“AS PEÇAS” (FROM ROME)…
Tirei o dia para descansar, depois de mais de 110 km percorridos a pé por ruas antigas e novas, ruínas e modernas avenidas, museus, restaurantes, praças e tudo o mais que um visitante ousa usufruir aos 78 anos, ao lado do filho de 36, em plena vitalidade, porém paciente com um ritmo nada peculiar a sua idade. E lá fomos nós trilhando caminhos em Madrid, Lisboa, Dublin, Paris, Florença, e agora Roma, a caminho de Valência, de novo Madrid e volta ao Rio para mim, e Dublin para o João David, num mês repleto de descobertas e excelente convivência, a ser repetida, quem sabe, para o ano…
Com seus conhecimentos profissionais, o João me privilegiou com sinais televisivos pelos dois computadores que levamos, nos quais as notícias pátrias não faltaram, assim como os jogos do NBB e da NBA quando solicitados, permitindo que esse humilde blog se mantivesse atualizado, fatores que me satisfizeram plenamente…
Por conta desses avanços tecnológicos, pude manter o relacionamento com os poucos leitores que ainda se mantêm assíduos nas discussões e comentários, e muito bem sei de outros que o visitam velada ou anonimamente, num exercício de mão única que já me acostumei nos últimos 15 anos de vida dessa longeva e teimosa trincheira de resistência a estupidez, que permanece baloiçando sobre a cabeça do grande jogo (como a espada de Dâmocles), pronta para liquidá-lo, uma vez que o odeiam por não compreendê-lo, sequer jogá-lo como deveria ser jogado…
O basquetebol está tão apequenado por essa corriola de pseudos benfeitores, aspones e agregados, que os verdadeiros artífices do grande jogo agora são tratados de “peças”, que como as de máquinas são trocadas a cada fim de temporada, repondo posições e insatisfatórias atuações pelos endeusados estrategistas, notórios dirigentes e agentes, valorizando ou desvalorizando a todos num mercado alimentado por empresários que priorizam os rápidos resultados, e não projetos com prazos definidos, e uma mídia ávida pelo modismo técnico tático que, nem de longe e com raríssimas exceções, domina a informação, com o mínimo necessário para formar opiniões públicas esclarecidas e de real e evolutivo interesse da modalidade…
“Peças” são jogadas de um lado para o outro, num desleal tabuleiro a serviço da insana busca pela notoriedade de estrategistas que, ano após ano, repetem o mesmo discurso incensado e deificado pela mídia, ávida pelas migalhas de um sucesso com cartas marcadas pela combinação de “peças” que se encaixam automaticamente, num único tipo de engrenagem, a do sistema único, onde vez por outra surge uma nesga de “genialidade”, como a da moda, a chutação de três, valorizando aos píncaros seus pseudos introdutores e “peças” especiais…
Modas vão e vêm, num ciclo repetitivo na história, umas permanecem um bom tempo, outras nascem e somem rapidamente, e essa da chutação pouco vingará, pois lá na matriz, de onde 99 em 100 estrategistas daqui copiam até o tamanho e formato dos calções (notaram que bem mais curtos agora?…), terá seu merecido arrefecimento pelo simples fato de que já está sendo contestada em todos os quadrantes fora do perímetro, conforme demonstram as estatísticas dos últimos jogos do playoff final da grande liga, e que, teimosa ou interesseiramente, nossa mídia estabelece ser o erro ofensivo, e não o acerto defensivo, fato que qualquer razoável observador atesta sem dúvidas. Mas claro, logo agora que a equipe das multidões está a poucos passos de ingressar no seleto clube dos Curry’s boys, com seu novo estrategista contratado berrando aos ventos que “seu estilo paulistano” será continuado e elevado com “peças” escolhidas a dedo para dimensioná-lo e capacitá-lo a todos os títulos que disputar, como reconhecer que, técnica e cientificamente, são muito poucas aquelas “peças” que dominam os longos arremessos, mesmo lá na sagrada matriz? Baixar um pouco o facho seria, a essa altura, algo a ser considerado, ou não?…
Logo mais, se me der alguma vontade (serão 3 da madrugada aqui em Roma), tentarei ver o quarto jogo do playoff americano, onde a artilharia do Warriors, mesmo já bastante e seriamente contestada, ainda assim poderá ser suficiente para vencer a equipe do “vovô” LeBron, que na sua idade ainda dá os seus pitacos de excelente jogador que é, jamais um gênio, mas não suficiente para definitivamente transformar um jogo coletivo em individual, como alguns têm tentado na duas últimas décadas, inclusive por aqui. Quem sabe na próxima…
Amém.
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