TIRANDO (E USANDO) DO BAÚ…

Lá para o fim do terceiro quarto, o comentarista me sai com esta – “ Muito inteligente essa estratégia do técnico do Flamengo utilizando 2 armadores e 3 pivôs rápidos, depois da enorme perda de arremessos de 3 na noite de hoje, virando um placar contrário e vencendo a partida jogando dentro do garrafão”. Até aquele momento os cariocas haviam arremessado 47 bolas de 3, com 10 acertos. Ao final, contabilizou 14/55 nas bolinhas e 13/18 nas de 2 pontos. Seu adversário argentino, o ITT, perdeu de 1 ponto (78 x 77) arremessando 21/39 de 2 pontos e 7/24 de 3, numa claríssima constatação de que o incensado e deificado modelo de basquetebol moderno brasileiro, que fatal e inexoravelmente será institucionalizado nas seleções nacionais, passará por essa insana e absurda “correção de rumos”, a seguir da saída do croata, que, possivelmente não conseguirá moldar a seleção adulta para as futuras competições internacionais, a jogar de outra forma que não esse pastiche que ora nos deparamos (e se fritará se tentar), onde o “chega e chuta” já conta, inclusive, com a exultante adesão dos estrangeiros que aqui atuam (são quatro por equipe), que juntamente com aqueles poucos nacionais que os acompanham, encasquetaram em suas cabeças que personificam a fina flor dos especialistas mundiais nos longos arremessos, e da forma mais contundente e avassaladora de que temos conhecimento. Só esquecem de um simples “detalhe”, de que por aqui em terra tupiniquim ninguém marca e contesta ninguém, e onde falta pessoal passou a ser “inteligente” no afã de travar o adversário, e não se impor pela técnica defensiva, talvez um dos fundamentos mais importantes do grande jogo…

Este jogo foi lapidar, pois a equipe do Flamengo, que de há muito convergiu definitivamente seu modo de complementar a cesta, onde os arremessos de 3 em muito superam os de 2, até aquele momento da guinada “genial e criativa” de seu mais genial ainda mentor, fazendo seus obedientes e teleguiados jogadores a atuar em dupla armação (Balbi e Yago), e três hábeis e ligeiros pivôs (Demétrio, Mineiro e Marcos), transitando declaradamente pelo perímetro interno, e não abertos como de praxe, abdicando do jogo mais pesado com o Olívinha e o Hettshemeir, equilibrando a partida, definindo com mais precisão com as bolas de curta e média distâncias, tirando uma larga diferença e virando um jogo por pouco perdido…

Ao final, foram 13/18 arremessos de 2 e 14/55 de 3, onde por 41 vezes no ataque as bolinhas sagradas não caíram, por outro lado somente 5 bolas de 2 foram perdidas num total de 21 arremessadas, numa brutal evidência de pouca inteligência quando confrontada com uma equipe qualificada defensiva e ofensivamente bem treinada e conscientemente coletiva. Venceram a partida exatamente por mudar sua forma de atuar a partir do terceiro quarto, quando atuou no 2-3 ofensivo…

Ora ouvis estrelas, mudar um jogo quase perdido utilizando um sistema (sistema, sim senhor…), com dois armadores de ofício e três alas pivôs leves, rápidos e determinados aos rebotes, jogando na cozinha adversária, concluindo com mais precisão pelas curtas e médias distâncias, arremessando as bolas de três realmente necessárias pelo trabalho interior, defendendo com a velocidade e técnica de seus dois armadores, arrastando os hábeis pivôs para o jogo antecipativo, foram armas preciosas para a virada e consequente vitória, com um significativo e revelador pormenor, a rendição tardia (mas que não falha nunca…) a uma forma de jogar que um longínquo e esquecido Saldanha da Gama ousou tentar quebrar a mesmice técnico tática que imperava no NBB2 (2009/10), vencendo grandes equipes, porém lanterna num campeonato no qual por 49 dias de insano trabalho, realmente provou que podiam jogar um basquetebol diferenciado, brilhante e vencedor, podendo ter chegado um pouco mais longe com um mês a mais de treinamento, ou uma completa temporada no ano seguinte, infelizmente brecada politicamente…

De lá para cá pouca coisa mudou, cristalizando a mesmice técnico tática vigente, exceto pelo enxerto absurdo e autofágico da hemorragia dos três pontos, desvirtuando e jogando para baixo do tapete da história a essência de nossa forma de jogar, e que será contestada no enfrentamento internacional, inexoravelmente. Porém, como milagres as vezes acontecem, tirados ou não de cartolas mágicas, pudemos ver neste jogo, ressuscitar o velho (?) sistema que implantei naquela bela equipe (e nunca repetido, sequer esboçado), vencendo, inclusive, o Paulistano em SP, onde no banco do mesmo se encontrava um auxiliar técnico que hoje dirige o rubro negro carioca, que ante o perigo de ser derrotado pelas 41 bolas perdidas de três de sua equipe, lançou mão de conveniente 2-3 ofensivo, tão negado, combatido e vetado em seu continuismo. Lembrou bem, se deu melhor ainda, afinal, não a toa o comentarista considerou a ação inteligente e interessante, que claro, aplicada por quem se trata ganha um contorno, podemos dizer, genial. Mas sei, que inteligente como é, o jovem aspirante a selecionador nacional entenda de uma vez por todas que, sistematicamente convergindo não chegará a lugar algum, pois as escolas mais desenvolvidas que a nossa não permitirão…

Não esquecer, também, que naquele jogo debaixo de uma pancadaria consentida pela arbitragem, o Saldanha fez 91 pontos arremessando de 2 em 2 e 1 em 1, com somente 5/9 bolas de 3, mostrando a possibilidade de tal produtividade com um sistema proprietário e eficiente, de tal forma que nem a dispensa de três de seus melhores jogadores tirou da equipe vitórias importantes , como a sobre o campeão daquele NBB, o Brasília…

Enfim, espero que a bem lembrada opção do jovem treinador se repita com a frequência que se faz necessária nesse inodoro e insosso NBB, onde a prevalência do “chega e chuta” enxovalha e assusta o grande, grandíssimo jogo.

Amém.

Em tempo, os jogos com Paulistano e Brasília 



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