Enfim, o governo regularizou o comércio de apostas desportivas no país, com regras e exigências bem estabelecidas, conforme a matéria ontem publicada no O Globo. No entanto, em seu rol de exigências, parece que ficou faltando, talvez a mais importante, aquela que proibiria que as empresas proprietárias do generoso e milionário negócio, patrocinasse todos aqueles envolvidos no processo, conforme uma das exigências publicadas, mas que omite exatamente o patrocínio master dos mesmos, não fossem todos os clubes, menos um, da Liga de Futebol Profissional, assim como a Liga Nacional de Basquetebol, patrocinados por empresas de apostas, num típico caso de uma raposa cuidando e vigiando um polpudo e promissor galinheiro… Teremos grandes problemas pela frente, e infelizmente, no âmbito do desporto nacional, tão necessitado de ajuda competente e profissional, e não de contumazes apostadores, ainda mais aboletados nas sedes desportivas…
Amém.
Foto – Reprodução do Jornal O Globo. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.
Desde sua publicação neste blog, a série Anatomia de um Arremesso com seus seis capítulos, tem sido dos mais visitados, e somente superados pelo artigo- O que todo pivô deveria saber I, campeão absoluto neste humilde blog. Sem dúvida alguma, os artigos técnicos, sempre priorizaram a escolha dos leitores, principalmente quanto aos fundamentos básicos e sistemas de jogo, tanto os defensivos, como os ofensivos, numa sede de conhecimentos que abasteceram com alguns milhares de comentários os 1661 artigos publicados desde 2004, neste insistente e longevo Basquete Brasil (paulomurilo.com)…
Na data de hoje publico o sétimo capítulo da série Anatomia, ao analisarmos a incrível performance da jogadora Ionescu, na disputa de arremessos de três, no Jogo das Estrelas da liga WNBA, vencida por ela de uma forma absolutamente magistral. Vale muita a pena observarmos, analisarmos e comentarmos tal feito, pois em muito comprova o quase perfeito domínio das técnicas que envolvem tão complexo fundamento, à luz dos muitos estudos e exemplos que desenvolvi, testei e publiquei, como uma tese de doutorado, defendida em 1992, na FMH/UTL de Portugal intitulada – “Estudo sobre um efetivo controle de direção do arremesso com uma das mãos no basquetebol”, que se mantém atual, e que até o momento não sofreu qualquer estudo contestatório no ambiente acadêmico e científico, tanto aqui, como fora do país…
Comecemos assistindo a bela apresentação da Ionescu –
Muito bem, se possível voltemos a assistir, algumas vezes, afinando o olhar para os sutis detalhes que envolvem as precisas execuções, repetidas execuções, onde os movimentos, se superpostos possíveis fossem, atestariamos que pouco diferem entre si, tal o domínio postural, rítmico, e principalmente direcional, exercidos sobre a bola pela magistral executora, muito próxima da perfeição motora, em 27 tentativas, com somente duas perdas, que mesmo assim tocaram no aro de uma forma semelhante…
A seguir discorreremos sobre os detalhes de seus arremessos, através fotos obtidas do vídeo original, onde poderemos tecer fundamentados comentários sobre encaixes e pegas específicas para esse tipo de arremesso, onde a precisão direcional rege toda a movimentação em torno de um artefato de difícil manuseio, a bola…
Das 27 séries de arremesso, escolhemos aleatoriamente 3 com bolas de coloração laranja, branca e preta, que compunham o material de lançamentos em diversos pontos das zonas fora do perímetro:
Importante observar as descrições de cada fotograma.
Muita atenção a três pormenores que antecedem os lançamentos, e mais um que os finalizam, não esquecendo jamais que o contato final do(s) dedo(s) na bola sempre será o fator determinante no sucesso das tentativas, pelo determinismo final e crítico acerca da aplicação de força, consequente rotação inversa e direcionamento controlado da bola, girando em torno de um eixo diametral naquele último contato, onde os dedos polegar e mínimo definem e o mantém (por projeção) paralelo ao nível do aro da cesta, e os demais aplicam numa ação pronatória de força, e consequente rotação inversa, um preciso controle direcional que, ao manter o eixo em paralelo ao aro e equidistante dos bordos do mesmo, obterá o perfeito direcionamento e alinhamento do arremesso, complementado pelo ângulo de soltura (trajetória) e demais elementos que compõem a mecânica corporal e muscular, que são, fatores de alta importância, porém não determinantes sem o controle direcional do arremesso (importante rever os artigos anteriores da série, para um mais completo entendimento sobre este complexo fundamento)…
Sempre será importante lembrar um elemento análogo descrito num dos artigos da série, que assim justifica a pega descrita, como um pequeno giroscópio que compõe o sofisticado equipamento de um gigantesco foguete Titan, que simplesmente se desgovernará se o mesmo falhar.
Espero que este capítulo gere outros mais, a fim de que possamos desenvolver melhores e mais extensos estudos, exercícios, e mesmo didáticas bem mais extensíveis das que conhecemos hoje, a fim de aprimorarmos este, que é o mais complexo dos fundamentos básicos do grande jogo, os arremessos.
Amém.
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Por hábito, curiosidade, ou mesmo por obrigação funcional, me vejo perante um ecran de computador testemunhando um terrível jogo de basquetebol feminino no mundial sub 19, entre nossa seleção e o Canadá, numa quarta partida em que perdemos as anteriores com significativas diferenças de, 26 pontos para a Lituânia, 19 para o Japão, e 10 para a Itália, porém nada comparadas aos 44 pontos na acachapante derrota para a razoável equipe canadense, numa clara evidência de nossa absoluta fraqueza na formação de base, aqui bem representada por uma comissão técnica (?), que somadas suas experiências diretivas, formativas e didático pedagógicas na formação de jogadoras, não perfazem nem um terço do conhecimento de qualquer professor e técnico experiente no grande jogo e no processo educativo do mesmo junto aos jovens, existentes e atuantes neste imenso, desigual e injusto país, alijados desse estratégico processo, afastados e esquecidos por força de um imenso e cruel corporativismo existente na proteção de um núcleo onde impera absoluto o Q.I., formatado e padronizado em suas escolhas de cunho político e econômico, cujos resultados mergulham o grande jogo cada vez mais fundo, num poço por ele mesmo escavado, numa autofagia institucionalizada e terminal…
Assistindo o jogo, nos deparamos com uma realidade que raia o absurdo, pois temos enviado seleções nacionais com componentes dentro e fora das quadras majoritariamente pertencentes a um único estado, praticando um só sistema de jogo, defendendo pífiamente, ou mesmo não defendendo, atacando aleatoriamente, arremessando de três pontos sem sequer dominar os de dois pontos, inclusive simplórias bandejas, e o pior, desconhecendo quase completamente seu instrumento de trabalho, a bola…
No entanto, apesar do sobrepeso incidindo em mais da metade dos componentes de cada equipe enviada, gabam-se os preparadores físicos de que correm mais velozmente, saltam cada vez mais alto, e trombam com a ferocidade e pujança de uma desenfreada locomotiva, quando precisamos somente de jovens que saibam, amem e se doem ao grande, grandíssimo jogo de suas vidas, simples assim…
Uma simplicidade que precisa ser retomada, a de ensinarmos os jovens a jogar, dando aos mesmos conhecimentos profundos dos fundamentos básicos, individuais e coletivos, fator que os farão conhecedores das técnicas que hoje desconhecem, covardemente afastados de um conhecimento que deveria ser de todos, enquanto que muitos fajutos líderes enriquecem seus currículos profissionais, por conta dos parcos esforços de “peças” intercambiáveis, substituídas a cada temporada cessante, num carrossel de perdas talentosas, porém necessárias ao status quo existente…
Uma seleção sub 19, porta de entrada as divisões superiores, não pode cometer 83 erros de fundamentos em quatro jogos, com média de 20.7 por jogo, arremessar 12/77 (15,5%) bolas de 3 pontos, 50/164 (30,4%) de 2, e 48/86 (55,8%) nos lances livres, simplesmente não podem!!!
Mas estão podendo, e como, nas últimas e longas três décadas, desde que os votos necessários para a derrubada do saudoso Renato Brito Cunha do comando da CBB, em troca do controle técnico da entidade, retiraram do Rio, sede da mesma, o centralismo democratico que levou o basquetebol nacional aos três campeonatos mundiais, e a três medalhas olímpicas, nunca mais repetidas. De lá para cá só pan-americanos, que nem mais classificam para as olimpíadas, não devemos esquecer…
Temos pela frente o mundial masculino, e desde já prevejo problemas, pois o receituário existente está mais presente do que nunca, adocicado pelo tsunami das bolas de três, oratório fervoroso da douta comissão, que sendo do conhecimento geral, em nada nos surpreenderá, ou não?
Que os magnânimos e pacientes deuses nos ajudem.
Amém.
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Inicialmente peço desculpas aos poucos leitores deste humilde blog pela ausência nestas duas semanas de intensa atividade basquetebolista, inclusive com a competição Americup feminina, onde a seleção brasileira se sagrou campeã invicta, a quem parabenizo sinceramente…
Me furtei das corriqueiras análises por me encontrar sob severo tratamento de uma traiçoeira labirintite, reincidente da hospitalização de dois meses atras, quando fui obrigado a me submeter a uma dolorosa UTI (não sugiro a ninguém frequentar uma, por isso cuidem-se preventivamente…), onde fui escrutinado de cima a baixo, de dentro para fora e vice versa, numa rotina exasperante de quatro dias, para ao final nada descobrirem de perigo imediato. Claro, com 83 anos no costado, algumas mazelas acontecem, mas cujos prazos de validade podem ser contemporizados com bom senso e algumas mudanças de hábitos. Mas a danada da labirintite retornou, e já está sendo debelada convenientemente…
Isso posto, posso voltar a exercer, e o farei como sempre, algumas construtivas críticas ao momento do basquetebol feminino em nosso país, principalmente nessa Americup. Realmente vencemos a competição, porém com algumas ressalvas, a começar pelo nível das seleções participantes, e como algumas delas se comportaram, a começar pela norte americana, já classificada para as Olimpíadas e que se fizeram representar por uma seleção universitária, tecnicamente razoável, porém de uma inexperiência internacional gritante. As canadenses, vieram quase completas, com uma ou duas jogadoras de nível ausentes por conta de suas vinculações com a WNBA em plena competição. As demais seleções vieram completas, inclusive a brasileira, reforçada com duas excelentes jogadoras, altas, fortes e ágeis, que atuam nas competições da NCAA…
Que aliás venceram as americanas por duas vezes, no entanto não enfrentaram o Canadá, no que seria um ótimo teste entre equipes veteranas e experientes. Dificuldades mesmo somente contra as argentinas, com seu jogo baseado em bons fundamentos e um espírito de luta elogiável, perdendo a partida ao falharem numa última tentativa a dois metros da cesta, não fosse este seu fundamento mais claudicante…
A equipe brasileira venceu jogando perto da cesta, com suas pivôs imensamente superiores às adversárias, e em algumas ocasiões atuando com as duas melhores juntas, Kamilla e Damires, esta muito firme nos fundamentos, porém travada por um visível excesso de peso, limitando nela uma arma que possuía no início da carreira, a velocidade nos deslocamentos laterais de ataque e defesa, cujo padrão poderá ser adequado (tenho sérias dúvidas) a WNBA, mas nunca as competições FIBA, pelo dinamismo presente dentro e fora do perímetro em suas competições mundo afora…
Nossas armadoras e alas ainda pecam em demasia nos fundamentos, principalmente nos passes, dribles e arremessos, onde teimosamente insistem nos de longa distância em grande quantidade, quando seriam muito mais efetivas nos de curta e média distâncias, estatisticamente mais precisos, dando preferência aos passes interiores, de encontro às suas eficientes pivôs. Mesmo assim, nos momentos mais importantes das partidas, foram as pivôs o maior referencial da equipe, e não à toa foram as escolhidas para o quinteto da competição, junto a pivô canadense e as armadoras americana e porto riquenha, lembrando em muito a formação 2-3 (duas amadoras e três pivôs móveis) que tanto utilizei em 50 anos de quadra com todas as equipes que dirigi. Creio que aos poucos essa forma diferenciada de jogar vai sendo assimilada por nossos estrategistas, assim espero…
Enfim, foi um belo feito para o nosso combalido basquetebol feminino, no qual, nem mesmo a grande Paula quis, ou pode se envolver como desejaria.
Amém.
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Venho tentando acompanhar as seleções nacionais pela TV e internet, na medida do possível, já que minha paciência tem se mostrada num limite próximo à indiferença, o que me deixa triste e preocupado, não comigo, orangotango velho de muitas décadas junto ao grande jogo, mas sim com o futuro do mesmo em nosso imenso, injusto e desigual país…
Acompanhei, e até comentei, a participação da Sub 17 na Americup, e a Sub 19 no Mundial, onde fracassaram ruidosamente, falhando sistematicamente nos fundamentos básicos, principalmente nos de defesa, fator larga e copiosamente descrito e publicado em muitos e muitos artigos neste humilde blog, sem, no entanto, conseguir o mais tênue suspiro de esperança em mudanças, por menor que fossem, no intuito de fugirmos dessa mesmice endêmica que asfixia o basquetebol intuitivo e criativo de nossos jovens, pródígos nessas qualidades se bem ensinados, preparados e treinados fossem por professores e técnicos engajados em promover tais e estratégicas mudanças…
Ao contrário, se afundam cada vez mais num modelo sistêmico, no qual, o jogo aberto fora do perímetro, e a chutação de três se impõem absolutos, assim como o brutal equívoco na formação de base, onde as defesas zonais se sobressaem exatamente nas categorias mais jovens da base formativa, retirando das mesmas o pleno domínio das técnicas fundamentais de defesa, cuja deficiência nos tem sido cobrada nas categorias acima dos 16 anos, vide o que ocorreu nestas duas competições mais recentes, a Sub 16 feminina, a Sub 17 e a Sub 19 masculinas, onde algo de grande preocupação fica evidente, serem estes jovens o futuro das seleções adultas, que entrarão nas competições mais importantes com uma deficiência letal e irrecorrível, a de não saberem defender no mesmo nível de seus adversários, tornando-os inferiorizados técnica e taticamente, onde nem científicos preparos físicos os socorrerão quando a bola subir…
Agora mesmo participamos na Americup adulta feminina, com seleções secundárias das equipes mais ranqueadas, como Canadá e Estados Unidos, esta com uma seleção universitária com idade limite de 23 anos, enquanto as demais sul americanas, a mexicana e a porto riquenha, assim como a brasileira, vieram com sua força máxima. Nesse panorama, a equipe brasileira se impôs até agora sem derrota, sendo capaz até de vencer a competição, o que será visto hoje na decisão com os Estados Unidos, perdedor quando se defrontaram na classificação…
Apesar de continuarem a errar enormemente nos fundamentos, a equipe brasileira vem apresentando duas situações de jogo inéditas até essa competição, uma defesa mais agressiva e contestadora aos longos arremessos, variando bastante entre defesa individual e zona, e contando com pivôs e alas muito altas e batalhadoras, tendo ainda uma armação pelo menos mais voltadas ao jogo interior, principalmente com as boas pivôs da equipe. No jogo decisivo de hoje, essas duas qualidades estarão em evidência, onde as ações dentro do garrafão terão de ser incentivadas e realizadas à exaustão, assim como deverão ser mais comedidos os longos arremessos, pois as americanas contra atacam com mais eficiência que nossa seleção , apesar da extrema juventude das mesmas, em confronto com a enorme experiência de nossas veteranas jogadoras. Uma vitoria, quem sabe, seria um enorme alento ao basquete feminino do país, tão maltratado e esquecido…
Continuo a acreditar num soerguimento plausível do nosso basquetebol, na medida em que o mesmo reencontre o elo perdido três décadas atrás, quando “inventamos” a artilharia de fora, afrouxando a defesa externa, omitindo os fundamentos básicos na formação de base, e principalmente, nos voltarmos ao colonialismo de uma forma de jogar que somente existe em um único país, imensamente rico e historicamente conflagrado racialmente, onde se guerreiam em arenas uivantes, com regras específicas, à margem do basquetebol internacional, jogado pelos demais países deste mundo que habitamos…
Neste momento me pergunto o que nos falta, meus deuses, o que?
Amém.
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