COMO EU GOSTARIA…

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De ver descrito num artigo publicado por qualquer um dos blogueiros de basquetebol, qual sistema de jogo foi trocado por uma equipe, por exemplo, depois de uma partida perdida de semifinal, visando a seguinte, detalhando a escolha, suas partes, seu escopo, ou mesmo o que foi adaptado ou substituído por seu estrategista, a fim de não se limitarem ao chavão – “ao mudar seu sistema de jogo, conseguiu a vitória”…-   claro, se realmente conhecer o sistema em questão, ou outro qualquer, o que duvido…

Quem sabe, esclarecer ao ignaro público as movimentações “chifre”, “punho”, “polegar” etc, etc, que compõem o genérico e ultra limitado repertório do único sistema utilizado em nosso país, a fim de que o mesmo, esclarecido, possa avaliar o que ocorre de verdade numa quadra, e não fazer menções mais genéricas ainda de que – “o jogo de 5 x 5 não está funcionando”, ou, “o 1 x 1 está sendo a opção de um ou outro jogador, individualizando o jogo”, ou mesmo, -”por que não abrir o ataque em leque para expandir espaços, facilitando as penetrações” – opiniões estas fundamentadas em que princípios táticos inerentes a uma equipe dirigida e orientada por outrem? Quantos treinos preparatórios foram presenciados para que chegassem a palpites dessa ordem, quantos? Estes são os fatores que tornam o áudio dos pedidos de tempo tão ansiados por todos eles,,,

Creio que estes questionamentos se tornam óbvios frente a uma evidência simples e objetiva, a de que assim agem, comentam e publicam, pelo singelo fato, que aponto, discuto e publíco desde sempre, de que frente a uma estabelecida padronização e formatação tática existente desde as categorias de base a elite, pouco ou nada têm de ser acrescentado de novo em quaisquer mudanças efetuadas, seja por qual equipe for, frente a mesmice endêmica de que são fielmente servidoras, onde qualquer resquício de mudança real é prontamente debelada em nome e proteção ao status quo vigente, sacramentado e aceito por todos, todos mesmo, onde exceções, ou uma única que seja, justificam a impositiva regra…

Um exemplo recente e prático? O terceiro jogo de ontem da Liga Ouro, entre Joinville e Botafogo, onde a equipe carioca ao abrir mão do corriqueiro duelo dos três pontos, centrando seu jogo dentro do garrafão, e sem mudar uma única movimentação tática, a mesma usada por Joinville, com todos seus apetrechos de chifres, punhos, polegares, venceu um jogo importante simplesmente reduzindo drasticamente as bolinhas (3/12 de 3 e 22/50 de 2 com Joinville arremessando 11/29 e 12/38 respectivamente) em nome de uma primária eficiência, mesmo sob o domínio do sistema único. Mas nada dessa oportuna eficiência pode mascarar o baixíssimo índice técnico de uma partida onde foram cometidos incríveis e absurdos 39 erros de fundamentos (21/18), numa lamentável constatação de como se encontra o grande jogo neste imenso, desigual e injusto país…

Este é o dantesco panorama do basquetebol tupiniquim, que agora, sustada a suspensão da CBB pela FIBA, face ao planejamento de radicais mudanças na esfera administrativa, financeira e  de gestão,  se defronta com a verdadeira e inadiável mudança, aquela que a qualifica como responsável pela divulgação, organização e popularização da modalidade no país, a profunda e básica mudança na sua área técnica, exigindo a implantação de novos parâmetros técnicos e de formação de base, de uma reestruturada ENTB, com novas lideranças substituindo de vez a mesmice endêmica lá instalada nas últimas três décadas de triste e constrangedora memória, com seu corporativismo unilateral, ditatorial e continuísta, no exato momento em que se faz necessária a escolha dos novos técnicos nacionais, das equipes adultas às de base, desencadeando, ou não, a tão e estratégica mudança que definirá o futuro do grande jogo no âmbito internacional, ao refletir decisiva e coerentemente as verdadeiras mudanças no plano nacional…

Ao olharmos detidamente os nomes lembrados pela mídia dita especializada, vemos que representam, com mínimas exceções, a realidade espelhada nas acima mencionadas três décadas de derrocada e retrocesso técnico tático do basquete brasileiro, algo disfarçado por algumas conquistas ditas de ponta, na preparação física, e em pretensos e oportunistas estudos de cunho psicológico, ambos fragilizados pelos pífios e dolorosos resultados alcançados, principalmente na formação de base, relegada e despida do mais importante fator para sua consecução técnica, o ensino e consistente aprendizado dos fundamentos básicos do jogo, substituídos pela precoce e falseada introdução dos sistemas táticos coercitivamente padronizados e formatados, que antecedendo  a aprendizagem massiva dos fundamentos, pouco ou nada representaram  para a nossa evolução técnica frente a países bem mais desenvolvidos pedagógica e didaticamente que o nosso, retratando com precisão o estágio em que nos encontramos. Se estes nomes modificarão seu posicionamento pedagógico, técnico e tático? De forma alguma, pois em caso contrário se chocariam frontalmente com o corporativismo que ajudaram a implantar desde sempre, restando então uma única e corajosa definição de rumo, a reforma radical, dando voz aos professores e técnicos que se mantiveram abertos a inovações e metodologias diametralmente contrárias ao estabelecido cenário que aí está, trilhando novos e instigantes caminhos, na recriação de um pouco, por esquecimento proposital, do que era praticado, estudado, ensinado anteriormente a custa de muito trabalho, exemplos e ética profissional, estabelecida pelo mérito e pela competência reconhecida, jamais pelo QI hoje institucionalizado e profundamente antiético…

A caminhada para o soerguimento será árdua, porém repleta de esperanças, na medida em que envolva mentes e idéias novas, mesmo em corpos maduros, daqueles que nunca renegaram o estudo, a curiosa inteligência, sempre pronta ao inovador, ao instigante, incentivando os jovens neste caminho, difícil e pedregoso, porém oposto ao fácil, ao indesculpável e  preguiçosamente copiado, despido de criatividade, de improvisação consciente, sob a orientação de seguros e competentes professores e técnicos, cônscios de sua importância no treino e sua exemplar conduta no jogo e na comunidade do grande jogo, sem esgares, teatrais representações, pressões e discursos pretensamente enérgicos, eivados de desrespeitosos palavrões, colimados em desconexos rabiscos em midiáticas, retrógradas e mentirosas pranchetas. Chegaremos lá? Não tenho a resposta, mas sim uma certeza, a de que nada alcançaremos a continuar o engodo e a falsidade do que aí está, sacrificando seguidas gerações de jogadores, porém alimentando e engordurando currículos á custa dos muitos deles que ficam covardemente pelo caminho, abandonados e desestimulados pelo péssimo ensino a que fizeram jus…

Como sempre, fico na torcida pelo futuro, inveterado otimista que sou, apesar da realidade nem sempre se fazer presente a este honesto, porém cada vez mais desgastado sentimento.

Que os deuses nos dêem uma mãozinha, por menor que seja, o que talvez ajude, de verdade.

Amém.

Em tempo – Uma leitura sugerida postada em 2010 com relevantes comentários – Um email do Felipe

Foto – Arquivo pessoal. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

 



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