OS ESPELHOS (OU BIOMBOS) DE UM GRANDE EQUÍVOCO…

P1050646P1050717P1050744P1050763

Chegaram ao fim os playoffs de quartas de final, classificando-se para as semifinais as quatro equipes mais ferrenhas defensoras e praticantes do sistema único, todas compulsoriamente submetidas às jogadas chifres, cabeças, camisas, punhos e congeneres, escravas a pranchetas sofregadamente rabiscadas por estrategistas que não se afastam um milímetro sequer do que conceituam como “basquete moderno”, mas que não conseguem refrear as pequenas (?) e aventureiras vinganças de alguns jogadores inconformados com tantas restrições, que se lançam aos desvairados arremessos de três, imunes que avaliam ficar ao cabresto tático no caso de sucesso, ajudados pelas pífias marcações fora do perímetro, numa volúpia que catequiza até os grandes pivôs a tentá-los de uma forma crescente e irresponsável, numa espiral ascendente rumo a inaceitáveis convergências, mas todos absolvidos e cinicamente aceitos quando as bolinhas caem, e quando não, assistem omissos a queda de suas equipes e técnicos, tidos como referências de qualidade e sucesso…

Flamengo, São José, Paulistano e Mogi, são dignos representantes deste modo de jogar sob a dualidade tutela/aventura, liderados por técnicos que agem de fora da quadra como pretensos manipuladores de marionetes, como parecem ver seus jogadores, como feitor ativo de toda e qualquer jogada de sua equipe, e que para os mesmos seria a gloria absoluta que em vez de dois tempos por quarto (o último tem três…), tivessem direito a um a cada ataque de suas equipes, e como não os têm, agem ao lado da quadra de forma impositiva, grotesca, risível e até agressiva, estendendo esses predicados às arbitragens, em embates ilegais e constrangedores, conseguindo das mesmas um beneplácito consentimento que fere e constrange as regras do grande jogo, mas que para muitos é um fator midiático de atração a mais aos espetáculos, que ignorantemente transmitem e insistem em fixar como um padrão de divulgação, num ledo e perigoso exemplo junto, principalmente, aos jovens que se iniciam na modalidade.

Então, o que temos para a reta final desse NBB6, senão a mesmice monocórdia dos NBBs precedentes, com suas estratificadas jogadas, rígidas posições de jogadores em quadra, errando fundamentos básicos em números preocupantes e crescentes, arremessos generalizados de três, onde a moda são os pivôs “especialistas” dos mesmos, com a concordância, ou cumplicidade dos estrategistas, defesas passivas fora do perímetro e violentas dentro, onde o trabalho de pernas cede espaço aos bloqueios ilegais e ao cada vez maior número de faltas antidesportivas,  culminando com um quadro bastante claro do que poderemos esperar em nossas futuras competições internacionais, quando complementarmos essa dolorosa evidência ao serem agregados os jogadores que atuam na NBA e na Europa, onde essa juvenil irresponsabilidade é pouco tolerada e compreendida, mesmo que inclusos no sistema único.

Infelizmente, pode ficar parecendo para alguns (ou muitos…) que estou sendo intolerante com essa nova safra de técnicos, incensada pela mídia, mais pelos resultados, que pela qualidade técnica e tática, e mesmo pela maestria na preparação fundamental de seus jogadores, mas que professam um sistema de comando centralizado, coercitivo, e acima de tudo ditatorial, restringindo em muito a criatividade e o livre arbítrio de jogadores adultos, muitos deles chefes de família, sérios, inteligentes, e que são tratados como crianças teimosas e rebeldes, cuja penalização às restritas e limitadas ações sistemáticas deve ser o caminho a ser seguido através a visão de uma prancheta empunhada pelo mago e sapiente líder.

No entanto, acredito profundamente não ser esse o caminho a ser seguido, principalmente quando grande parte do mundo do basquetebol segue essa premissa centralizadora, e as transmissões da Euroliga, e mesmo de alguns jogos da NBA provam essa visão pragmática e corporativa do jogo. Acredito que deveríamos tentar, ao menos tentar caminhar, também, em um outro sentido, agregando novas formas de jogar o grande jogo, para conseguirmos, pela diversidade técnica e tática, corajosa e inventiva, nos ombrear, pelo inusitado e fuga da mesmice imposta, aos grandes, como o fizemos outrora, e que mais recentemente foi provado pelo Coach K na grande escola americana, e um pouco, também por aqui com a já vencedora dupla armação, o jogo mais intenso no perímetro interno, a ainda tênue implantação da verdadeira defesa linha da bola, e por que não, ter em mente sempre o jogo fluido e contínuo de um Saldanha da Gama, no já tão distante NBB2, que provou, na prática, ser possível trilhar novos rumos.

Por ora, desafio os leitores para interpretar, ou minimamente compreender as pranchetas compiladas nessa rodada final do playoff de quartas, que veiculo acima, como preito e homenagem ao que se faz e aplica atualmente no glorioso sistema único de jogo. Deleitem-se…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.



2 comentários

  1. Rodolpho 12.05.2014

    Professor Paulo,

    Algo a dizer sobre os 6 anos de CETAF/Vila Velha?

    Um abraço!

  2. Basquete Brasil 12.05.2014

    O mesmo que diria sobre o Saldanha, um tremendo desperdício de verbas, em um estado que possui como poucos, condições invejáveis para o desenvolvimento de bons e responsáveis projetos, principalmente pela proximidade com os grandes centros do desporto nacional, e pela receptividade de sua população. Pena que não prospere por motivos políticos e técnicos. Um tremendo desperdício. Um abraço Rodolpho. Paulo Murilo.

Deixe seu comentário