PEQUENOS GRANDES VÍCIOS.

Há poucos segundos do final, Franca com três pontos na frente repõe a bola em jogo do meio da quadra. Grande expectativa, a equipe de Uberlândia tentará a falta a fim de recuperar a bola, e sua adversária tudo fará para mantê-la em sua posse. Lateral batido, dois dos três armadores de Franca estabelecem contato bem fora do perímetro, quando um de seus pivôs se apresenta para receber a bola. De posse da mesma, tenta o drible e anda com a bola. Nova chance para a equipe da casa, mas que infelizmente não foi aproveitada. Foi uma jogada emblemática para a equipe francana, e que até poderia ter sido outra equipe, em uma outra situação semelhante. O que salta aos olhos é o vicio estabelecido pela maioria de nossas equipes de que pivô tem de vir atuar fora do perímetro, para efetuar corta-luzes, e bem mais grave, tentar dribles e arremessos de três pontos. Um pequeno grande vicio de conduta técnica quase pôs a perder os esforços de toda uma equipe, inclusive os dele mesmo.

Fora um ou outro deslize de execução técnica dos fundamentos, foi um muito bom jogo, onde brilharam todos os armadores em disputa, de ambos os lados, estabelecendo novos parâmetros para o nosso basquetebol, estendidos inclusive às outra duas semifinalistas, já que a equipe do Minas Tênis também estabeleceu a utilização de dois armadores em sua formação básica. E um novo e alvissareiro pormenor, a exata e precisa atuação do ala Rogério, veterano que se renova, interagindo com seus armadores nas funções de um pivô móvel, o que permitiu ao mesmo um sem numero de conclusões à cesta da posição frontal, e não lateral como se pressupõe ser a região de atuação dos alas tradicionais.

Tivemos também revivido um outro pormenor técnico esquecido pela maioria das equipes nacionais, de todas as categorias, e de todos os quadrantes, o arremesso de media distância, aquele que só vale dois pontos, mas cujos índices de acerto em muito superam os de três pontos, vicio maior estabelecido entre nós. E de dois em dois o placar em nada ficou devendo ao que vem se tornando regra geral em nosso basquetebol, a crença estabelecida e cristalizada de que o que ganha jogo são os arremessos de três pontos, crença esta divulgada à exaustão por comentaristas-técnicos, ou técnicos-comentaristas (nunca soube precisar com razoável certeza…) para os quais o basquete de alta competição (que exemplifica os jovens jogadores) começou, se estabeleceu e só será factível através os arremessos de três pontos. E nem os exemplos apresentados nas finais da NBA, onde os arremessos de três se tornaram risíveis faz com que essa turma se convença de que arremesso é um ato de extrema precisão, campo restrito a alguns especialistas, e que os de dois pontos, mais democratizado entre aqueles menos qualificados, ganham jogo sim senhores!

Foi uma demonstração de que nossas equipes, se renovadas as concepções de seus técnicos muito podem oferecer de qualificação técnica, o que encorajará os muitos técnicos responsáveis pela formação espalhados por esse imenso país, a procurarem novas didáticas para o ensino dos fundamentos que sejam comuns a todos os jogadores, independendo de estatura e posicionamento na quadra, fator único e inquestionável na procura da excelência, técnica e tática.

Acredito que sejam os finalistas desse campeonato nacional, emissários de uma nova postura ante o grande jogo, e que seus técnicos desçam de vez de seus púlpitos absolutistas e caiam na realidade de que ainda têm muito o que aprender e principalmente apreender. Amém.



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