MUDAR PRA QUE? ESTÁ BOM ASSIM…

Publiquei em 2011, faz 10 anos, e o que mudou? Absolutamente nada, e o que mudará daqui para diante? Temo que nada, absurdamente, NADA…

FUNDAMENTOS? ONDE ESTÃO?…

domingo, 11 de dezembro de 2011 por Paulo Murilo14 Comentários

Assisto ao jogo, me concentro, mas não acredito no que vejo. Saio da sala, vou até a cozinha, pego um café, e volto. Continuo não acreditando, mas persisto teimoso que sempre fui, e se comecei a ver, penso ir até o fim. De repente acordo (foi um cochilo de uns 30-40 segundos), como se o corpo e a mente tivessem reagido ao que testemunhavam, se protegendo de algo inenarrável, e pelo mais absoluto respeito que ainda mantenho pelo grande jogo desligo a TV e volto à minha leitura interrompida, jurando me calar, e até esquecer tão absurdo espetáculo, principalmente por se tratar da partida inaugural de uma Liga adulta.

Abro hoje os sites de basquete, e leio o artigo do Fábio Balassiano no Bala na Cesta, que publica tudo aquilo que me revoltou, e até certo ponto me envergonhou, travando a vontade imensa de extravasar um sentimento de tristeza ante tanta pobreza técnica e de fundamentos, principalmente estes. Mas o Fabio foi lapidar e cirúrgico em sua crítica, a qual não aporia uma vírgula sequer, pois refletiu em toda sua dimensão “a quantas andam o nosso outrora brilhante basquete feminino”.

É inadmissível que jogadoras adultas confundam desenfreadas corridas com basquete, tropeçando na bola, ultrapassando-a em várias ocasiões, que não dominem o drible, mesmo usando somente a mão natural, que não saibam arremessar, de longe, muito menos de perto, que não saibam se deslocar defensivamente, e o pior de tudo, que não dominem, nem de longe, a arte de passar a bola. E perante tanta falta de habilidades individuais, como ousam os técnicos exigir jogadas e sistemas sem que as jogadoras sequer saibam dominar uma bola?

O que falta para ensinar fundamentos a todas elas, igual, democrática e tecnicamente confrontadas, nivelando-as perante a necessidade grupal de que sem os mesmos nada conseguirão ou atingirão de realmente prático nos sistemas e jogadas que são instadas a praticar? Será que seus técnicos só conhecem sistemas, jogadas e chaves, se auto conotando como “estrategistas”, deixando de lado o verdadeiro objetivo do jogo, o domínio de seus fundamentos? Como exigir continuidade e fluidez tática se as jogadoras sequer sabem executar um drible, uma finta e um passe com um mínimo de precisão? Como?

Assim como o jovem articulista, também me sinto preocupado no mais alto nível, aquele que me trouxe à sétima década de vida, cinco delas dedicadas à educação e ao basquetebol, respeitando por todo esse longo tempo o grande principio que o tornou universal, o histórico conceito que o desenvolveu e sedimentou, o de ser exequibilizado e jogado através o pleno domínio de seus fundamentos.

Espero que todos aqueles envolvidos no preparo e treinamento de jogadores, sejam de que divisões, sexo, faixas etárias, estaturas e pesos forem, se conscientizem disso, como plataforma segura para o soerguimento do grande jogo.

Amém.

Foto – Divulgação LBF. Clique para ampliá-la.

14 comentários

  • Victor Dames
  • 12.12.2011
  • · Pra ser bem sucinto, Professor… Muita gente nessa LBF quer viver DO basquete, mas poucos vivem PARA o basquete…
    Abraços!
  • Basquete Brasil
  • 12.12.2011
  • · 
  • E mais sucinto ainda, Victor…Concordo.
    Um abraço.
  • Henrique Lima
  • 12.12.2011
  • · 
  • Professor Paulo,
    se a Seleção Feminina tem um nível baixíssimo, o que esperar do nacional feminino ?
    Imagino então como é na base, se o apresentado aí, é a elite do que temos.
    Um abraço
  •  
  • Basquete Brasil
  • 12.12.2011
  • · Mas o que impressiona sobremaneira, são as diligentes e enérgicas intervenções dos técnicos em torno das jogadas, das táticas, jamais sobre os fundamentos, como que partissem da premissa de que os mesmos estão sob o domínio das jogadoras, quando na fria realidade dos fatos, elas nem de uma forma rudimentar os controlam, sequer dominam. O jogo então se desenrola numa velocidade assustadora, onde os erros se duplicam, triplicam, numa frequencia demolidora. E pensar que tanto talento e juventude estejam sendo desperdiçados por omissão e desconhecimento. Lamentável.
    Um abraço Henrique, Paulo.
  •  
  • Fernando Ribeiro
  • 14.12.2011
  • ·Acredito que tenha visto o jogo errado, São josé jogou muito bem para uma equipe que começou a treinar a menos de duas semanas queria assistir uma partida delas.
  •  
  • Basquete Brasil
  • 14.12.2011
  • · Não, prezado Fernando, assisti o jogo inaugural da Liga entre duas das mais tradicionais e vitoriosas equipes que a ela pertencem. Também assisti outro que não comentei porque nada tinha a escrever de diferente do primeiro, e fico aguardando a oportunidade de assistir um jogo do S.José logo que seja veiculado pela TV, duvidando que seja diferente dos demais.
    Um abraço, Paulo Murilo.
  •  
  • ANTONIO CARLOS VENDRAMINI
  • 14.12.2011
  • ·PROFESSOR,TENHO QUATRO DÉCADAS DEDICADAS AO BASQUETE E COMO O SR.,SENTI A MESMA TRISTEZA AO ASSISTIR A ABERTURA DA LBF.
    AS MATÉRIAS DO BASQUETE BRASIL SÃO ÓTIMAS.PARABÉNS UM ABRAÇO,PROF.VENDRAMINI.
  •  
  • Basquete Brasil
  • 14.12.2011
  • · Prezado Vendramini, você com quatro, eu com cinco décadas voltadas ao ensino do grande jogo, ou seja, “velhos e ultrapassados”, frente a uma juventude que acredita piamente que o basquete nasceu com a vinda deles ao mundo, esquecendo os idos de 1892 em Springfield, e sua base sedimentada nos fundamentos, sem os quais sistema nenhum de jogo se torna minimamente exequivel. Os resultados aí estão, escancarados, indesculpáveis, fruto de uma tendência absurda voltada às formatações e padronizações técnico táticas, que destinam a um mesmo tacho o que poderia, e deveria ser sua negação, frente à criatividade e ao livre pensar e ler o jogo, que são fatores somente alcançáveis através o pleno domínio dos fundamentos, principalmente por parte de quem os estudam, pesquisam e ensinam.
    Fico feliz e honrado com sua presença aqui nesta humilde trincheira, valorizando-a sobremaneira. Obrigado, e um abraço.
    Paulo Murilo.
  •  
  • Cleverson
  • 15.12.2011
  • · Pois é Professor. E como uma criança ou um adolescente vai se interessar em assistir um jogo com um nível assim?
    Quem vai querer ir a um ginásio assistir um jogo desses?
    Basquetebol na televisão só em canais fechados e será que esse produto, da forma que está, se apresenta de uma maneira interessante para a emissora que o transmite?
    Assisti a um jogo, se não me engano foi do paulista feminino, que o primeiro quarto terminou 12×8. Muitos erros de passe, finalização, enfim, feio mesmo. Meu pai, irmã e cunhado me pressionaram tanto para mudar de canal que acabei cedendo. Eles queriam assistir futebol de areia.
    Perdendo espaço para outros esportes, sem grandes jogadores para as crianças se espelharem, cada vez menos crianças praticando (pelo menos na minha cidade).
    Vai ser uma luta árdua Professor!
    Um abraço.
  •  
  • Basquete Brasil
  • 15.12.2011
  • · Apesar de tudo, prezado Cleverson, temos de continuar insistindo, estudando, ensinando, debatendo, e acima de tudo, nos indignando, sempre e sempre, pois um mal não pode permanecer ativo por todo o tempo, aos poucos irá cedendo pela força do conhecimento, do árduo trabalho, enfim, pelo restabelecimento do bom senso. Temos de ir em frente, até quando pudermos. Um abraço, Paulo Murilo.
    PS- Seus artigos estarão seguindo na próxima semana. Desculpe a demora. PM.
  •  
  • Cleverson
  • 20.12.2011
  • Um outro detalhe Professor que eu penso ter uma enorme influência na formação dos novos jogadores é a utilização de estagiários sem supervisão nas categorias de base principalmente por ser mão de obra barata? (claro que não é só isso).
    Eu por exemplo assumi uma escolinha no meu primeiro ano de faculdade e a única pergunta que me foi feita na entrevista para o estágio foi se eu conseguiria reproduzir os exercícios dos treinamentos para as crianças. Permaneci na escolinha por 4 anos sem ninguém me pedir um plano de aula ou virem assistir uma aula minha.
    A iniciação esportiva por ser um momento chave na formação do atleta deveria ser vista de uma outra forma. Acredito que um Professor com maior experiência deveria cuidar da base ou, pelo menos, acompanhar de perto a atuação do estagiário, orientando e exigindo aulas fundamentadas. Eu não sabia praticamente nada sobre o desenvolvimento da criança, sobre aprendizagem, emocional, socialização, me preocupava somente com os exercícios nessa época.
    Com uma boa formação de base esses erros grosseiros de fundamentos seriam bem menores. Para se trabalhar com crianças é preciso ter conhecimento e experiência. Acredito que esse seria um grande passo para a mudança.
    Um abraço.Cleverson.

  • Basquete Brasil
  • 22.12.2011
  • Inicialmente Cleverson, eram os jogadores mais carentes financeiramente que assumiam a formação, atitude que reduzia os custos em contratações de técnicos por parte dos clubes, e que aos poucos, com o aumento no número de escolas de educação fisica no país, foram sendo substituídos pelos notórios estagiários, a um preço ínfimo, se comparado ao de um competente e experiente professor.As grandes holdings de academias também se utilizam desse estratagema, substituindo os formandos por outros estagiários, numa espiral exploratória que mantêm seus lucros à salvo de reivindicações salariais e vinculações trabalhistas. Por tudo isso, a formação de base vem carecendo de estrutura e embasamento técnico e pedagógico desde sempre, culminando no que testemunhamos hoje, a mais completa ausência de formação de base no que se refere aos fundamentos do jogo. Essa é a realidade.
    Talvez, com o incremento do basquetebol e demais modalidades na grade curricular das escolas, onde a figura do professor está presente, esse hiato seja atenuado, ainda mais se uma política nacional dos esportes subvencionar tal projeto. Fora disso, Cleverson, pouco se pode esperar para o futuro.
    Um abraço, Paulo.
  •  
  • Jalber Rodrigues
  • 06.01.2012
  • · Professor, estou um pouco afastado dos comentários, mas não da leitura. Por anos acompanho a luta incansável pelo soerguimento do basquete no Brasil através de excelentes artigos publicados aqui no blog. No masculino as coisas são difíceis… imagine como é no feminino…fazer base no feminino ainda nem se fale… trabalhamos muito duro, muito mesmo para fazer o mínimo… as meninas não tem expectativa nenhuma… porque e para que se dedicar ao basquete? Como fazer com que as meninas trabalhem forte? Como competir com as baladas, com a internet e com a desconfiança dos pais de que “jogar bola não leva a nada”? Não conseguimos nem vincular a educação ao esporte? As críticas são sempre duras e mais pesadas… mas corretas… porém ferem a quem se doa ao máximo e não consegue respaldo, apoio, credibilidade… se o basquete feminino de São Paulo está nessas condições imagine o resto do Brasil? Imagine no interior de Minas? Precisamos de ajuda professor!! Precisamos de ajuda! Queremos ter excelentes meninas praticando o fino do basquete… mas precisamos de ajuda professor! Sugestões?!
    desculpe o desabafo e abraço professor!
  •  
  • Basquete Brasil
  • 16.01.2012

                Jalber, estou utilizando seu comentário como base para o artigo hoje publicado. Espero que você não 

                se aborreça, mas um assunto dessa magnitude merece uma abordagem mais ampla           .
                Um abraço, Paulo Murilo.

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