COMO DEVERIAMOS JOGAR

Segundo as declarações de Amaury Passos em recente programa do SPORTV,o contra-ataque sempre foi a marca registrada do basquete brasileiro,tendo mencionado,inclusive,o sistema da linha de três atacantes na execução do mesmo, ação largamente utilizada pelo técnico Kanela nas seleções brasileiras que dirigiu,mas que dependia basicamente do domínio dos rebotes defensivos, setor que dominávamos como ninguém, pela velocidade e habilidade de nossos homens altos.Na impossibilidade do contra-ataque, atacavamos com dois exímios armadores,dois rápidos e certeiros alas e um pivô em permanente movimentação.Os arremêssos de três pontos ainda não tinham sido adotados, no entanto as contagens, via de regra,ultrapassavam os 70 pontos,provando que elevadas contagens podiam ocorrer normalmente sem a presença dos arremêssos de três pontos.Não se trata de negá-los, e sim reservá-los aos verdadeiros especialistas,ao contrário do que ocorre nos dias atuais, quando qualquer jogador se acha suficientemente técnico para executá-los. Trata-se de uma arte, difícil e elitista arte, que é reservada a muito poucos jogadores.E por ser uma restrita especialidade é que os sistemas ofensivos deveriam ser direcionados para os poucos e especiais momentos em que pudessem ser realizados com boas perspectivas de sucesso, e não como uma regra geral a ser adotada como vemos nos dias atuais, e com desastrosos resultados na maioria das partidas.O advento dos três pontos, e o endeusamento das enterradas propiciaram um afrouxamento na prática de fundamentos excênciais no preparo dos jóvens,assim como a adoção de um sistema que privilegiasse aqueles arremêssos, pautado quase que exclusivamente nos passes, cristalizaram e generalizaram o uso do Passing Game como a norma a ser adotada e seguida por todos. Instalou-se o modelo,que tinha na NBA o seu executor maior, divulgado e imposto subliminarmente mundo afora,aceito religiosamente por quase todos os técnicos, que viram nele a solução para o problema maior,a falta de talento,criatividade e coragem para alçar vôos sólos. Por que estudar se o modelo NBA ali estava,à mão,gratúito, e previamente aceito pelos jóvens que ostentavam nas camisetas emblemas e fótos das equipes americanas? Por que adotar comportamento generalista na execução dos fundamentos se era bem mais fácil orientar os jóvens atletas pelos caminhos da especialização na forma de Jogador 1, 2, 3,etc…Nem os EEUU seguiram essa linha, jamais o fizeram,pois o Passing Game foi estabelecido muito antes do advento dos três pontos, com a finalidade de manter o controle tático das equipes universitárias na mão dos técnicos quando da inclusão do limite de posse de bola,inicialmente em 45 segundos,posteriormente em 35 e atualmente em 30 segundos.Irônicamente, os americanos estão aplicando experimentalmente em uma liga menor dos profissionais a permissão dos arremêssos de três pontos somente nos três minutos finais dos jogos, no intuito de incentivar a pratica dos arremêssos de média e curta distâncias, com consequente diminuição do grande número de êrros que vinham ocorrendo nos últimos anos. Acreditam que somente os especialistas serão acionados nos três minutos finais, e que a diminuição das distâncias incentivarão os jogadores à busca da precisão perdida nos últimos tempos. E nós cada vez mais mergulhados,e na maioria das vezes,perdidos no caudal de êrros que vem transformando nossos jogadores em franco-atiradores,onde até os pivôs já embarcaram na aventura dos três pontos.E nossos técnicos,embevecidos ou impotentes assistem a tudo como se fosse essa a nossa verdadeira maneira de jogar.Se estão, como comandantes,coniventes com essa realidade,devem tentar urgentemente reverter o processo que está nos levando para o fracasso definitivo.Torna-se de vital importância o renascer da arte do drible,da execução e recepção dos passes de forma antecipativa, com alas e pivôs os recebendo sempre em movimento, e basicamente
desenvolvendo as ações de jogo com e sem a bola.A movimentação assíncrôna é a chave
dos bons e efetivos sistemas,pois mascara as intenções ofensivas que a sincronia torna de facil marcação pela obviedade dos movimentos.É o que vemos atualmente, pelo fato de todas as equipes jogarem de forma igual,previsivel,óbvia, e sempre voltadas à
preparação dos arremessos de três pontos.Os resultados ai estão para provar o quanto de ineficiência apresentam, e como retardam o nosso desenvolvimento técnico.Temos que voltar a adotar sistemas que permitam aos jóvens,após um intenso preparo nos fundamentos, trilharem os caminhos da experimentação, da descoberta de suas potencialidades e a de seus companheiros, fora de esquemas rigidamente coreográficos,
que os tem levado desde cêdo a uma absurda pseudo-especialização.Uma jóvem equipe bem
preparada nos fundamentos se sai melhor do que aquela atrelada a esquemas que só se
manifestam importantes perante a vaidade e despreparo de também pseudo-técnicos.Mas
aplicar corretamente os fundamentos exige de quem o faz, não só um profundo conhecimento do jogo,mas um rigoroso conhecimento da arte de ensinar.Nos países líderes do basquetebol mundial,são os técnicos de divisões de base aqueles mais bem
preparados pedagógica e técnicamente.Alguns anos atrás perguntei a um renomado técnico se ele aceitaria orientar uma divisão de base, e recebi como resposta a
afirmação de que considerava um desprestígio fazê-lo após ter atingido ao patamar de
técnico da elite.Esse posicionamento é bem mais comum do que imaginamos,e o que nos
resta é lamentar, pois um técnico de alto nível raramente cometeria os êrros comuns
aos técnicos inexperientes.Dedicar um horário no dia de trabalho aos pequenos praticantes daria um impulso sem precedentes ao nosso combalido basquetebol,e
prepararia melhor os futuros técnicos.Adaptar situações técnico-táticas às necessidades e limitações dos jóvens torna-se de fundamental importância,assim como
livrá-los das imposições e limitações contidas no sistema em vóga em nosso país.
Enfim,com a melhoria no ensino dos fundamentos,e com a diversidade em sistemas de jogo que serão desenvolvidos, teremos a médio prazo a possibilidade real de sairmos
do limbo em que nos encontramos a 20 anos no campo do basquetebol internacional.
Espero, sinceramente, que sim.

DEBATES E RETROCESSOS

Não a muito tempo a ESPN Brasil promoveu um intenso debate, tendo como fóco principal a dispensa do técnico da seleção e a realidade do basquetebol brasileiro. Mais recentemente o SPORTV veiculou matéria sobre a atualidade e o que se esperar para o futuro da modalidade, e em ambas as iniciativas contaram com o testemunho e ativa participação de antigos e atuais jogadores,técnicos,jornalistas e até profissionais de outras áreas ligados, ou interessados pelo basquetebol. Discutiram,debateram, mas em nenhum momento apontaram os verdadeiros, porém comprometedores motivos da decadência. Em artigos anteriores apontei grande parte deles, mas um em particular deve ser priorizado,a desunião profissional.Torna-se muito difícil, e até repetitiva a abordagem desse assunto, porque atinge em cheio e profundamente a essência da ética.E é em respeito a esse princípio fundamental das relações profissionais que insisto em fazê-lo, apesar das críticas em contrário. Podemos estabelecer que poucas foram as ocasiões em que pudemos constatar união entre os técnicos,mas elas existiram, através as efêmeras, porém importantíssimas associações de técnicos fundadas nos anos setenta, a ANATEBA e a BRASTEBA.Foram duas
brilhantes tentativas de união “inter pares”, as quais propiciaram encontros,cursos,
debates e clínicas, onde eram discutidas as diversas tendências técnicas,os sistemas
mais em voga, os principios éticos, a convivência enriquecedora. Foi uma época onde
a diversidade metodológica provocava o surgimento de novos padrões de treinamento,de
inovadores sistemas de jogo,de táticas audaciosas, de inteligentes estratégias. A
mesmice existente nos dias de hoje, o marasmo subserviente, o colonialismo cultural e
técnico não existiriam se aquelas nobres tentativas do passado tivessem obtido o
êxito merecido. No entanto, merecimento nem sempre alimenta boas e profíquas intenções, o qual, na medida em que vai de encontro a certos interêsses de mercado,
necessita ser extirpado,para que os objetivos dos mesmos sejam alcançados.Foram-se
os ideais, feneceram as lutas, venceram aqueles que viriam a implantar o terrivel
modelo que ora viceja em nosso país, o “basquete internacional”,o modelo NBA. Um
modelo que dispensa maiores estudos, custosas adaptações as nossas condições,modelo
“prèt-a-porter” com soluções padronizadas e por isso inteligentemente globalizadas
em pról de um basquetebol de principios unilateralistas,mas profundamente rico e para
o qual se voltam os olhos e as vontades daqueles que se negam a enfrentá-lo. Essa é a
escravidão que temos de renegar, para tentarmos nos soerguer tendo como exemplo maior
um passado glorioso e patriótico, um passado de vitórias. Não se trata da negação de
uma escola que sempre se pautou pela excelência dos fundamentos do jogo, mas sim de
não adotar soluções técnico-táticas inadequadas à nossa realidade, ao caráter de
nossos jóvens, à realidade de nossas deficiências econômicas e sociais. Temos de
reaprender a administrar nossa pobreza, voltando a utilizar doses maciças de coragem
e criatividade.Enfim, temos de retomar o caminho perdido, temos de voltar a nos unir
em torno do ideal maior, ao reencontro de nossa verdadeira vocação.

PASSADO,PRESENTE E FUTURO

Nos artigos já publicados nesta pequena página, abordei da maneira mais concisa possível alguns dos fatôres que, na minha modesta opinião,levaram o basquetebol a
encruzilhada em que se encontra atualmente,e que infelizmente não está sabendo ou
merecendo sair. Acabo de receber um email do Presidente da Confederação Portuguesa
das Associações de Treinadores(http://www.cpatreinadores.org),Prof.José Curado,ex-
Técnico da Seleção Principal de Portugal,pedindo minha colaboração na organização
do 1ºCongresso de Treinadores de Lingua Portuguesa, a ser realizado no próximo ano
em Lisbôa. Pede-me que faça uma ponte entre os técnicos daqui para que possam ir ao
Congresso,mantendo uma ligação com nossas Associações para o envio e credenciamento
dos mesmos ao evento.Mas quais Associações? No ano passado fui ao lançamento em São
Paulo da APROBAS(Associação dos Profissionais do Basquetebol)na qualidade de um dos
fundadores das duas primeiras Associações no Brasil, a ANATEBA e a BRASTEBA,nos
anos setenta.Fiz minha inscrição,paguei a taxa anual,e até hoje aguardo a credencial de sócio, e mesmo o recibo para pagamento da atual anuidade.Sequer fui contatado,por carta ou email.Para a APROBAS simplesmente não existo.Não tenho qualquer informação da existência de outras associações,e vejo-me na situação de não ter como atender a contento o pedido do José Curado.Uma coisa é certa,lá estarei,e já solicitei espaço para apresentar um trabalho técnico durante o forum que será criado para a apresentação dos mesmos. Tentarei estabelecer contatos com as federações para que as mesmas comuniquem aos seus técnicos as diretrizes do Congresso.Mais não posso fazer, a não ser lamentar a profunda divisão e omissão que grassa no meio, fator preponderante para o entendimento dos”porques” da situação de indigência técnica da modalidade.Em artigos semanais coloquei em discussão vários pontos importantes sobre formação,competição, e organização desportiva ,mas só obtive respostas de uns poucos abnegados e realmente interessados na melhoria do basquetebol em nosso país.Assim como um declarado candidato à presidência da CBB criou um decálogo de salvação nacional,sugiro um, não de salvação, mas de conclamação àqueles que querem realmente o bem do basquetebol.Aí vai:
1-Que tentemos reverter a formação dos professores de Ed.Fisica e futuros técnicos desportivos aos Centros de Ciências Humanas das universidades públicas e particulares do país,que é o ambiente indicado e fundamental na formação docente.
2-Na impossibilidade da extinção do Conselho Federal dos Profissionais da Educação Fisica,o que seria correto, que o mesmo se destine ao controle das academias,dos clubes e associações, jamais a escola e a universidade.
3-Que fossem incentivadas em cada federação a formação de ligas para as divisões de base, congregando preferencialmente as escolas,com patrocinio local na medida do possivel.
4-Que os campeonatos de seleções das divisões de base fôssem realizados entre cidades em cada estado,dos mirins até infantís,entre regiões por estados,dos infantos e dos juvenis, e nacionais pelos estados nos divisões sub21 e sub23,adequando as distâncias e os deslocamentos pelas faixas etárias,com menor dispêndio de verbas.
5-Que fossem incentivadas as criações de associações de técnicos por regiões do país
sob supervisão de uma associação nacional que se responsabilizaria pelas conexões com as congêneres internacionais,e com finalidade pura e exclusivamente técnica.
6-Que a associação nacional fosse responsável pela implementação de atualização técnica e estudos voltados ao desenvolvimento da modalidade,assim como,em conjunto com a confederação,federações e associações regionais estabelecerem as normas competitivas dos calendários regionais, estaduais e nacional.
7-Caberia a confederação a responsabilidade das seleções nacionais, do banco de dados técnicos e estatísticos e o apoio logístico às iniciativas de caráter técnico da associação nacional.
8-Que fosse eleborado, estudado, discutido e implementado um verdadeiro e exemplar código de ética, a ser seguido e respeitado por todos os envolvidos no processo.
9-Que fossem instituidos canais facilitadores para publicações técnicas por parte dos estudiosos do basquetebol, e consequente difusão e distribuição do material selecionado.
10-Que verbas governamentais fossem rigorosamente auditadas em ligas, federações e confederação, garantindo a lisura do processo de soerguimento do basquetebol brasileiro. Nem todos os itens deste decálogo terão receptividade amistosa, mas não custa tentar chamar à introspecção assuntos de importância fundamental ao processo educacinal de nosso povo,no qual se insere com méritos e reconhecida importância o nosso tão maltratado basquetebol.

O QUE NOS FALTA REALMENTE?

Este é vigésimo primeiro artigo que publico,e depois de abordar diversos assuntos técnicos e situações politico-administrativas creio que apresentei alguns,porém sólidos argumentos para, de uma forma objetiva apresentar conclusões e sugestões visando a melhoria técnica e administrativa de nosso combalido basquetebol.
Falta-nos,prioritariamente união.Quando técnicos aceitam influência,orientação,método
sistemas e técnicas de uma única matriz,tomando-a como verdade absoluta, e impondo-a
inclusive na formação das divisões de base,esteriotipando as ações dos futuros jogadores em modêlos voltados à especialização(jogador 1,2,3…etc), limitando-os a papeis manipuláveis de fora da quadra,escravizando-os em coreografias que se tornaram
padronizadas pelas equipes brasileiras,repito,quando os técnicos agem dessa forma,
prevejo poucas chances de fujirmos a médio prazo da mediocridade em que nos encontramos. Torna-se urgente o desligamento da matriz NBA,do sonho subserviente de lá vencer como jogador,ou de lá se especializar como técnico ou dirigente,e mesmo se
espelhar como torcedor de um esporte que somente eles praticam,e que inteligentemente
importam estrangeiros para torná-los propagadores de suas idéias absolutistas em seus
paises de origem. Agora mesmo os brasileiros que lá jogam estão relegados à reseva de
suas equipes, de onde dificilmente sairão.No entanto são festejados como aqueles
craques que levarão a seleção brasileira ao patamar olímpico.Da equipe argentina,
campeã olímpica, somente um dos jogadores atuava na NBA,e como estrêla absoluta,e os
outros o faziam na Europa, principalmente na Italia, onde, pela força da dupla cidadania de seus jogadores aperfeiçoavam um método de jogar antagônico ao da NBA e
totalmente condizente à realidade das regras internacionais negadas pelos norte
americanos.Foram campeões por sua extraordinária inteligência ao perceberem que venceriam se explorassem a fragilidade dos americanos perante a crueza das regras
internacionais.Para nos restou a pseudo e estúpida aceitação do que chamam”basquete
internacional”,numa prova cabal de quase total ausência de amor e respeito por nossas
raízes culturais e passado brilhante na forma de jogar,forma esta que nos fez imbatíveis em nosso continente.Hoje nem em divisões de base vencemos os irmãos argentinos, que fugiram do exclusivismo perante o modelo NBA. Resta-nos a união pela
discussão, pelo embate das idéias,pela fundação de associações estaduais de técnicos,
que discutam a modalidade em função de suas regionalidades para, ai sim,em torno de
uma associação nacional reencontrar o caminho perdido nos últimos 20 anos.Caberia a
CBB encorajar esse caminho,e não se situar como principio, meio e fim na busca das
soluções para os graves e terminais problemas que nos afligem.Houve uma época em que
fundavamos uma ANATEBA, uma BRASTEBA, que nos reuniamos em pequenos, porém encontros
técnicos para técnicos, onde discutiamos e discordavamos, mas sempre concluiamos algo
de interesse do basquetebol.Divergiamos porque não utilizavamos em nosso trabalho uma
uma única fonte inspiradora.Tinhamos até”escolas”como a paulista,a carioca,a mineira,
como outras,que ao se enfrentarem nos campeonatos nacionais definiam os caminhos de
evolução técnica a serem percorridos.Hoje o que apresentamos é uma única forma de atuar, calcada no modelo NBA, que nos chega de enxurrada pela TV,pelos jornais e revistas, em matérias regiamente pagas, em contraponto à nossa pobreza.Só sairemos dessa penúria no momento que nos reunirmos.Encontros como os que aconteciam aos sabados na USP,onde mais de 100 técnicos assistiam palestras de colegas, e depois as
discutiam,ou aqueles que aconteciam no Rio,no RGS e em Minas, dos que tenho conhecimento, e que eram levados a sério pela CBB, que hoje simplesmente omite qualquer manifestação que não compactue com suas orientações exclusivamente de cunho
político-continuistas,onde inexiste discussão aberta sobre as técnicas da modalidade
que representam.Um exemplo? Em 1971,quando exerci a função de coordenador do Laboratório de Tecnologia do Ensino da EEFD/UFRJ propús a realização de um filme de
média metragem semi-profissional em 16mm sobre o Campeonato Mundial Feminino realizado aqui no Brasil.Juntos,EEFD e CBB levantamos uma pequena verba para a compra
e a revelação dos negativos,e realizei,filmando,roteirizando,editando e gravando o
único filme técnico sobre basquetebol feito em nosso país.Cópias foram distribuidas
até no exterior, como Australia e Portugal,e outras que até recentemente faziam parte do acêrvo de duas escolas de Ed.Fisica quando se deterioraram pelo passar do tempo.Quatro anos atrás descobri os negativos de imagem e de som do mesmo e corri para um laboratório especializado de cinema para tentar salvá-lo.O orçamento foi de
seis mil reais aproximadamente.Como não dispunha dessa quantia fui a CBB tentar que
me ajudassem a salvar aquele único documento da extinção.Resultado? Até hoje o material mofa em um refrigerador da LABOFILMES,e nem sei se ainda existem.O único
filme de basquetebol feito no Brasil e documento de um Mundial aqui realizado,
patrocinado pela CBB não teve dela a menor ajuda em sua restauração.Uma entidade
esportiva que não preserva sua história não está cumprindo sua função de guardiã das
técnicas do passado,quiça as do futuro.O que resta? A reação daqueles que são os
verdadeiros artífices do jogo, aqueles que em suas funções de professor e técnico
mantêm viva a modalidade.Enfim,aqueles que compôem o cerne e a alma do basquetebol,os Técnicos.Unamo-nos e levaremos o basquetebol de volta ao cenário mundial.

ALGUMAS OPORTUNAS DEFINIÇÕES

MÉTODO, s. m. Processo racional para chegar a determinado fim; maneira de proceder; ordem ou sistema que se segue no estudo ou no ensino de qualquer disciplina; processo ou técnica para chegar ao conhecimento ou demonstração da verdade; tratado elementar; ( fig.) prudência; ponderação. (Do lat.methodu.)

SISTEMA, s. m. Conjunto de partes coordenadas entre si;conjunto de partes similares;forma de governo ou constituição política ou social de Estado: sistema constitucional; combinação de partes,de modo que concorram para certo resultado; plano: sistema financeiro; conjunto de princípios,verdadeiros ou não, que estabelecem um corpo de doutrina; conjunto de leis ou princípios que regulam certa ordem de fenômenos:sistema planetário; método;processo; hábito; uso; (pop.) modo,forma:moderno sistema de sombrinhas; (mús.) conjunto de intervalos
elementares, compreendidos entre dois limites sonoros extremos, apreciáveis ao ouvido;(hist.nat.)método de classificação baseado num só ou num pequeno número de caracteres; (anat.)conjunto de órgãos compostos pelos mesmos tecidos e destinados a funções análogas: sistema vascular; (geol.)reunião de formações sedimentares que correspondem a um período geológico. (Do gr.systema.)

TÉCNICA,s.f.Conjunto dos processos de uma arte; prática. (De técnico.)

TÁTICA,s.f.Arte de dispor e ordenar as tropas em posições e terrenos favoráveis, para o combate,(fig.) maneira hábil de dirigir qualquer negócio. (Do gr.taktike.)

ESTRATÉGIA, s. f. Ciência de organizar e planejar as operações de guerra; estratagema; tática; (fig.) ardil; astúcia; manha. (Do gr.strategia.)

FILOSOFIA,s. f. Ciência geral do conhecimento das coisas por suas causas ou primeiros princípios; sistema de princípios que tem por objeto agrupar uma certa ordem de fatos para explicar;cada um dos sistemas particulares de filosofia; doutrina filosófica:a filosofia de Descartes; estudo,investigação dos princípios essenciais de uma arte, de uma ciência particular:a filosofia da música,da medicina; firmeza, elevação de espírito; razão; sabedoria. (Do lat.e gr.philosophia.)

ÉTICA, s. f. Ciência da moral.

Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Editora Globo S.A.

PORQUE NADA DIZEM?

A ESPN Brasil levou ao ar uma matéria sobre basquetebol focalizando as técnicas
e o futuro da modalidade.Entrevistou técnicos,antigos e atuais jogadores,jornalistas
e dirigentes.Uma conclusão foi unânime,a necessidade de massificar a atividade,
principalmente na escola,e a constatação, quase unânime, de que jogamos dentro de nossas tradições,e que so deveriamos melhorar na defêsa.Acredito firmemente que esse
pessoal ainda não caiu na real de que esporte escolar foi varrido das prioridades nacionais, desde que a formação dos futuros Professores de Ed.Física passou da alçada dos Centros de Ciências Humanas das Universidades, para os Centros de Ciências da Saúde,a partir dos anos 70,desencadeando o nascimento dos bacharelatos,e
finalmente com a criação do Conselho Federal de Educação Física, que formalizou a
categoria de Profissional da Educação Física, retirando-a do conceito
de educação integral, que é a base da pirâmide escolar,transformando-a acessória do processo,sendo inclusive optativa em vários segmentos da sociedade.Foi um projeto
extraordinariamente bem conduzido, para que se transformasse no formidável e rentável
negócio dos dias atuais.Educação Física e Desportos na escola so atrapalhariam o desenvolvimento dessa formidavel industria.Para os pobres,que são a maioria, os convênios terceirizados com prefeituras,ONG’s, estados e até governo federal são uma
garantia de bons negócios para empresas que se especializaram no setor,cujos lucros
seriam infimos se as atividades desportivas fossem da alçada exclusiva das escolas,
que fizessem parte do processo de educação integral, fator garantido pela constituição do país.Quando vemos um ministro dos desportos advogando em conjunto com
o COB politicas que deveriam ser exclusivas do Ministério da Educação,temos a absoluta certeza de que algo está profundamente desvirtuado em nosso país,quando
constatamos que o sagrado principio da educação integral foi mandado às favas.
Massificar desporto fora da escola, fora dos principios da integralização,inclusive
com as artes e a música, cheira a política de que não seja permitido à escola a
consecução de seus mais sagrados objetivos, e que a qualidade da mesma seja adiada
até quando for do interêsse dos legisladores a volta aos níveis de qualidade que tinham no passado. Organizar núcleos de talentos nas escolas é um crime de lesa-pátria, pois exclui de saída aqueles que simplesmente usufruiriam os beneficios de
uma atividade fisica voltada ao processo educacional.E por incrivel que possa parecer
o fato apontado no inicio deste artigo,quanto a formação dos futuros professores
dentro dos Centros de Ciências da Saúde, os colocaram na função paramédica,sob supervisão e orientação fora dos parâmetros pedagógicos, afastados das pesquisas que
enfocam as técnicas desportivas, e deslocados para a pesquisa de interesse médico,
transformando-os em competentes auxiliares médicos, e não donos de seus narizes na
área pedagógica.Agora mesmo corre no Senado Federal um projeto que institui o “Ato
Médico”, que perpetuará tal submissão. Falar em massificação sôa falso perante tais fatos.Se querem fazê-lo comecem redefinindo a escola,redefinindo os papéis de cada setor,redefinindo direitos e deveres que foram surrupiados da mesma.
Ministerio dos Esportes e COB devem tratar de competições,performance de alto nível,
jamais escola. A outra conclusão também sôa mais falsa ainda, pois tentar convencer
a todos nos que jogamos atualmente dentro das nossas tradições é de uma insensibilidade que beira ao cinismo. Somos uma cópia canhestra do que chamam o
“basquete internacional”,cujo modelo que vem sendo seguido nos últimos 20 anos é o da
NBA, completamente fora, aí podemos afirmar com certeza,das nossas tradições.O porque
disso tudo? Muitos de nos bem o sabemos,mas muitos se omitiram, e poucos,muito
poucos reagiram. Mas como disse,são muito poucos. Desporto é uma ação educativa,
auxiliar no processo escolar, e que se bem orientada gerará talentos para serem
encaminhados para a competição mais adiante.Mas para isso os professores da área tem
que estar ligados aos demais professores, como um único corpo,voltado ao processo da
educação integral.Profissionais da Ed.Fisica não pertencem a este corpo, pois constituem profissão à parte,com formação pragmática e com controle exógeno,
totalmente dissociado da escola.Seria interessante a fundação dos Conselhos Federais
dos Profissionais da Matemática,do Poruguês,da História,da Biologia,etc,etc…e mais
interessante ainda seria observar como tais conselhos gerenciariam o processo escolar
base intelectual da nação.Por tudo isso so nos resta a constatação de quão diabólico
plano a Educação Física foi vítima,plano este magistral, e que constitue no presente
o segundo segmento mais rentável no país, e que so foi possivel de ser criado com a
mudança na formação do Professor de Ed.Fisica,tirando-o da linha humanística e
levando-o para a linha pragmática das Ciências Médicas.Foi um golpe de mestre.

OS AMERICANOS ESTÃO MUDANDO?

Na semana passada a imprensa distribuiu a informação de que uma liga menor profissional dos Estados Unidos poria nessa temporada,em caráter experimental
duas mudanças nas regras,a validade das cestas de três pontos somente nos três
minutos finais do jogo, e a proibição mais radical de flutuações defensivas,
com a finalidade de incentivar uma maior utilização dos arremessos de média e
curta distâncias,diminuindo a alta incidência atual de erros, e a implementação
definitiva das jogadas de um contra um, geradoras dos apreciados confrontos
pessoais entre os grandes e regiamente bem pagos astros americanos. É claro, que
essas mudanças se farão à margem das regras internacionais, dando os americanos
mais uma prova do grande desprezo que têm pelo basquete jogado no resto do mundo.
E certamente alguns jornalistas e especialistas em nosso pais aplaudirão tal
iniciativa. O que não dirão, e sequer compreenderão, quais os reais motivos de tal
decisão. Apostam alto na possibilidade de a médio prazo a FIBA apoiar uma unificação
das regras, e que eles, os americanos,donos da maior liga do planeta(mas não
campeões mundiais e olimpicos)que movimentam cifras astronômicas, acenem com a
possibilidade de extender aos europeus uma participação em seu campeonato.De modo
algum abrirão perspectivas de adotarem as regras internacionais, pois isso sedimentaria a atual superioridade da FIBA ante a NBA no contexto das competições
internacionais. Com as mudanças propostas incrementarão inicialmente o jogo dirigido
aos arremessos de curta e média distâncias, retirando dos grandes e pesados pivôs
a responsabilidade pontual, já que nas atuais circunstâncias, sob a égide das regras
internacionais são sistematicamente alijados das partidas, ao mesmo tempo em que
deixarão de lado,talvez momentâneamente,a enxurrada de erros em um arremesso em
que são nitidadmente inferiores ao resto do mundo,o de três pontos.Deixando os
mesmos para os três minutos finais das partidas minimizariam sua importância nos
resultados. Quanto a proibição mais intensa sobre as flutuações defensivas,apostam
como bons jogadores de poker que são(a ESPN transmite competições desta modalidade
em sua programação)na possibilidade de atrair para esse tipo de jogo,o embate de
um contra um, os torcedores dos demais paises, pois desmontarem um esquema que
demorou décadas para ser desenvolvido fica fora de qualquer cogitação dado aos investimentos milionarios que dispenderam na organização do mesmo. Incentivando as
penetrações,as conclusões espetaculosas e o consequente aumento na precisão dos
arremessos dado ao encurtamento das distâncias e ausência de coberturas,os jogos ganharão em dinamismo e sedimentarão o prestígio das grandes estrelas junto à massa torcedora.O grande desafio será o de implantar tais procedimentos nas regras internacionais,pela inconteste força de seu poder econômico. São tentativas de quem se acostumou por décadas a impôr ao mundo uma visão diferenciada e muito particular de um jogo que somente eles praticam,o basquetebol NBA. No entanto, acredito com uma grande dose de esperança, que o restante do mundo não se deixe levar por esse caminho, pois correriam o perigo de perderem, e ai definitivamente,a atual hegemonia tão duramente conquistada.O correto,deveria ser a aceitação das regras internacionais
pelos americanos,numa demonstração de reconhecimento da existência de qualidade na
pratica do basquetebol fora de suas fronteiras. Mas com seus jogos transmitidos para
212 países,em 42 idiomas e com uma audiência mundial de 750 milhões de residências
(O Globo de 2/11/04)tolice seria pensar que tão fantástico poder se curvasse à menor
possibilidade de adesão às regras internacionais, quando o caminho para participar
da divisão de tão vasto imperio econômico terá de passar por uma composição das regras,entre FIBA e NBA.E na possibilidade mais do que previsivel de que isso venha a ocorrer,aqueles pontos que beneficiarem os profissionais da NBA serão prioritários, dai as modificações que os mesmos começam a implantar em suas regras.Como reagiremos?
Espero que o façamos, pelo menos, com dignidade e coragem. Torçamos…

SCAUTINGS,STATS,DADOS NÃO TÃO VERDADEIROS

A contratação de fulano se justifica pelos seus dados estatísticos,pois lidera nos rebotes,nos arremessos de três,nos tocos…e por aí vai a explanação do empresário na defesa dos interêsses de seu protegido. Sem errar muito vejo nesses dados estatísticos muito da argumentação que justificam contratações de jogadores pelas
equipes brasileiras,e o que é mais constrangedor,baseadas em dados compilados por
empresas especializadas e com aval dos órgãos que gerem o basquetebol entre nos.E
do âmago destes dados emerge uma pergunta fundamental-O que representam de fidedignidade esses dados? Quão verdadeiros são?- Respondo sem mêdo de muito errar
que pouco representam de verdadeiro. Um professor que tive dizia que a estatística
tanto promove, como destroi reputações, dependendo do interêsse de quem a emprega.
Claro que não vamos a tais extremos, mas comparações percentuais não espelham performances técnicas, quando muito expôem os prós e na maioria das vezes omitem os
contras.Se cada equipe só pudesse se utilizar de 5 jogadores, atuando em tempo integral, ainda poderiamos comparar jogadores de uma mesma equipe relacionando-os com os da equipe adversária. No entanto, são 12 jogadores por equipe que se revezam
durante o tempo de duração de uma partida.Esse fator muda tudo, pois como comparar
um jogador que joga, por exemplo,36 minutos,com outro que o faz por 6 minutos? Se
for utilizado tão somente as técnicas estatísticas baseadas em percentuais, o que
joga por menos tempo obterá dados mais altos do que aquele que joga por mais tempo.
Se bem trabalhados,estes dados beneficiarão sempre aqueles que jogam por menos tempo,
pois ficarão menos expostos ao erro, cuja margem de ocorrência aumenta na proporção
direta do maior tempo que permaneça em quadra. E como adequar treinamentos tendo como
base dados percentuais obtidos em condições díspares? Pela desigualdade nos critérios
da análise estatística percentual a adequação torna-se impraticável, e por causa desse óbice é que adotei a análise pelo critério dos coeficiêntes de produção.Na
equipe Infanto-Juvenil do Fluminense de 1975 durante o Campeonato Carioca,desenvolvi
uma coleta de dados técnicos dos jogos utilizando um minigravador de voz, que era
acionado em toda ocorrência da partida por um auxiliar(geralmente um jogador da equipe juvenil),no qual descrevia com detalhes o que havia observado,acionando a pausa logo a seguir.Com essa ação a fita apresentava ao final do jogo uma duração
próxima ao tempo real da partida,e como estava setorizada facilitava em muito a
trancriçao para a ficha de dados.Hoje, com a facilidade do videotape a coleta e
transcrição acontece com maior velocidade e fidedignidade.Muitos erros de súmula podem ser observados com as analises em video, e muitos erros de arbitagem também.
Após a coleta dos dados, eram auferidos pontos positivos ou negativos em todos os fundamentos e ocorrências técnicas acontecidas no jogo,obtendo-se um numero final
que poderia ser positivo ou negativo.Este, então, era dividido pelo tempo de participação do jogador na partida, o que originava o seu coeficiênte técnico.Esse
coeficiênte poderia então ser comparado com os demais, pois refletia a sua produtividade fosse qual fosse seu tempo de participação no jogo.É claro,que foram
empregados pontos positivos ou negativos de acôrdo com uma categoria de base, e que
também os mesmos não tinham o rigor ideal se fossem estudados, discutidos e adotados
por uma comissão de técnicos,os quais apresentariam para cada categoria valores a
serem adotados por todos. Foi uma tentativa pessoal, com critérios pessoais, obtidos pela vivência, observação e prática constantes.Mesmo assim,e de forma absolutamente
experimental, obtive dados bastante consistentes e conclusivos,dando-me a certeza de
que o caminho para uma análise de produtividade técnica não poderia ser muito diferente do que aquela. Projetando para o futuro, vislumbrava a possibilidade de
classificação de jogadores a um toque de botão no computador, pedindo ao mesmo uma
lista, por exemplo, de armadores juvenís com um coeficiênte situado entre x ou y pontos de produtividade, podendo,inclusive,compará-los com as demais categorias.
Teríamos tabelas de pontos por categoria, adotadas em todo o território nacional, e
cujos dados poderiam facilmente transitar pelo mesmo, tendo como base as federações e
como destino final a CBB. As convocações seriam mais justas, pois não só os critérios de observação seriam levados em conta,os coeficiêntes também teriam um peso
a ser considerado. Enfim, seria banida entre nos as análises baseadas em dados percentuais, manipuláveis e tão de agrado daqueles que se utilizam de falsos números
para se promoverem. Lanço a idéia,que utilizei com bons resultados, ponho os mesmos á
disposição de quem se interessar, e desafio a todos a debaterem o problema.

COMO GOSTO E SEMPRE JOGUEI

Lá pelos anos 50 assistí um jogo na quadra descoberta do Grajaú TC que enfrentava a equipe do Sirio e Libanês pelo Campeonato Carioca da 1ªDivisão, onde,pela primeira vez na minha vida tive contato com um movimento tático inesquecível.Ví desenrolar-se perante meus olhos adolecentes uma movimentação em círculos dentro do garrafão grajauense, comandada pelo mítico jogador e técnico Ruy de Freitas,que era conhecida pelos torcedores como”a rodinha”.Um jogador de posse da bola na lateral do garrafão ensaiava um passe enquanto os outros quatro companheiros se movimentavam em forma circular dentro do mesmo, até que um deles pela rapidez se colocava em uma boa posição para o recebimento do passe e consequente bandeja.O inusitado da cena e a simplicidade da execução tornava aquela movimentação única e surpreendente, não por sua eficácia, mas por ser algo que diferia radicalmente das jogadas padronizadas que eram executadas pelas demais equipes.Aquele”algo”diferente me influenciou profundamente, pois abriu meus olhos para a descoberta da existência de um mundo repleto de possibilidades criativas, de um mundo fascinante no campo da tática e da técnica,da verdadeira arte que emanava do basquetebol.Daí para diante um universo de leituras abrangendo não só o jogo,mas toda manifestação cultural,econômica,social
e política que pudesse enriquecer o conhecimento global da manifestação desportiva
somou-se ao estafante,porém prazeiroso,mistér de ensinar, treinar e pesquisar tudo
que se relacionasse com o mesmo.Aos poucos foi se sedimentando a premissa maior em
minha vida de professor e técnico,a de que,apesar dos riscos e insucessos sempre
presentes,inovar, arriscar e ousar deveria pautar meu comportamento para sempre.
Jamais me arrependi daquela decisão, e continuo a praticá-la,mesmo pagando um alto prêço pela coragem de se situar muitas das vezes à margem da mesmice vigente,pela
opção de investir basicamente na formação,negando-se em muitas ocasiões aos convites
de equipes da Primeira Divisão.E foram nas divisões de base que pude desenvolver
sistemas de jogo experimentais, subvertendo em muito as modas vigentes.A principal
mudança foi a redefinição dos alas,que de jogadores fixos nas laterais da quadra,
passaram a atuar como pivôs móveis,situando-se inicialmente na linha de lance-livre,
para em conjunto com o pivô fixo, movimentarem-se em rápidas triangulações dentro do
garrafão. Os dois armadores, trabalhando em todo o perímetro da cesta, tendo como função primordial encontrar brechas para estabelecer superioridade numérica sempre
com o apoio de um dos pivôs móveis e do pivô fixo. As triangulações se tornavam movimentos expontâneos e ocorriam sistemáticamente próximas à cesta,propiciando arremessos de curta e média distâncias, e mantendo um mínimo de dois jogadores
posicionados para o rebote ofensivo,assim como estabeleciam o equilíbrio defensivo de
forma natural. Com a eliminação dos seguidos passes em torno do perímetro da cesta
o drible tornou-se o elemento básico na formulação dos ataques,o que garantia a posse
da bola com mais segurança, pois no Passing Game a bola permanentemente no ar ficava
na posse de quem a alcançasse primeiro. A utilização dos 24 segundos tornou-se mais flexivel com tempo suficiente para arremessos mais precisos e equilibrados. Os ataques,com mais tempo para sua formulação, permitiam uma sintonia mais fina nos
detalhes de execução, o que era inesequível no Passing Game.No entanto,exigia uma
prática intensa e participativa, principalmente nos fundamentos do jogo, na prática
dos verdadeiros corta-luzes, confundidos nos tempos atuais com simples cruzamentos
entre jogadores, que sequer reconhecem o que vem a ser”corta-luzes internos ou
externos”, bloqueios ofensivos ou defensivos. Enfim, a adoção do sistema se fundamentava no maior ou menor conhecimento que cada componente da equipe tinha de
sua individualidade e a de seus pares, fatores determinantes para o entrosamento consciente, tanto nos movimentos táticos previsíveis ou não, como para as inprovisações que adviriam das reações inesperadas dos adversários.Sempre afirmei que
sistemas táticos se constituem em movimentações que devem ser treinadas exaustivamente para não darem certo,e sim que desencadeassem no adversário atitudes,que quanto mais previsíveis forem, melhor terá sido o sistema.Ações de Dá e Segue entre armadores,com progressões firmes e assistidas propiciam uma enorme gama de situações para serem correlacionadas com as ações dos três pivôs na área do garrafão, em seus deslocamentos e movimentação contínua,fazendo com que seus marcadores sempre estivessem em função de reação e nunca de antecipação.Pivôs parados encorajam os defensores ao jogo físico e às interceptações, o que raramente ocorrerá se o atacante se deslocar em direção ao passe já executado.O ponto futuro, ou seja, o encontro do atacante com a bola em deslocamento, é a chave de todo sistema de jogo que pretenda ser eficiente, ao contrário do que se observa de maneira globalizada em nossas equipes, em que os pivôs emulam Shaquile O’Neal sem o fisico e o talento do mesmo. Argentinos,Lituanos, Iuguslavos,Italianos e muitos outros já utilizam seus pivôs em constante movimentação, longe dos parâmetros da NBA,e pelo que consta, na última Olimpíada nenhum dos pivôs destas equipes seguiam tal modelo, e a maioria sequer jogava naquela Liga.E nós, que tinhamos os pivôs mais rápidos e habilidosos do mundo,fomos de encontro ao modelo NBA por puro modismo e subserviência técnica,cultural,politica e profissional.Nossos mais recentes pivôs,Nenê e Baby são um produto dessa tendência sendo, inclusive submetidos a um processo de massificação muscular que levou o Baby a uma suspensão pela FIBA por uso de anabolizantes no Pré-Olímpico. O outro pivô, Varejão,vindo do basquete europeu manteve sua mobilidade e velocidade,e esperamos que não seja, ou não aceite ser submetido ao mesmo processo dos demais. Grande parte da imprensa esportiva americana contesta a não ida dos grandes astros a última Olimpiada, onde os americanos foram destronados de sua empáfia de Campeões do Mundo, que é a denominação que a NBA dá ao seu campeão,
levantando fortes suspeitas se a maioria deles passariam nos exames anti-doping rigorosos que foram feitos durante os Jogos de Atenas. Com as desculpas de falta de segurança não correram aquele perigo a não ser o nosso maratonista agarrado por um irlandês desequilibrado. Enfim,tenho nos ultimos 25 anos empregado soluções técno-táticas que se antagonizavam com a rigidez de um sistema totalmente fora de nossa realidade,mas escudado por um forte lobby pró-NBA, com a cumplicidade de TV’s,alguns jornalistas e administrações técnicas catastróficas para o nosso basquetebol. Ainda existem em nosso país tecnicos comprometidos com as nossas tradições técnicas, mas que pouco podem realizar perante o descompasso em que mergulhamos nesses anos de escuridão e omissão. Assim como, por teimosia e profunda convicção em um posicionamento antagônico ao que se designou “basquete internacional” proponho a discussão ampla e irrestrita entre todos aqueles que se interessam, estudam, pesquisam e trabalham pelo basquetebol em nosso país. Voltemos a nos encontrar, organizemos grupos de discussão e não simpósios, seminários e pseudo cursos que tem como finalidade maior a perpetuação de um modelo absurdo que se instalou em nosso meio.Vamos a luta!

PENSEMOS E FALEMOS À SÉRIO

Dias antes da decisão da Copa do Mundo de Futebol no México em 1970, estavamos eu
e o grande Prof.Alfredo Gomes de Faria em nossa sala do Laboratório de Tecnologia da
Educação,na EEFD da UFRJ na Praia Vermelha, discutindo as consequências que adviriam
com a vitória da Seleção Brasileira, dentro daquele contexto de regime militar. Claro
que não queríamos a derrota do Brasil, mas concordavamos que dalí para diante tudo mudaria para o Desporto e a Educação Física em nosso país. E não deu outra,os militares assumiram a paternidade da vitória e transferiram para a Escola de Educação Física do Exército, alí pertinho, na Urca, praticamente toda a elaboração das políticas desportivas no Brasil. O que ocorreu daí para diante é de conhecimento de todos, mas alguns aspectos sequer ainda foram abordados. Aproveitando o embalo da conquista,pré-instalou-se em nosso país uma corrida pelo domínio das ciências ligadas às atividades físicas, lideradas por alguns médicos com livre trânsito entre os militares.Eramos acessores da Direção da EEFD, e meses adiante fomos informados pela Direção que a Escola seria transferida do Centro de Filosofia e Ciências Humanas para o Centro de Ciências da Saúde, sob o pretexto de que naquele Centro a Educação Física ganharia em status e galgaria um patamar superior no ramo da ciência.Nossa reação,dos
professores e de quatro médicos que pertenciam ao Departamento de Metodologia da
Educação Física foi tão intensa, que o mesmo ficou na Praia Vermelha na Faculdade de
Educação, se negando a ir para a Ilha do Fundão onde se instalou a EEFD já sob a
jurisdição do CCS. As consequências dessa mudança foram catastróficas para a Educação
Física brasileira,pois o exemplo da EEFD, sempre pioneira nas conquistas educacionais
foi acompanhado pela maioria das Escolas no Brasil,tornando a disciplina um apêndice
da área médica.Era o fator básico de que precisavam aqueles que de uma forma avassaladora queriam transformar o”culto ao corpo” num dos mais rentáveis negócios
dos dias de hoje, atividades essas impossiveis de se concretizarem se a Educação
Fisica ficasse no âmbito das escolas primarias e de segundo grau. Que clientela teriam se os jovens encontrassem na escola os ensinamentos que os fizessem conhecedores de seu corpo e se beneficiassem dos principios desportivos em sua educação? Nada disso, esses preceitos, quanto mais ausentes da escola , mais clientes
teriam quando adultos, mais rentáveis se transformariam, sejam pagando do próprio
bolso, sejam beneficiados por políticas governamentais terceirizadas em escolinhas
de tudo que é atividade física. Academias pululam em nosso país,distantes do aspecto
mais fundamental da atividade física, os principios pedagógicos e educacionais que
os beneficiariam pela vida afora. Por outro lado, as pesquisas específicas da Educação Física e dos Desportos foram minimizadas por pesquisas de interesse da área
médica, transformando o que seria um professor de Educação Física em um paramédico
despreparado para a escola e abandonado pelo ministério do setor.Hoje as verbas para
Educação Física são oriundas do Ministerio da Cultura e do COB. Hoje os professores
de Educação Física são alcunhados de Profissionais da Educação Física e são sujeitos
a um Conselho Federal de Educação Física nos moldes dos CRM’s da vida. São profissionais não mais formados em Centros de Ciências Humanas, e sim em Centros de Ciências da Saúde, dissociados dos aspectos humanistas, mas profundamente lançados
ao pragmatismo da área médica. Universidades públicas se dão hoje ao luxo de investirem muito dinheiro na formação de um profissional de Educação Física para que o mesmo se transforme em Personal Trainer de uma minoria abastada. Escolares? Nem pensar, pois não auferem lucros como aquela. O basquetebol está incluido nesse que foi o mais bem urdido golpe dado na comunidade escolar, e não vislumbro nem a longo prazo soluções para atenuar tão monstruoso crime. Se alguma saída houver terá de começar pela volta dos Cursos de Educação Física aos Centros de Formação de Professores, dos quais, jamais deveriam ter saído, e que a liderança desses professores seja,como sempre deveria ter sido exercida pelo Ministerio da Educação, afastando do seio da juventude aqueles aventureiros que ora se locupletam pela omissão de muitos. E que o Conselho Federal dos Profissionais de Educação Física seja restrito àqueles que povoam as academias, as praias e os ringues nesse injusto país. Conselhos não tem abrigo em escolas, entidades com delegação constitucional, responsáveis pela formação integral da juventude brasileira.Sempre disse aos meus alunos da UFRJ que negassem o rótulo de professores de Educação Física, e que se situassem sempre como Professores! Se um pouco desse milagre acontecer, não só o basquetebol, mas todas as outras modalidades poderão ser massificadas, não só para termos atletas de alto nível, como cidadãos preparados para uma vida saudável e equilibrada. É só, por enquanto…