EVOLUINDO, APESAR DE TUDO…

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Enfim uma rodada de playoff sem o reinado absoluto das bolinhas, enfim uma luzinha ainda muito tênue tremulando no fim do imenso túnel, melhor, poço em que lançaram o basquete brasileiro nas duas últimas décadas, mas qual uma chama de vela, ainda arriscada de ser abafada por uma mortal recaída, afinal de contas, os “especialistas” (onde contam até pivôs) não vão se dar por vencidos…

No jogo em São José dos Campos, entre as duas das mais renitentes utentes das famigeradas bolinhas, num jogo de playoff, foram lançadas 25/41 bolas de dois e 5/18 de três para a equipe da casa, e 22/44 e 6/22 respectivamente para Brasília, numa retração às repetidas e sucessivas convergências que vinham ocorrendo desde sempre, para ambas, e que num passe de mágica reverteram aos números acima, provando (suponho, pois o jogo não foi televisionado) que com um bem direcionado esforço defensivo, principalmente fora do perímetro, a tal hegemonia do nosso jogo externo pode ser reavaliado, com bons e eficientes resultados finais. Fico nesses números, que por si só já auferem uma bem vinda mudança de hábitos, quiçá inovador.

Em Franca, a continuidade de algo realmente estusiasmador, a jovem equipe de Franca, que mesmo sem dois de seus mais importantes veteranos, manteve a força de sua defesa, e o jogo preferencialmente interior (foram 24/47 arremessos de dois e 4/18 de três), apesar de umas poucas bolas forçadas de fora do perímetro, mas que não deslustraram sua inconteste vitoria.

Bauru, desfalcada seriamente em sua armação, também levou o jogo lá para baixo (19/40 de dois e 4/19 de três), onde os que se julgam ótimos são apenas bons, onde os jogos são decididos pelo alto índice de acertos se comparados às temerárias bolinhas de três, onde os bons têm de lutar muito e muito, para um dia serem ótimos…

Nem mesmo os índices nos lances livres definiriam o vencedor (10/14 para Franca e 8/11 para Bauru), provando que de dois em dois e uma forte defesa podem duas equipes apresentar um ótimo jogo, valorizando a técnica e a precisão.

Quando ficarmos entre 10 e 15 arremessos de três, claro, que sob defesas sérias e aplicadas, e realmente lançadas por especialistas de verdade, e em boas condições de equilíbrio e alguma liberdade, creio que chegaremos a um patamar de excelência técnica e tática, muito diferente da sangria hemorrágica e irresponsável, em que se encontra atualmente o grande jogo.

Acredito que chegaremos lá, com muito trabalho na base e novas concepções de jogo na elite, rompendo os asfixiantes grilhões de um sistema que nada tem a ver com o nosso talento e criatividade. Que o mesmo fique lá pelo hemisfério norte, com suas fabulosas e milionárias franquias, que mais cedo ou mais tarde cairão na realidade de uma economia doente e fragmentária, onde o “saber administrar a pobreza” é algo inimaginável e utópico. Nós, que deveriamos saber (muitos teimam ilusoriamente em esquecer…) como administrá-la, não podemos, e nem temos o direito de omiti-la, pois se trata de uma realidade nossa, que mesmo pesada e onerosa, nos guindou ao quarto posto no basquetebol mundial do século passado, apesar de tudo.

Que essa nova tendência, capitaneada pela dupla armação e o jogo rápido e insinuante de nossas altos e inteligentes jovens, nos leve de volta ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído, apesar das CBB’s da vida…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las

E HOUVE UM JOGO…

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Era para ter havido um, decisivo, ousado e parcimonioso em suas ações, medido em milímetros suas decisões, cadenciado, frio e objetivo, já que no final das contas era a única chance plausível ante um 0 x 2 no playoff.

Mas o jogo foi outro, dos nervos à flor da pele, a começar pelo comando, agitado, coercitivo sobre a arbitragem, dispersivo em decorrência, espelhando tal postura para dentro da quadra, onde seus jogadores refletiam o exógeno exemplo , todos, dentro e fora cometendo técnicas, desfocando suas finalidades num jogo decisivo, como em uma busca frenética por um álibi que os isentassem da derrota iminente, desenhada desde a primeira partida da série, e mesmo bem antes na classificação, ao jogarem num sistema, o único, onde no confronto posicional (o tal de 1 a 5…) levam evidente vantagem aquelas equipes com os melhores(?) jogadores em cada uma delas, deflagrando uma competição de emparelhamentos voltados aos confrontos de 1 x 1, característica básica de tão malfadado sistema de jogo, e que não atôa já anunciam reforços nas posições claudicantes frente a seus oponentes, numa ciranda de mesmice endêmica realmente lastimável.

Utilizar dois armadores (grande parte das equipes da liga já o fazem) sem dúvida alguma acrescenta melhoria técnica, nos fundamentos, mas ainda não desenvolve um melhor jogo interno, pois no sistema único de jogadas marcadas, os pivôs (quando jogam dois) ou os alas posicionados num falso pivô, recebem os passes em situações estáticas, geralmente de costas para a cesta, a partir daí evoluindo numa marcha a ré em direção a mesma, sob os olhares e impassíveis deslocamentos de seus companheiros, como compartimentos estanques em um mesmo ataque, distanciados e desconectados do sentido envolvente de equipe num processo dinâmico de jogo.

A ausência de uma coordenação passe-tempo-deslocamento entre armadores em torno do perímetro e pivôs (ou mesmo alas em deslocamento) dentro do mesmo é o que descaracteriza o sistema de dupla armação manietado pelo rigorismo tático do sistema único, fator ferozmente defendido pelos técnicos que o adotam, como os cordéis controladores de marionetes à serviço de uma concepção de jogo previsível (todos o adotam…) e por isso mesmo de domínio absoluto dos melhores jogadores de cada uma das estratificadas posições de 1 a 5, garantidor de um mercado restrito e disputado por todos na Liga.

Então, em face de um cenário por demais conhecido e praticado à exaustão (quem sabe um dia se cansem do mesmo…) pela maioria das equipes, Flamengo e Paulistano foram para um terceiro jogo definidor, no qual ambos agiram de forma quase idêntica, priorizando o jogo interno, porém aferrados ao sistema único, onde as duplas armações se concentraram mais em se anularem frente aos longos arremessos do que interagirem dinamicamente com seus companheiros que lá dentro se digladiavam estaticamente com poderosas defesas, num preâmbulo de algo mais do que previsível e conhecido, o de que nessa forma de jogar e atuar vence aquela equipe com os melhores e mais experientes jogadores.

Esquecem nossos jovens técnicos, que somente evoluirão e vencerão as grandes competições a partir do momento que subverterem o existente, o padrão ciclópico que ai está, derramado e explícito, numa forma de jogar formatada e padronizada que tanto nos tem prejudicado a mais de duas décadas.

Paralelamente a esta disposição estratégica, voltada ao jogo criativo e natural, todo um comportamento centralizador e coercitivo, codificado em pranchetas inócuas e equivocadas, dará lugar a um comportamento voltado ao dinamismo, ao olhar atento e preciso dos detalhes inerentes ao jogo, a seus jogadores, às entrelinhas das táticas e conceitos de jogo, fatores estes que não podem ser negligenciados pela dispersão causada pela preocupação relacionada a arbitragens, a erros comuns, inclusive os próprios, numa indesculpável fuga a essas responsabilidades, que geralmente levam ao fracasso de todo um trabalho.

O técnico do Paulistano é jovem, é talentoso, é promissor, mas somente alcançará plenamente tais virtudes se, de vez em quando, se aquietar no banco, observando, abrandando seus ímpetos, correndo para ajudar seus jogadores nos tempos pedidos, em vez de fazê-lo em direção aos juízes, exemplificando a seus comandados o mesmo caminho, e que finalmente rompa de vez com o sistema único, adotando algo de novo, de sua própria lavra, deixando sua equipe jogar por si mesma (como fruto de muito treinamento), e não manipulada de fora, levando-a a tempos melhores e menos belicosos.

Amém.

Fotos – PM. Clique nas mesmas para ampliá-las.

Em tempo – O Flamengo venceu com competência no jogo interno, classificando-se às semi finais, com um convincente 3 x O (84 x 64 neste jogo).

 

O REINO DAS “BOLINHAS” XI…

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Dizer mais o que depois de um jogo onde um jogador contabiliza 36 pontos, sendo 24 em arremessos de três (8/11), sem a mínima contestação de um adversário, que apostando também nas bolinhas naufragou em erros e omissões. Nezinho fez o que quis, arremessou como quis, passou e assistiu como quis, livre e solto, assim como seus companheiros de artilharia. Convergir para sua equipe tornou-se lugar comum (hoje foram 15/30 nos dois e 15/36 nos três), e talvez chegue ao titulo convergindo crescentemente, ante defesas de brincadeira, ante defesas de mentira. Impossível ficar indiferente perante tanta incompetência, proposital ou simplesmente ignorante, pois levar pontos em profusão de um jogador que arremessa da altura do seu plexo, tendo 1,85 ou menos, é de uma indigência defensiva lamentável.

Se para cada inócuo rachão fossem os jogadores treinados nos fundamentos do jogo, de defesa, nos acompanhamentos lineares, nas contestações verticais sem projeção frontal, na anteposição ao passe, ao trajeto preferencial que antecede o arremesso de um oponente, todos itens de pleno conhecimento de jogadores e técnicos que conhecem defesa, seus detalhes, e a forma de treiná-los, sistematicamente, confiando em sua técnica e não na falsa premissa de que para defender basta a vontade e o empenho em fazê-lo.

Fossemos mais diligentes nos fundamentos, de defesa em particular, e jogador nenhum que arremessasse da altura do plexo completaria seu movimento sem ser convenientemente bloqueado, obrigando-o a elevar seus braços, alterando sua trajetória, diminuindo sua eficiência, bem ao contrário de assisti-lo em sua pujante, porém evitável, técnica. Nezinho foi brilhante, sem dúvida, mas o seria se marcado de verdade?

Mas Brasília não é só Nezinho, é um grupo experiente e longevo em sua formação, constituindo-se numa força perfeitamente adaptada à essa forma de jogar convergente e em permanente transição, sinalizando aos oponentes que para vencê-lo precisam atuar de forma divergente à sua, que no panorama de mesmice endêmica em que se encontram é uma tarefa bastante difícil.

São José ainda tem uma chance de reverter o quadro, mas para que isso ocorra terá de defender com afinco, técnica e decisão, e atacar no perímetro interno, pois emulando os candangos no externo não terão como continuar na competição.

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

Fotos de 1 a 4 – O grande festival das bolinhas…

DE CONVERGÊNCIAS A ERROS TÁTICOS…

De Uberlândia mais um capítulo convergente do basquete tupiniquim, e desta feita através o vencedor Pinheiros, em duas prorrogações, com a marca inacreditável de 18/33 nos arremessos de dois, e 16/39 nas famigeradas (imarcáveis? Ao menos contestadas?) bolinhas de três. Como vemos, a temporada de caça aos pombos está deflagrada por aqui, num torneio paralelo ao NBB de desafios para atestar quem “chuta mais”, e quem contesta menos. Vencedores? Sim, equipes que “pensam” estar inaugurando e definindo um novo caminho para o grande jogo entre nós. Perdedores? Não só eles próprios (e sequer desconfiam…) como, e ai tragicamente, toda uma geração de talentosos jogadores, que pelos exemplos em quadra, inoculam o vírus de tão primário e tacanho modo de jogar basquetebol.

Mas estão vencendo, não importando os meios, e sim justificando os fins, para gáudio e glória daqueles que no fundo odeiam o grande jogo, simplesmente por não saberem jogá-lo, como atestam frente à realidade dos embates internacionais “de qualidade”…

No Rio, dentro de um verdadeiro e unilateral caldeirão rubro negro (não localizei um torcedor que fosse do Paulistano), os mandantes do jogo fizeram um primeiro tempo ridículo e comprometedor, frente a uma equipe que simplesmente decidiu marcar de verdade, contestar para valer, e lutar pelos rebotes na marra e na disposição. Levou 16 pontos de vantagem para o vestiário, mantendo na volta o ritmo inicial, quando, no quarto final, cometeu um erro capital, que vem prejudicando de forma crescente muitas das equipes na competição, a pressão, coerção e perda de foco, transferido-o para a arbitragem, esquecendo que o fator A/C prevalece nessas circunstâncias, principalmente frente a uma vociferante torcida presente, predominantemente de futebol, cuja equipe também, e fortemente, contestava a arbitragem. Num momento dessa envergadura, o lado que melhor controlasse seus nervos, levaria vantagem ao final, o que não foi o caso do Paulistano, pois se assim fosse, não teria cometido um erro mortal ao manter um jogador altamente experiente e de seleção no banco, o Muñoz, que teria sido importante na contestação linear sobre o Duda (ação de acompanhamento linear que precede ao posicionamento ideal para o arremesso em movimento, freiando-o, que são características dos lançadores de três, como o Duda, o Marcos e o Benite, pois o Alexandre os executa sem o deslocamento) quando o mesmo virou o jogo com suas bolinhas de três, assim como tem mais habilidade que o Andre (nitidamente cansado) nas penetrações para assistir seus pivôs, àquela altura sem a presença intimidadora do Caio, com ação correlata e multiplicadora através o Elinho do lado oposto.

Preferiu o jovem técnico exercer um intenso rodízio ataque-defesa de seus pivôs, quando o problema à descoberto era a contestação dos longos arremessos de seu adversário, uma marca registrada do mesmo, além de lançar mão de faltas no Shilton, emérito perdedor de lances livres (3/11).

Frente a tais erros, a equipe carioca soube manter um mínimo de controle emocional, e apesar de ter jogado muito mal, venceu uma partida que a coloca em situação privilegiada no decisivo jogo de amanhã em casa.

Não foi um jogo de muitos arremessos de fora (9/22 para o Flamengo e 7/16 para o Paulistano), mas que foram decisivos pelas circunstâncias assinaladas acima.

A não mais preocupar, a notória quantidade de erros cometidos por ambas as equipes, 27, já que maltratar os fundamentos básicos do jogo se tornou regra geral, pelo fato de que jogador de elite não treina fundamentos, mas…chuta como ninguém.

Amém.

Em tempo – A/C – Arbitragem (não muito exigente) caseira.

Foto – Divulgação LNB.

DUAS QUESTÕES ANTAGÔNICAS…

Dois jogos, duas histórias diametralmente opostas, onde Brasília e São José apostaram (como sempre o fazem) no jogo externo (foram 23/62 arremessos de três e 32/68 de dois, com um inacreditável 46/61 nos lances livres) e na pancadaria explicita sobre aqueles temerários que se aventurassem no jogo interior.

Mais uma vez o jogo convergente dos candangos prevaleceu (13/34 nos três e 19/32 nos de dois pontos) ante um adversário que também atuou de forma semelhante, porém menos eficiente nas conclusões (13/36 de dois e 10/28 de três pontos), além de desencadearem uma verdadeira torrente de reclamações, frente a um grupo temido pela maioria dos juízes, que antenados ou não a absurdos microfones, deixam vazar no éter mais absurdos ainda diálogos desnecessários e pretensiosos (mas, midiáticos e vaidosos) que uma simples aplicação das regras os tornariam dispensáveis, como deve ser.

Jogo convergente, defesas furadas e equivocadas, enxurrada de bolinhas, faltas a granel, reclamações estapafúrdias, técnicas no atacado, expulsão de técnico, álibi perfeito para uma derrota, numa partida imerecedora de um playoff classificatório. Torçamos que no próximo encontro possamos assistir basquete de verdade, bem jogado e melhor arbitrado, digno dos finalistas do NBB4.

Em Bauru, um jogo de verdade, estudado em toda sua duração, mas sem deixar de ser rápido e preciso quando técnica e taticamente necessário.

Foi um jogo “lá dentro”, reduto dos que sabem realmente jogar o grande jogo, e quando as ações externas se tornam opções naturais, e não a finalidade a ser alcançada.

É muito bom e alentador podermos ver experientes e novos (alguns novíssimos) jogadores duelarem em conjunto no âmago das defesas, onde o saber driblar, fintar com ou sem a bola, passar em espaços diminutos, lutar pela melhor colocação nos rebotes, decidir com coragem e domínio técnico qual a melhor jogada que se apresenta, inclusive fazendo renascer o decisivo DPJ, assim como estabelecer ao lado das coreografias pranchetadas vindas de fora (sim, foram tentadas algumas delas, que graças aos deuses deram lugar a ações criativas e ousadas…) soluções para o jogo externo, porém “vindo de dentro” como deve ser, originando conclusões mais precisas e equilibradas.

Venceu Bauru, apesar de somente poder contar com oito jogadores, pela maior experiência e rodagem de sua equipe, mais afeita a jogos difíceis e disputados nos limites do físico e do controle mental. No entanto, que bela geração esta que está nascendo em Franca, em Bauru, forte, alta, habilidosa e acima de tudo, ao encontro da eficiência nos fundamentos do grande jogo, responsável pelos ainda relevantes vinte erros cometidos, mas a caminho de dominá-los com relativa perfeição.

Números? Sim, foram bem distantes dos perpetrados no jogo de Brasília, a começar pelos vinte arremessos a menos nas bolinhas (9/26 para Bauru e 7/16 para Franca), e 22/33 para Bauru e 43/78 para Franca nas de dois pontos, com 15/20 e 16/20 respectivamente nos lances livres, e os trinta um rebotes conquistados por cada uma das equipes.

Enfim, são jogos dessa qualidade e teor que trarão de volta a nossa tradição de bem jogar o grande jogo, e a torcida amante dos bons e empolgantes espetáculos, e não a exibição narcisista e autofágica dos verdadeiros petardos que têm sido lançados às cestas por jogadores de todas as idades e posições, como o apanágio do que consideram jogá-lo da forma mais eficiente possível. Estavam, estão e estarão sempre enganados, assim como seus técnicos,  na continuidade deste lamentável equívoco.

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.