RECADO DADO.
Recado mais claro do que foi dado hoje, impossível. Num Pan-Americano que contou com segundas e terceiras forças representando os paises, num torneio esvaziado e comprometido pela completa ausência de importância classificatória para as grandes competições, a equipe brasileira, desfalcada dos grandes nomes por várias desculpas, se apresentou de forma irregular na maioria das partidas, mas venceu o torneio, para a alegria de uma arena repleta de jovens e famílias inteiras, resgatando em parte o brilho que existia no Maracanãnzinho de saudosas decisões.
A comissão técnica da seleção, aproveitou o ensejo, grandioso, eloqüente, com conotação de grande apelo patriótico, para vender um modelo sistêmico de jogo, que vem alcançando resultados catastróficos nas últimas participações internacionais, em todas as categorias, pois se trata de um modelo padrão, numa competição de resultado mais do que previsto, e que por isso mesmo sacramenta o modelo em questão. A sugerida convocação do Valter, que é um excelente armador, o melhor que temos, protagonizou um milagre ortopédico, pois de uma iminente intervenção cirúrgica no pé, que o afastava das convocações, evoluiu para uma performance digna de nota no campeonato, deixando no ar a dúvida entre um milagre divino de cura, ou a garantia nenesiana de que nenhum óbice ocorreria num embate frontal com a douta comissão técnica.
Mas sua determinante atuação no comando tático da seleção, que já contava com os únicos armadores convocados, Nezinho e Huertas, que se revezariam na armação de um homem só, como é regra no sistema adotado, concorreu para que de uma forma um tanto forçada fosse tentada em alguns momentos das partidas a tão ansiada utilização de dois armadores puros, como vem sendo adotado pelas melhores seleções do mundo, o que contraria seriamente o comando de nossa seleção. Além do mais, três jogadores estarão na disputa de vagas como alas-armadores, o Marcelo, o Marcos e o Alex, além do mais do que confirmado Leandro, que por vontade também nenesiana deverá atuar como finalizador de jogadas, função muito mais de um ala do que armador. Esse papo furado de jogador 1 ou 2 (existem também o 3, o 4 e o 5…Ufa!), somente tempera com fortes sabores uma classificação absurda e destituída de significado técnico, a não ser pelas denominações pedantes em “ingrês”.
Não foi atoa que o Valter permaneceu na quadra por mais tempo do que seus colegas, levando-o em alguns momentos a um estado de exaustão, mais psíquica do que física, pois não deve ter sido fácil tapar os rombos de técnica individual de seus alas-armadores, principalmente defensivos, além de municiar seus pivôs com passes magistrais, sobrando ainda tempo e talento para concluir pontos perdidos pelos demais. E permanecendo por longo tempo na quadra, exeqüibilizava o sistema em questão, conotando-o como a panacéia milagrosa defendida por uma comissão engessada pelo mesmo. Em algumas e parcas ocasiões, um outro armador, preferencialmente o Huertas, era lançado ao lado do Valter, aliviando bastante a carga brutal de responsabilidade que pousavam nos seus ombros ( lembro mais uma vez quão deve ser penoso cobrir falhas ofensivas e defensivas de dois alas-armadores guindados à posições de finos executantes dos fundamentos, o que se demonstrou falso e comprometedor), mas que rapidamente era sacado de sua companhia, não dando chances de uma afirmação indesejada, vide o segundo quarto do jogo de véspera. Sua performance de alta técnica, mesmo solitário na armação cristalizou o sistema que será adotado no Pré-Olímpico, e não será surpresa para ninguém se somente ele, o grande Valter seguir como o único armador da equipe, já que Leandro, Marcelo, Marcos e talvez Alex se firmaram com suas performances de “especialistas nos fundamentos do jogo”.O Huertas, que teria um lugar garantido por suas qualidades de armador só por um milagre sensibilizará a uma comissão que sempre prestigia os cardeais, e é vidrada em corpulência física, não só pessoal como de alguns jogadores, vide a situação de que em nenhum momento nesse torneio, sequer foi esboçada uma tentativa de marcação pela frente dos pivôs adversários, fator deixado de lado e de importância, dadas as proporções avantajadas de jogadores que”enriqueceram a presença física nos garrafões”.
Somem-se aos seis jogadores da NBA, provavelmente o Alex , o Leandro, o Valter, Marcelo e Marcos, e mais um grandão para compor o bate-bola impactante, e teremos nossa seleção para o Pré, dentro dos conformes implantados à exaustão pela comissão “unida e uníssona” , para mais uma tentativa de um sistema de jogo anacrônico e previsível, principalmente pelos adversários que iremos enfrentar, para a glória do caipirismo nacional, lapitopi incluído.
Na esperança ínfima de que as demais seleções não se apresentem no limiar de suas possibilidades, e que alguma tentativa de defesa zonal atrapalhe e miniminize a pujança norte-americana, entro no rol desesperançado daqueles que por força do oficio e dos muitos anos de vivência técnico-desportiva ainda torce para que galguemos um degrau que nos tem faltado nos últimos vinte anos, uma chance olímpica nos Jogos de Londres 2012. Teremos tempo suficiente para conseguí-lo, é claro, se mudarmos para melhor. Amém.