MERCADÕES…
Tenho me preocupado em grande com os “mercadões” de técnicos e jogadores para a próxima temporada do NBB, me reportando aos tradicionais brechós de utensílios e roupas usadas, tão tradicionais nessa terra tupiniquim.
E não são sem propósito tais lembranças, pois o que vemos é o velho e carcomido travestido de pouco usado, quase novo, com pequenos reparos, recondicionado, etc e tal…
Terminam campeonatos e a novela desanda em capítulos mais do que óbvios e redundantes, quando jogadores são manipulados por agentes e empresários, de comum acordo com dirigentes e donos de equipes, num carrossel de interesses, onde suas formações passam ao largo dos técnicos, também alguns em rodízio, que as recebem formadas de 1 a 5, faltando somente administrar os rachões de praxe, azeitar as jogadas chifres abaixo e acima, camisas, cabeças, 23, além de adquirir abastecidas canetas pilots e uma reluzente e midiática prancheta.
Com tudo em cima, comissões formadas, algumas recheadas de aspones que só servem para ajudar na pressão às arbitragens, desandam nos discursos proféticos e promissores, sabendo de antemão que a utilização arbitrária do sistema único por todos os envolvidos no sistema somente beneficiará aquelas equipes que contarem com os pretensos melhores jogadores dentro da mesmice endêmica de 1 a 5, mas que garantirá, por mais uma temporada, o emprego de toda a comunidade envolvida e previamente escalonada à revelia daqueles que deveriam liderar as escolhas, os técnicos, que se recolhem frente a uma realidade absurda, garantindo as escolhas de outrem, e se mantendo mais como administradores de segunda do que técnicos de verdade, independentes e prioritários nas mesmas.
Tem mais, com nuestros hermanos, que subjugados por uma crise econômica feroz, veem no mercado brasileiro boas oportunidades de trabalho, assim como americanos de décima quinta opção nas ligas internacionais, que aqui aportam como estrelas de primeira linha, que absolutamente não o são, para gáudio das eternas viúvas da NBA.
E com o circo armado, ante o lamentável esquecimento de muitos jogadores pátrios, alguns dos quais superiores a “nomões marqueteados”, e mesmo de jovens realmente promissores, todos órfãos de um melhor e mais atento preparo técnico e encaixe em outros sistemas de jogo além do indefectível sistema único, ficam marginalizados e desestimulados, muitos dos quais abandonam as quadras, num desperdício imperdoável e desalentador para o grande jogo.
Quanto ao aspecto tático e sistêmico, a mediocridade que nos tem mantido atrelados ao sistema único de jogo, fio condutor de toda a situação acima descrita, tende, mais do que nunca, a se manter incólume em seu absolutismo castrador, e a prova contundente foram os números apresentados no jogo final entre Flamengo e Uberlândia, no qual a equipe carioca praticamente convergiu com 22/29 nos arremessos de dois pontos e 6/26 nos de três, contra 14/36 e 11/27 respectivamente dos mineiros, numa prova cabal do não estancamento da hemorragia dos três pontos, largamente presente na esmagadora maioria das equipes participantes, anunciando a manutenção postural das mesmas nessa competição, e óbvia continuidade para as próximas, pois se por um lado evoluíram um pouco no jogo interior e numa muito tênue tentativa de dupla armação, por outro, mantiveram a frouxidão defensiva fora do perímetro, permitindo a manutenção do reinado das bolinhas, como num recado incisivo de que sua continuidade será mantida sob o beneplácito de jogadores, técnicos e o incentivo midiático, sob a justificativa de que tal comportamento técnico (?) em conjunto com as enterradas, impulsionam a modalidade junto aos torcedores, ávidos pelas emoções advindas desse estilo de praticar o grande jogo, num erro colossal e irresponsável, principalmente no que concerne às competições internacionais, e ao péssimo exemplo dado aos jovens que se iniciam no jogo.
Finalmente, posso asseverar que o desafio que lancei aos técnicos para que buscassem novas formas de jogar e atuar não encontrou receptividade na prática, provando que a cristalização da mesmice endêmica é no fundo a base que mantêm o status quo responsável pelo sólido corporativismo vigente, confortável mantenedor de empregos, posições e trocas pós temporadas, unindo todos os envolvidos no processo em torno do interesse maior, deixar tudo como está, sem atropelos e divergências, num compadrio que elimina toda e qualquer tentativa de mudança, mesmo que para melhor, dispensando a trabalhosa, porém benéfica, reestruturação do pensar basquetebol como deve ser pensado, ainda a tempo de enfrentarmos o grande e definitivo desafio para 2016, principalmente na formação de base, a fim de aliviar o constrangimento colossal que nos poderá alcançar se não mudarmos urgente e estrategicamente de rumo.
Em tempo, sugiro uma passada nesse vídeo, onde o prazer de assistir um basquete diferenciado (originando meu desafio) se junta a um resultado alentador no sentido coletivista, ofensivo e defensivamente falando, assim como uma magnifica performance individual do jogador Muñoz (28 pontos), sem que abdicasse em nenhum momento da liderança dividida pela dupla armação, num exemplo tácito e definitivo da real possibilidade de jogarmos o grande jogo de forma diferenciada do dominante sistema único, ou “basquete internacional”, ou mesmo, o “basquete FIBA”, como é rotulado. Vale a pena assistirmos e nos deliciarmos com a prestação técnico tática de jogadores nada midiáticos, porém plenos de conhecimento do grande jogo e da forma mais precisa e bela de jogá-lo nos idos do NBB2. Fico imaginando, divertido, como reagiriam os globais ao narrá-lo e comentá-lo…
Amém.
Foto – Divulgação da LNB. Clique na mesma para ampliá-la.
Foto – O grande e lúcido armador Muñoz.
No fim do ano, existem muitas pessoas que têm por hábito dizer:
“Desejo que no próximo ano todos os teus sonhos se realizem”.
Dá no que pensar…
É que a concretização dos sonhos de alguns, passa na maior parte das vezes pela destruição dos sonhos de outros…
Amigo Pedro, nunca em minha vida abdiquei do direito de sonhar, de conquistar conhecimentos, suas bases, seus princípios e objetivos, para repassá-los adiante, aos jovens e aos que se iniciam no magistério, na técnica, na vida. Meus sonhos povoaram e povoam a imaginação dos meus filhos, dos meus alunos, dos meus jogadores, integral e honestamente, mesmo que alguns transcendam suas capacidades de assimilação, e em algumas vezes, aceitação. Mas são meus sonhos de vida, simples, autêntica e humilde. Deles não abro, e jamais abrirei mão, pois sem os mesmos, deixarei de ser simplesmente,eu.
Sigo sonhando, com os pés sempre levemente tocando o chão, de encontro ao meu destino, real, ou sonhado.
Um abraço Pedro, Paulo.