PARA AQUELES QUE QUEREM MUDAR.

Com o término do campeonato paulista,que para muitos espelha o que existe de melhor em nosso país,podemos tirar algumas conclusões, que ao contrário do que poderiamos imaginar,somente aumentam nossa preocupação com o futuro do basquetebol.
Para começar, nunca o estrelismo atingiu a classe dos técnicos como na atualidade,
onde até microfones sem fio foram instalados em seus corpos para que todo o país pudesse acompanhar, não só a côres e ao vivo,como também com vozes, soluços e esgáres suas performances estelares,centristas e profundamente autoritárias.Ficou faltando(pecado capital…)as legendas que elucidariam os intrincados hieróglifos rabiscados em suas pranchetas e um microfone em cada jogador participante, para ai sim, termos uma mais autêntica participação no jogo.Um absurdo que técnicos,pela mais pura vaidade,se permitam expor ao ridículo de serem monitorados em seu mistér,em suas ações,em seu mais sagrado direito,a privacidade no colóquio olho no olho com seus atletas,fonte de inspiração e confiança.Eles não têm o direito de nos impôr tal comportamento,gerando o mais profundo constrangimento.Lamentável!Na concepção técnica e tática o que vimos? Jogadas polegar,punho,coc isso, coc aquilo,executadas por ambas as equipes,idênticamente, e é claro que aquela que antecipasse a defêsa e tivesse mais calma venceria as partidas.Diferenças de 10,15 e até 20 pontos eram tiradas com facilidade,isso porque quando duas equipes jogam em esquemas idênticos(o famigerado”basquete internacional”,ou passing game)basta um ajuste defensivo,com antecipações nos mais do que previsiveis passes,para que em três ou quatro retomadas de bola o equilíbrio fosse restabelecido,sem contar com a limitadíssima técnica na condução e proteção de bola de nossos armadores-cestinhas.
A total ausência de marcação frontal ao pivô,não por alguns instantes,mas permanentemente,com a consequente diminuição de espaços sobre o jogador de posse da bola, inviabilizando os passes perpendiculares à cesta, obrigando aos passes laterais
e de recuo são lugar comum em nossas melhores equipes,e que é exatamente o que as equipes estrangeiras que atuam contra nós empregam,sabedoras de nossas já cansativas deficiências.Mas para o consumo interno é o suficiente, numa demonstração de pobreza cultural e técnica.A alguns anos atrás um menino muito alto surgiu no Fluminense, e que pelas suas qualidades atléticas se anunciava como real esperança para o basquetebol.Nos anos subsequentes seu comportamento técnico se situou em uma penosa
indecisão,ser um pivô ou um ala.Com sua altura(2,11m)e boa mobilidade deveria ter sido orientado a jogar o mais próximo da cesta possível, no entanto o mantiveram na mais total indecisão.Hoje seu ponto razoàvelmente positivo é o arremêsso de três pontos, em uma zona em que suas habilidades de drible deixam muito a desejar.Mas como na movimentação inicial do passing game os pivõs saem do garrafão para se situarem na zona dos três pontos,como arrietes para passes laterais, aos poucos foram
tomando consciência de que poderiam arremessar daquela posição,já que dificilmente era acompanhado por seus marcadores.E deu no que deu,se tornaram”especialistas” nos três pontos,quando acertam,e ausentes dos rebotes,quando erram.Nosso menino do Fluminense foi a primeira vítima desse perverso sistema de jogo, amado e endeusado pela maioria dos técnicos,cégos pela plasticidade dos movimentos,que quanto mais previsíveis,mais os deixam extasiados,numa coreografia dirigida e centrada por seus egos diretivos e impositivos.Sistemas que privilegiam o improviso,por Deus,nem pensar
pois como se justificariam através suas indecifráveis pranchetas e pelos agora introduzidos gadgets eletrônicos,os microfones pessoais.O basquetebol não merece,juro que não.E como não resta muita coisa a comentar, aquele simpático comentarista passa toda a transmissão a mandar abraços e beijos a seus fãns, até que os técnicos passem a transmitir também as instruções dadas ao intervalo,DIRETO do vestiário.A antítese de tudo isto é o que todo técnico deve praticar se quisermos realmente mudar o destino de nosso basquetebol, e enquanto isto não se torna realidade lastimo profundamente pelo futuro de alguns excelentes jogadores,obrigados a jogarem como se pertencessem a uma equipe de ginástica rítmica,prêsos a coreografias cada vez mais rígidas, em detrimento de um basquetebol criativo e magistralmente improvisador que é a nossa vocação, liderados por mestres técnica,cultural e sociológicamente preparados, como muitos que nos fizeram respeitados no mundo inteiro.O que vemos hoje em dia, sem dúvida nenhuma, nos levará mais para o fundo do poço em que nos encontramos a 20 anos.Lamentável!

DUAS HISTÓRIAS DO VELHO TOGO

08012012191Vindo do bairro da Sulacap em direção de Jacarepaguá passo por um pequeno conjunto de bem cuidados apartamentos e o que leio na parede ao lado da portaria de entrada me fez voltar no tempo. Lá estava em letras majestosas-Condomínio Togo Renan Soares- o velho e inesquecível Kanela.De imediato me veio a lembrança de que no pequeno auditório da CBB foi entronizado o nome de James Naismith e não o do bicampeão mundial Kanela.Para nós brasileiros homenagear um estrangeiro,mesmo da importância do inventor do basquetebol,se sobrepõe ao mais laureado de nossos técnicos, numa imperdoável injustiça. Mais adiante no trajeto para casa lembrei-me de
duas pequenas, porém elucidativas histórias sobre a polêmica personalidade daquele técnico genial.A primeira vez que ví o Kanela foi numa decisão do campeonato de aspirantes entre o Flamengo e o Grajaú TC no ginásio do Tijuca em 1958. Jogo duríssimo,ginásio lotado e uma tensão elevada,não só pelo calor reinante, como pela atuação intimidadora sobre a arbitragem por parte do Kanela.Na metade do 2°tempo, com
o jogo empatado observo uma figura que sorrateiramente se aproxima por trás do banco de reservas do Flamengo empunhando um imenso megafone azul.Trememos na base ao reconhecermos na figura que se aproximava do banco o Sergio Maluco,o auto elegido chefe de torcida do Grajaú.Por trás do Kanela,num movimento rápido,retira de dentro do megafone um porrete e desfere certeiro golpe na cabeça do desditoso,mas agitado e vociferante Kanela.Foi um momento de estupefação em todo o ginásio,com o Kanela caído e sangrando e o Sergio Maluco engolfado pela torcida do Flamengo ali presente.A confusão se estabeleceu e o jogo foi interrompido.Para satisfação geral o golpe não causou maiores estragos,a não ser uns poucos pontos aplicados na enfermaria do Tijuca.Quanto ao Sergio,um pouco machucado foi salvo da furia flamenguista pelos policiais presentes ao jogo.Dias depois, com os portôes fechados ao público o Grajaú sagrou-se tri-campeão da categoria. Ao conhecê-lo naquelas circunstâncias não pude deixar de admirar um técnico que suscitava tantas e díspares opiniões, tantos sentimentos opostos e conflitantes.Cinco anos mais tarde,no Campeonato Mundial realizado no Maracãnanzinho, assistí o reverso do jogo do Tijuca,
no intervalo da partida entre o Brasil e a União Soviética, também um jogo duríssimo e indefinido até aquele momento.O arbitro uruguaio,que vinha se destacando no mundial
e que dirigia o jogo,se retirava para o vestiario quando o Kanela dele se aproximou e sem maiores explicações desferiu uma bofetada que foi ouvida até por quem estava sentado no último degrau da arquibancada. Correu um frisson no estádio, ninguem poderia entender aquela atitude, naquele momento de intervalo de um jogo bem disputado por todos.Kanela foi expulso e o Brasil venceu a partida.Dois anos mais tarde fui convidado por ele para ser técnico das equipes infanto e de juvenís do Flamengo, onde iniciei uma relação respeitosa mas não ausente de boas e até duras discussões, não só técnicas, como administrativas.Num belo dia,sentados no restaurante da Gávea perguntei a ele sobre os dois momentos que eu havia testemunhado
anos antes, e ouvi do velho Togo as seguintes respostas: No jogo contra o Grajaú a agressão daquele maluco evitou que eu influisse decisivamente sobre a arbitragem ao tentar lançar a torcida sobre ela. Sem a torcida, já que a conclusão da partida foi com os portões fechados perdemos o jogo e o campeonato. No jogo do Mundial, o fato é que ele estava apitando bem demais, e isso não nos interessava. Ele precisava errar um pouco, de preferência a nosso favor, por isso gerei nele o peso da dúvida de que não era tão bom como imaginava,por isso dei a bofetada.Mas na verdade Paulinho,ele era bom demais.Eu só não queria que ele o fosse naquele jogo,o decisivo.Se alguem me perguntasse se essa era a verdadeira imagem do Kanela eu responderia sem medo de errar que,aquela era uma de suas muitas facetas,que transitavam entre o bem e o mal, mas que em sua totalidade atendiam, em sua especialíssima concepção,aos mais altos interesses de seu querido Flamengo e da Seleção Brasileira.Muitas outras passagens testemunhei e de alguma forma participei,e quem sabe um dia escreverei a respeito e com respeito.Mas uma me vem a cabeça,e que gostaria de repartir com o leitor.Era o último jogo do campeonato juvenil daquele ano,1965,com o Botafogo já campeâo e o Flamengo vice-campeão.Mas o Botafogo estava invicto e era o ano do quarto centenário do Rio de Janeiro.O jogo, na Gávea, se anunciava espetacular
e havia rumores de que a feroz torcida do Botafogo ensaiava uma possivel confusão se perdesse a invencibilidade.Disse ao Kanela que tinha uma idéia para anular uma possivel agressividade botafoguense, que era oferecer ao final do jogo um jantar para os atletas e técnicos no excelente refeitório que atendia todos os atletas na Gávea.O Kanela aprovou e telefonei para o Epaminondas Leal,técnico do Botafogo, convidando a equipe para o jantar após o jogo.Foi uma batalha inesquecível e que vencemos com méritos quebrando a invencibilidade do campeão.Veio o jantar e a invasão
de muitos torcedores do Botafogo e pais de atletas. Mas na maior paz possível aconteceu a confraternização com discursos e troca de flâmulas.No dia seguinte fui chamado pelo presidente Fadel Fadel que me apresentou uma conta dos mais de 70 jantares extras que haviam superado a cota autorizada de 30 jantares.Já começava a calcular o rombo em meu salário do mês quando o velho Togo intercedeu a meu favor junto ao presidente, e a dívida foi perdoada com a argumentação de que se tivesse havido confusão, muitos prejuízos físicos e materiais superariam o valor das refeições.Como bom comerciante libanês o presidente aceitou as explicações. Ambos,Flamengo e Botafogo eram os clubes da vida do Kanela, e ele não esqueceu disso ao presenciar dois ferrenhos inimigos juntos em um jantar de encerramento de um brilhante campeonato juvenil.Assim era o inesquecível Togo Renan Soares.Em tempo,no ano seguinte,com a situação invertida no ginásio do Mourisco o jogo terminou antes do final por causa de uma briga colossal.Nesse dia não fez fumaça na cozinha do Botafogo.Coisas do esporte.

Amém.

UM POSSÍVEL (RE)COMEÇO

Conceituou-se em nosso país que os americanos são melhores por que treinam mais
do que nós.Lêdo engano,são melhores nos fundamentos e nos detalhes do jogo porque treinam com excelentes professores e técnicos, e muito menos do que nós quanto ao tempo dispendido nas práticas,senão vejamos: No basquete universitário e colegial em geral os treinos das equipes são iniciados em uma data escolhida por suas federações no mês de setembro, para começarem as competições em novembro, extendendo-se os jogos até abril do ano seguinte.Se calcularmos uma prática diária(somente uma pois têm horário escolar a ser cumprido) em seis dias por semana,por três meses teríamos aproximadamente 63 treinos pré-temporada e mais 60 durante a temporada e algo em torno de 30-35 jogos.O total de 123 treinos e 30-35 jogos é inferior a uma temporada padrâo de equipes juvenís em nosso país que treinam e jogam por 10,e até 11 meses,treinando três vezes por semana, nun total aproximado de 154 treinos e 30 jogos em média.A diferença não´está no número de treinos,e sim na qualidade deles. Logo,podemos concluir que não nos faltam tempo de prática, e sim qualidade e objetivos a serem alcançados.Na semana passada uma equipe do interior do Rio de Janeiro encerrou sua participação nos campeonatos pela mudança política originada nas últimas eleições,somando-se ao caos em que se transformou o basquetebol do estado pela ausência participativa dos grandes clubes de futebol nos campeonatos regionais.Mas naquela equipe que acabava de ser desfeita quantos jogadores seriam originários do Rio de Janeiro,dois,três?ou nenhum?E quantos na faixa dos 23-25 anos?E quantos que exerciam uma atividade profissional fora do basquetebol? Não, são todos profissionais, pois basquetebol sério so pode ser praticado por profissionais,e em tempo integral! Se isto é verdade como se explica a excelência dos jogadores universitários norte-americanos que somente treinam uma vez ao dia para terem tempo de estudar, estudar mesmo,para se formarem em uma profissão que os manterá quando passar o tempo de atleta,a não ser aqueles muito poucos escolhidos pela ligas profissionais.E treinam menos tempo que nossos juvenís! Quando dirigi o Barra da Tijuca na temporada juvenil de 1997, pude testemunhar a grande quantidade de excelentes,promissores e altos jogadores que participavam nas 12 equipes daquele campeonato.Quantos deles, que estão hoje na faixa dos 24-25 anos atuam nas equipes de profissionais da Liga Nacional?Na minha última conta somente 3 deles!Hoje muitos deles são engenheiros, medicos,economistas,arquitetos,professores e outras tantas profissões, e que simplesmente abandonaram ou foram abandonados pelas equipes dos grandes, e por que não médios e pequenos clubes.Estes, se não tiverem em seus departamentos de basquetebol os inefáveis pacotes formados por dirigentes,técnicos e jogadores que perambulam pelo país atrás das verbas de prefeituras e emprêsas que querem se lançar a curto prazo e com um mínimo de investimento possivel,não abrirão jamais seus espaços àqueles jovens que ousaram estudar e se formar em uma profissão,com a desculpa mais absurda de que não teriam a qualidade técnica dos pseudo-profissionais de carreira.Façamos uma simples conta: Se um engenheiro trabalha em uma firma por 8 horas diárias,tendo 2 horas para lá se transportar,e dormindo regularmente 8 horas teriamos 18 horas de atividades profissionais e de descanso.Sobrariam 6 horas, nas quais poderiam caber 3 horas diarias, por 10 meses de atividades voltadas ao basquetebol. Com uma bem planejada grade de atividades, torneios e campeonatos regionais(para não prejudicar o trabalho e vice-versa)esses atletas poderiam, se bem orientados e treinados produzirem excelentes resultados em seus estados.As equipes classificadas para a liga poderiam estabelecer acôrdos e translados que não prejudicassem as atividades nas enprêsas, e se estas fossem as patrocinadoras esse fator deixaria de existir.Mas para dirigir atletas desta envergadura intelectual alguns, ou muitos técnicos teriam de reciclar conceitos absolutistas que professam, pois teriam respostas não tão submissas por parte de seus atletas, o que explica a imposição de dois treinos diários de muitas horas para apresentar o basquetebol medíocre que assistimos nos dias de hoje.Acredito firmemente que muitos daqueles esquecidos atletas aceitariam voltar a jogar seriamente em troca de pequenas verbas que pagassem a gasolina de seus carros e suas despesas de lazer.Mas sobrariam ainda 3 horas de seu tempo.Bem,qualquer rapaz ou moça saberá muito bem empregar esse tempo, e que muitos e muitos em nosso país jamais sonharam em tê-los livres. Sonho? Quimera? Pura ilusão? Não minha gente, pés no chão, para não lançarmos ano após ano gerações de bons e promissores atletas ao ostracismo e a falta de oportunidades.Clubes tradicionais que preferem se ausentar dos campeonatos por não terem verba para alimentar uma geração que se perpetua nas quadras do país, condenam gerações ao abandono precoce por que ousaram estudar. E esses mandatários são os mesmos que tecem lôas ao basquete americano por ouvirem o galo(aguia no caso deles )cantar mas nem desconfiam onde fica o galinheiro. Lamentável em todos os aspectos! E convenhamos, seria uma delícia assistir jogos com uma renovação permanente e jóvem, assim como testemunhariamos um desporto que priorizasse, como outrora o fizemos,a cultura e o saber.E dessa forma fomos campeões do mundo e medalhistas olímpicos.Hoje somos”profissionais”e não ganhamos nem de nossos hermanos argentinos.

POR ONDE (RE) COMEÇAR.

Ontem assisti pela TV uma das semi-finais do campeonato paulista masculino e como sempre,nada,absolutamente nada de novo. Ginásio lotado,narrador descrevendo uma partida que somente ele enxergava, e o comentarista que de uns tempos para cá resolveu exercer seu poder de crítica, diminuindo uma rasgação de sêda que em nada ajudava no desenvolvimento da modalidade. Duas novas vedetas foram incluidas na transmissão,com direito a closes que deixariam a Gisele Bunchen corada de inveja,as inefáveis pranchetas,que com seus rabiscos inenarráveis e de péssimo gosto estético dominaram na pequena tela televisiva.De repente um dos técnicos,levantando a vista de sua salvação tabular emite uma incrivel ordem-Corra até a lateral(não especificou nem mostrou na prancheta)e dê uma trombada no pivô! Acho que ele quiz dizer-Naquela lateral faça um bloqueio no pivô,ou exerça um corta-luz,mas ordenou”na maior” uma inefável trombada. E vimos ao final, com uma das equipes 1 ponto atrás e faltando 20 segundos entregar a uma caricatura de armador a decisão da partida, e que literalmente tropeçou nas próprias pernas entregando a vitória ao adversário.E vimos ,pela enésima vez varios ataques morrerem com o dominio da bola, assim como,num rasgo de oportunismo já vislumbramos que algumas defesas enfim descobriram que,como TODAS as equipes jogam da mesma forma,basta apertar um pouco o homem da bola,marcar o pivô pela frente e antecipar cortes aos mais do que óbvios passes para,ou atrasar o ataque fazendo-o recuar,ou simplesmente interceptá-los numa manobra mais agressiva.Em ambas o poder de ataque se reduzindo à metade aumentará em muito as possibilidades de vitória. Vimos comissões técnicas discussarem,todos ao mesmo tempo,quando mais o técnico necessitava de total atenção e concentração.Assistimos ainda a proposital confusão que confunde pancada com espirito defensivo,e engôdo com posicionamento técnico-defensivo. Durante o jõgo,o mesmo técnico que mandou dar aquela trombada no pivô teve a desfarçatez de em cadeia nacional instruir um de seus jogadores a se jogar para trás quando próximo ao pivô adversário para induzir o árbitro na marcação de uma falta.O que fazem esses técnicos nos treinamentos?Somente distribuem as camisas para os rachas tradicionais? por que não ensinam técnicas individuais de defesa e ataque, porque não exploram as qualidades de nossos bons,porém não lapidados atletas.Porque não treinam em situação de jogo,para não precisarem se esconder atrás de ridículos rabiscos em suas pranchetas mais ridículas ainda.E quanto ganham para encenarem uma liderança que não possuem? E com as afirmativas do locutor de que acabavamos de assistir um dos clássicos mais emocionantes dos últimos tempos desliguei a TV com a mais absoluta sensação de que ainda demoraremos muito e muito tempo a sair deste maldito limbo em que nos encontramo já a 20 anos.Temos de mudar,temos urgentemente de mudar, para que possamos reencontrar o caminho e o tempo perdidos, e para um (re)começo sugiro a quem possa influir,pelo menos no aspecto financeiro, que contratem e prestigiem quem realmente conhece basquetebol nesse imenso e pujante país,seria um belo (re)começo.

PESQUISA-UMA AVENTURA ALÉM-MAR IV

O tratamento dos dados digitalizados em computador tomaram um pouco menos tempo,mas para ser bem objetivo foi necessário uma série de ajustes na mesa digitalizadora para que fosse estabelecida uma rotina que pudesse ser adotada por quem quer que fosse usá-la no futuro. A preocupação metodológica foi a mais estudada
e codificada, a fim de facilitar os futuros estudos. Com o tratamento realizado ficou no ar uma indagação, qual grau de fidedignidade emanava do estudo se nenhuma
fórmula estatística se adequava ao mesmo? Eram dados em que a existência do zero, não só era previsto, como desejado, pois se tratava de medir direcionalidade onde a ausência de erro deveria ser o alvo desejado, ou 0° de desvios. O impasse somente foi desfeito quando em uma bela manhâ o Prof.Sobral me apresentou uma fórmula estatística de raríssima utilização, o Coeficiente Relativo de Variação(Ferguson,1984), que fechou o estudo, comprovando-o. O trabalho demonstrou, entre outras conclusões, que estilo e simetria de movimentos pouco têm a ver com precisão de arremêsso, pondo por terra uma escola cuja fundamentação maior se escudava na estética dos arremessos, na beleza de estilos e figurações, pois o que no fundo deve importar é o total dominio da direcionalidade, independendo se o jogador está em equilibrio estável, instável ou em total desequilíbrio. Minha pesquisa derruba esses conceitos estétas, que foram base de muitas escolas e de muitos mestres, alguns excelentes, e que seriam muito mais eficientes se tivessem o conhecimento que descobri e provei com meu trabalho. No próximo mês,já com minha página na internet funcionando(paulomurilo.com)colocarei a disposição de todo interessado, não só minha pesquisa, mas a de outros mestres de nosso desporto.Em dois artigos dessa série menciono alguns princípios ligados e demonstrados pela pesquisa, mas gostaria de terminar esses 4 capítulos com a formulação básica do estudo: No arremêsso com uma das mãos a bola percorre sua trajetória girando inversamente em torno de um eixo diametral(back spin). Quanto mais este eixo se mantiver paralelo ao nível do aro e equidistante dos bordos externos do mesmo, maior será o grau de direcionamento, e se este alcançar zero grau de desvio teremos a precisão absoluta.Provar que isto é verdadeiro não foi nada fácil,mas foi feito.Pena que sequer foi levado à serio, nem pelo órgão máximo do basquetebol,a CBB, na época dirigida por um Phd. e Prof.Titular da UFRJ. No dia em que fui presentear a tese na CBB fui testemunha de como se fazem técnicos de seleção brasileira em nosso país, que foi algo que me fez pensar seriamente se teria valido à pena tanto esforço em realizá-la. Me indignei com o que estava presenciando e fui embora tremendamente constrangido e triste.Mas isso é assunto para o futuro, quem sabe…No mais soube que a tese foi jogada no fundo de uma gaveta, e quatro anos mais tarde ao encontrar um dos auxiliares da administração da CBB na época escutei do mesmo a afirmação de que achara a tese algo interessante,no que concordei por sabê-lo um especialista em atletismo e que de basquetebol pouco entendia.Que eu saiba foi o unico na CBB que teve a curiosidade de lê-la.Assistindo hoje o festival de arremêssos de três pontos em que se transformou o nosso basquetebol, fico imaginando quantos destes”especialistas” obteriam bons resultados se avaliados pela minha pesquisa, doada à CBB exatamente para ser empregada por todos,e tenho a mais absoluta certeza de que 2/3 não seriam aprovados.Mas em se tratando de pesquisa esportiva no Brasil,não era do interêsse de muitos que isso pudesse ocorrer,pois o que vale é se as dobras cutâneas e os débitos de oxigênio influem nas performances.No entanto,nunca vi dobras ou débitos aumentarem
graus de precisão nos arremêssos.O que atesto é que nunca ví correrem tanto e arremessarem cada vez pior.Que os deuses nos ajudem…

PESQUISA-UMA AVENTURA ALÉM-MAR III

O Dr.Kelo da Silva era uma figura enigmática,reservada e profundamente observadora.Foi pedido a ele pelo Departamento Ciêntífico do ISEF que me orientasse nos aspectos matemáticos, nas equações que definiriam meu estudo,apesar do pouco ou quase nenhuma afinidade e conhecimento do basquetebol.Era um matemático residente do célebre MIT nos EEUU, e pelos anos que lá esteve já havia perdido muito da compreensão da lingua portuguêsa prática e atual.Durante 4 meses,em reuniões quinzenais, iamos para um ginásio ou sala de aula, onde eu procurava em ações práticas ou dialéticas demonstrar o que pretendia com o estudo,as variáveis intervenientes,os estudos correlatos, a bibliografia existente e minhas concepções totalmente inéditas para solucionar as hipóteses sugeridas pelo estudo.Seu mutismo e profunda ação observadora me desarmava,me situava como um ET tentando justificar o injustificável,pelo menos para mim.Na última reunião,depois de 3 horas de um monólogo exasperante, eis que o Dr.Kelo se levanta,pega a bola de basquete e em 20 minutos me deu uma das aulas mais espetaculares que já havia assistido, em particular,minuciosa,técnica, e com as respostas muito além das limitações que eu havia impôsto pelas regras da boa pesquisa.Tive naquele momento a certeza de que havia ingressado em um círculo ultra restrito daqueles que dialogam pesquisa com o mais absoluto contrôle do que precisam e devem fazer.Três meses depois já tinha em mãos as equações e os algorítmos necessários ao prosseguimento do estudo.Era algo que 3 anos depois encontrei em uma publicação de computação gráfica com a denominação de X-Ray Method.O Dr.Kelo antecipou em três anos o modêlo que me permitiu
demonstrar a exequibilidade do estudo, numa concepção que se aproximava dos estudos que viriam embasar a computação tri-dimensional.Coincidência ou não os princípios se equivaliam, o que era sensacional.A seguir, com os equipamentos montados e testados,com o pessoal treinado e com as equipes das seleções nacionais masculina e feminina à disposição do estudo, e mais, com as cameras em ordem e os filmes comprados, pudemos iniciar a coleta dos dados em laboratório.A essa altura um outro problema se manifestava, a não mais existência em Portugal de laboratórios que tratassem filmes cinematográficos em 16mm , pois a era do video tape já havia se instalado. Com os filmes rodados fui encontrar na RTP (Radio e Televisão Portuguêsa)uma ajuda inestimável, pois a mesma reativou seu laboratório de revelação de filmes a côres somente para atender minhas necessidades,e o fez com maestria inigualável,com uma técnica sem par.Com os dados compilados e gravados em filmes iniciei aquela que foi a mais abrangente e dolorosa etapa do trabalho,a digitalização e tratamento do material coletado.Tive de desenhar e construir novos equipamentos que facilitassem a digitalização dentro de parâmetros rigidamente atrelados às equações propostas e desenvolvidas pelo Dr.Kelo.Estas,por intermédio do Engenheiro de Computação do ISEF,Eng.Nuno Pedro, foram transformadas em linguagem de computador em dois pequenos porém poderosos programas em linguagem, acreditem,linguagem Basic!Foram digitalizados 72000 pontos nas imagens cinematográficas, num trabalho exaustivo e extremamente demorado, dos quais somente 2500 foram efetivamente utilizados no estudo.Os demais já deixavam material aferido e catalogado para outros 5 ou 6 estudos
que porventura pudessem ser realizados no futuro, e que até hoje não foram aproveitados.Quis dar continuidade aos estudos no Brasil, mas nem UFRJ,UERJ e CBB se interessaram, mas que até hoje são utilizados na Europa e nos EEUU.Tento montar aos poucos em minha residência um local apropriado para desenvolver esta e outras pesquisas, agora com a tecnologia dos computadores de alta capacidade e das cameras digitais de grande poder e precisão.Mas custam caro e somente aos poucos tenho podido fazer frente aos vultosos gastos inerentes a um laboratório de pesquisa desportiva.A essa altura do trabalho eis que me vejo participante passivo de uma luta entre duas facções conflitantes dentro do ISEF.Uma, liderada pelo meu orientador, contrária a mudança do instituto para uma estrutura voltada a area de saúde, com um pragmatismo antagônico ao humanismo histórico do mesmo,e a outra liderada pelo Diretor que defendia a criação da FMH(Faculdade de Motricidade Humana)que é a denominação que persiste até hoje.Fui usado pela Direção como arma repressiva aos opositores da mudança,fator que atrasou a defesa da tese em 3 anos!Paralelamente à luta interna dei seguimento ao trabalho,com o tratamento em computador dos dados.(continua)

PESQUISA-UMA AVENTURA ALÉM-MAR II

Porque 14 travessias atlânticas? Como não tinha dinheiro suficiente para a compra de passagens com validade indeterminada,comprava as de ponto a ponto,que só permitiam a permanência no exterior por até 90 dias,e por serem bem mais baratas,e
poderem ser pagas em prestações,que ao término das mesmas me permitiam comprar outras sucessivamente.A estadia foi conseguida por amigos em Lisbôa aos quais serei eterno devedor, pois só me sobravam aproximadadmente 300 dólares por mês de meus vencimentos para a alimentação e o transporte. A maior fatia do salário ficava no Brasil a fim de fazer face às despesas com três filhos menores e a manutenção da moradia. Às vezes conseguia através pedidos insistentes à IBERIA,que os 90 dias fossem extendidos por mais 30 ou 40, no afã de ver o trabalho fluir com menos tropeços e atrasos,no que consegui por 3 vezes.Como forma de retribuição dei cursos no ISEF e palestras para técnicos,assim como colaborei intensamente junto ao Gabinete de Basquetebol daquela bela instituição. Durante a construção e montagem do equipamento no Laboratório de Biomêcanica procurava levar professores de outros departamentos para conhecerem o trabalho, conclamando a darem sugestões técnicas na linguagem própria de suas especialidades, fator que veio a somar bastante ao término dos trabalhos.Percorri longamente o comércio de Lisbôa atrás de materiais necessários na montagem dos equipamentos, e que fossem baratos, porém de ótima qualidade.Nas andanças,além de conhecer a cidade em minúcias consegui ter acesso a materiais e instrumentos de precisão a muito encalhados no comércio, e por isso mesmo com ótimos prêços.Em uma das vindas ao Brasil consegui por empréstimo na EEFD da UFRJ uma camera de 16mm que eu mesmo havia adquirido para a Escola 20 anos antes, e cujo aspecto ótico e mecânico era o mais precário possível.Em Lisboa consegui que um idoso relojoeiro desse um ajuste na Paillard Bolex, e para minha surprêsa só pediu como pagamento que fosse permitido a ele ficar com a camera por uns 15 dias, pois ficara maravilhado com as engrenagens de alta precisão da mesma, e por isso queria estudá-las.No entanto, um dos prismas mais importantes do sistema ótico havia perdido sua espelhação tornando-o impreciso.Consegui, depois de longa conversa que um mestre vidraceiro de Linda-a-Velha, um bairro de Lisboa, tornasse a espelhá-lo.Com aproximadamente 1,5cm de diâmetro podemos avaliar o tempo e o trabalho dispendidos na recuperação do prisma.O trabalho foi feito, e como paga pediu-me que mostrasse a ele o resultado do trabalho,o que foi feito quando o convidei para a defêsa de tese. Estes artífices e mais o marceneiro Manoel foram a base na construção do equipamento, com uma precisão tão alta que mereceu os maiores elogios do Professor Chefe do Departamento de Pesquisas Desportivas da Universidade de Leipzig em visita ao ISEF. Paralelamente à construção e validação dos equipamentos preparava os assistentes que me ajudariam na coleta dos dados, assim como iniciava os contatos junto a algum órgão público ou particular que ainda lidassem com filmes de 16mm em caráter experimental.A RTP (Radio e Televisão Portuguesa)foi a salvação do trabalho, como foi básica a participação acadêmica de um dos maiores matemáticos portuguêses, o Dr.Kelo da Silva,para que a pesquisa fosse levada adiante.Esses dois fatôres serão contados no próximo capítulo.(continua)

PESQUISA-UMA AVENTURA ALÉM-MAR I.

No saguão do auditório do ISEF(Instituto Superior de Ed.Física)em Lisbôa,hoje FMH(Faculdade de Motricidade Humana)eu esperava o resultado da Banca Examinadora da minha defêsa de tese de Doutorado em Ciências do Desporto,quando um jóvem de barbas se aproximou e perguntou se o estava reconhecendo. Honestamente disse que não,foi quando disse ser o Paulinho do curso de mestrado da USP, uma turma após a minha, do qual eu havia sido desligado 14 anos antes por não concordar na mudança do teor de minha tese, que por ser experimental não encontrou boa acolhida por parte do meu orientador.O Paulo disse que estava fazendo o doutorado no ISEF da cidade do Pôrto, e que alí estava para se cientificar de que, apesar da descrença de todo o pessoal que cursou o mestrado da USP 14 anos antes, que eu conseguiria defender a mesma tese negada pela EEF da USP. E foi o que aconteceu,pois tive homologada com louvor a tese de doutorado “Estudo sobre um efetivo controle da direção do lançamento com uma das mãos no basquetebol” em julho de 1992,e que era no conteúdo a mesma que havia sido negada a defêsa,a nível de mestrado, pela USP.Foi um trabalho brutal e que me custou muito tempo, muito dinheiro e escasso reconhecimento em meu país. Mas vale a pena recordar um pouco daquela odisséia amalucada,porém solidamente ancorada numa certeza de muitos e muitos anos de estudo, a de que, apesar de todas as nossas limitações,de dinheiro e equipamentos,poderiamos desenvolver no Brasil setores que estudassem o gesto desportivo tão bem, e com aspectos de ineditismo, quanto os maiores e mais prestigiosos centros de estudos do desporto no mundo. Gostaria de contar um pouco dessa aventura, para demonstrar aos jóvens professores que se formam do quanto podemos realizar com uma soma de coragem, estudo e competência. O doutoramento na Europa difere de um nos EEUU por não exigir créditos a cursar, exige sim, um bem fundamentado projeto de pesquisa, que ao ser aceito confere ao pesquisador as cotas necessárias à consecução do mesmo, pelo tempo que for preciso para o seu término.Enviei meu projeto e aguardei a sua aceitação inicial por 4 meses, quando fui convidado a defendê-lo em Portugal.Como não tinha bôlsa oficial do govêrno brasileiro, pela pendente situação com o mestrado da USP,consegui a dispensa da Faculdade de Educação da UFRJ onde lecionava,somente com os vencimentos legais.Mesmo assim embarquei e aguardei por mais 3 meses que o Conselho Ciêntifico da Universidade Técnica de Lisbôa me convidasse para justificar a validade e expressão do projeto.Fui aprovado e tive um orientador designado,o Prof.Dr.Francisco Sobral do ISEF.Iniciei então a construção do equipamento que projetei e desenhei.Com a valiosa ajuda de um marceneiro genial,Sr.Manoel,consegui montá-lo em 2 meses, quando iniciei a organização das metodologias que empregaria no estudo.Nesse estágio do trabalho começaram os grandes problemas de caráter profissional e familiar que me obrigariam daí em diante a atravessar o Atlântico por 14 vêzes, antes de ver terminado o trabalho, iniciado em 1986 e que se estenderia até 1992 quando defendí a tese.Nesse espaço de tempo algumas etapas tiveram de ser vencidas com muito sacrificio e determinação, e são estas etapas que passarei a descrever nos próximos capítulos.(continua)

O AMANHÃ

Desde setembro venho publicando artigos semanalmente,os quais têm sido republicados por outros sites a pedidos,com visualizações em alto número,o que me estimula na continuidade dos mesmos.Mas algo vem me intrigando,a quase total ausência de comentários e críticas sobre qualquer dos temas que abordei,alguns bem controversos,o que me leva a crer na existência de um alto grau de desinformação ou desinterêsse pelas coisas realmente importantes ao basquetebol.A massificação do modêlo NBA,e a consequente comparação do mesmo com a nossa realidade talvez tenha desencadeado esse desinterêsse por parte,principalmente dos jóvens,pelos problemas e desafios que tem levado a modadlidade ao processo de decadência em que se encontra.E indagações logo se fazem presentes,tem jeito? O basquetebol brasileiro poderá ressurgir no plano internacional?Como? De que forma? Creio,honestamente que tenha respondido essas questões no transcorrer dos artigos até agora publicados, mas não custa nada fazer uma pequena,porém objetiva síntese do que afirmei e escrevi,mesmo não tendo encontrado éco em meus pares, através esperados,mas não enviados comentários e críticas pertinentes.Então vamos à síntese: Por duas décadas adotamos o modêlo e a forma de jogar dos profissionais da NBA,mas sem atentar para o fato de que não possuíamos,nem de longe,a estrutura universitária que dava o respaldo para o sistema de jogo adotado por eles,o Passing Game,cuja finalidade básica era o de propiciar e garantir os embates de 1×1 por parte das estrêlas com salários estratosféricos, motivando o público para o espetáculo das lutas exarcebadas pelas rivalidades, pela força, e muitas vezes pelo apêlo de cunho racista.Defêsas por zona eram proibidas, assim como as coberturas a fim de dar espaço para as exibições de técnica e aos malabarismos tão apreciados pela platéia. Nosso basquetebol por causa dessa influência perdeu sua identidade,sua velocidade,e principalmente sua tradição.Nossos técnicos,mudando a forma de jogar de nossos armadores,nossos pivôs e entrando de cabeça na cultura dos três pontos, lançaram os fundamentos de nossa decadência, até na formação das categorias de base, substituindo o ensino demorado e detalhista dos fundamentos por “peneiras” oportunistas e desligadas da responsabilidade pela formãção básica. Sistemas de ataque foram padronizados, dando inclusive incumbências numeradas aos jogadores, rotulados de 1,2,3,4 e 5,como escravos de um sistema alcunhado de “basquetebol internacional”.Sem uma massificação
que lastreasse tal sistema, como mantê-lo ao nível internacional? Mesmo com a derrocada dos norte-americanos nos campeonatos da FIBA e as Olimpíadas, continuamos atrelados àquela cultura, muito mais pelos desejados lucros por parte de jogadores ansiosos pór lá atuarem, como por técnicos que com suas pranchetas, um batalhão de assistentes e um inglês tacanho teimavam em seguir as normas irreais para a nossa realidade emanadas pelos irmãos do norte, num verdadeiro espetáculo de colonização cultural-esportiva. Como saída desse emaranhado de más e destrutivas influências só vejo um caminho, o desligamento radical do modêlo NBA, e consequente aproximação com modêlos,que sabiamente se negaram ao dominio técnico dos norte-americanos, tais como a Lituânia, a Iuguslávia, a Argentina, a Itália, a Russia e a Espanha.Nossa tradição perdida e aviltada rivalizava com essas nações tendo-as liderado por muitos anos,por três campeonatos mundiais e por quatro medalhas olímpicas, tendo sido considerada pela FIBA a quarta potência mundial do Século XX. Para evoluirmos temos que mudar as mentes, estudarmos o passado e o somarmos à nossa presente realidade, e se fôr necessário com outros nomes, com aqueles que ainda subsistem na crença de nossos valores, de nosso talento, que de tão alto se fez vitorioso, mesmo com nossa pobreza material.Organizarmos cursos de atualização a pêso de ouro dentro da atual realidade técnica é puro desperdìcio, beirando ao crime, à estupidez. Estatais que patrocinam políticas conflitantes com as reais necessidades do nosso basquetebol deveriam pensar duas vezes antes de soltar vultosas verbas nas mãos de dirigentes despreparados técnicamente,mas ávidos em se manterem nesses “cargos de sacrifício” e que de tudo fazem para lá se perpetuarem. Técnicos da antiga, da atual e de futuras gerações têm de se reunir estadualmente, depois regionalmente, para em carater nacional discutirem nossas reais necessidades, no preparo dos jogadores pelo treinamento maciço dos fundamentos, nas escolas e clubes, pela adaptação de algumas regras, principalmente quanto ao tempo de posse de bola,a fim de adequar o jogo às limitações psiquicas e fisicas dos jovens praticantes,numa espiral ascendente que os levarão às categorias superiores com maior dominio das técnicas. Que nossos jovens de grande estatura sejam treinados visando basicamente a velocidade e a explosão, nunca a força bruta, pois dessa forma poderemos superar as descomunais e lentas massas musculares pela astúcia e rapidez de raciocínio. Que nossos armadores jamais deixem de estar presentes ao fóco das ações, correndo menos e atuando mais, gerando equilibrio e criatividade. Que nossos alas se destaquem mais pelo alto índice de arremessos curtos e de média distâncias, do que na aventura dispersiva dos três pontos.Este arremêsso deverá ser entregue aqueles poucos e privilegiados mestres na arte do direcionamento que é a chave do mesmo. Finalmente, que nossos técnicos desenvolvam soluções técnico-táticas de acordo com as características dos jogadores que tem sob sua direção, e não forçá-los a um modêlo pré-estabelecido e até rotulado como uma conquista da globalização, tão em moda nos dias atuais. Por tudo isso acredito que não será tarefa das mais fáceis reestruturarmos o nosso basquetebol,mas se torna mistér afirmarmos- Se não o fizermos estaremos enterrando de vez a oportunidade de voltarmos ao patamar de onde nunca deveriamos ter saído. Por que não discutirmos tão importantes questões, pois quem cala consente, admite o que aí está.Sozinho ou acompanhado jamais me calarei, disso tenho, como sempre tive, a mais absoluta certeza.

A BURLA CONSENTIDA

Mais um exemplo prático,mas com uma bola de basquetebol.Coloque-a sobre a palma
de uma das mãos,na altura da linha da cintura,e execute os seguintes movimentos:1-
Dê um passo para um lado e depois rapidadmente para o outro lado.2-Faça a mesma coisa,agora com passos à frente e atrás. 3-Gire em torno de um dos pés por 360º.Todos os movimentos aqui propostos deverão ser executados sempre com a bola
depositada em uma das mãos.Muito bem! Agora repita todos os 3 movimentos driblando a bola,e veja se consegue repetí-los com eficiência.Claro que a inclusão do drible
complicará em muito a realização dos mesmos,e em alguns casos os inviabilizarão.Mas o que vem se dissiminando no meio dos armadores(autênticos ou enganadores)é a interrupção do drible com a bola ficando depositada na palma de uma das mãos a fim de exequibilizar os movimentos mais complexos(frenagem,troca de direção,hesitação,
passos atrás,etc.) que só seriam factíveis sem a presença incômoda e indesejável da mesma.Claro, que os armadores de verdade,aqueles que conseguem anular as diversas
rotações desencadeadas na bola pelas forças exercidas sobre ela,tanto no contato com o sólo,quanto no produto emanado pela ação da mão em sua superfície, originando vetores dos mais complexos quanto maiores forem as velocidades alcançadas, conseguirão dominá-la,direcioná-la a seu bel prazer, pois o ato técnico será alcançado dentro do espírito das regras do jogo, e não utilizando um artífício doloso e profundamente desleal para com aqueles possuidores de técnica,duramente conquistada e àrduamente treinada. O que vem se popularizando por intermédio de pseudos armadores,treinados e ensinados por treinadores não muito interessados em tempo a perder,é um movimento de quebra do drible,alguns muito rápidos,e outros escandalosamente longos, com o intúito de tirar o máximo proveito da interrupção, para executar movimentos de finta sem o entrave do drible progressivo e initerrupto,como determina a regra, pois o não cumprimento da mesma caracteriza a infração dos dois dribles, ou mesmo a de andar com a bola, já que a mesma é paralizada em sua trajetória durante a ação.O pior é a omissão dos juízes,se não por mêdo de técnicos truculentos,ou por puro desconhecimento das regras do drible,e em último caso por comodismo ante uma generalizada atitude técnica(?). O que se observa
é a penúria cada vez mais evidente na técnica de nossos armadores,desde as categorias de base,onde o”macête”da travada da bola já encontra campo fértil e desprovido de punição perante as regras do jogo.Confunde-se a pega lateral da bola,com o intúito de anular sua rotação reversa(quando a bola é lançada ao sólo pela mão impulsionadora desenvolve uma rotação inversa, e ao tocá-lo,gera uma força contrária e de igual intensidade-Lei de Newton-que fará com que volte de encontro a mão com uma rotação reversa,daí a necessidade de anulá-la com a pega lateral e um pouco acima da mesma). Esta ação é complexa e exige muito treinamento e dedicação, que aumentam na proporção direta às exigências decorrentes de movimentos pluridirecionais exercidos pelo jogador.E para que treinar tanto se é permitido uma interrupção extra-regras na trajetória ascendente da bola, que permite toda e qualquer ação de finta sem os percalços de rotações e desvios? Ora convenhamos,se podemos nos exibir em malabarismos estonteantes,que poderão inclusive culminar com uma enterrada deslumbrante,ou uma assistência genial,para que perder tempo com leisinhas de um newton qualquer,ou treinar até a exaustão os movimentos e ações dentro de regras que foram feitas para serem burladas? Mas, será que os juizes internacionais ficarão alheios a essa tendência? Creio seriamente que não,e aí é que mora o perigo,pois estamos perdendo um tempo precioso com comportamentos circenses, e esquecendo que a técnica não perdoa os mediocres,sejam eles os que aprendem ou os que ensinam.Mas mantenho a esperança em que o melhor sempre prevalece,mesmo que demore um pouco mais.