SE CUIDA PETROVIC, SE CUIDA…
Amanhã a seleção brasileira joga com a dominicana em São Paulo pelas eliminatórias para o Mundial da China, e na segunda feira contra o Canadá, dois jogos difíceis, mesmo jogando em casa, e sob um manto de desconfiança motivada pelas declarações do técnico Petrovic sobre a forma como atuam nossos jogadores, adeptos confessos do “chega e chuta” implantado em nosso país de duas décadas para cá, fator este influenciador poderoso, inclusive na formação de base da modalidade, que levou o croata a uma série de críticas contrárias a essa forma de jogar, atingindo em cheio o ambiente corporativo em que vivem os técnicos tidos como os de ponta do basquetebol nacional…
Ácidas críticas por parte da mídia altamente especializada, dos melindrados técnicos que atuam na elite do basquetebol, foram externadas rapidamente, num movimento mantenedor do status quo vigente, avesso a qualquer mudança, pois afinal de contas, é “dessa forma que o mundo inteiro joga”, e não seremos nós a fugir dessa realidade técnica, aceita, padronizada e formatada aqui e lá fora também, concretizando uma falácia, não só perigosa, mas absolutamente idiota e absurda sobre os verdadeiros princípios técnico táticos que fundamentam e norteiam o grande jogo, maciçamente desconhecidos e omitidos por toda uma plêiade de “conhecedores” do mesmo, e que até o momento, e de longuíssima data o manipulam a imagem e semelhança de seus interesses continuístas, e acima de tudo exclusivistas…
Fica bem claro que jogamos como todos (ou quase) jogam, dentro do sistema único, porém com uma indiscutível e conclusiva diferença, a qualidade formativa nas técnicas individuais e coletivas, lastreadas nos fundamentos básicos do jogo, fator que nos situa muitos degraus abaixo na qualificação dos jogadores internacionais, onde a maioria quase absoluta se apresenta incapaz para concretizar sistemas simples de jogo, como corta luzes , bloqueios, penetrações dominantes, que são ações inerentes a qualquer sistema primário, quiçá os mais complexos, onde falham por desconhecimento e falibilidade técnica, perdidos que ficam em incontáveis e estéreis passes de contorno ou regressivos, provando na quadra que em momento algum foram ensinados seriamente, desde a formação, e que continuam falhos pelo negligente desinteresse dos estrategistas em fazê-lo, na maioria das vezes por desconhecimento da matéria, e outras, por considerar como algo que não se ensina a jogadores de elite, num erro monumental e de consequências devastadoras, gerando a única restante opção, a do jogo externo, descompromissado com as técnicas exigidas no jogo interno, aumentadas exponencialmente pela ausência defensiva, praticamente endêmica na realidade do basquetebol tupiniquim, sacramentando o autofágico e comprometedor “chega e chuta”, único e restante estratagema que possuem no campo de jogo, incentivados pela conivência da turma de fora, os estrategistas…
Então por que não reponsabilizá-los pela praga dos três, se sequer desenvolvem sistemas e técnicas que privilegiem prioritariamente conclusões equilibradas de 2 em 2, de 1 em 1, mais precisas e determinantes ? Por que permitem suas equipes arremessar mais de três do que de dois, assistindo o desgaste brutal de seus jogadores nas insanas convergências em 50/60 ataques improdutivos e estafantes (acredito defenderem as famigeradas “rotações” exatamente para manter esse comportamento), sabendo de antemão que o mesmo acontece com os adversários, igualando-os, já que se encontram no mesmo barco do sistema único, num perfeito álibi pela consciente opção? Por que agem em um uníssono balê fora das quadras, teatralizando ações midiáticas e pressões inconcebíveis nas arbitragens, num consenso plural e inconsequente, prejudicando muitas vezes suas próprias equipes? Por que anunciam solenes estratégias de jogo e absolutamente nada mudam na forma de jogar? Por que suas equipes erram tantos fundamentos, da simples reposição de laterais, até perdas de bola sob pressão toda a quadra, noves fora os passes interceptados pela obviedade dos mesmos num sistema previsível e vazio de criatividade, a não ser aquela de cunho próprio, pretensiosamente grafada nas pranchetas? Por que mudar o que todos fazem, repetem, copiam, e torcem para as bolinhas caírem, mesmo as arremessadas por iludidos “especialistas”, por isso tudo, por que?…
Tenho certeza de que seriam estas as questões incluídas no posicionamento do Petrovic em suas críticas a decorrente enxurrada de três a que tem assistido, a mesma a que assisto consternado e constrangido nos últimos 20 anos, nos últimos 11 anos de NBB, de LDB, somados e ombreados nos inenarráveis erros nos fundamentos, um dos quais extrapolou acima de todos, as convergências nos arremessos, e para não ficar sem um numerozinho sequer, a média de erros na LDB, porta final de entrada para a elite do NBB, que atingiu na etapa anterior 26,2 erros por jogo, terminou hoje a etapa antecedente às semifinais com o absoluto e desabonador número de 36.3 erros de fundamentos por jogo. Some-se a isto os erros nas bolinhas e teremos um retrato real e fiel das qualificacões dos pretendentes ao grupo de elite…
Volto a bater na mesma tecla que faço soar desde o primeiro artigo postado neste humilde blog, o de que o grande óbice em que nos encontramos é o técnico, da formação a elite, num cenário trágico em que nada de realmente novo e instigante pode ser considerado por um corporativismo que se apossou do grande jogo, expurgando toda e qualquer tentativa que arranhe, mesmo de leve, o torpor e a mesmice endêmica que nos esmaga e humilha, em favor de um nicho econômico restrito a uns poucos, que o defendem ao preço que for. Se desmontado, teremos chances de evoluir, quem sabe recriando um pouco da pujança que nos caracterizou como a quarta força do grande jogo no século passado, quando jogávamos e amávamos o “nosso” jeito de jogar, de criar, de improvisar conscientemente, e não essa imitação tosca e descerebrada que hoje praticamos, bolas de três a parte, e nisso o croata está com carradas de razão, e eu, particular e solitariamente, também, pois fui um dos expurgados desde o NBB2, e por que, por quais razòes, técnicas? Com certeza, não. Mudanças doem, fraturam, geram medo, que compreendo, mas em hipótese alguma aceito…
Se cuida Petrovic, se cuida, ou como torce a patota, adira, garantindo o excelete emprego, que é o que todos eles, aderindo, fazem…
Amém.
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