FALEMOS UM POUCO DE TÁTICAS E SISTEMAS IV…

Cumprindo mais uma etapa deste blog, publico hoje o primeiro artigo com o apoio de vídeo, sobre o sistema de jogo que desenvolvi junto à equipe Infanto Juvenil do Barra da Tijuca BC em 1995, todo ele fundamentado na dupla armação, e com uma singularidade, sua utilização indistinta contra defesas individuais ou zonais.

Depois de muitos artigos sobre o tema, publicados ao longo dos últimos quatro anos, exemplifico o sistema na prática, através o primeiro jogo da temporada 96, exatamente contra a equipe campeã de 95, o Tijuca TC, no ginásio deste.

Alguns pontos devem ser anotados, observados e relevados durante a partida, pois os jogadores envolvidos na mesma são jovens de 15-6 anos, e não profissionais adultos. Erros são cometidos, mas que não mascaram a verdadeira finalidade desta exemplar partida, a prova inconteste do valor de um sistema fundamentado na dupla armação e na utilização de três pivôs móveis, se antepondo ao sistema tradicional empregado pela equipe tijucana, que era, e continua sendo depois de treze anos, o mesmo utilizado por todas as equipes brasileiras de todas as categorias.

Esse sistema foi montado após longo período de treinamento dos fundamentos ofensivos e defensivos do grande jogo, quando pude observar as características de cada jogador envolvido nos treinamentos, otimizando-as e alinhando-as coletivamente, a fim de que um todo homogêneo pudesse ser desenvolvido, sedimentado no preparo intenso e repetitivo dos fundamentos.

Na temporada inicial de 95, muitas derrotas atingiram diferenças de mais de 40 pontos, motivadas pela quase total inexperiência do plantel, inclusive para o Tijuca TC, por isso, no limiar de 96, quando o período de férias escolares propiciou bastante espaço para os treinos, tal diferença de técnicas individuais e de sistemas de jogo puderam ser bastante atenuadas, culminando com a excelente experiência que mostrarei.

Desta data em diante, passamos a ser a única equipe do Rio de Janeiro a se utilizar de um sistema polivalente de jogo, adequado às nossas verdadeiras capacitações de criatividade e independência técnico tática, principalmente na primeira fase da temporada 97, quando a equipe, já na categoria Juvenil, apresentava pleno domínio do sistema, mas que infelizmente foi desfeita por vários fatores gerenciais e econômicos.

Ainda sobre a equipe e seu sistema inovador, apresentarei mais para diante dois jogos esclarecedores, o primeiro da temporada 97 contra a equipe do Fluminense FC, e contra a equipe base da seleção da República Tcheca no Torneio da Amadora em Portugal, quando a dupla armação e seus três pivôs móveis amadureceu definitivamente. Pena que não tivessem tido a oportunidade de chegarem à categoria adulta, projeto de mais dois anos, finito em junho de 1997.

Finalmente, todas as jogadas apresentadas e desenvolvidas pelos jogadores foram produtos deles mesmos, ao aplicarem de forma coletiva os ensinamentos assimilados nos intensos treinamentos dos fundamentos, tanto os individuais, como os coletivos, praticados setorialmente, e tendo como fator de desenvolvimento as ações de anteposições defensivas, num exercício contínuo de uso de habilidades e permanente leitura de situações de jogo. Em hipótese alguma determinei jogadas ensaiadas, marcadas e mesmo preestabelecidas, pois o grande objetivo a ser alcançado era o da autodeterminação técnico tática em confronto com as realidades do jogo, encaixado num formato sistêmico de cunho coletivista, porém aberto às iniciativas individuais, como num tema jazzístico, onde a improvisação em torno de um tema central é ressaltada pelo estrito domínio instrumental, como nos fundamentos do jogo, e não uma estruturação comportamental baseada em conceitos rígidos, emanados de fora para dentro da quadra de jogo, como extensão de minha decisória vontade.

Exatamente por força desta decisão, alguns pequenos, e corrigíveis exageros podem ser constatados, principalmente quanto à execução muito rápida de arremessos curtos e até mesmo os longos, frutos de uma movimentação intensa e veloz na zona de ataque, motivada pela imprecisão defensiva do adversário frente a deslocamentos coletivos, para os quais não estava preparado. Mas em nenhum momento tais tentativas são forçadas, e estão sempre precedidas de colocações estratégicas no rebote ofensivo.

Fazer jovens jogarem responsável e criativamente, bem fundamentados e orientados ao futuro desafiador, deveria ser a função de todos aqueles que militam na formação de base, e não engessá-los em sistemas cifrados e coreografados, como o que utilizamos nos últimos vinte anos. Não é gratuito o fato de hoje sofrermos escassez de armadores, de alas habilidosos e pivôs velozes, como resultante de um grande equivoco didático pedagógico em suas formações. Creio que esse artigo possa lançar alguma luz e proveitosas discussões por sobre tão crítico problema.

Dados os esclarecimentos, vamos ao jogo.

Barra Da Tijuca X Tijuca Tennis Clube – 1997

Amém!



14 comentários

  1. Henrique Lima 18.09.2009

    Caro Professor, agora o relogio está em meia noite e vinte, quando acessei o site do senhor e vi mais uma aula-artigo.

    Não tenho condições, pelo horário, de prosseguir. Porém, parabens pelo uso do video !! Muito bom e uma forma muito interessante de fazer valer todo o seu conhecimento de causa, neste sistema que o senhor tanto suplica utilização em terras brasilis.

    E ainda digo para o senhor, estou sentindo falta de análises do Europeu 2009 aqui no site ! Eu tenho visto menos jogos que gostaria pelo trabalho, mas hoje vi uma Sérvia e uma Espanha que deram aulas de basquetebol para Russia e Espanha, respectivamente.

    Um abracao, amanha vejo com calma e comento sobre o video !

  2. Basquete Brasil 18.09.2009

    Prezado Henrique,aguardo seus comentários a respeito dessa nova apresentação da dupla armação, mostradas agora com fatos (mesmo em categoria de base), e na prática de jogo.
    Quanto aos comentários sobre o Eurobasket,amanhã publicarei algo a respeito. Um abraço, Paulo Murilo.

  3. Gil Guadron 19.09.2009

    Paulo:

    Usted lo pone bien sencillo. Un enfoque personal para enriquecer la conversacion basquetbolistica.

    Felicitaciones.

    Gil

  4. Basquete Brasil 19.09.2009

    Obrigado Gil, você sempre gentil nos comentários.Creio que este enfoque possa suscitar bons e proveitosos debates.Todos nós precisamos deles, profunda e decisivamente falando.Um abração, Paulo.

  5. Jorge 22.09.2009

    Carto professor,

    Primeiramente, parabéns pelo blog. Muito bom mesmo!

    Segundo, gostaria de me apresentar, me chamo Jorge, tenho 19 anos e sou de Campinas-SP. Joguei basquete dos 11 aos 18 anos, hoje penso em ser técnico.

    Joguei duas temporadas de basquete nos EUA, na categoria High School, e enquanto estive lá ví coisas que jamais imaginei antes.

    A maioria dos times jogavam de acordo com o que tinham, ou seja, valorizando os próprios jogadores acima do fato desses terem “posições”. De fato, os técnicos preferiam o termo “situação” (situation) ao invés de “posição” (position).

    Eu joguei como armador desde os 14 anos, mas enquanto estive nos EUA, sempre tive a liberdade de jogar em qualquer lugar, podendo me adaptar de acordo com o meu marcador, por exemplo: Quando o meu marcador era mais fraco do que eu físicamente ou mais baixo, eu tomava posição no garrafão e jogava de pivô com ele no 1X1.

    Gosto muito dessa liberdade no jogo de basquete, e espero poder passá-la a meus alunos se um dia for técnico.

    Peço que continue a escrever sobre o que você sabe sobre basquete! É muito difícil achar material bom por aí, seja em livros, na própria internet, etc…

    Ainda não ví o jogo, o vídeo está carregando ainda, qual é o Barra da Tijuca BC? O vermelho ou o amarelo?

    Atenciosamente,

    Jorge

  6. Basquete Brasil 22.09.2009

    Prezado Jorge, em uma HS americana você aprendeu a diferenciar situação de posição, sutileza drasticamente negada pela maioria quase absoluta de nossos técnicos. Mas, num futuro breve você iniciará sua caminhada como professor e técnico sabendo na prática a sutil diferença. Bom para você, melhor ainda para seus futuros alunos.Torço para o seu sucesso.
    Em tempo- O BTBC é a equipe de camisetas amarelas e calções azuis. Um abraço, Paulo Murilo.

  7. Jalber 01.10.2009

    Como vai professor paulo,
    estou assistindo o jogo e gostaria de fazer alguns questionamentos por partes…
    primeiro ponto que observei e que me chamou a atenção foi posicionamento. Na dupla armação os dois atletas armadores jogam juntos em cima e os tres pivos moveis se posicionam em baixo em forma de triangulo. É isso ou me enganei?
    Ha algum tempo estudando seus artigos sobre a dupla armação e mais alguns estudos complementares resolvi utilizar esse sistema. Minhas equipes sempre entram em quadra com dois armadores. Porém estou trabalhando meus atletas com uma diferença no posicionamento. uso os dois armadores e mais um ala formando o trianglo em cima (posicionamento tradicional) o que fiz com foi tentar adaptar a dupla armação com um ala, dois pivos moveis e a filosofia do professor Walter de follow ball- movimentos contínuos e em circulo-. bom pra iniciar e isso. Então pergunto: – A dupla armação funciona desta forma? a Espanha joga mais ou menos assim não?
    Abraço.
    Jalber.

  8. Basquete Brasil 01.10.2009

    Observe Jalber que os dois armadores agem em torno do perimetro de forma total, abrangendo toda a sua extensão e mantendo uma proximidade que os habilitam a ajudas sempre que necessário.
    Os pivôs moveis, por serem três óbviamente desenharão triangulos de variadas formas criados pelos deslocamentos constantes, com um pormenor bem sutil, porém fundamental-O pivô mais dominante sempre se situará do lado oposto à posição da bola, sempre, pois dessa forma, e com algum bloqueio de um dos outros dois pivôs se lançará de encontro aos passes em velocidade e bem protegido, ação essa concomitante aos deslocamentos sagitais de seus dois companheiros em função de colocações para os rebotes, ou uma abertura na ala para o prosseguimento das ações ofensivas.
    Observe também que todas as ações de passes são dirigidas em função da cesta, onde os repetidos passes circulares são evitados, a não ser quando um retardo ofensivo for necessário, como por exemplo, deixar um pouco de tempo passar.
    Importante também a incidência sequencial de passes de dentro para fora, abreviando o tempo necessario a um bom posicionamento para os arremessos, médios ou distantes, assim como uma concentração proposital e controlada nas finalizações curtas após passes entre os próprios pivôs.
    Notar que em nenhum momento do treinamento e dos jogos desenhei ou formulei jogadas especificas ou não, já que toda a movimentação é produto da leitura defensiva do adversario, produto de um treinamento voltado integralmente ao estudo e desenvolvimento dessa leitura, através exercicios que se iniciam no 1 x 1, evoluindo até o famigerado e desconhecido pela maioria, 5 x 5.
    Efetuar coletivos, tão do agrado de determinadas equipes e jogadores, perdem seu valor se confrontados com a dura realidade dos treinos que visam a observação, o raciocinio, a livre e assumida responsabilidade, e o principal, a exteriorização da capacidade criativa, individual ou coletiva, produto final de um sólido embasamento nos fundamentos do jogo.
    Enfim, você está assistindo o produto direto criado e formulado pelos proprios jogadores, tendo a mim como orientador mais experiente para ajudá-los sempre que necessário, principalmente nos detalhes comportamentais, técnicos, táticos, ofensivos e defensivos,tanto da equipe como, e muitas vezes mais importante, dos adversários.
    Mais adiante, se me for possivel, apos o vendaval de dificuldades por que estou passando, colocarei mais videos mostrando a equipe na temporada seguinte e jogando em torneio internacional contra equipe europeia, para que todos possam aquilatar os desdobramentos dessa forma de preparar, dirigir e orientar equipes de base.
    Espero que você e todos que assistem esse video possam tirar do mesmo subsidios válidos o suficiente para confrontá-los com o sistema único a que estamos acorrentados.
    Um abraço Jalber, Paulo Murilo.
    PS- Muna-se de um cronometro e meça o tempo de cada ataque. Você irá se surpreender.PM.

  9. Jalber 03.10.2009

    Quanto ao balanço defensivo professor?!!!
    Em alguns momentos dependendo do rodízio dos armadores o balanço ficou compremetido!
    Como disse utilizo em minhas equipes a dupla armação e estou procurando me aperfeiçoar nessa forma de jogar.
    Não costumo também marcar jogadas para os garotos, o que digo a ele é pra construirem um posicionamento inicial para executarem as movimentações e de acordo com a reação da defesa o ataque se organiza ( leitura e improviso ). Gosto de usar o posicionamento 1-2-2 abertos no ataque, sendo armador, armador, ala, pivo móvel e pivo móvel. pode funcionar assim?
    Abraço e estou torcendo para que a justiça divina seja mais forte que a justiça do homem no seu caso.
    Obrigado e Boa sorte!!!

  10. Basquete Brasil 03.10.2009

    Inicialmente Jalber, uma luz se acendeu ao longe, poi o juiz adiou de 6 para 16 o leilão, dando-me tempo para elaborar defesa condizente. Já são 4 os advogados que vieram em meu socorro, e que estão acessorando o meu com bastante propriedade. A situação ainda é bastante delicada, mas já sinto que posso almejar um desfecho razoável.
    Quanto ao equilibrio defensivo Jalber, bem fiz notar ao inicio do video que se tratava de uma equipe Infanto, com meses de treinamento, com um sistema a que não estavam acostumados, sim, quando os peguei elae atuavam no sistema único quando infantis.Em um próximo vídeo você notará que a proximidade dos armadores eliminam quase que definitivamente o desequilibrio defensivo, mas que eventualemnte podem ocorrer pela dinâmica do jogo.Quanto ao 1-2-2 proposto por você pode funcionar , pois se aproxima do sistema único a que estão acostumados.Para esse novo sistema essa formação peca por não priorizar o trabalho conjunto dos armadores, e situarem os pivôs moveis afastados da cesta. Mas com adaptações tudo é possivel. O que não é possivel é continuarmos arraigados ao SUJ. Um abração, Paulo.

  11. Jalber 15.10.2009

    Professor nesses últimos dias estou fazendo testes com os garotos no sistema de dupla armação. Assisti o jogo e comparei com um video que o professor publicou mostrando as movimentações. O nosso infantil aqui em Minas é formado por atletas nascidos em 95, minha equipe tem varios jogadores do petiz (96) uma idade abaixo, e essa turma vem se adaptando bem ao sistema,ja o cadete feminino (92) teve mais dificuldade.
    O posicionamento, no masculino, dos tres pivos móveis permitiu varias triangulações entre eles, e eles próprios comentaram que viram uma facilidade maior em se posicionar e achar espaços.
    Tenho um atleta (96) que faz o pivo móvel com muita propriedade, nao é alto, mas e rapido e tem um posicionamento muito bom. Ele jogou muito bem nessa formação.
    O fato professor é que agora precisamos nos aprofundar cada vez mais nesse estilo de jogar!!!
    Acredito que nos adptaremos!!! obrigado sempre professor!!!!
    Abraço e boa sorte amanhã!!!

  12. Basquete Brasil 16.10.2009

    Obrigado Jalber(num comentário que fiz no seu blog chamei-o de Valber, desculpe…)pelo incentivo,e posso adiantar que após ter sido socorrido por amigos que me emprestaram quantias vultosas, pude sustar o leilão, e vislumbro possibilidades de continuar na luta pelo reconhecimento de minhas escrituras.As dividas assumidas serão pagas, e para tanto necessito voltar, como disse antes, ao trabalho, bastando que uma oportunidade de exercê-lo se discortine à minha frente.
    Quanto à dupla armação, um sopro de esperança foi detetado na convocação final da equipe feminina sub 17 para o Sul Americano. Estão lá convocadas quatro armadoras, uma reviravolta expressiva nesse cenário voltado ao sistema único. Continue suas tentativas, e quem sabe eu possa um dia ai ter para sugerir caminhos que tão bem conheço. Um abraço, Paulo Murilo.

  13. […] Infanto Juvenil daquele ano, onde estes sistemas ensaivam seus primeiros passos, o que pode aqui ser […]

  14. igor 04.06.2010

    nossa não adiantou nada

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