BATALHAS DE ITARARÉ (AS QUE NÃO HOUVERAM).

E graças aos deuses não aconteceram, pois eram ávidamente esperadas por aqueles” experts” do jogo, para os quais o que importa são os embates sob as cestas, travados por mastodontes travestidos de jogadores de basquete, para o gáudio ensandecido de quem somente têm olhos para massas musculares e atitudes intimidadoras. O sul-americano recém encerrado demonstrou claramente que existem outros caminhos a serem percorridos além das battles under basket. No nosso caso, ficou bem claro que mais vale o gigante ágil e hábil, do que os massudos de plantão.Os centros Murilo, Estevan e Bambú, demonstraram que ao saltarem mais alto, transformando velocidade horizontal em vertical com mais presteza e velocidade, não só dominavam os rebotes, como exerciam o fundamento defensivo com muito mais eficiência, pois o faziam com velocidade, muitas vezes antecipativa. Seria temerário alterar seus físicos flexivéis e velozes, em nome de um embate com adversários futuros superpesados, que só estão na cabeça de quem não entende absolutamente nada sobre a dinâmica do jogo, quando são respeitadas as características biotipológicas de cada povo. Se bem treinados nossos homens altos poderiam exercer a marcação frontal, impossível de ser realizada por jogadores superpesados,
fator que os colocaria em grande vantagem em confrontos internacionais, ao mesmo tempo em que economizariam faltas pessoais, facilmente cometidas nas vãs tentativas de frearem descomunais locomotivas. Um dos fatores mais importantes na conquista do mundial da Australia por nossas jogadoras foi a marcação frontal das pivôs americanas e chinesas exercidas pelas nossas esguias e altas marcadoras, arma letal que perdemos ao alterarmos seus fisicos velozes e flexiveis, substituindo-os por massas musculares tão ao gosto de deslumbrados preparadores físicos, ignorantes do que vem a ser a arte de jogar basquetebol. Otimizando os arremessos de curta e media distâncias, os rebotes ofensivos com giro de 180°, os passes incisivos após os rebotes defensivos, e principalmente o deslocamento permanente sem a bola,
estaremos dando um salto altamente qualitativo em nosso jogo. Ubiratans e Gersons são nossas marcas registradas embaixo das cestas, e essa geração tem todas as possibilidades de as repetirem, e efetivarem como inteligentes armas. Outrossim, vimos a afirmação da utilização de dois armadores puros, como argumento irreparável do aumento qualitativo de toda a equipe.
A maior prova foi a quase total ausência de estouros de tempo de ataque, e a total prevalência dos arremessos de 2 pontos, tanto na curta, como na média distância, deixando para os especialistas os de 3 pontos, naquelas situações de equilibrio e tempo hábil. Alguns cronistas ainda criticam o drible excessivo, mas esquecem que quando efetuados por quem realmente o domina se torna eficaz, além de manter a ambicionada bola em poder da equipe, e não trafegando solta e lampeira ao sabor dos passes, e cuja posse é daquele que chegar primeiro. Jogo se ganha com a posse da bola, e não correndo desenfreadamente atrás da mesma. Como afirmei no artigo anterior, caberá a comissão optar por um um de dois caminhos. Entupir a equipe de massa muscular para tentar enfrentar adversários historicamente mais preparados nesse mistér, ou dotar todos seus setores de velocidade e flexibilidade, que são os ingredientes mais explosivos de nossa histórica e algo esquecida habilidade de jogar o grande jogo. Torço para
que as futuras batalhas repitam Itararé, e não aconteçam, pois podemos e deveriamos jogar de outra forma, que já provamos ser tão ou mais eficiente do que hoje praticamos. Oxalá vislumbremos a luz.

REDESCOBRINDO A PÓLVORA.

Perde o Brasil para a Venezuela utilizando-se de um único armador puro nos momentos chaves da partida. Vence o Brasil a Argentina utilizando dois armadores puros em todos os momentos chaves da partida. Duas alternativas, dois resultados diametralmente opostos. No primeiro, o comentarista da ESPN afirma ter sido a utilização de um único armador o fator de equilibrio da equipe brasileira, já que nas trocas defensivas deixara de ocorrer a discrepância de estaturas que beneficiava os venezuelanos. Resultado da opção? Derrota inconteste. No segundo, contra uma equipe equilibrada e experiente, a utilização de dois armadores propiciou um substancial aumento de velocidade ofensiva, assim como uma grande e incansável ação defensiva, resultando em vitória. Mesmo engessados por um sistema anacrônico e monocórdico, o simples fato de serem mantidos dois rápidos e técnicos armadores, qualificou a equipe naqueles dois fundamentos responsáveis pelo ritmo da mesma, os passes e os dribles. O outro fator decisivo foi a mobilidade ofensiva dos homens altos, principalmente aqueles mais atléticos do que massudos, mesmo quando enfrentavam os tanques argentinos. Defensivamente, o fator mobilidade em muito beneficiou nossa equipe, principalmente nas situações antecipativas. E como a opção de dois armadores se manteve por mais de 70% de duração do jogo, as vantagens se acumularam, propiciando uma igualdade uniforme no marcador, que sorriu para nos num inusitado final. Essa opção técnica,que defendo desde sempre, pois nos aproxima e qualifica naquele aspecto que nos é mais favorável, a ação continua e em velocidade, provou ser a mais acertada, mesmo que submetida a um sistema de jogo simplesmente absurdo, que ao retirar sistematicamente um ou dois jogadores altos das proximidades da cesta, para que venham na linha dos tres pontos efetuar corta-luzes, nos faz órfãos dos rebotes ofensivos, quando esses mesmos corta-luzes poderiam e deveriam ser executados pelos armadores, com maior eficiência e performance técnica. Uma drástica mudança de sistema se faz mistér e necessária, principalmente quanto à movimentação dos tres homens altos dentro da zona restritiva, que se for efetuada concomitantemente aos dos dois armadores que evoluem no perímetro, com mudanças laterais, sagitais ou longitudinais à cesta, tornando-se permanentes e seguidos referenciais aos passes, os farão possuidores da arma mais letal de um atacante, a posse da bola em movimento, um tempo à frente de qualquer ação do defensor, e por conseguinte situando-se em posição mais do que vantajosa para os arremessos de curta e média distâncias. A escolha segura dos arremessos de dois pontos, propiciará uma retração defensiva no intúito de anulá-los
originando espaços efetivos para os arremessos seguros,oportunos e equilibrados de tres pontos,
efetuados por quem de direito, os especialistas, e não qualquer um que se auto-determina dominador daquela grande arte. A equipe brasileira em muito se aproximou desse ideal técnico-tático nessa partida, principalmente quando teve em quadra um quinteto rápido,alto e ágil, declinando substancialmente quando constituido de homens de choque. A comissão técnica
terá de optar por uma ou outra composição básica de equipe, a começar pelo aproveitamento de homens altos e ágeis, mais presentes nessa seleção de corte do que aquela previamente selecionada e garantida. Trata-se de uma opção capital para o futuro do nosso basquetebol, que na sadia tentativa de se afastar do esteriótipo NBA, poderá reencontrar nossa qualidade básica, a velocidade inteligente no ataque, e a movimentação antecipativa na defesa. Se teimarmos em duelar com as locomotivas americanas e de algumas equipes européias, estaremos abdicando de nossas reais,efetivas, porém esquecidas qualidades. Torna-se de fundamental importância resgatá-las. Que assim seja,amén.

OS CARDEAIS

Quando da vinda da seleção brasileira masculina da Copa América, publiquei o artigo “Quadratura omissa”em 7/9/05, no qual critiquei veementemente as declarações de dois jogadores, que auto-determinados líderes da equipe, faziam severas ressalvas à atitude do atleta Nenê, pela negativa de participação na referida copa, e traçavam parâmetros e exigências ao mesmo para as futuras convocações, principalmente para o mundial. Agora, na transmissão da primeira partida da seleção no Sul-Americano na Venezuela pela ESPN Brasil, um daqueles jogadores, qualificando-se como comentarista e nóvel articulista, vem à público, empunhando um microfone, e desanda a emitir conceitos e opiniões sobre colegas jogadores, comportamentos da comissão técnica, a partida em si, culminando num pretenso papel de liderança que em hipótese alguma tem o direito de reindivicar, ou mesmo ostentar. Como um dos 8 já consagrados pela comissão para o mundial( 7 se o Nenê mais uma vez recusar a convocação, somando à sua disposição anti-CBB, a não aceitação das ressalvas dos dois “lideres” do grupo), caberia tão somente se preparar convenientemente para os treinamentos, e não sair por ai emitindo pontos de vistas que não lhe dizem respeito. Sua função é a de se apresentar na melhor forma possivel, que é a função de todo bom jogador, e NADA mais, o que já é muito e desejável. Torna-se mistér
a eliminação de um vício que vem se alastrando no esporte nacional, a dos cardeais, intocáveis e seguríssimos de suas posições feudais, nem sempre amparadas por reais qualificações técnicas.
Houve época em nosso basquete que existiram pequenos grupos de jogadores especializados em derrubar técnicos, inclusive nas seleções, mas foram aos poucos sendo substituidos por outros que se impunham por qualificação técnica, e não política. Mas atualmente, movidos por extranhos poderes, surgem cardeais, donos e mandatários de capitânias, senão hereditárias,
porém poderosas e eficientes. Nosso futebol foi vítima desses cardeais, que segundo o brilhante, mais lúcido e objetivo de nossos articulistas, Arthur Dapieve, só podiam ter “a carta”.Sua coluna de hoje no O Globo, “A Redenção”, é simplesmente definitiva. Em hipótese alguma poderemos permitir o surgimento de um movimento cardinalício no meio, já tão mambembe, de nosso basquetebol, que teria nefastos resultados. Liderança se conquista no campo da luta, e não empunhando microfones e respondendo emails de fãns oportunos. Esse foi o efeito mais negativo da dicotômica convocação, a certeza da posição. A saudável competição para alcançar um lugar na seleção brasileira ficou restrita aos doze condenados a quatro vagas que embarcaram para o sul-americano, e que lá se engalfinharão pelas migalhas, para depois serem ou não aceitos pelas ressalvas dos cardeais. E tudo isso nasceu no seio da quadra comissão, numa prova inconteste de que nem sempre muitas cabeças pensam melhor do que uma, principalmente quando uma ação decisiva necessita de liderança e responsabilidade,condições básicas a um comando, que não pode ser dividido, e sim assumido. Por isso tudo temo pela seleção brasileira, onde cardeais se insinuam a um comando dividido e desigual. Vamos ver no que dá, e torcer por dias,ações e atitudes melhores.

TRANSPONDO FRONTEIRAS.

E eis que um técnico brasileiro resolve comparecer a uma clinica de basquetebol na Croácia!
Escândalo! Absurdo! Diriam muitos, todos aqueles vidrados na potência do norte, com seu poderio econômico esmagador e colonizador. Admirável lucidez, pois irá estagiar num dos locais mais fascinantes da história do grande jogo, berço de jogadores admiráveis e técnicos dos mais capacitados no mundo da bola laranja. Irá tomar contato com estudos estatísticos simplesmente esnobados por aqui, pois qualifica jogadores por coeficientes de produção, e não por percentuais passiveis de manobras e utilizações interesseiras. Testemunhará ao vivo e à cores o que vem a ser ensino gradual de fundamentos,com todo um amparo de eficientes principios didático-pedagógicos, assim como, tomará ciência do que existe de melhor na formulação de técnicas,táticas e estratégias de jogo. Mesmo com a grande divisão ocorrida na extinta Iugoslávia, a Croácia ainda mantêm sua tradição basquetebolística. Esse esclarecido técnico,tenho a mais absoluta certeza, não retornará com o discurso de seus pares,que após estagios em equipes profissionais americanas de segunda linha, aqui aportam com o discurso de que nada de novo aprenderam ou observaram, exceto o alto grau de organização e facilidades tecnológicas lá existentes. Boa desculpa para nada transferirem aos colegas que aqui ficaram sonhando com uma oportunidade similar. Nosso corajoso técnico muito terá a divulgar em sua volta, a começar pela ausência do poder econômico esmagador, situando aquele país muito próximo à nossa realidade, tanto na economia de gastos, como na necessidade fulcral da troca de experiências que seus técnicos desenvolvem permanentemente. Talvez seja esta a grande vedeta de sua pemanência, o estudo e o desenvolvimento do jogo através a experiência coletiva passada e divulgada por seus técnicos. Trata-se de um estágio em uma verdadeira e vitoriosa escola de basquetebol, seguidora e desenvolvedora de um atividade sob regras internacionais,
e não adaptada a interesses comerciais e exibicionistas de nossos irmãos do norte. Aguardemos o que terá a dizer nosso corajoso técnico. Outrossim, tivemos a infelicidade de constatar a ida do tecnico nº1 de nossa seleção ao campeonato panamericano juvenil, que delegou aos técnicos 2 e 3 o treinamento da seleção principal, a fim de prestigiar o técnico nº 4, ou prestar sua acessoria
ao mesmo por ser inexperiente, nesse campeonato classificatório ao mundial da categoria.Para variar,e mesmo contando com sua imensa sabedoria ficaram com o bronze perdendo para nossa
já conhecida Argentina e para os Estados Unidos. Pelo visto, a vigilância ao estilo que impôs ao basquete brasileiro, não poupa nem seu colega de comissão, obrigado a desenvolver os principios aceitos unanimemente por todos os integrantes da quadratura técnica. No feminino da categoria a mesma coisa com o quarto lugar alcançado.Mas se classificaram para os mundiais.Se analizarmos a questão sobre o ângulo de que as nações européias e asiáticas também têm tradição, nossas derrotas sulamericanas nos colocam em inferioridade desde já, a qual não será transposta com a continuidade do sistema de jogo implantado. A comissão da CBB deveria seguir o exemplo solitário do técnico corajoso que descreví acima, e talvez abrissem suas mentes ao transporem as fronteiras do mundinho que conhecem. Ainda está em tempo.

O QUE TODO JOGADOR DEVERIA SABER 10/10

Que executar um corta-luz ou um bloqueio requer bons conhecimentos de mecânica corporal,
sentido espacial,e principalmente atitude tática.Se deslocar com os braços juntos ou cruzados ao corpo, sugerindo ausência de intenções à faltas pessoais, mas deslocando o corpo no sentido do adversário visando cortar seu caminho, caracteriza não somente o ato faltoso, como anula qualquer vantagem conseguida por seu companheiro de jogada, pois a supremacia numérica no desenlace do movimento deixa de existir. A atitude mais comum em nosso basquete, e já bastante generalizada em todas as categorias, é a saida rápida de um dos pivôs para a além da linha dos três pontos, ao mesmo tempo em que o armador ou ala de posse da bola cruza com o mesmo em um movimento também muito rápido, no momento em que o pivô exerce um movimento blocante quase sempre em movimento, sobre o marcador do companheiro que dribla. Dois são os erros cometidos, o da movimentação do pivô se caracterizar em falta pessoal, e o armador seguir em frente marcado após a troca. O corta-luz corretamente executado propicia o bloqueio duplo dos dois defensores envolvidos na jogada, originando o escape livre do driblador, ou a fuga do bloqueador para a recepção do passe, e muito aquém do que se tornou lugar-comum, os movimentos podem, e muitas vezes devem ser lentos na construção do corta-luz, e rápido em sua finalização. Em outras palavras, o driblador deve encaminhar seu marcador lenta e pacientemente numa direção, ou local, em que ocorrerá o encontro com seu companheiro, de tal forma que o mesmo numa movimentação de pés em compasso, tanto prenda o marcador de seu companheiro, como junte ao mesmo o seu proprio marcador. Para tanto, o driblador ato antecedente ao bloqueio mudará de direção, de tal forma que passe rente ao seu companheiro, originando dessa ação duas variáveis.A primeira, quando em velocidade de explosão mantiver os dois defensores atrás de si, permitindo sua livre investida à cesta. A segunda, raramente utilizada entre nos, quando o bloqueador ao se situar entre os dois defensores investir ele mesmo em direção à cesta concomitante ao passe executado por seu companheiro por cima daqueles. O primeiro corta-luz denomina-se “por fora”, o segundo,
óbviamente “por dentro”. São movimentos que não necessitam velocidade inicial, e sim em seu desfecho. O dominio espacial nesses sutís movimentos constitui o cerne do corta-luz bem executado, pois não são todos os jogadores que o possui, e quase nenhum sequer sabe utilizá-lo e desenvolvê-lo. O posicionamento futuro dos defensores em um trecho da quadra de jogo é o fator predominante para o sucesso de um eficiente corta-luz, e cabe em grande parte aos dois atacantes envolvidos no mesmo o direcionamento dos defensores no sentido da ação pretendida.
O ponto futuro tão importante nos passes, encontra na construção de um corta-luz sua dimensão maior, pois envolve destreza no drible, na finta, no bloqueio e no passe. O movimento em forma de compasso exercido pelo responsavel nos bloqueios será sempre antecedente à movimentação do driblador, e nunca concomitante, pois dessa forma estará se movimentando
no momento do bloqueio, o que caracteriza a falta pessoal. Por essa razão, o dominio espacial se torna fundamental, pois antecede a jogada que está sendo conduzida pelo driblador. Outrossim,
essas movimentações podem e devem ser estabelecidas quando o corta-luz for realizado por dois jogadores sem a posse de bola. Jogadas do lado contrário a posição da bola deveriam SEMPRE obedecer a mecânica dos corta-luzes, sejam por dentro, ou por fora. Uma equipe bem organizada e treinada executará com eficiência, e muitas vezes ao mesmo tempo corta-luzes em
situações antagônicas, dando a mesma um poder de ataque em que os marcadores dificilmente possam flutuar defensivamente, preocupados pela constante movimentação à sua volta. O bloqueio simples difere num ponto dos corta-luzes, ele é sempre realizado por dois jogadores sem a bola, geralmente no âmago do garrafão, e quase sempre em movimentação sagital à cesta.
A função do bloqueio é a de retardar por uns momentos a ação defensiva, e não a anulação da mesma. Esse retardo pode propiciar um bom passe de fora para dentro do garrafão, e muitas vezes um bom atacante pode se utilizar de um outro marcador desvinculado visualmente de si para, num breve,porém rápido deslocamento lançar seu proprio marcador nas costas do mesmo,
obtendo dessa forma de bloqueio espaço para sua jogada. O principal elemento técnico para quem exerce o corta-luz é o amplo posicionamento, o maior possivel, de seu corpo e pernas, no intuito de oferecer o maior obstáculo possivel aos marcadores, assim como, a maior qualidade que se exige ao driblador, ou não, envolvido na ação, é o de aproveitar ao máximo as possibilidades que em frações de segundo se apresentam em sua consecução. A atitude tática, envolve basicamente o perfeito controle que possa ser exercido por sobre as variações nas velocidades de deslocamento, antes, durante e após o corta-luz, que se aproximará da perfeição
quando construido com lentidão, desenvolvido com inteligência e concluido em velocidade. Mas,
a maior qualidade dos corta-luzes para uma equipe, é grande possibilidade que os técnicos têm de desenvolver bons e efetivos exercicios aproveitando suas particularidades técnicas, as quais representam o ápice dos conhecimentos fundamentais do jogo, sem os quais nenhum jogador pode se considerar efetivo para sua equipe. Com esse artigo encerro essa série sobre fundamentos básicos. Oxalá tenham um bom proveito em seus treinamentos.

TÉCNICOS E…TÉCNICOS.

Num recente artigo em seu blog Databasket,o grande jogador Marcel e hoje técnico, expõe com muita propriedade seu posicionamento ante os critérios de convocação da seleção brasileira para os campeonatos que ora se avizinham,dentre os quais o Mundial. A convocação de alguns jogadores que atuam no exterior em ligas menores em detrimento daqueles que atuaram na NLB,numa atitude vingativa ante os últimos e tristes acontecimentos que envergonharam nosso basquetebol, mereceram ampla critica,assim como os comportamentos nada éticos dos selecionadores nacionais,acusados de se utilizarem de suas posições para montarem equipes vencedoras em suas agremiações, e de não convocarem aqueles que recusavam tais propostas. Também criticou veementemente as agremiações que se colocaram ao lado da CBB, numa hora em que a união de todas poderia ter desencadeado profundas mudanças em nossos campeonatos e na administração técnica do basquetebol nacional. Foi uma atitude corajosa de quem sempre propugnou pela independência de suas opiniões e atitudes.No entanto, um certo ranço de mágoa,ao não ser nunca lembrado para a direção de seleções nacionais, desejo a muito externado, deixou no ar dúvidas de dificeis respostas, já que repletas de emoção e alguma raiva.
Se está com a razão,só o tempo dirá, mas salta aos olhos o grandíssimo poço que se antepõe nas relações inter-pares, nas quais a total ausência de entendimento torna-se o grande óbice em nosso combalido basquetebol. Enquanto recolhidos em suas redomas, na permanente negativa de congraçamento e trocas de experiências, na luta subterrânea que travam por melhores posições e oportunidades profissionais, no lamentavel uso de instrumentos de midia em criticas unilaterais, nos comportamentos anti-desportivos ao lado das quadras,com pressões descabidas sobre árbitros e delegados, no uso de palavreado chulo e imoral dirigidos a audiências juvenís
em todo o país, na teimosa e pouco inteligente utilização de um sistema de jogo globalizado e paralizante, na perene e covarde negativa de investir em novas atitudes técnicas e táticas,
optando pelo status do menor esforço, no endeuzamento conveniente de jogadores desprovidos de um minimo de ética, educação e amor ao país, na ausência de bom -senso e humildade,os técnicos desse enorme país não terão a minima chance de soerguer condignamente o basquete
brasileiro. Afirmo e reafirmo o que disse nos 40 e tantos anos participando da grande luta, que sempre tivemos ótimos,bons,maus e péssimos dirigentes, assim como fases gloriosas e de insucessos, mas até 20 anos atrás tinhamos, como espinha dorsal, um sem número de excelentes técnicos formadores e líderes de equipes, e que de certa forma se respeitavam e não se negavam ao diálogo e a novas idéias, numa anteposição ao que se manifesta nos dias atuais,
onde o mérito deu lugar ao mais deslavado QI, e onde o nóvel jogo do Tapetebol se faz presente
amiúde. Nosso grande Marcel ainda tenta em seu ótimo blog abrir um pouco as mentes engessadas de nossos técnicos publicando artigos sobre o Sistema de Triângulos, uma formula diametralmente oposta ao que se aplica massivamente em nossas equipes de todas as categorias
assim como tento fazer aqui nesse blog algo correlato, mas com outro enfoque, assuntos estes que deveriam ser um lugar comum entre todos os técnicos do país, se de alguma forma se unissem em torno de um ideal e de um compromisso ético,evolutivo e profundamente democrático. Cansativa e repetitivamente afirmo, que somente os técnicos poderão salvar o basquete brasileiro, pois são aqueles que ensinam,divulgam,promovem estudam,dirigem,
controlam e orientam os jovens em direção ao cerne do grande jogo,o basquetebol. Faz-se e torna-se urgente o ressurgimento de uma associação nacional de técnicos, fora de parâmetros coercitivos de CREFS e congêneres,que nada mais querem senão taxas e emolumentos anuais,
assim como a manutenção de seus rentáveis cursos de atualização e certificação de leigos, como também a formação de bancadas políticas estaduais e federais, culminando com a pretensão criminosa de exercerem o direito de testagem aos egressos dos cursos universitários,numa intromissão absurda nas licenciaturas. Urge um basta a estas atitudes, assim como se torna de fundamental importância a união dos técnicos, na busca das formulas que salvem e soergam o
basquete em nosso país. Como um dos fundadores das duas primeiras associações brasileiras,a ANATEBA e a BRASTEBA, me coloco,desde já, na linha de frente dessa luta, que pelo menos deve ser tentada.O que têm todos a dizer?

O QUE TODO JOGADOR DEVERIA SABER 9/10

Que marcação,ao contrário do que muitos apregoam ser constituida de 10% de técnica e 90% de disposição, é exclusivamente para quem sabe.E o saber marcar constitui-se em doses maciças de técnica,muito treinamento e coragem, fatores sem os quais,nenhuma vontade e disposição os podem substituir. Técnica,porque exige do jogador o mais profundo conhecimento de suas valências físicas, comportamentais e psiquicas, o mesmo quanto ao conhecimento de seus adversários. Muito treinamento, consumindo uma enorme quantidade de tempo, transformando-o em anos de prática e dedicação extrema. Coragem, pois somente aqueles que admitem sem restrições as duas exigências anteriores, poderão ostentar a bandeira de bons e eficientes defensores.Outra falácia, transformada em regra geral, é a de que marcação por zona pode ser exercida por jogadores de média ou baixa eficiência defensiva, aspecto que pode ser absorvido e diluido por entre os componentes da equipe.Nada mais absurdo, pois uma marcação por zona só alcançará ótimas prestações defensivas na direta proporção da qualidade de seus executantes, ou seja, somente um ótimo marcador individual poderá ser eficiente numa defesa por zona. Por conta desses enganos,muitas gerações de jovens atletas foram mal, ou nem mesmo
iniciados na arte de defender, sendo destinados desde muito cedo, a constituirem-se em defensores por zona, o mais primario artificio de uma grande maioria de técnicos em seus sonhos
de vitorias rápidas e pouco trabalhosas. Se a defesa individual fosse a única aceita até a categoria de infanto-juvenis, muito se avançaria no dominio das técnicas defensivas, e obrigaria os técnicos a estudarem melhores didáticas e principios pedagógicos na arte de ensiná-la. Mas este é um assunto que já tratamos à exaustão em artigos anteriores. Então, vamos dar um giro pelo mundo do bem marcar. Artigo primeiro- JAMAIS acompanhe com os olhos as partes do corpo do adversário que possam se mover em grande velocidade, tais como braços, pés e principalmente os olhos. Fixe sua atenção no tronco,que é o segmento menos dinâmico, em visão angular, deixando a visão periférica no controle dos demais jogadores, e das jogadas que estão em curso. Artigo segundo- EM HIPÓTESE ALGUMA cruze as pernas quando em deslocamento ante um adversario que dribla ou se desloque sem a bola proximo à cesta. O posicionamento sequenciado com as pernas afastadas e os quadris o mais próximo possivel do solo, por si só oferece ao adversario uma grande área a ser superada, necessitando para tal uma ação de contorno, dando ao defensor precioso espaço para a interceptação. Com a ação conjunta de todos os defensores dentro desse posicionamento, muitas dificuldades se somarão aos esforços dos atacantes. Artigo terceiro- NUNCA se afaste de um atacante de posse da bola, principalmente driblando, pois a flutuação à distância propicia ao mesmo facilidades no passe, na finta e mesmo no arremesso. Artigo quarto- Se for ultrapassado em qualquer ponto do perimetro defensivo,corra o mais rápido que puder para dentro do garrafão, tornando-se apto nessa nova posição de cobrir o defensor que se apresentou na marcação do atacante que o superou. Artigo quinto- Ao marcar o pivô adversário faça-o sempre pela FRENTE, obrigando os demais atacantes a se utilizarem de passes em alta elípse se o quiserem acionar.O passe em elípse, por força de sua trajetória torna-se lento e passivel de interceptação. Artigo sexto- Quando em deslocamento ante um contra-ataque, mantenha seu ombro o mais próximo possível do ombro do adversário, evitando as trocas de direção e o perfeito dominio da bola. Artigo sétimo- Ao marcar um pivô pela frente movimente-se de tal forma que obrigue o mesmo a sair o máximo das posições perto da cesta,inviabilizando-o de participar das jogadas que o tenham como base. Artigo oitavo- Se na marcação à frente for superado por um passe em cobertura, gire o mais rápido que for possivel para dentro do garrafão, tornando-se apto a uma nova ação defensiva ao reequilibrar a supremacia numérica alcançada pelo adversário. Artigo nono- NUNCA perca de vista a bola, em circunstância nenhuma, pois esse é o unico meio de antever toda e qualquer ação ofensiva do adversário. Artigo décimo- Doe-se com determinação nas ações de anteposição e interceptação, que somadas às corretas técnicas adquiridas pelo árduo treinamento,o tornarão de verdade num excelente defensor. Os artigos acima descritos deverão ser obedecidos com rigor e disciplina, pois dependerão deles o sucesso defensivo de sua equipe, principalmente se numa mudança tática se utilizar de uma defesa por zona, na qual os rigidos parâmetros exigidos na marcação individual a tornará de dificil superação. A conclusão óbvia a que poderemos chegar, é a de que somente pode exercer uma poderosa defesa aquele jogador que domine os principios técnicos da mesma,e a domine através longo e penoso treinamento.Em síntese, só marca quem sabe, não bastando somente a vontade de fazê-lo. Disposição física faltosa não pode ser confundida com técnica defensiva. Jogador que a possui não sai do jogo pelas 5 faltas pessoais. E se não a possui, não deveria participar do mesmo. Jamais deverá esquecer que uma boa e treinada equipe começa pela defesa. Treinem arduamente a defesa,para serem dignos de atacar. No próximo artigo encerro a série.Até lá.

EQUÍVOCOS

Após um tenebroso inverno,onde liminares imperaram,com idas e vindas diretivas no comando da CBB,e com um total silêncio sobre o que realmente vem acontecendo nos bastidores soturnos do nosso basquete,eis que de repente tivemos a convocação das seleções masculinas,e logo duas,para as competições importantíssimas que se aproximam.Como possuimos um elenco de formidáveis jogadores,podemos nos dar ao luxo de termos “a priori” duas seleções.Uma para o Sul-Americano,e outra para o Mundial.Esta,com os oito jogadores classe A, e a outra com os dezoito classe B. De saida,a turma B já fica sabendo que disputará 4 ou 5 vagas, dependendo dos humores do pivô Nenê e sua beligerância com o grego melhor que um presente. Serão 18 jogadores se engalfinhando por 4-5 vagas, para terem a honra de adentrarem no círculo do clube A,onde inclusive,um dos armadores já externou seu desejo de jogar na posição 2, que é a mesma do outro armador convocado, e grande estrela de sua equipe na NBA. Este, humildemente declara em sua entrevista no blog REBOTE que aceitaria voltar a jogar de 1, que foi onde começou.Como vemos, bem antes de qualquer treinamento, ou declarações dos 4 técnicos da seleção, jogadores já definem suas posições táticas na equipe.Esse mesmo jogador já teria dado uma declaração à imprensa,na qualidade de auto-representante do grupo,dando um ultimato ao rebelde Nenê,de que somente seria aceito no grupo fechado se se enquadrasse a determinadas
normas. Mas como o Sul-Americano é uma competição menor,nenhum luminar da turma A se dignará a trocar figurinhas com a turma B, pois da mesma somente 4-5 jogadores poderão almejar uma promoção, e mesmo assim como terceiras opções.Mas se olharmos e analisarmos com absoluta isenção os integrantes das duas turmas selecionadas,poderemos com grande dose de certeza avaliarmos,que ante padrões de alta técnica,somente 3 jogadores da turma A se diferenciam dos demais,Leandro,Varejão e Spliter.Seriam 4 se o impasse Nenê estivesse resolvido e equacionado. Os outros 4-5 se situam no mesmo patamar da turma B,correndo o real perigo de serem suplantados por ela.E que estes 3 jogadores sempre se situaram num patamar,não somente de alta capacitação técnica,como,acima de tudo,ética. E que,finalmente,
essa dupla convocação nada mais representa do que um falseamento de nossas reais possibilidades,pois situa aprioristicamente a idéia de que já possuimos uma equipe para o Mundial,que receberá sua complementação advinda do Sul-Americano,e que somente os posicionamentos das grandes estrelas da turma A realmente definirá a constituição da mesma.
É um perfeito lava-mãos pilatiano,inteligentíssimo aliás,de uma comissão que desde já define quem serão os culpados se algo der errado. O grande equívoco,proposital ou não,é o de se perder a excelente oportunidade de definir uma seleção de 15, e não 26 jogadores, todos no mesmo barco das competições que ora se apresentam,para que no decorrer das mesmas possam se preparar em conjunto para a competição definidora de nosso futuro internacional,o Mundial. É incrivel, que uma comissão de 4 técnicos,unidos e afinados como sempre apregoaram(aliás,um deles,o mais inteligente, no recente hexagonal, desafinou dos demais ao apresentar um sistema de jogo audacioso e eficaz,mas em contrafação aos designios da comissão nacional de que faz parte), se deixem levar por um planejamento falho na saida do processo, ainda mais se levarmos em conta a pobreza técnica e de fundamentos observadas no interminado campeonato nacional.
Por tudo isso,tenho sérias dúvidas no nosso futuro,pois uma perigosa inversão está em curso,ou seja, jogadores definindo situações,quando o correto seria os mesmos se adequarem a situações emanadas de um planejamento inteligente,dirigido e desenvolvido por técnicos capazes e lúcidos.
Num país em que jogadores se transformam em técnicos da noite para o dia,dirigindo divisões adultas sem o estágio probatório e decisivo das divisões de base, tudo de errado pode acontecer,e vem acontecendo,para gáudio e continuismo dos gregos melhores que um presente.
Estou temeroso,e brado aos deuses para não ter razão.Amén.

O QUE TODO JOGADOR DEVERIA SABER 8/10.

Que tres são as condições para um bom rebote:colocação,dominio tempo-espaço e transposição de velocidade horizontal em vertical.Os dois primeiros pontos são básicos nos rebotes diretamente embaixo das cestas,e o terceiro ponto,quando são executados em deslocamento.Colocação é a alma de todo e qualquer rebote,seja defensivo ou ofensivo.Em ambos uma conduta se torna transcedental,a de que toda e qualquer movimentação na busca do melhor posicionamento deve ser realizada em contato,ou o mais próximo possivel,do corpo do oponente,atitude que afasta em grande parte a possibilidade de obstrução defensiva.Mesmo estando de costas para o defensor,o giro em torno e em contato com seu corpo possibilita a ocupação de espaços vitais,numa ação antecipativa de grande vantagem.Se essa técnica for empregada por atacantes e defensores,levará vantagem posicional aquele que mais se aproximar do oponente nas ações de mudança de direção ou giro em torno do mesmo.E todas estas ações sendo realizadas sem a perda da visão da bola,por um segundo sequer.Trava-se uma luta de movimentos rápidos e inteligentes,em espaços minimos,mas determinados.Com a conquista do espaço pretendido pela antevisão direcional do ressalto da bola de encontro ao aro da cesta,ou mesmo da tabela,uma exigência altamente técnica vem a seguir,o dominio tempo-espaço.Trata-se de uma maior ou menor percepção da trajetória estabelecida pela bola após os ressaltos acima descritos.São fatores diferenciados de jogador para jogador,onde alguns calculam com grande dose de precisão o tempo necessário para a captura da bola,saltando e conseguindo-a no ponto mais alto do ressalto.Outros se antecipam àquele ponto,conquistando-a sem saltar em seu máximo.O conhecimento antecipado dessas qualidades entre os oponentes caracterizam e definem estratégias de ação,que se bem direcionadas auferem grandes vantagens em um jogo.Uma forma efetiva de treinamento de rebotes somente necessita de um tosco tampão de madeira para o aro,e uma ou duas cadeiras.Se postando atrás das cadeiras alinhadas lado a lado,o técnico lança a bola na cesta,que por estar tampada oferecerá uma infinidade de trajetórias,ao mesmo tempo em que o jogador finta ou gira em torno das mesmas posicionando-se para o rebote.
Mais adiante,o mesmo exercicio realizado em duplas,trincas,quadras e quintetos,levará a todos a um salutar e evolutivo aprendizado dos rebotes.No entanto,um terceiro fator deverá ser incluido no preparo,a transposição de velocidade horizontal em vertical,principalmente para os alas que se lançam para os rebotes vindo de posições afastadas da cesta,e que em muitas oportunidades cometem faltas pessoais nas projeções ao corpo dos oponentes.Transformar a velocidade horizontal de que vêm possuidos em velocidade vertical,na qual as projeções referidas transformam-se em faltas pessoais,exige treinamentos especiais.Dois exercicios,por serem acessíveis a qualquer equipe,podem ser praticados.O primeiro,é a corrida de encontro a uma parede,que deverá estar protegida por um colchonete de baixo custo,próxima a qual o jogador deverá,num movimento sequencial estancar e saltar, numa progressão que deverá se iniciar aos 90cm,progredindo aos 80,70,até o limite de 50cm.da mesma. O segundo,idêntico ao primeiro,substituido-se a parede por uma rede de volibol,onde a transposição poderá ser realizada a menos de 50cm,no qual o jogador poderá atingir e desenvolver ao máximo tal habilidade.Um jogador treinado nas fintas e giros em contato com o corpo do oponente,capaz de otimizar seus saltos e evitar projeções horizontais,é um jogador que realmente domina a arte dos rebotes,ofensivos e defensivos,tornando-se realmente efetivo para sua equipe.E se seu técnico negligenciar tal treinamento,munindo-se de um pequeno tampão de madeira,duas cadeiras,um colchonete,e mesmo uma corda atada entre dois postes,e contando com um colega que lance a bola a cesta,todo e qualquer jogador poderá melhorar muito sua qualificação reboteira.Não custa nada tentar, quando muito como um exercicio de inteligência e imaginação.Mãos à obra.

LEIS?PARA QUE!

Esse árbitro quer é aparecer! Diga-me a quanto tempo não vemos reversão de lateral? Ele quer se destacar mais do que os jogadores, quer ter os 15 minutos de glória dele”. Esse foi um,de muitos comentários desairosos feito por um famoso narrador sobre o juiz mexicano que arbitrou um jogo do mundial de futebol nessa tarde.Ao final,o comentarista de arbitragens do mesmo canal,um tanto constrangido,teceu os melhores elogios ao trabalho exercido pelo juiz em questão, deixando no ar a duvida de quem tinha razão, se o narrador,se o comentarista de arbitragens,se o juiz que simplesmente aplicou as leis do jogo. Narradores em nosso país detem uma enorme parcela de poder sobre o imaginário popular,tanto por seus bordões,como por suas opiniões “abalizadas”, esquecendo na maioria das vezes suas responsabilidades na formação opinativa do enorme publico a que destinam suas mensagens. Jogos coletivos são regulados por regras,as quais devem ser obedecidas por quem joga, por quem arbitra, por quem assiste, e por quem narra. Regras são para todos aqueles envolvidos no jogo, pois somente dessa forma ele poderá transcorrer em ordem democrática. Comentei em um artigo recente as falhas e concessões que muitos árbitros do nosso basquete vem cometendo ao não penalizar jogadores que se utilizam da interrupção do drible e do não cumprimento dos 5 segundos a que têm direito para efetuar o lance-livre, como uma forma discutível e muito particular de falsear as regras do jogo, como se a eles coubessem a legislação das regras,e não tão somente a aplicação das mesmas. Se no futebol,a elevação de um dos pés invalida um lateral, tantas quantas as vezes que essa ação for
cometida,tantas reversões deverão ser anotadas, assim com0, no basquete,infrações devem ser anotadas
quando burladas as leis do drible e dos lance-livres. Cabe ao narrador transmitir da melhor forma possivel as nuances tecnicas e emocionais de um jogo,mas nunca endoçar,em nome de uma sua pretensa opinião do que deve ser ou não arbitrado por um juiz, levando o onus da dúvida para junto de seu publico ouvinte,tentando convencê-lo de que as regras nem sempre devem ser obedecidas. No caso da televisão o acinte se torna mais grave,pois as ações ali estão ao vivo e à côres, às vezes sob a ótica de um sem número de cameras, numa participação massiva de alguns milhões de espectadores. Qualificar regras de um jogo como passiveis de não marcações,em nome de uma não frequente utilização, soa como um alerta para a difusão de não obediência a outras regras, a outras leis. Um narrador não tem o direito de cometer tal barbaridade, nem mesmo aqueles que se consideram um poder acima das regras e do senso comum. Muitos deles, cégos por uma discutivel notoriedade, tendem a confundir seus reais poderes ante a opinião pública,numa escalada perigosa de encontro a poderes paralelos à sociedade. Esta, em sua maioria composta de jovens torcedores,terão muito a perder com influências negativas que negam as leis do jogo, deixando-os desamparados em sua educação desportiva, que tudo tem a ver com a aceitação e obediência às leis que regem tais atividades, numa antevisão do que podem e devem esperar em suas práticas. Serem induzidos à negação das leis desportivas é um gravíssimo erro que devemos condenar, mesmo que a aplicação de algumas delas sejam raras, o que não nega as suas existências. O elogio ao trabalho do juiz mexicano feito pelo comentarista de arbitragens,
mesmo num teor de indisfarçavel constrangimento, desfez o mal estar deixado pelas afirmações depreciativas do famoso narrador, atitude que deve merecer de todos nos
os maiores agradecimentos, pois foi feita a justiça a um bom trabalho realizado. Até que determinadas regras de um jogo coletivo sejam modificadas,ou mesmo excluidas, devem ser aplicadas e aceitas, mesmo contra a vontade de alguns, principalmente aqueles que “se acham” acima das leis.