COACH K…

Pronto, o Mike Krzyzewski soltou a lista de seus jogadores para as Olimpíadas de Pequim, com uma gradação de especialidades que é um verdadeiro chute em alguns e enraizados conceitos dos muitos, diria até, grande maioria de nossos técnicos e entendidos do grande jogo. Entendidos claro, em suas próprias convicções. Como explicar a “incompreensível” existência de três armadores puros e três alas-armadores tão técnicos e eficientes quanto aqueles, num país com a quantidade brutal de talentos que possuem, convocando tão somente UM pivô puro, um cincão como dizem exultantes, rútilos na visão mastodôntica que anteviam para aquela seleção, onde 2,12 m seria estatura desprezível? E completando a equipe com três alas puros e dois alas-pivôs ? O que pensa esse tal de coach K?

Pois é meus caros entendidos, doutores dos sonhos inatingíveis de batalhas cruentas under basket, de dominação absoluta das “áreas pintadas”, da arte intimidatória, e dos tocos cinematográficos, como explicar tamanho descalabro? Um único pivosão? E dois alas que poderão ocupar tal cargo transcendental, somente dois?

Quando o coach K afirmou após o mundial passado, que os americanos precisavam aprender a jogar como o restante do mundo, não estava brincando, e nem estava com as faculdades mentais alteradas. Simplesmente mencionou o óbvio, a nova realidade que teriam de enfrentar e se adaptar, se quisessem voltar ao topo do basquete internacional. O jogo dos mastodontes pesados e lentos tinha acabado, fato captado somente pelo D’Antoni do Suns, com seu basquete rápido e de mobilidade física total, e que foi paralisado em sua concepção pelo contrato do O’Neal. Não foi atoa que se transferiu para NY, em busca de sua concepção bloqueada em Phoenix.

Mas o coach K não se rendeu às criticas e tentativas de se manter o status quo do basquete profissional americano, perdedor nos últimos torneios internacionais, e com aquele espírito renovador, somente encontrado no ambiente universitário, sempre aberto à pesquisa e busca do novo e do avançado, qualificou sua equipe, conceituando-a dentro dos preceitos vencedores de europeus e argentinos, para o encontro olímpico, onde atuando com dois armadores puros e três jogadores altos e habilidosos no ataque e na defesa, em movimentação constante e veloz, tentará superá-los dentro de seus próprios conceitos e técnica peculiar, onde pivosão nenhum se sentirá a vontade ao confrontar-se com seus velozes adversários.

Então porque a presença de um único pivô pesado? Como ex-militar e bom estrategista, coach K o manterá como reserva tática, para aqueles momentos em que alguns de seus adversários escalarem um similar, tão pesado quanto o seu jogador.

O que veremos, sem duvida alguma, é uma equipe longilínea, muito veloz, atlética, e talentosa nos fundamentos do jogo ofensivo, e muito mais, no defensivo, pois que fique claro aos entendidos, defesa também é fundamento, que deve ser bem aprendido, exaustivamente trabalhado, e centrado no arsenal técnico-tático de toda equipe que se preza. Desta base é que se estabelece o desenvolvimento ofensivo, que será eficiente na proporção direta ao sucesso defensivo. E o coach K bem sabe e conhece bem esses conceitos, que tentará provar e estabelecer na direção de profissionais, orientados em conceitos universitários, adaptados à realidade do basquete jogado e praticado fora de suas até agora inexpugnáveis fronteiras.

E para o desgosto das carpideiras nacionais, presas ao espetáculo feérico e irreal da NBA, com seus astros multimilionários e arrogantes, que sempre voltaram as costas para o restante do mundo, inclusive, e em muitos casos renegando a volta às suas seleções nacionais, é tempo de uma mudança impossível de ser freada, pois em caso contrario tal esquema tenderá rapidamente a cair num descrédito de tal monta, que poderá abalar sua estrutura econômica, se um novo fracasso olímpico vier a ocorrer.

Por tudo isso, assistiremos os profissionais mais bem pagos do mundo jogando o mesmo basquete praticado por aqueles não tão bem pagos como eles, obrigados pela obviedade técnico-tática que foram incapazes de adotar, com suas regras especificas e voltadas ao seu histórico egocentrismo.

Dois armadores e três homens altos, rápidos e atléticos, sonho do Moncho ao aqui aportar, e sentir que a resistência seria grande, mas que aos poucos tenta estabelecer, apesar do descrédito daqueles que “acham “ que entendem o grande jogo, que torna-se pequeno para a grande maioria deles, cegos pela ignorância e pelo desconhecimento do que o mesmo representa para os verdadeiros e autênticos basqueteiros.

Se ao concretizar tão radical projeto o coach K se fizer presente com dignidade e audácia nas Olimpíadas, mesmo assim será punido pela colonizada descrença daqueles cujos princípios de vida foram, são e serão ainda, por muito tempo, pautados por um tipo de supremacia exógena que nos esmaga e priva do raciocínio lógico e vital.

Mas como não há mal que sempre dure, um dia as fichas cairão, e só peço aos deuses que esse dia não demore tanto a chegar.

Amém.



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