DIAGNOSE/CORREÇÃO…

Na formação dos futuros professores de Educação Física na UFRJ, quando dos estágios supervisionados e prática de ensino que os mesmos se submetiam para sua licenciatura, um dos itens de análise mais discutidos após as aulas dadas era aquele que quantificava sua capacitação de Diagnose/Correção, ou seja, a habilidade pedagógica de perceber erros e suas devidas correções no menor tempo possível. Sem dúvida alguma, treinávamos essa capacitação, que quanto mais estreita fosse, maior a qualificação do professor, ou mesmo o técnico, se seu encaminhamento fosse para o desporto.

Bem sabíamos que aquela capacidade somente se aprimoraria com muito tempo e larga experiência de observação, estudo e boas doses de pesquisa prática, que mesmo à parte de certos cânones acadêmicos pode ser realizada. Mesmo assim insistíamos no tema, provocando discussões e reflexões que buscassem e interiorizassem a necessidade do encontro incessante daquela qualificação. Diagnosticar e corrigir erros com a maior brevidade possível era a marca a ser perseguida por aqueles professores e técnicos, se quisessem obter a excelência profissional.

Bassul acredita na vaga e acha que o jogo serviu de aprendizado. Para ele, a equipe teve lampejos: “Com isso não se ganha vaga. Tomo decisões, que funcionam ou não. Tive de decidir manter o grupo cansado ou mudar peças-chaves”. Foi uma de suas declarações ao O Globo de hoje.

Essa declaração tem a ver com criticas que lhes foram feitas pela substituição das jogadoras reservas que equilibraram o jogo e passaram no placar, pelas titulares que falharam anteriormente. Naqueles minutos finais, somente uma das jogadoras titulares, a excelente armadora Claudia não poderia ter voltado, isso porque a sua substituta(?) Natalia era a única jogadora em quadra com velocidade lateral defensiva capaz de não perder o posicionamento clássico entre a esguia e muito rápida armadora bielorussa e a cesta que defendia, aspecto fundamental para que uma superioridade pontual fosse estabelecida se fosse ultrapassada pela mesma. E foi exatamente o que ocorreu com a entrada da Claudia, muito rápida e eficiente na armação do jogo, porém extremamente carente de velocidade nos deslocamentos laterais na defensiva. Desse momento em diante foram cinco as ultrapassagens da armadora adversária, frontal ou lateralmente à cesta, e conseqüentes assistências às jogadoras que ficavam livres pelas coberturas em desespero a que eram forçadas as pivôs brasileiras. A diferença no placar foi desfeita num momento do jogo em que tudo levava a crer numa vitoria de nossa equipe. Faltou ao técnico diagnosticar a deficiência em velocidade e posicionamento da Claudia, face a rapidez de deslocamento da armadora adversária, cuja devida correção jamais foi feita. Se estudioso for, e principalmente estiver preocupado em se exercitar nesse mister, o de reduzir ao máximo possível a nesga de tempo que separa uma diagnose bem feita de uma conveniente, e às vezes urgente correção, muna-se do vídeo do jogo e observe a enorme dificuldade da Claudia em caminhar, já não digo correr, lateralmente ante uma habilidosa armadora, assim como ela mesma o é. Quando esta habilidade estiver bem desenvolvida, daqui a alguns e prolíferos anos de estrada e dedicação, aí sim, poderá afirmar de si para consigo mesmo- Agora sou um técnico de seleção.

No jogo decisivo de amanhã, nunca essa capacidade de observação será tão exigida, já que duas situações extremas estarão presentes, a necessidade vital de vitória para ambas as equipes, e a importância mais vital ainda que será exercida na diagnose daqueles pequenos, porém decisivos detalhes técnicos e táticos, que exigirão uma competente e rápida tomada de decisões nas correções que se farão necessárias.

Espero que o técnico Bassul se ilumine na tentativa de pular algumas etapas desse processo, possível , mas muito difícil, já que faz parte de uma maturação e experiência de vida ainda a ser trilhada. No entanto, como muitos afirmam que os deuses são brasileiros, nada impede o acesso a um sonho, num momento delicado da seleção, após o justo desligamento daquela que era considerada a melhor jogadora da equipe, que terá pela frente uma adversária tradicional e perfeitamente batível, na medida em que uma boa dose de bom senso se coadune com um espírito de luta, e uma incansável vontade de vencer, com ou sem rodízios, mais burocráticos do que técnicos, que me perdoem aqueles comentaristas que afirmam ser impossível a um atleta (digo-o bem, um atleta…) jogar uma partida inteira, ainda mais se é a última e decisiva. Torço de coração para que consigam a classificação, pois a merecem.

Amém.



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