POR QUE NÃO?
As equipes americanas resolveram prestigiar os Jogos Pan-americanos, enviando formações universitárias, que na maioria das vezes não se dão bem quando em confronto com equipes filiadas à FIBA. Mas num confronto com seleções centro e sul-americanas e mais o Canadá , poderão vivenciar um brilhareco oportuno, pois as mais representativas se apresentarão com suas equipes secundárias. Com tais e mais do que previstas participações, o grande e majestoso ginásio não será palco de um verdadeiro e representativo campeonato, e sim um “quebra-galho” de alguns milhões de dólares, que não representam nada para um país rico e poderoso como o nosso, repleto de excelentes escolas e com um povo, que de tão alfabetizado, se permite comandar por um governo que prestigia e desenvolve a cultura, a educação, os esportes, e mantem professores e técnicos num patamar social invejável, à altura de suas importâncias estratégicas. Logo, nada demais em aplaudir as empreiteiras, os especialistas estrangeiros, os profissionais do esporte tupiniquim, os políticos e agregados, todos dentro do espírito voluntário de bem servir o país, não importando os lucros advindos de tanto sacrifício em nome da pátria. Detalhes sem maiores importâncias, como a implantação de transportes de massa, canalização e saneamento das lagoas circundantes do centro nevrálgico dos Jogos, segurança nas grandes vias de acesso ao mesmo, vendas de ingressos democratizadas, representam valores ínfimos ante a desejada e aguardada publicidade internacional de nossa capacidade organizativa, que temo não ser tão competente como apregoam. Vamos ver se o nosso famoso “jeitinho” se coaduna com o gigantismo da empreitada.
E os americanos selecionaram seus jogadores, e a equipe feminina, seguindo uma tradição de representar o nicho onde se encontra a melhor escola de fundamentos do jogo, fato recentemente reconhecido pelo mais destacado técnico universitário de todos os tempos, John Wooden, apresentou uma relação de convocadas, que por si só é uma lição de evolução e comprometimento para o futuro, num momento em que seu basquetebol luta em busca de um soerguimento internacional, haja visto os sucessivos fracassos nas competições mundiais. É uma relação composta de seis armadoras, uma ala-armadora, quatro alas, uma ala-pivô e uma só pivô. A seleção masculina deverá apresentar uma convocação semelhante, pois os princípios evolutivos são os mesmos, velocidade, mobilidade de todos os jogadores e composição física que não entrave tais atributos, bem próximo da maioria das equipes européias.
Mas por aqui, a terra da mesmice implantada e defendida por um grupelho que implantou uma “filosofia de trabalho” baseada no que de pior a NBA nos legou, no máximo dois armadores são convocados, ao lado de uma enchurrada de pivôs de força e alas com domínio pífio dos fundamentos, mas todos compromissados com as coreografias pranchetadas e empurradas goela abaixo de jogadores criminosamente afastados da criatividade e livre iniciativa, fatores que estão muito além da compreensão das doutas comissões e suas arrogantes “filosofias”.
Por tudo isso, seria de bom alvitre começarmos a pensar e a agir tendo como meta Londres 2012, senão 2016 ainda será inalcançável.
Por onde começar? Do zero, numa semibreve de alto tom, nas mãos de quem realmente entenda o grande jogo, de quem realmente enxergue o futuro. Como fazê-lo? Bem sabem, como sabemos, todos aqueles que vivenciaram e vivenciam o basquete brasileiro, mas que num torpor generalizado se omitem ante a realidade de que algo precisa ser feito, com urgência, com destemor e com amor. Muitos que hoje ocupam grandes postos na vida pública brasileira, tiveram no basquetebol uma grande e poderosa escola de seu desenvolvimento, mas que num esquecimento injustificável viram as costas ao mesmo, lançando-o num limbo inescrutável e inexplicável, fruto da ingratidão de muitos, que em suas posições poderiam ajudá-lo a se soerguer. As associações de veteranos espalhadas pelo país estão repletas de homens e mulheres gabaritados e bem sucedidos em suas vidas, repletos de experiências técnicas e administrativas, quiçá políticas, num quadro de importância vital a qualquer processo de revitalização para o basquete que tanto amam. Que tal se moverem nessa cruzada, liderando os mais jovens, mostrando aos mesmos o caminho das pedras que tanto e com maestria souberam trilhar? Por que não? O que esperam? Por que não? Amém.
PS-Um homem que muito amou o jogo e que tentou ajudá-lo se candidatando à Federação do Rio de Janeiro, tendo sido um excelente praticante, nos deixou sete dias atrás. Marvio Ludolf vai fazer falta, muita falta, e daqui dessa humilde trincheira peço aos deuses que o recebam com toda a pompa de que se fez merecedor em toda sua vida. Saudades.