INVERTENDO OS PAPÉIS…

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(…) O preparador físico da Seleção Brasileira Sub-19 Masculina, João Henrique Gomes, foi o destaque do terceiro dia do curso Nível II da Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol (ENTB), que está sendo realizado no Ginásio José Correa, em Barueri, São Paulo. Nesta sexta-feira (06 de setembro), o preparador compartilhou com os 83 participantes sua experiência adquirida na seleção brasileira e ensinou na teoria e na prática sobre o tema ‘Estrutura e Organização do Treinamento’.

“ Os nossos atletas precisam estar preparados fisicamente para as competições. E entender os conceitos sobre preparação física é fundamental, além de fortalecer ainda mais o dia-a-dia do técnico. Acho que o somatório dos dois trabalhos [do técnico e do preparador] precisam andar juntos e integrados. Essa é uma das filosofias das seleções brasileiras. A preparação física é responsável pela planificação e o controle de carga dos conteúdos a serem trabalhados tecnicamente”, explicou o João.

Em quadra, João Henrique demonstrou na prática a parte de velocidade, trabalho preventivo e a resistência especial. “A preparação do atleta para a seção de treinos devem simular alguns gestos que acontecem durante os jogos, a fim de prepará-los melhor para o treino. Durante a aula prática utilizei em quadra exemplos sobre trabalhos preventivos e de regeneração”, disse o preparador. (…)

(Trecho da matéria publicada no Blog Databasket em 6/9/2013)

 

            Enfim a esclarecedora explicação de um dos motivos para os seguidos fracassos de nossas seleções de base nos diversos campeonatos internacionais de que participaram nos últimos anos, quando lemos ser o absurdo acima descrito como “uma das filosofias das seleções brasileiras”.

E o mais grave quando o palestrante do tema “Estrutura e Organização do Treino” (que é uma das básicas e estritas funções do técnico de uma equipe de alta competição) afirma que “A preparação física é responsável pela planificação e o controle de carga dos conteúdos a serem trabalhados tecnicamente”, ou seja, trabalhados pelo técnico da equipe, de uma seleção nacional, numa inadmissível e absurda intromissão numa área em que jamais poderia influenciar, exatamente pelo pouco conhecimento dos conteúdos da mesma, e indo mais além ao afirmar que “A preparação do atleta para a seção de treinos devem simular alguns gestos que acontecem durante os jogos, a fim de prepará-los melhor para o treino”, o que caracteriza a mais ousada e absurda apropriação funcional de que tive conhecimento até a leitura dessa matéria, e que definitivamente jamais ocorreria em uma equipe por mim dirigida, jamais, pois em hipótese alguma delegaria tal poder de planificação de trabalho técnico a um preparador físico (agora entendo o porquê de serem três os preparadores na seleção e mais um fisiologista…), ainda mais quanto aos conteúdos inerentes às ações de técnicas individuais e coletivas a serem trabalhadas, no que constitui os fundamentos do jogo.

É absolutamente incrível que tenhamos chegado a esse estágio de total inadequação no preparo de jogadores de basquetebol, que em sua iniciação são submetidos a “testes de aptidão”, onde os ditos preparadores testam os jovens visando alocá-los em posições de jogo, nos rebotes e até definindo quais aqueles que melhor contra atacarão no futuro, numa antevisão do que pensam serem as qualificações dos jovens jogadores, esquecendo o principio básico que conota ritmos e evoluções variadas e diferentes entre jovens de uma mesma faixa etária, onde progressos mais lentos em hipótese alguma definem o que poderão realizar mais adiante na continuidade do treinamento, que por essas razões devem ser orientados ao gesto desportivo em todas as suas nuances, independendo da velocidade ou força para executá-los, a fim de que as finas técnicas do mesmo sejam equilibradamente desenvolvidas. Publiquei anteriormente artigos comentando e criticando tais testes, mas nunca, em tempo algum, avaliei que tal influência de preparadores físicos atingisse o estágio ora repassado em cursos das ENTB, onde simplesmente se situam como os planejadores e planificadores das cargas dos conteúdos a serem trabalhados pela direção técnica da equipe, numa inversão de valores e conhecimentos inaceitáveis e absurdos. Não é de espantar os resultados negativos nas competições, quando vemos “atletas superdimensionados”, porém cometendo erros lamentáveis de fundamentos, frente a tanta ingerência desqualificada, a tanta intromissão constrangedora para os técnicos que a aceitam e promovem, no afã de pertencerem a uma comissão (?) técnica de seleção nacional, abrindo mão de suas prerrogativas de líder, orientador e pleno responsável pela mesma, se é que possuidores destas básicas qualificações.

Trocando em miúdos, perde-se um tempo precioso com testes, aferições eletrônicas, musculação precoce e inadequada, travando musculaturas e articulações, utilização de traquitanas eletrônicas medindo provocados estados de exaustão, em vez de serem utilizados os próprios fundamentos, como fonte de preparação propiciada pelas compatíveis exigências físicas para a sua correta execução, onde todos os participantes, independendo de suas capacidades ainda em evolução e crescimento, terão a oportunidade de adquirir competências técnicas para no futuro serem capazes de se situarem nos diversos sistemas de jogo, e compatibilizar todas as técnicas adquiridas com o preparo físico, orgânico e mental para colimar todo o processo de ensino e aprendizagem do grande jogo.

Infelizmente, o entendimento do que venha a ser treinamento desportivo em todas as suas valências técnicas e táticas, da formação até a elite, que transitam pelo pleno conhecimento das bases didáticas e pedagógicas necessárias para sua implantação e desenvolvimento, sofre com a escolha equivocada daqueles que liderarão todo o processo, permitindo ingerências nefastas e muitas vezes políticas, num campo estritamente técnico e de indiscutível e competente liderança, que um professor e técnico jamais deveria deixar de exercer em pleno.

Por essas e por outras é que estamos merecidamente, colhendo o que viemos plantando nas duas últimas décadas, jogadores bem malhados e saltitantes como nunca, porém deixando pelo caminho, certamente muitos e muitos outros, menos malhados e saltitantes, porém  capazes de dominar a técnica e a tática como ninguém, nos seus personalíssimos ritmos de paciente amadurecimento e no devido tempo, mas fora dos parâmetros “científicos” de certa e manjada turma de preparadores apressados em demonstrar seus “vastos conhecimentos” de basquetebol, e por que não, de estrategistas também…

Mas uma pergunta se impõe nesse momento – Por onde andam os malhados jogadores no Eurobasket? Onde?

Amém.

Foto – O amanhã do Basquetebol, os jovens…

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4 comentários

  1. Felipe 09.09.2013

    Paulo, o pior é que, com a exceção dos jogadores da NBA, a Copa América demonstrou o quão atrás estamos fisicamente de outras seleções do continente. Hoje em dia exportamos talento “bruto” para ser lapidado no exterior, visto a incompetência de grande parte da nossa base em formar jogadores técnicos e que saibam dominar os fundamentos do jogo.

  2. Basquete Brasil 10.09.2013

    Mas o mais impressionante é a nossa capacidade de insistir em posar de formadores de talentos e especialistas em sistemas de jogo, formando inclusive um inexpugnável cartel corporativo. União em torno de interesses puramente pessoais é isso aí…
    Um abraço Felipe. Paulo Murilo.

  3. Renato 17.09.2013

    Acabei de ver essa matéria no globo.com e tive de vir aqui comentar:

    http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2013/09/com-13-anos-198m-e-pes-50-joia-do-volei-impressiona-na-base-do-tijuca.html

    A frase do treinador da menina no Tijuca: “Estamos fazendo um trabalho de aprofundamento de todos os fundamentos do voleibol. O saque dela já está muito bom, assim como o ataque e a puxada de tempo. Agora, ela está desenvolvendo defesa, passe e levantamento. Hoje ela joga de central, mas pode ser que, no futuro, ela queira atuar em outra posição. Trabalhamos todos esses fundamentos para não deixá-la restrita à função de central.”

    Alguma dúvida do porquê do nosso voleibol ser praticado no mais alto nível e o basquetebol, não?

  4. Basquete Brasil 17.09.2013

    Excelente o posicionamento do técnico da menina, com uma ressalva, a musculação precoce, quando as exigências físicas dos fundamentos,nessa idade, já seriam suficientes para seu condicionamento, sem interferir no amadurecimento natural de suas condições fisiológicas. Mas como nada é perfeito…
    Um abraço Renato, e obrigado pela matéria enviada.
    Paulo Murilo.

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