se justificar por não seguirem os preceitos da legislação em vigor.As regras devem ser observadas por todos,dentro e fora do campo de jogo,pois é para isso que elas existem.Volto um pouco no tempo e recordo-me do Manoel Tavares e Benedito Bispo, que se alí estivessem presentes fariam
a todos respeitarem as leis,sem dúvida nenhuma.Eram outros tempos?Nem tanto, mas sem medo de errar afirmo que eram tempos melhores, era o tempo em que éramos campeões do mundo e semi finalistas olímpicos, era o tempo que argentino nenhum depredava vestiarios brasileiros por terem vencido uma liga sul-americana,pois de principio
eles não a venceriam, como nunca venceram,mas também era o tempo em que após os jogos
técnicos,diretores e alguns jogadores se encontravam com os juizes no restaurante mais próximo, onde as discussões se esvaziavam em torno de uma fumegante pizza.Também
era o tempo em que os tribunais realmente puniam quem trangredisse as leis, onde a figura do efeito suspensivo sequer existia, era o tempo em que jogavamos,e muito bem,
basquetebol.Hoje todos se intitulam profissionais,tem cobertura televisiva e alguns
bons patrocinadores, só que ao imitarem o que fazem nossos irmãos do norte,e importarem dos mesmos jogadores de 14ªopção,sacrificam nossas gerações em nome de um
sistema de jogo que nada tem a ver conosco,que destróe nossas tradições.A arbitragem
é ponto fundamental no progresso de qualquer modalidade esportiva, mas que represente
nossas verdadeiras necessidades,cujo alicerce básico é o respeito às leis do jogo.
Sinto saudades do Manoael e do Benedito,assim como do Newton Agra,do corajoso e firme
Renato Righeto que impôs as leis do jogo na final olímpica de Munique que os americanos jamais aceitaram por não admitirem perder,e cujas medalhas de prata jazem
inertes em um cofre suiço,como testemunhas de sua empáfia e arrogância. Poderia mencionar muitos outros,mas hoje a tarde tive saudades dos meus amigos Manoel Tavares e Benedito Bispo, com quem travei grandes discussões, mas que sempre os respeitei
assim como sempre fui respeitado por eles,dentro e fora das quadras.

O ESPELHO QUE ENGANA

Boris, um enorme doberman entra pela área de serviço onde tentavamos organizar o espólio da academia de minha irmã,e ao se deparar com um grande espelho trava com a sua própria imagem uma luta descomunal e muito agressiva.Foi muito difícil retirá-lo do recinto pela insistência na continuidade da luta com um inexistente adversário. Logo a seguir,o bichano que habita nossa varanda também dá o ar de sua graça perante o enorme espelho, e a sua primeira reação é a de procurar o gato intruso por trás da moldura.Foram duas reações que bem demonstram os graus de interêsse e rivalidade pelos da mesma espécie.À tarde assisto mais um jogo da liga nacional,e a experiência da manhã logo me vem na lembrança, pois o que pela enésima vez assisto é mais uma confrontação de duas equipes jogando rigorosamente iguais, como todas o fazem nesse torneio, em frente de um espelho da largura de nosso território nacional. Mas como o Boris o fez,travam uma luta feroz dentro da obviedade mais escandalosa de que temos notícia em nossa história, e nem de longe esboçam um breve,ínfimo,disfarçado olhar por trás da moldura,como o bichano arguto e sagaz o fez pela manhã.Poupariam um tempo enorme se o fizessem,pois ante imagens semelhantes, somente um longo olhar por trás da moldura,propiciaria ações que anulariam a movimentação ofensiva tão óbvia para os dois. Mas de repente,lá pelo terceiro quarto o espírito inquisidor do bichano baixa em uma das equipes, que num passe de oportunismo aperta a marcação sobre o homem de posse da bola, ao mesmo tempo que os demais defensores se antecipam na linha da bola,e o pivô passa a receber marcação pela frente, todos dando aquela olhadinha inteligente por trás da moldura, e o que acontece? Pula dez pontos à frente e vence o jogo. Meu Deus,por que todos não fazem a mesma coisa? Se o fizessem,em duas gerações de formação de base sairiamos da mesmice que vem nos levando para o fundo do poço, cada vez mais profundo.Digo duas gerações por ser um otimista empedernido, mas que pode se tornar realidade com o esforço daqueles que realmente entedem do jogo,e não os muitos que adoram exibir seus falsos dotes perante um espelho,com reações bem próximas das do Boris.Quem sabe ainda teremos resgatadas as verdadeiras funções dos armadores, jogando de frente para a cesta,sem utilizar a interrupção fraudulenta da trajetória da bola durante o drible,beneficiando falsas e ilegais fintas,sem se ausentarem, como o fazem hoje,do fóco das jogadas,agindo mais como maratonistas do que jogadores,e que realmente participem da organização inteligente de suas equipes, que passarão a ter características próprias,e não serem cópias canhestras uma das outras.Que voltemos a admirar as ações decisivas,velozes e inteligentes dos alas,com seus arremêssos precisos e luta permanente nos rebotes.Que voltem a exercer os corta-luzes como devem ser feitos,e não como pensam que sabem realizar atualmente.E que os pivôs,ah! os pivôs, que voltem a ser os elásticos e velozes reis dos garrafões,voltando a jogar em constante movimentação,deixando de ser,o que nunca deveriam ter sido, as massas disformes e bombadas que vimos testemunhando nos últimos
20 anos,cópias ridículas dos gladiadores americanos em suas lutas beirando ao mais deslavado racismo,para gáudio de uma platéia movida a hamburguers e muito,muito dinheiro para gastar.Olhemos por trás do espelho, pelo menos como uma humilde maneira de nos reencontrarmos com nossa realidade, com nossa maneira de ser e de jogar o jogo,fundamentado como sempre foi pela diversidade de escolhas técnicas, e não pela suicida adoção de um ridículo e absurdo”basquete internacional”. Enfim,que usemos o espelho em suas funções básicas,onde a quietude de uma bela lagoa propicia o mesmo resultado. Inovem, estudem e fujam do espelho que engana. É isso ai…

DEFENDER NÃO É PARA QUEM QUER, É PARA QUEM SABE.

Prezados telespectadores, afirmo que 70% de uma defêsa é fundamentada na “vontade de defender” por parte dos jogadores.”Querer defender” é a chave do sucesso! Fico curioso em saber o que representam os 30% restantes, mas as explicações não são dadas no restante dos comentários. E ai fico imaginando como ser possível se ter a posse e o dominio de 70% de um conhecimento qualquer.Não seriam 20, ou 25, quem sabe 30%? E olhe que conhecer 30% de um assunto com alguma importância social,política ou técnica,pode ser considerado um excelente feito,imaginem 70%!! Só um iluminado conseguiria tal marca,e em se tratando de uma habilidade psico-motora nem se fala, beira à genialidade pura. Todo jogador almeja defender bem, e procura honestamente se esforçar para conseguí-lo,mas nem sempre querer é poder,pois precisa ser ensinado, treinado,aferido, e novamente treinado, ano após ano, em sua formação básica, orientando sua querencia ao conhecimento das macro habilidades necessárias na movimentação defensiva. Mas aponte-nos quem, em um país que preza tão somente os cestinhas,os enterradores de bolas, e de jogos,e os bloqueadores de arremessos,quem são aqueles que teimam em ensinar a verdadeira arte de defender?Muito poucos, talvez os conte nos dedos de uma das mãos,se tanto!Macro habilidades? O que significam? Comecemos explicando o que vem a ser micro habilidades, também definidas
como “sintonia fina”, que são aquelas imperceptíveis ações musculares que direcionam,
controlam e equilibram a bola durante os ajustes necessarios a um bom arremêsso. Tomemos um manche de video game em um jogo de pilotagem como um razoável exemplo de ação da micro musculatura. Ao movê-lo, como em um jato supersônico real, pouco ou quase nenhuma movimentação do mesmo é notada. No entanto, todo um contrôle direcional
de grande complexidade, dada a elevada velocidade,é exercido pela ação da micro musculatura de braços,mãos e dedos,com um elevado desgaste fisico-mental proporcional ao tempo em que a atividade é exercida. Pilotos de jatos supersônicos sofrem intensamente esse desgaste provocado pela alta concentração mental e ação continua da micro musculatura,que são elementos que agem conjuntamente. Treinar arremêssos após atividades estafantes são incentivadas por técnicos como uma forma de aumentar a resistência dessa musculatura, o que é contestado por muitos técnicos. A macro musculatura é responsável por pequenos,porém bem visíveis movimentos que antecedem a ação das grandes massas musculares,principalmente em movimentos de grande intensidade,de grande explosão.A macro musculatura dita,controla e desencadeia a movimentação que será exercida pelas grandes massas musculares, e por isso deve ser treinada com afinco, atenção e muita repetição.A ação defensiva efetiva deve ter como treinamento básico o pleno conhecimento,e consequente controle, sobre as ações e limites da macro musculatura.Como o defensor sempre reage a uma ação do atacante, quanto menor for a distância entre estas duas ações,mais eficaz será a atitude defensiva. Os muito bem treinados conseguem,em algumas situações,a antecipação à ação
ofensiva, constituindo-se no ideal a ser alcançado.Nenhum treinamento defensivo se compara ao”shadow”,ou movimentação em sombra,quando o pugilista se defronta com sua sombra projetada em uma parede, ou perante um espelho,ou da forma mais sofisticada,que é,de olhos cerrados travar um combate fictício com um adversário somente visivel por ele mesmo, em situações às mais eficazes que sua mente possa produzir.O defensor de basquetebol tem que agir em treinamento como um pugilista atento,sagaz e eventualmente antecipativo às ações do atacante.Sua macro musculatura se manifestará em ações negaciadas,unidirecionais, e até antecipativas, antes que as massas musculares desencadêem as ações de efetivo bloqueio e deslocamentos pelo terreno de jogo. Para ser considerado um bom defensor,o atleta necessitará de um longo e trabalhoso conhecimento sobre suas ações corporais conjugadas com seu poder de concentração mental,e somente treinamentos específicos o farão adquirir tais habilidades, e fundamentais conhecimentos.Por isso afirmo com grande conhecimento de causa, por ter preparado muitos talentosos jogadores,necessários a bons e eficientes sistemas defensivos, que defender não é para quem quer,é para quem sabe,conhecimento este que deveria se constituir ao longo da carreira de um jogador em um percentual o mais próximo que lhe for possível dos 70% da ação,reservando-se os restantes 30% à vontade de defender.Creio que o comentarista se enganou e trocou os valores,mas isso acontece…

MESTRES DO OLHAR E DO MOVIMENTO.

Este foi o título de uma reportagem sobre a exposição que explora as afinidades entre o escultor Alberto Giacometti e o fotógrafo Henri Cartier-Bresson publicada no O Globo no dia 17 deste mês. O texto menciona, entre várias coincidências, a vontade de ambos de congelar um momento em movimento. Disse Giacometti- “Toda a ação dos artistas modernos está nessa vontade de captar, de possuir alguma coisa que foge constantemente”. Já Bresson assim se manifestou- “Jogamos com coisas que desaparecem…e, quando elas desaparecem, é impossível fazer com que elas revivam”. Eis duas afirmativas que caem como um diáfano véu sobre as cabeças da maioria de nossos técnicos. Sonham de olhos abertos com a perpetuação dos movimentos que extrapolam de suas pranchetas mágicas, como se fosse possível a perenização das jogadas estabelecidas pelo sistema de jogo que empregam. Sempre que estabelecem contato com os jogadores repetem, e repetem, até a exaustão os mesmos movimentos, as mesmas soluções, clamam pela obediência à jogada, à rotatividade da bola, com uma intransigência que beira ao fanatismo. É como se fosse uma grande coreografia, onde a repetição das jogadas mortais é o supremo objetivo a ser alcançado. Mas, como mencionaram Giacometti e Bresson, os movimentos acontecem na mesma proporção em que desaparecem, e nunca são iguais, por isso viviam em busca de sua captação, a qual Bresson definiu como o “decisive moment”, o momento decisivo, único, fugaz e precioso se captado. Essa foi sua grandeza, pois foi o fotógrafo que mais o registrou no século XX. Nossos técnicos precisam, com urgência, entender que se uma jogada se repetir, com alto grau de frequência, pode-se afirmar que o sistema defensivo do adversário inexiste pela extrema fraqueza de seus integrantes. Um sistema ofensivo é de alta qualidade, não se der certo seguidamente, e sim se estabelecer situações que desequilibrem, pela imprevisibilidade de suas ações, o esquema defensivo do adversário. A repetição sistemática de jogadas produzem situações com alto grau de previsibilidade, e retiram dos jogadores a espontaneidade de suas ações, colocando-os numa situação de meros repetidores de movimentos pré-estabelecidos por seus técnicos, e se os defensores forem de boa qualidade, rapidamente se anteporão aos movimentos ofensivos, anulando sua eficiência. São nesses momentos que se estabelecem as diferenças entre uma equipe bem treinada de outra não tão bem preparada. Quantos são os técnicos que nos coletivos de preparação para os jogos, os interrompem para orientar sua defesa em função de seu próprio ataque pré-estabelecido? Que sempre orienta seus atletas na busca do inusitado, e não do conhecido? Que mesmo tendo um sistema fechado de jogo, propugna por rompê-lo sempre que possível, pois essa sempre será a ação desencadeada pelo adversário? Enfim, que reconhece ser a busca, não de um, mas de vários “momentos decisivos”, o fator a ser alcançado com afinco e dissociado do círculo vicioso coreografia/prancheta. Por praticar fotografia por longos anos, e de ter tido em Henri Cartier-Bresson um exemplo a ser seguido é que desde muito cedo procurei entender e praticar o “decisive moment” com algum sucesso, mas que pela compreensão de seu significado, pude levar a meus atletas um vasto leque de opções que visassem o encontro dos mesmos. “Jogamos com coisas que desaparecem…e, quando elas desaparecem, é impossível fazer com que elas revivam”. Cada jogada constitui um princípio e um fim em si mesma, e são irrepetíveis. Precisamos entender esse mecanismo para nos libertar das jogadas mágicas e das pranchetas milagrosas. Meus queridos colegas, precisamos encontrar novos caminhos, pois esse que aí está sendo trilhado por vocês não levará a lugar nenhum, perdão, sabemos onde ele vai dar…

Amém.

 

Henri Cartier Bresson
Alberto Giacometti