ENTRE CHUVAS E VENTOS…

Chuva inclemente, tempestade com raios e muito vento. Pronto, cenário para ausência de energia elétrica total por muitas horas, e logo na hora de jogos de basquete que pretendia assistir e comentar, e o pior, por duas noites consecutivas. Mas ainda sobrou um tempinho para ver a equipe de Franca não tomar conhecimento do jovem time do Paulistano, e a vitória do Brasília em Sunshales contra o campeão argentino.

Em ambas as partidas um lugar comum, a vitória fundamentada em dois decisivos aspectos, defesa e dupla armação. Um terceiro também poderia ser agregado, a mobilidade interior dos pivôs, não fossem essas duas equipes aquelas que junto ao Minas tentam reformar, ou mesmo romper com o esquema único de jogo, arraigado e concretado na mente de nossos técnicos e suas equipes.

Os princípios da defesa linha da bola, aos poucos vão se tornando mais fluentes, porém com um entrave herdado das defesas em massa no garrafão, a flutuação longitudinal à cesta, definidora da defesa da linha do passe, quando a real defesa linha da bola flutua lateralmente, sempre em direção da linha imaginária que começa na bola, em qualquer situação que se encontre dentro da quadra de ataque, até a cesta, numa ação coletiva que impede passes tensos, obrigando os adversários aos passes elípticos, lentos e de fácil recuperação linear, e que permite sistematicamente a marcação à frente do(s) pivô(s), ação desejada pela minimização de faltas pessoais sobre o(s) mesmo(s). Essa defesa foi publicada aqui no blog (http://paulomurilo.blogspot.com/2007/05/sistemas-i-defesa-linha-da-bola_09.html), tempos atrás, tendo sido bastante comentada pelos leitores.

Com a dupla armação, conceito que aos poucos nossos técnicos vão levando mais à serio, não só a movimentação técnico tática ofensiva se torna mais dinâmica, como o sistema defensivo passa a atuar com mais combatividade, dada às características de técnica e velocidade dos armadores que compõem o mesmo. E o fator estatura, onde a tendência de crescimento se avoluma a cada ano que passa, nos colocará no mesmo nível das equipes européias, mas que também dependerão de um treinamento mais especializado desde as divisões de base.

No jogo em Franca, o fator antecipação às possíveis jogadas ofensivas da equipe do Paulistano, quebrou suas pretensões mesmo atuando em dupla armação desde o início da partida, isso porque, ao não adotarem o jogo interior onde Franca sempre demonstrou ser menos efetiva nos rebotes, optou pelo jogo centrado em seu eficiente e bom jogador Dedé, que muitíssimo bem marcado frustrou a equipe como num todo, além de por conta dessa retração se insinuar no jogo de penetração sem a mesma mobilidade coletiva de Franca, o que contribuiu para um congestionamento no garrafão que beneficiou as interceptações dos passes, e mesmo na anteposição aos dribles.

Do outro lado, a mobilidade absolutamente coletiva de Franca abriu quantos espaços pretendeu na defesa paulistana, onde o pivô Drudi cansou-se de receber passes em movimento para arremessos de dois pontos sempre efetivos. Duas concepções fundamentadas num mesmo princípio técnico tático, o velho e carcomido sistema único de jogo, onde uma equipe, mesmo em dupla armação o praticava imutavelmente, e outra, modificava-o através a movimentação ininterrupta de todos os seus jogadores. Simples e ao mesmo tempo complexa atitude, negada, por não estudada pela maioria de nossos técnicos.

Na Argentina, uma ação defensiva memorável da equipe candanga, usando e abusando da anteposição às jogadas argentinas, fustigando irrepreensivelmente os armadores, e dobrando com eficácia nos pivôs, o que originou uma série de erros muito bem aproveitados nos contra ataques, colocando uma margem de 20 pontos ao término do segundo quarto.

Nos dois quartos restantes, se manteve defensivamente agressiva, e soube administrar a diferença com calma e maestria.

Aos poucos vamos nos conscientizando do valor defensivo, inteligente e efetivo, assim como também alcançamos a bem vinda compreensão do que realmente seja a dupla armação, faltando tão somente que os alas, esquecidos em seu preparo especial, se tornem mais próximos tecnicamente dos armadores, incrementando desta forma a velocidade e os deslocamentos ofensivos permanentes, além, é claro, do definitivo abandono dos pivôs de força, centralizadores e fáceis de anular sob defesas dobradas, dando lugar a pivôs ágeis e velozes, capazes inclusive de progredirem com a bola, sem que esta se torne incontrolável como se vê nos dias de hoje.

Espero que a anunciada tempestade de hoje à noite não me impeça de assistir o jogo decisivo do Flamengo contra o Sunshalles, o que seria realmente lastimável.

Amém.



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