UMA PERTINENTE (E TEIMOSA) RELEITURA…

o inesquecível abraço do Munoz

Num pequeno site estatístico que mantenho sobre o blog, um artigo de 2010 foi lembrado por um dos pouco leitores dessa humilde trincheira, que demonstra claramente a incessante luta que travo desde sempre contra a mesmice endêmica que se apoderou do grande jogo em nosso país, a qual, se mantém praticamente a mesma até os dias de hoje. O início do playoff dessa temporada do NBB, não poderia ser mais explícito do que diagnostico desde sempre, com sua vassalagem ao modelo NBA, acrescido maleficamente a uma outra e corrosiva novidade, a chutação hemorrágica dos arremessos de três pontos. Vale a pena compararmos um recentíssimo passado, com a triste realidade dos dias de hoje, para, pelo menos, refletirmos sobre a qualidade do trabalho que vem sendo feito nesses últimos doze anos, após três ciclos olímpicos enfrentados, e perdidos, para, quem sabe, nos confrontarmos com uma verdade a qual pertencemos, ou omitimos, sob quaisquer traços de responsabilidades, aceitas ou não…

Dois meses depois dessa publicação, fui contratado pelo Saldanha da Gama de Vitória (ES), para tentar minorar a terrível campanha que realizava no NBB2, o que foi conseguido em parte, com um trabalho de negação absoluta a existência de um sistema único de jogo em toda liga, apresentando uma cortante versão de um sistema polivalente (apto contra defesas individuais e zonais, indistintamente), vencedora em muitos jogos contra equipes superestimadas pela critica e público, inclusive contra a equipe que veio a se tornar campeã naquela competição,  num dos momentos mais marcantes para mim, encontrado no abraço do armador Munoz ao fim daquele inesquecível jogo, quando ao pé do meu ouvido me disse – Obrigado professor pela radical mudança que o Sr. aqui fez, algo que nunca esquecerei. Também não esquecerei Munoz, jamais…

Vamos ao artigo e seus formidáveis comentários, mais atuais do que nunca.

Amém.   

A CLAQUE IGNARA…

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009 por Paulo Murilo4 Comentários

“ Como vemos na escalação da equipe, fulano é o nº 1, o armador principal, o que faz a equipe jogar, beltrano, o nº 2, armador finalizador, aquele que arremessa mais desta posição, sicrano, o nº 3, o ala finalizador, beltraninho, o nº 4, é o ala pivô, ou ala de força, e o beltranão, nº 5, é o pivô, o dominador da área pintada” .

Com estas explicações, o narrador do jogo entroniza a claque ignara no mundo técnico da bola laranja, perfeitamente sintonizado com o “basquete internacional”, mais adiante explicitado na enxurrada de termos em inglês para jogadas básicas e ações individuais com terminologia tupiniquim conhecida desde o século passado, não fossemos nós campeões mundiais e medalhistas olímpicos.

Enterradas são exaltadas como o supra sumo das ações individuais, alvo de críticas desairosas quando não culminadas por um jogador mais cuidadoso e ciente de suas condições técnicas, em anteposição ao ato circense puro e muitas vezes gratuito.

E nos comentários nenhuma menção ao que realmente de importante e fundamental ocorre técnico taticamente no transcorrer do jogo, centrados que estão nas performances anotadoras de alguns jogadores, perfeitamente alinhados ao sistema único de jogo.

E é aí que entro, no vácuo analítico, na ausência informativa do que vem ocorrendo sutilmente no âmago de algumas equipes de ponta, e que bem foi representada neste jogo de líderes, Joinville e Brasília.

A dupla armação se impôs decisiva e definitivamente no nosso basquete, não mais timidamente, em poucas incursões, mas de forma ampla e coerente. A melhora na capacitação técnica das equipes é uma evidência indiscutível, assim como o aumento na diversidade criativa propiciada por dois armadores talentosos e atuando em sincronia, tornando o jogo mais fluido e muitíssimo menos previsível como  de antanho, daí a aparente fragilidade defensiva, já que exposta a algo de novo, de incomum, no contraponto da mesmice de alta previsibilidade com que vínhamos jogando o grande jogo.

Infelizmente, as equipes ainda estão presas taticamente ao sistema tradicional, com sua numeração absurda e jogadas codificadas e pranchetadas, mas apresentando algo de promissor, a maior fluidez que discorri acima. Falta-nos uma grande dose de estudo e corajoso rompimento com o sistema que nos arrasou nos últimos vinte anos, para que novos conceitos emergentes da dupla armação nos redima e nos remeta ao nível das grandes equipes e competições internacionais. E para tanto temos de iniciar este ciclo pelas divisões de base, abjurando tudo do que até agora professamos em sua formação e desenvolvimento.

Mais infelizmente ainda, assistimos a criação da escola de treinadores lideradas por um grupo que se arvora como os redentores do basquete nacional, e que iniciaram seus trabalhos com um Simpósio de Preparação Física, Medicina Esportiva e Prevenção no Basquete, anotando que “ O evento teve 23 palestras e a participação de 154 pessoas entre dirigentes, ,médicos, fisioterapeutas, preparadores físicos, nutricionistas e técnicos”. Isso mesmo, lá no fim da relação, …os técnicos. Claro, que coordenado pelo mesmo profissional de educação física ( nomenclatura do CREF) que coordena a futura escola de treinadores.

E ao final dos trabalhos, apresentaram um estudo de 200 casos, quando concluíram serem as contusões mais comuns entre os jogadores de basquete, as de joelhos e tornozelos. Puxa vida, e eu que sempre pensei fossem os torcicolos… Parece brincadeira, mas não é, pois deveriam concluir dos porquês de tantas contusões nestas articulações desde o incremento avassalador da musculação patrocinada pelos “novos” conceitos de preparação física.

Concluindo, o jogo desta noite nos remeteu a um futuro razoavelmente promissor, pois pudemos constatar em estéreo e à cores vibrantes de 100 câmeras presentes o quanto de boa técnica se faz presente quando uma dupla armação de qualidade se encontra em quadra, e melhor ainda, quando as duas equipes a empregam todo o jogo. E quando vemos um pivô saltando nos rebotes e girando 180º no ar, para cair de frente para seu ataque em tripla ameaça, como o do Joinville nos brindando com sua nova e formidável conquista (fico curioso em saber como desenvolveu tal técnica…), podemos avaliar o quanto de progresso nos aguarda a partir do momento que os técnicos planejem e desenvolvam novos conceitos técnico táticos no rastro desta evolução, e na melhoria substancial dos fundamentos de seus jogadores, de todas as idades e divisões, começando pela formação.

Mas para que tudo isso realmente ocorra, um dos fatores básicos representado por uma escola de treinadores, com suas finalidades formativas e corretivas, divulgadora de novos e abrangentes conceitos, de amplos e vastos horizontes, universais e ilimitados, democrática e de livre pensar, terá de ser constituída, em contraponto ao que vemos germinar num presente temerário e comprometedor, aquele que se apropria de uma pseudo verdade eivada de interesses regionais, quando deveria ser fruto de uma realidade nacional, em todos os seus quadrantes, através seus lídimos representantes, esquecidos desde sempre, mas donos da verdade de suas vidas, seu trabalho profundo e mal remunerado, mas pleno de conhecimento e sacrifício, os técnicos, os verdadeiros técnicos deste país.

Que os deuses os protejam, sempre.

Amém.

Foto – Reprodução de um video pessoal. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

4 comentários

  • ALEXANDRE MIRANDA
  • 18.12.2009
  • ·
  • POIS ENTÃO VEJO QUE O SENHOR RESTITUIU AS FORÇAS E JÁ NOS BRINDA COM COMENTÁRIOS BEM PERTINENTES SOBRE O NOSSO JOGO! FICO FELIZ COM ISTO.
    PROFESSOR, O SENHOR ACOMPANHOU A ENTREVISTA INTERESSANTE DO PRESIDENTE DA CBB – REALIZADA POR RODRIGO ALVES? TÓPICOS IMPORTANTES SOBRE A ESCOLA DE TÉCNICOS PODEM SER PINÇADAS ALI!
    HÁ ALI A MENÇÃO DE QUE ELA PODERIA SER EFETIVAMENTE TRABALHADA COM O CAPITAL HUMANO DE TÉCNICOS E APENAS COORDENADA PELO SR.JELEILATE.
    O SENHOR NÃO ACHA QUE É UMA DECISÃO ACERTADA – O DE COLOCAR ALGUÉM GENERALISTA, PORÉM INSERIDO NO MEIO DO BASQUETEBOL, PARA COORDENAR UM COLEGIADO, ESTE SIM ESPECIALISTA?
    PENSO QUE ALGUÉM ESPECIALISTA ESTÁ FORMADO NUMA VISÃO POLÍTICA/SOCIAL/CULTURAL DO JOGO QUE PODERÁ GERAR MAIS CONJECTURAS DO QUE SOLUÇÕES POSITIVAS NA ESFERA DE COORDENAÇÃO! CLARO QUE ESTE ESPECIALISTA SERÁ O CORPO DA ESCOLA DE TÉCNICOS E DARÁ RESPALDO PARA A FORMA DE PRATICAR E ENSINAR O BASQUETE NO BRASIL. MAS SERÁ ÚTIL TAMBÉM COMO DEBATEDOR E CONSTRUTOR-ADJUNTO DE SOLUÇÕES.
    JÁ UM GENERALISTA DO JOGO PODERÁ ANALISAR POSIÇÕES, INCREMENTAR DISCUSSÕES E ENCERRAR SITUAÇÕES DE DEBATE COM A SOLUÇÃO MAIS RACIONAL E DISTANTE DE PESSOALIDADES!
    CLARO, PARA QUE ESTE GENERALISTA SEJA LÚCIDO EM SUA COORDENAÇÃO ELE NÃO PODERÁ TER VÍNCULO COM POSIÇÃO/POLÍTICA ALGUMA, APENAS DEVERÁ ESTAR ABERTO A OPINIÕES QUE LEVEM A DECISÃO MAIS ACERTADA!
    O QUE PENSA SOBRE ISSO PROFESSOR? O SENHOR IRÁ NA REUNIÃO CONFIRMADA PARA SÁBADO (19/12) A FIM DE DISCUTIR A ESCOLA DE TÉCNICOS? E PARA FINALIZAR, TIRE UMA DÚVIDA, O SENHOR IRÁ SE APRESENTAR COMO CANDIDATO AO CARGO DE TÉCNICO DA SELEÇÃO CASO O SR. MONSALVE NÃO POSSA ASSUMIR?
    ABRAÇOS E DESCULPE PELA LONGA MENSAGEM!
  • Diego Felipe
  • 18.12.2009
  • ·
  • Na minha humilde opinião, a mídia deveria colocar como comentarista, no mínimo, um técnico realmente gabaritado no basquetebol, e não simples ‘figurões’ da mídia, que pouco vêem (e por isso pouco falam) do aspecto tático de qualquer jogo.
    E isso se repete, não somente no basquete, mas no futebol, handebol, e quaisquer esportes que envolvam coletividades com táticas.
    E caro professor, muito me assusta que a CBB ainda não tenha visto o seu blog e comentários (acho mais provável não quererem reconhecê-los, pertinentes que são) e, pelo menos, refletido um pouco sobre os tópicos aqui abordados. (muitos deles exaustivamente ;D)
  • Basquete Brasil
  • 19.12.2009
  • ·
  • Prezado Alexandre, sim, depois de uma fase conturbada refaço minhas expectativas de vida produtiva, onde o trabalho é fator altamente benéfico nesta retomada. Obrigado pelos seus votos, e espero corresponder a você e a todos os leitores que me prestigiam aqui neste humilde blog.
    Li a entrevista do presidente da CBB dada ao Rodrigo Alves do Rebote, excelentemente produzida. Mas as respostas, ah as respostas, todas dentro da formatação(a CBB adora este termo…)da gestão anterior, da qual exerce um competente continuísmo, inegável a essa altura de sua gestão. Até os devaneios e projetos superlativos são os mesmos, inclusive o staff, todo “profissional” da melhor estirpe. Quero ver no que vai dar. Aliás, já bem sei no que vai dar, ou seja, absolutamente nada do que seu antecessor alcançou. Minto, alcançou a presidência da ABASU, que destinará ao seu sucessor na CBB quando atingir sua grande meta, a FIBA America. Irmãos se ajudam, mesmo posando de conflitantes. Não acredito em nenhum dos dois e nos que os seguem, pois mudar o que deve ser mudado jamais o farão. “Time que vence não deve ser mudado”, ou deve, já que beneficiam a eles e não o grande jogo?
    Quanto à escola de técnicos, brincadeira prezado Alexandre, e com conotações futuras preocupantes, senão trágicas. Tenho apontado incansavelmente os óbices deste projeto, que jamais poderia ser coordenado da forma imposta politicamente, e o pior, eticamente comprometida por quem aceitou a incumbência sem as qualificações para o cargo, de que é bem sabedor. Logo, cúmplice da jogada crefiana. Isto mesmo, jogada do Sistema CONFEF/CREF que inicia sua conquista na formação de técnicos de nível superior. Quero ver como vão digerir a malha de “provisionados” que diplomou até hoje, inclusive para as seleções nacionais de várias modalidades, futebol em particular. Ambição e arrogância é isso ai, numa terra onde as leis são estabelecidas em favor dos poderosos.
    Desculpe prezado Alexandre, mas a formação, atualização ou especialização de técnicos os qualificam como especialistas pelo conhecimento aprofundado de uma modalidade, sem no entanto retirar dos mesmos o caráter generalista por se tratarem de professores acima de tudo. Os exemplos de nossos irmãos do hemisfério norte, que de acordo com as estações do ano lecionam modalidades diferentes, é a prova contundente de sua formação generalista. Este tem sido o grande erro nas pretensas formulações de políticas desportivas e educacionais voltadas aos nossos jovens, pois no âmago escolar especialistas tem de ceder à realidade generalista de uma educação de qualidade, ampla e democrática. Infelizmente muitos se escondem sob o manto das especialidades para fugirem aos compromissos com a maioria, se fixando numa elite que forma o topo de uma pirâmide injusta e inconstitucional. Realmente, a base da mesma é muito trabalhosa e oferece escassas oportunidades ao brilho de suas personalidades.
    Finalmente, somente iria a tal reunião se fosse convidado, fato inconcebível pela patota mandante, já que independência e absoluto livre pensar me tornou, torna, e sempre me tornará alijado deste sistema. Mas, aqui deste cantinho sigo minha tarefa educativa, imune à subserviência moral, cultural e ética, de quem nada deve e teme. Por analogia, depreende-se que seleções nacionais é meta a mim negada desde sempre, desde que fui preterido na primeira indicação por ser baixo e feio, mas que me fez forte e lúcido para me manter culto e atualizado, sempre e permanentemente pronto a servir se designado, já que função e direito de todo cidadão, professor e técnico que se preza.
    Terminando, não se desculpe por sua elogiável curiosidade, a qual tive o imenso prazer em atender. Um abraço, desejando um feliz natal e formidável 2010 para você e sua família.
    Paulo Murilo.
  • Basquete Brasil
  • 19.12.2009
  • ·Prezado Diego, é fato mais do que conhecido que este pequeno blog é lido por muita gente, aqui e no exterior, inclusive pela turma mandante do esporte nacional. Convencimento meu? Não, pois são fatos indesmentíveis.
    Mas o que realmente conta e me interessa profundamente é o eco refletido nos comentários e nos apoios sinceros, nos pequenos reflexos técnico táticos que vem mudando alguns comportamentos, tanto de praticantes, como de professores e técnicos, pois afinal de contas aqui todos eles encontram, sem censuras e limites todo um conhecimento que amealhei por toda uma vida, e que continuarei a amealhar enquanto por aqui estiver.
    Essa é a minha convicção de vida, transmitir e ensinar tudo o que sei, como testemunho de que continuarei sempre aberto a novos caminhos, conceitos e experiências de vida. Somente assim ela se torna digna de ser vivida.
    Um abraço, e feliz Natal para você e sua família, e um 2010 pleno de sucesso e realizações.
    Paulo Murilo.

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