RECADO DADO.

Recado mais claro do que foi dado hoje, impossível. Num Pan-Americano que contou com segundas e terceiras forças representando os paises, num torneio esvaziado e comprometido pela completa ausência de importância classificatória para as grandes competições, a equipe brasileira, desfalcada dos grandes nomes por várias desculpas, se apresentou de forma irregular na maioria das partidas, mas venceu o torneio, para a alegria de uma arena repleta de jovens e famílias inteiras, resgatando em parte o brilho que existia no Maracanãnzinho de saudosas decisões.

A comissão técnica da seleção, aproveitou o ensejo, grandioso, eloqüente, com conotação de grande apelo patriótico, para vender um modelo sistêmico de jogo, que vem alcançando resultados catastróficos nas últimas participações internacionais, em todas as categorias, pois se trata de um modelo padrão, numa competição de resultado mais do que previsto, e que por isso mesmo sacramenta o modelo em questão. A sugerida convocação do Valter, que é um excelente armador, o melhor que temos, protagonizou um milagre ortopédico, pois de uma iminente intervenção cirúrgica no pé, que o afastava das convocações, evoluiu para uma performance digna de nota no campeonato, deixando no ar a dúvida entre um milagre divino de cura, ou a garantia nenesiana de que nenhum óbice ocorreria num embate frontal com a douta comissão técnica.

Mas sua determinante atuação no comando tático da seleção, que já contava com os únicos armadores convocados, Nezinho e Huertas, que se revezariam na armação de um homem só, como é regra no sistema adotado, concorreu para que de uma forma um tanto forçada fosse tentada em alguns momentos das partidas a tão ansiada utilização de dois armadores puros, como vem sendo adotado pelas melhores seleções do mundo, o que contraria seriamente o comando de nossa seleção. Além do mais, três jogadores estarão na disputa de vagas como alas-armadores, o Marcelo, o Marcos e o Alex, além do mais do que confirmado Leandro, que por vontade também nenesiana deverá atuar como finalizador de jogadas, função muito mais de um ala do que armador. Esse papo furado de jogador 1 ou 2 (existem também o 3, o 4 e o 5…Ufa!), somente tempera com fortes sabores uma classificação absurda e destituída de significado técnico, a não ser pelas denominações pedantes em “ingrês”.

Não foi atoa que o Valter permaneceu na quadra por mais tempo do que seus colegas, levando-o em alguns momentos a um estado de exaustão, mais psíquica do que física, pois não deve ter sido fácil tapar os rombos de técnica individual de seus alas-armadores, principalmente defensivos, além de municiar seus pivôs com passes magistrais, sobrando ainda tempo e talento para concluir pontos perdidos pelos demais. E permanecendo por longo tempo na quadra, exeqüibilizava o sistema em questão, conotando-o como a panacéia milagrosa defendida por uma comissão engessada pelo mesmo. Em algumas e parcas ocasiões, um outro armador, preferencialmente o Huertas, era lançado ao lado do Valter, aliviando bastante a carga brutal de responsabilidade que pousavam nos seus ombros ( lembro mais uma vez quão deve ser penoso cobrir falhas ofensivas e defensivas de dois alas-armadores guindados à posições de finos executantes dos fundamentos, o que se demonstrou falso e comprometedor), mas que rapidamente era sacado de sua companhia, não dando chances de uma afirmação indesejada, vide o segundo quarto do jogo de véspera. Sua performance de alta técnica, mesmo solitário na armação cristalizou o sistema que será adotado no Pré-Olímpico, e não será surpresa para ninguém se somente ele, o grande Valter seguir como o único armador da equipe, já que Leandro, Marcelo, Marcos e talvez Alex se firmaram com suas performances de “especialistas nos fundamentos do jogo”.O Huertas, que teria um lugar garantido por suas qualidades de armador só por um milagre sensibilizará a uma comissão que sempre prestigia os cardeais, e é vidrada em corpulência física, não só pessoal como de alguns jogadores, vide a situação de que em nenhum momento nesse torneio, sequer foi esboçada uma tentativa de marcação pela frente dos pivôs adversários, fator deixado de lado e de importância, dadas as proporções avantajadas de jogadores que”enriqueceram a presença física nos garrafões”.

Somem-se aos seis jogadores da NBA, provavelmente o Alex , o Leandro, o Valter, Marcelo e Marcos, e mais um grandão para compor o bate-bola impactante, e teremos nossa seleção para o Pré, dentro dos conformes implantados à exaustão pela comissão “unida e uníssona” , para mais uma tentativa de um sistema de jogo anacrônico e previsível, principalmente pelos adversários que iremos enfrentar, para a glória do caipirismo nacional, lapitopi incluído.

Na esperança ínfima de que as demais seleções não se apresentem no limiar de suas possibilidades, e que alguma tentativa de defesa zonal atrapalhe e miniminize a pujança norte-americana, entro no rol desesperançado daqueles que por força do oficio e dos muitos anos de vivência técnico-desportiva ainda torce para que galguemos um degrau que nos tem faltado nos últimos vinte anos, uma chance olímpica nos Jogos de Londres 2012. Teremos tempo suficiente para conseguí-lo, é claro, se mudarmos para melhor. Amém.

O GRANDE VALTER E O RECADO.

O recado está dado, entenda e aceite quem quiser, pois quem manda aqui é o Super N, e estamos conversados. Não precisava nem exagerar na escalação inicial, e que se manteve por todo o primeiro quarto, com o excelente Valter, não só na armação, mas colocando os estilingues de plantão em posições livres de qualquer marcação, e que quando falhavam, e foram muitas vezes, ele mesmo arremessava de três da forma mais precisa possível. E tem mais, passou o quarto inteiro quebrando os galhos e rombos defensivos deixados pelos outros dois “inhos”, que de defesa não conhecem nem a posição básica. Mas são detalhes insignificantes para quem tem as costas quentes. E algo mais, multiplicou-se em vários para armar o que desarmavam, para penetrar com categoria e domínio pleno da bola quando os demais “alas-armadores” refugavam pela mediocridade de suas ações. E concluindo o recital, tudo no quarto inicial, serviu como a muito não se via, os pivôs, a todos eles, com clarividência e profunda sabedoria. O Valter, que não merece um “inho” qualquer em seu nome, preencheu com sobras o vazio técnico-tático nesta tarde chuvosa do Pan, para gáudio de quem o assistiu.

No segundo quarto, para não dar muito na pinta, a sábia comissão fez entrar um outro armador, que imediatamente dividiu com o Valter as funções que o estavam desgastando sem necessidade. Mas foi por pouco tempo, pois o recado tinha de ser dado na íntegra, ainda mais que o futuro armador-finalizador estava na platéia, já antevendo suas funções como já havia designado a eminência parda em seu check list.

O Uruguai, com sua fraca seleção, mas com dois jogadores de grande categoria, o Batista e o Mazzarino, exigiu o máximo da seleção brasileira, e não fosse a ausência prolongada do pivô pelas três faltas cometidas ainda no primeiro tempo, a situação poderia ter se complicado. Mas nada que não pudesse ter sido resolvido pela pujante exibição do Valter, que foi desgastado ao longo de toda a partida, sem que lhe fosse dada qualquer ajuda na função de armação da equipe.

Ficou bem claro o recado a toda e qualquer tentativa que venha a se manifestar quanto a forma que jogará a seleção no Pré-Olímpico. Valter como único armador, Leandro em função de ala, dois pivôs NBA (à escolher conforme se apresentem…), e um ala cardinalício. Dois pivôs que ora se apresentam, Murilo e J.Batista, um dos integrantes da NBA, mais dois ou três alas já conhecidos, um armador e uma ou duas promessas para o futuro.

Atuar com dois armadores puros, nem pensar, pois desnudaria a imposição gritante e escandalosa de um sistema de jogo anacrônico a tal ponto, que está sendo rejeitado aos poucos e decisivamente pelos próprios inventores do mesmo, os americanos, até mesmo por umas poucas equipes do endeusado world championship da NBA. Mas para uso interno, ainda é suficientemente valioso na manutenção de empregos e castas ditas profissionais.

No quarto final, num esforço notável, o Valter, aquele dos três quartos iniciais, respirou fundo e arrancou uma penca de jogadas lapidares levando a equipe à vitória. Mal sabe ele, que com sua deslumbrante atuação enterrou, para satisfação imensa da comissão “unida e uníssona”, a necessidade fulcral de jogarmos com dois armadores. Essa é uma realidade da qual ainda poderemos nos arrepender amargamente.

Para a alegria da nata que icensa e reverencia tudo aquilo que se faz de certo e errado na NBA, seu sistema estará a salvo, pelo menos no que se refere à outrora magnífica e vitoriosa Seleção Brasileira. Colônia é assim mesmo, não nega sua origem, aquela que lhe garante o pão nosso de cada dia. Amém

OS CARDEAIS.

Foi um segundo quarto revelador, e responsável pela imposição de um raciocínio técnico-tático tão óbvio, tão cristalino, que a douta comissão terá de rever certos “conceitos” impostos às nossas seleções nas duas últimas décadas, nas quais as nossas mais determinantes qualidades de grandes praticantes do grande jogo foram irresponsavelmente descaracterizadas. Neste quarto, três armadores puros se revezaram na quadra, em duplas, reforçando substancialmente o setor defensivo, e alimentando com boa técnica e grande velocidade os homens altos atuando dentro do perímetro ofensivo, assim como, tiveram fôlego e presença nas permanentes coberturas às falhas defensivas perpetradas pelos dois alas mais qualificados da equipe, o Marcelo e o Marcos, que não possuem,nem de longe, qualquer postura defensiva para atuar naquele nível, assim como ajudaram na marcação dos pivôs adversários que ainda são teimosa e pouco inteligentemente marcados por trás, anulando as características de boa mobilidade dos pivôs Murilo e Batista, perfeitamente aptos a exercerem a marcação à frente , fator que, dada às qualidades defensivas dos armadores, colocaria a equipe num patamar de efetiva e determinante qualidade. A diferença de 15 pontos ao final desse quarto o marcou como um caminho digno de ser seguido.

Mas, sempre o indefectível mas, apesar da boa dianteira no placar conseguida com muita luta e boa disposição técnica do grupo, eis que urge aplicar a estratégia de beneficiar todo e qualquer jogador pertencente aos quadros da NBA, mesmo que de menor categoria, sinalizando aos demais integrantes daquela família que os lugares dos mesmos estarão sempre à disposição a qualquer época, e para tanto, suas posições táticas dentro da equipe se amoldarão às suas performances ajustadas ao basquetebol que lá jogam. Aliás, o check list nenesiano já estabeleceu os parâmetros a serem seguidos, fazendo inclusive com que o notório arremessador de três pontos Marcelo desse a seguinte declaração ao jornalista Giancarlo Giampetro do site UOL :”Conversei com os técnicos, e agora minha função é outra. Os jogadores que estão fora vão chegar e terão volume de jogo maior, então já estou me adaptando a um outro formato, já pensando no Pré-Olímpico”. Mais claro que isso, impossível, pois já está se qualificando, e por que não, escalando para o Pré. E para não deixar margens a qualquer dúvida, somou 25 pontos no jogo de ontem, como se dissesse “humildemente”, que muda a forma de jogar, mas se der…

Aliás, esta sua característica camaleônica, e profundamente inteligente no trato com as indissiocrasias do meio em que atua e convive, já o tinha levado a trocar a equipe em que atuava na NLB, a mesma do presidente daquela liga e patrocinada por uma empresa telefônica e pelos cofres da Prefeitura do Rio, por uma outra pertencente ao campeonato da CBB, exatamente para preservar seu cargo cardinalício na seleção brasileira, cargo este que o torna “intocável” no elenco, como o elo aplainador da vontade do grupo que ensaia a volta para o Pré. As ausências por motivos clínicos dos outros dois cardeais, que se antepuseram à decisão nenesiana de não disputar as últimas competições internacionais, em parte contribuiu para o redimensionamento estratégico do Marcelo, colocando-o, por decisão própria, como o eixo de equilíbrio da seleção. O grande problema, e creio ser esse insolúvel, é a sua total inabilidade em defender, fator este que deixará a comissão pendurada na broxa se não se cuidar, pois um dos itens do check list nenesiano sugere a contratação de dois técnicos estrangeiros, mas que cá para nós, poderiam até ser nacionais, desde que afinados aos demais itens da lista. E não faltam candidatos, alguns de microfones nas mãos.

Vai a seleção aos tropeços pela indecisão técnico-tática se aproximando da medalha de ouro, mas profundamente dividida pelo que fazer e realizar na competição maior, aquela que definirá o nosso futuro internacional, apesar de que para mim, o futuro teria necessariamente de passar por uma remodelação de princípios técnicos e de comportamento profissional, visando a uma massificação dentro, por que não, do desporto colegial, para que pudéssemos vislumbrar um futuro menos doloroso que o presente que vivemos. Amém.

PS- O check list foi publicado no artigo “Missão Pré-Olimpico”-

24 Junho 2007

MISSÃO PRÉ-OLÍMPICO

DOIS ARMADORES.

Assistindo pela TV algumas competições de menor apelo popular no Pan-Americano, tive a oportunidade, em uma das provas de GRD, mais propriamente um solo com fita, de reforçar um conceito que mantenho vivo em minhas atividades por mais de 50 anos, aquele que não dispensa jamais uma peça de reposição, uma reserva, em qualquer atividade técnica e de precisão. Uma atleta, por não reservar ao lado da pista uma fita reserva, ao ter o seu aparelho destruído não pode pontuar em sua atuação. E assim o é em qualquer atividade técnica desportiva. No basquetebol, a função de armar e liderar uma equipe, através ações de extrema complexidade individual e coletiva, jamais se imporá com um só armador, pois sua anulação ou mesmo limitação através forte anteposição defensiva, porá todo o esforço de sua equipe a perder. A utilização inteligente de dois armadores de alta técnica, por si só conotará um aumento substancial de ações de qualidade que um jogador de outra posição jamais conseguiria. E esta opção foi sempre a preferida pelas nossas equipes de antanho, que as levou a conquistas inesquecíveis e históricas. Aos pouquinhos nossos técnicos começam a se desvencilhar dos cabrestos que os têm prendido ao modelo do basquetebol profissional americano, tomado como exemplo absoluto, e que vem sendo seguido e adotado nas últimas duas décadas, sem variações nem adequações às nossas reais e autênticas necessidades. As recentes e contundentes derrotas americanas em campeonatos internacionais, cujas equipes representativas advinham da NBA, colocou em cheque os conceitos técnico-táticos vigentes naquela organização, fazendo renascer um outro conceito, largamente utilizado e desenvolvido no desporto colegial e universitário, muito mais próximo ao modelo internacional, ao modelo FIBA. A Europa tem desenvolvido tal conceito à perfeição, assim como os argentinos, vencedores das maiores competições realizadas recentemente. No entanto, nosso basquete ainda se recente de novas e renovadas atitudes, se mantendo fiel ao modelo anacrônico importado do rico basquete americano.

Fala-se abertamente hoje que o jogo de duplas, o dá e segue, é um conceito moderno de basquetebol, mas esquecem que duplas como Bob Cousi-Bill Russel, Oscar Robertson-Jerry Lucas, Amauri- Wlamir, Dalipagic-Cosic, já a desenvolviam décadas atrás, sempre modernas e atuais. E secundando tais duplas um outro armador garantia a reserva técnica de suas equipes dentro do campo de jogo. A qualificação de uma equipe sempre passará pelas mãos de dois armadores, verdade esta que aos poucos vai sendo redescoberta por alguns técnicos brasileiros.

E nossa equipe maior, a seleção nacional, estará na vanguarda desse simples, objetivo e correto conceito? Pelo que temos visto nos últimos tempos, não só nas equipes principais, masculina e feminina, como nas equipes de base, absolutamente não. Mas, algumas tímidas experiências têm sido realizadas, como no recente Campeonato Mundial Sub-19 masculino, e em alguns momentos em jogos do Pan-Americano que ora se realiza no Rio. Haverá continuidade? Bem, se depender da opinião de alguns setores bem representativos da mídia especializada, sim. Mas, e as comissões técnicas que atuam e comandam as seleções? Temo que não, pois a teimosia em comprovar autoridade e comando ainda está arraigada em suas concepções, o que dificilmente mudarão. A declaração do técnico da seleção feminina sub-19, que estreou com uma derrota estrepitosa ante as australianas, em muito esclarece tais posições: “O que fez a diferença no jogo foi o excelente aproveitamento nos três pontos das australianas. Elas acertaram 13 bolas em 19 tentativas(…)”. Foi uma derrota de 33 pontos, ante uma equipe que joga com duas excelentes armadoras, e mantêm mais duas na reserva, o que qualifica sua equipe ofensiva e defensivamente falando. Uma equipe que se permite levar 13 bolas de 3 pontos não tem velocidade para se antepor a tais arremessos, ações estas possíveis com a utilização também de duas armadoras permanente, e não esporadicamente dentro da quadra. E poucos e velados comentários foram feitos à cerca da outra catastrófica participação de uma seleção nacional em um Campeonato Mundial, a equipe feminina sub-21, que saiu do campeonato com uma única vitória, e que levou somente duas armadoras. A equipe campeã, a norte-americana, levou quatro.

Muitos outros exemplos poderiam ser descritos, mas cairiam sempre num lugar comum, o de que a tal “filosofia” do basquete moderno ainda nos custará grandes e perenes dissabores, pela teimosia encruada de seus mentores.

Torço para que eu não siga solitário nessa luta por mudanças em nossa forma de jogar e atuar, não só no campo dos torneios internacionais, como, e principalmente nos de âmbito interno, para que possamos nos soerguer do fundo poço em que nos encontramos. Amém.

PS- Quero aqui retificar uma nota de falecimento que publiquei no artigo “Porque não?”, do grande atleta Marvio Ludolf, que me foi confirmado por pessoas ligadas ao meio desportivo, quando na realidade o passamento foi de seu tio que tem o mesmo nome. Penitencio-me pela falha jornalística, que deveria ter sido mais profundamente pesquisada. Peço ao querido Marvio que me perdoe, de coração. Paulo Murilo.

SISTEMAS IV – COMO NÃO FAZER.

Publico hoje mais um artigo da serie Sistemas, abordando uma temática bastante controversa, os sistemas ofensivos utilizados em nossas seleções nacionais, e o faço par que possa suscitar discussões e reflexões sobre o que de melhor poderemos fazer e criar para o sucesso de nosso basquetebol. Espero que todos participem e acrescentem sugestões positivas a fim de encontrarmos nossos verdadeiros caminhos no grande jogo.

PS-A utilização do mouse aciona o zoom nas imagens.

A ARENA


A entrada da arena é impactante, enorme, profunda, lembrando um fosso de minas de ferro com seus anéis convergentes e de inclinação abrupta. Para quem tem algum problema com vertigens não é um bom programa, e o mais emblemático, quem a desenhou e projetou, verticalizou-a de tal forma quem pessoas de idade terão enormes dificuldades para acessar os assentos mais altos, assim como, crianças correm um sério perigo pelas suas características de mobilidade constante, de lá despencarem com sérios riscos de acidentes. Não é por acaso a existência de um sem número de corrimãos ao lado das escadas de acesso, cujos degraus se adequariam a um publico europeu ou norte-americano, cujas médias de estatura são muito mais elevadas que a media de nosso povo. Estranha opção esta para um projeto que poderia ter sido um pouco mais horizontalmente desenhado, visto os enormes espaços circundantes à arena. Entra-se no local transitando por largos e extensos aclives, e de repente somos surpreendidos por um a goela profunda e pouco convidativa, mas a imagem que é transmitida pela mídia realmente impressiona pela compactação e pela extensão vertical. Melhor designação não poderia ter sido escolhida, arena, pois de estádio, ou ginásio não tem absolutamente parentesco nenhum. E custou 260 milhões! Parabéns pela incúria, pois agora temos uma instalação de primeiro mundo, para uma população de terceiro, infelizmente.

Quanto ao jogo, assistimos uma aula, não fossem nossas adversárias uma equipe universitária, de como se ganha um jogo flertando com o inusitado, ante uma equipe previsível e atuando engessada a um sistema que só funciona de fora para dentro da quadra, senão vejamos: Temos jogadas, dizem que muitas, contra defesas individuais, pressionadas e por zona. E devem ser tão diferentes entre si ( o que honestamente jamais percebi…) que necessitam ser mudadas em pedidos de tempo. É tão notória tal situação técnico-tática, que qualquer adversário com um mínimo de presença de espírito se utiliza dessa deficiência para controlar o jogo. E quando o adversário é uma equipe americana, ai vira covardia. Bastou à excelente técnica Stanley acertar com suas jogadoras a utilização rotativa e alternada entre defesa individual e zona, num ritmo que variaria de “n” ataques da equipe brasileira, e que no quarto final chegou ao detalhe de mudança a cada ataque realizado, que desestruturou as brasileiras, presas às intervenções de seu técnico para as devidas mudanças, o que seria factível se não houvesse limites para pedidos de tempos. Mas como existe tal limitação, nos vemos repetidamente presos a esta deficiência técnica nas mais diversas competições internacionais. E o digo , por se tratar de uma “filosofia” técnico-tática implantada em TODAS as seleções nacionais pelo grupo que se apossou delas nos últimos vinte anos.

As americanas nos venceram praticando os oito movimentos básicos do basquetebol, com fundamentos bem executados, com jogadas de duplas, trincas e fortíssima defesa, inclusive a zonal, provando que esta somente funciona em seu todo se os fundamentos da defesa individual forem perfeitamente utilizados.

Existirá um dia que nossos talentosos jogadores e jogadoras serão treinados e preparados para variarem seus sistemas defensivos e ofensivos sem a intervenção castradora de técnicos afeitos à mídia e à exposição pública quanto ao seu poder de comando, discutível e enganoso. As jovens universitárias americanas nos mostraram como jogar um jogo, onde a técnica faz parte da equipe, e não a dona da mesma. O grande técnico é aquele que demonstra no jogo todo um processo adquirido e forjado no treinamento, através os verdadeiros artífices, os jogadores.

Que fique a lição, mais uma, para que no futuro, dentro ou fora daquela terrível arena, possamos eclodir desse pesadelo por que passamos por um tempo deveras prolongado.

A grande Janeth merecia o ouro em sua despedida, e de certa forma o conseguiu através os aplausos emocionados da platéia presente, assim como de todos os brasileiros que amam o grande jogo.

A ARQUITETÔNICA ILUSÃO.

Estou indo conhecer a arena de 15000 pessoas e 260 milhões de reais construída perto aqui de casa. Levo comigo uma estranha sensação de vazio, imaginando o que poderia ter sido construído nas escolas do estado com tamanha verba. Bem próximo dali, em Curicica, um valente professor inicia jovens da comunidade no atletismo, num arremedo de pista e caixa de saltos na praça em frente da escola onde leciona. Seu trabalho rendeu na semana passada uma vitória no Campeonato Mundial Juvenil de uma sua atleta nos 200 metros rasos na longínqua Europa. Um pouco mais adiante, no Mato Alto, outro abnegado inicia jovens carentes no Badminton, numa quadra construída com enormes sacrifícios, inclusive pessoais. Num passeio preliminar pelas escolas públicas da região não encontramos instalações esportivas com um mínimo de conforto, espaço e material necessário à pratica desportiva. Locais cobertos e piscinas, então nem pensar. No entanto, constrói-se arenas megalômanas para já serem entregues à iniciativa particular para explorá-las econômica e comercialmente. Muito em breve estarão sendo usadas para cultos religiosos, desfiles de misses, concertos pop’s, feiras e congressos, e um ou outro espetáculo esportivo, isso se não forem abandonadas simplesmente. Mas no fundo foi essa a destinação inicial de tais locais, o enriquecimento de empreiteiras e a exploração dos mesmos pela iniciativa particular. O que poderíamos fazer com 260 milhões no equipamento de áreas desportivas escolares seria inimaginável, mas utópico dentro da realidade nacional. “Temos agora uma arena de primeiro mundo”, deliciam-se os deslumbrados perante monumentos arquitetônicos e irreais, que os remetem a uma superioridade material ante outras nações, orgulhando-os de “serem brasileiros”. Deveriam, isto sim, voltarem seus olhos para uma juventude carente e escravizada a um destino, onde a luta inglória para se educarem se choca com a indiferença daqueles que conotam o concreto e as ferragens maquiadas em pinturas de gosto duvidoso, com os verdadeiros preceitos de nacionalidade e patriotismo. Não é atoa que muitos poucos atletas cariocas representam as seleções nas diversas modalidades, e mesmo esses poucos sequer treinavam no estado.

Saio daqui um pouco para a arena, levo uma pequena câmera para ilustrar um espetáculo falso e anacrônico, fruto da insensibilidade brutal de nossos dirigentes, mas pleno em sucesso comercial e econômico para uma minoria abastada, vaidosa e profundamente desleal para com a juventude abandonada deste imenso e desigual país.

Peço humildemente aos deuses, que olhem um pouco por todos nós. Amém.

O JOVEM GRITO.

Quando no quarto final do jogo contra os australianos, a equipe brasileira desencadeou uma avalanche de ações improvisadas , calcadas em seqüências de penetrações, intensa movimentação e defesa antecipativa, utilizando para tal uma formação de três armadores e dois ágeis pivôs, que a levou à vitória, seria uma questão de bom senso e inteligência repetir tal esquema no jogo decisivo contra a equipe sérvia. Mas não, a “disciplina tática” teria de ser mantida(se é que existiu em algum momento…), assim como os princípios de um comando claudicante e ausente da realidade do jogo. No jogo decisivo, classificatório para a ambicionada final, em nome de um principio técnico-tático falido, foi a equipe escalada dentro da formula conservadora e retrógrada implantada pelas comissões técnicas da CBB, colocando de lado a êxitosa experiência da véspera, e que se revelou num placar adverso de 13 à zero nos minutos iniciais da partida. Daí para diante, a pouca vivência em competições internacionais, e a inquestionável inferioridade nos fundamentos do jogo, traçaram os rumos da partida, traduzidos nas largas diferenças de pontos no transcorrer dos quartos seguintes. Por que não repetir a formação final do jogo de véspera? Por que não ousar na plena utilização dos três endiabrados armadores, bem superiores em técnicas individuais do que a maioria dos alas da equipe? Por que não inovar, mesmo indo de encontro ao sistema estabelecido preliminarmente para a equipe, tanto na preparação, quanto no transcorrer da competição, ainda mais quando na véspera levou de vencida uma das candidatas ao título? Porque não?

A diferença inicial desestabilizou a equipe, fortaleceu o ânimo do adversário que jogava em casa, e a levou a uma derrota que poderia ter sido contestada caso ousasse e arriscasse, como fizeram contra os australianos, equipe tão, ou mais forte que os sérvios.

E no limiar de uma derrota de grandes proporções, num pedido enraivecido de tempo, vocifera o técnico- “O que vocês querem ?”. A platéia juvenil, inexperiente e insegura não ousa responder, afinal de contas se encontra na presença do líder e condutor de todos. Simplesmente abaixam a cabeça humilhados pelo abandono em hora tão marcante em suas vidas.

Mas do alto de minha experiência sofrida de magistério e técnica desportiva por mais de 50 anos respondo por aqueles talentosos e infimamente preparados jovens- “O que vocês querem ?” – UM TÉCNICO!!

PS- Infelizmente se repete nas transmissões televisivas a invasão de técnicos de equipes masculinas travestidos de comentaristas, todos em busca da rentável visibilidade da mídia mais desenvolvida do país. Falarão das belezas arquitetônicas das instalações, da necessidade de massificarmos o desporto, das benesses do esporte junto à juventude, da necessidade da união dos técnicos, de projetos quiméricos, de propostas com verbas oficiais, é claro, de apostas supostamente engraçadas, como se isso fosse de interesse público, e eventualmente de um jogo que pouco conhecem e secretamente desdenham, o basquete feminino. E é bem provável que vejamos ao vivo e à cores uma nova corrida em busca de uma etérea toalha humedecida por lagrimas e suores das artistas da bola laranja. Quem viver, verá. Constrangedor.

JOVEM ANARQUIA.

Apesar do incrível número de erros e perdas de bola no ataque, de falhas seguidas na defesa, de completa anarquia no sistema de jogo, mesmo assim a jovem equipe brasileira levou de vencida a invicta equipe australiana no Mundial sub-19, indo para a semi-final da competição com três derrotas, ao passo que sua adversária irá disputar uma classificação de 5ª a 8ª posição estando invicta até a derrota de hoje. Foi merecida a vitória brasileira? Sem dúvida, pois apesar de uma atuação caótica taticamente, soube com maestria fazer valer a presença em quadra de três armadores, principalmente no quarto final do jogo, um ala talentoso, Thomas, e um pivô extremamente inteligente. Essa formação impensável ante os padrões implantados na preparação da seleção, desencadeou um turbilhão de ações improvisadas de extrema rapidez no ataque, com penetrações constantes num jogo em que os arremessos de medias e curtas distâncias imperaram. A defesa também se beneficiou da velocidade dos armadores, que jogando na interceptação criaram inúmeras situações de dobra, induzindo a equipe australiana a erros sucessivos, quebrando sua disciplina tática responsável pelo seu sucesso até aquele momento dentro da competição. Mérito do técnico responsável pela equipe? Em parte, talvez pela manutenção dos armadores em jogo, confrontando decisões técnico-táticas emanadas da comissão técnica cebebiana da qual é membro integrante, mas sub-judice ao supervisor técnico da mesma, o número um da seleção principal, apesar de ter tentado no transcorrer da partida , em seus pedidos de tempo, disciplinar os jogadores com jogadas mirabolantes rabiscadas em sua trepidante prancheta. Parecia não entender que aquela movimentação desenfreada, sujeita a erros e equívocos repetidos, até certo ponto anárquica é que levou a equipe australiana a tal ponto de desorganização que a feriu de morte, ao não encontrar em seu sistema altamente disciplinado o antídoto necessário para anular tal quantidade de improvisos audaciosos e corajosos, jamais imaginado que fossem possíveis. E um sinal de tal subversão foi dado pelo pivô Paulão, que no segundo quarto, ao cometer sua segunda falta pessoal, sinalizou ao técnico para que não o substituísse, no que foi, erroneamente àquela altura do jogo, atendido. E a manutenção dos armadores foi mantida, quebrando de vez os chifres disso e os punhos daquilo, jogadas coreografadas, que deram lugar ao ato primário de como se deve jogar o grande jogo, principalmente naquelas circunstâncias de confronto ante uma escola superior no requisito tático e nos conceitos de conjunto.

Imaginemos então como seria se fossemos melhor preparados nos fundamentos, base de qualquer sistema de jogo que se preze, ajudando eficazmente a equipe em suas manobras ofensivas e defensivas, enriquecendo nossos talentosos jovens com técnicas individuais que o tornassem tão ou mais eficientes que os jovens dos países lideres do basquete mundial? A resposta? Manteríamos essa disposição improvisadora, que nos levou aos píncaros da gloria no passado, somando-a um espirito de equipe modelado por sistemas ofensivos e defensivos que a qualificasse, sem perder a unidade grupal, desenvolvendo-a com responsabilidade e criatividade.

Fico pensando como estarão as cabeças da comissão “unida e uníssona” perante a realidade inequívoca apresentada por essa jovem seleção, muito mais agora que foi “sugestionada” a convocar um terceiro armador de grande categoria, perante seu persistente posicionamento de atuar com somente um armador. Aceitarão tal evidência, ou se manterão dentro do principio do “sabe quem manda e decide por aqui?”

Temo que manterão, até que…o Super N intervenha, mais uma e talvez derradeira vez, o que seria profundamente constrangedor e lastimável.

Torçamos pelos moleques lá na lonjura sérvia, isso se não forem freados por coreografias de segunda categoria e pranchetas restritoras. Que os deuses os ajudem. Amém.

FUNDAMENTANDO O FUTURO.

Vi os dois jogos, contra os Estados Unidos e contra a China. E o que dizer sobre nossa seleção sub-19? O de sempre, repetitivo, monocórdio, desolador. Valores potencialmente interessantes, mas destituídos de fundamentos do jogo. Valentia, audácia, coragem, inesgotável energia, velocidade irrefreável, todo um repertório juvenil anarquizado pela ausência dos princípios fundamentais do jogo. Dribles inobjetivos e frágeis nas mudanças de direção, passes fora do tempo, fintas inadequadas, posicionamentos defensivos equivocados, colocação errônea nos rebotes, ausência de movimentação sem a bola, atitude antecipativa insuficiente. E além desse corolário de deficiências, a obrigatoriedade de agirem dentro de um sistema de jogo cujo controle decisório está fora da quadra, inserido nas delimitações de uma prancheta, acionada por uma comissão técnica, como se todos os jogadores fossem marionetes presos a cordéis. Do outro lado, no caso dos americanos, uma escola que tem nos fundamentos a essência de sua maneira de jogar, onde as ações individuais e coletivas se complementam técnica e táticamente, em quaisquer situações sistêmicas que venham a utilizar, tendo como elementos facilitadores os conhecimentos e domínio das técnicas do jogo por todos os integrantes da equipe, altos e baixos, armadores e pivôs, efetivos e reservas.

Nossos jovens jogadores, alguns realmente promissores, estão abandonados quanto ao treinamento que deveriam ter para atingirem um padrão aceitável, transmitido aos mesmos por professores e técnicos que realmente conheçam e dominem a arte de ensinar basquetebol, efetiva, responsável e cientificamente falando, padrões estes bastante distantes de um ensino calcado em um sistema castrador, que privilegia posições e especializações de jogadores, como se cada um deles pertencesse a um setor da quadra, dividida por capitanias hereditárias, territórios a serem preenchidos pelos devaneios exteriorizados em rabiscos desconexos nas pranchetas de técnicos completamente dissociados da realidade complexa de um jogo formidável, mas exigente na busca da síntese de todos os valores que o compõe. Alcançá-la e dominá-la é a tarefa, aparentemente utópica, de todos os envolvidos no processo, técnicos e jogadores, pesquisadores e dirigentes, e por que não, jornalistas. Mas para tanto há de se observar o preceito básico, desafiador e culminador do mesmo, o conhecimento, execução e domínio dos fundamentos do jogo, sem os quais nenhum sistema, por melhor que seja exposto e desenhado em uma lastimável prancheta, atingirá um patamar além de medíocre e fadado ao fracasso, como vem ocorrendo entre nós por mais de duas décadas.

No entanto, reconheço que a atual situação do basquetebol brasileiro, com seu implantado sistema único de jogo, baseado no decrépito passing game, e na pouca atenção a sistemas defensivos, fruto do pouco, ou nenhum interesse em maiores e profundos estudos, tem beneficiado um grupo de profissionais itinerantes e donos de fatias de um mercado pseudamente profissional, em conluio com muitos jogadores, fator que espelha uma realidade indigente e destituída de uma verdadeira política que pudesse vir a beneficiar o esporte como um todo, e pela importância do mesmo junto ao processo educativo dos diversos segmentos da juventude do país.

E é justamente nesse ponto que se faz urgente e necessária a atuação conjunta dos técnicos e professores, em prol de uma unidade de pensamento evolutivo que venha a privilegiar o estudo, a pesquisa, a troca permanente de experiências e opiniões, informações e literatura pertinente, e também o congraçamento tão necessário a consecução de todos estes objetivos. Impossível? Irreal? Inexeqüível? Creio honestamente que não, como também acredito ser uma tarefa extremamente difícil, demorada e sofrida, mas nunca impossível, irreal, e tampouco inexeqüível.

O que falta? Vontade, determinação e um profundo amor ao grande jogo, ao jogo de nossas muitas vidas. Amém.