INOCENTES AGRESSÕES…
Faltam sete segundos para o término do jogo, e o Flamengo perde para o Boca Juniors por um ponto. O técnico rubro-negro pede um tempo, que ao ser solicitado entre o primeiro e segundo lance-livre cobrado pela equipe argentina, fará com que a reposição do lateral se faça no meio da quadra, dando margem a um ataque mais elaborado e em tempo hábil a uma conclusão de dois pontos, mais segura e objetiva. Usando a prancheta que pouco se utiliza ( o que é muito bom…), o técnico Paulo Chupeta traça uma diretriz técnica baseada na jogada tradicional e quase sempre eficiente conhecida como “trenzinho”, ou seja, os jogadores postados em fila transversal à cesta, se deslocam em direções divergentes para um passe quase sempre seguro motivado pelo elemento surpresa nos deslocamentos. Em um ponto foi enfático, ao prever que toda a carga defensiva seria postada no jogador Marcelo, o mais eficiente jogador ofensivo até aquele momento. Menciona ainda que o mesmo recue em direção ao campo defensivo abrindo a defesa prevista, pois arrastaria com ele o peso do adversário, deixando seu irmão Duda mais livre para tentar uma bandeja, como bem frisou , sabendo ser necessário somente dois pontos para vencer a partida.
Todos a postos, bola não mão do jogador que a reporá em jogo, quando, inadvertidamente, num comportamento individualista o Marcelo corre em direção ao passador recebendo a bola já com dois adversários a cercá-lo no campo de ataque, deixando de lado as instruções do técnico que ordenara que ele fizesse o trajeto inverso, para abrir espaços necessários às penetrações visando tão somente os dois pontos. Como os espaços se fecharam a um passe seguro, nosso habilidosíssimo jogador progride à cesta exercendo seu frágil drible de mão esquerda, que foi o lado que seus inteligentes marcadores cederam a ele, que penetra no garrafão, já agora cercado por quatro adversários, que ao pressentirem o arremesso curto, trocado pela bandeja inexeqüível, exercem o bloqueio à meia altura abafando o movimento, não restando ao Marcelo senão o salto espalhafatoso sem o domínio da bola em suas mãos, sugerindo falta pessoal, não marcada pelos três juízes atentos àquela que seria a última jogada da partida.
Terminado o jogo, um dos juízes (por que não os três?…), é assediado pelo nosso brilhante e obediente ala-armador, ou armador-ala ( até hoje em dúvida…), que com seus dois metros de altura vocifera em sua direção pela falta inexistente não marcada. O juiz dá dois, três passos atrás, quando cercado estanca, e num movimento de liberação empurra o agressor verbal para sair daquele cerco absurdo, e que poderia se transformar em uma armadilha de desforo físico. Foi uma reação de defesa natural sob coação, mas foi o bastante para que os demais jogadores vissem sua reação como um ato agressivo, passível de desforra. Daí para diante foi uma sucessão de exemplos de como não se devem portar numa quadra desportiva, jogadores e dirigentes, que num passe de mágica responsabilizaram a arbitragem por um erro técnico-tático de seu jogador mais emblemático, que quis capitalizar para si o ônus da vitoria, e não foi humilde o suficiente (e creio que pelo peso de seus anos como luminar jamais o reconhecerá) para admitir a falha cometida.
A pincelada final foi dada pelo bom armador Fred que em seu depoimento mencionou que o culpado de tudo foi o juiz que empurrou seu colega, ação proibida, segundo ele, dizendo que “nenhum juiz pode por as mãos em um jogador”. Quer dizer que um juiz, cercado
agressivamente por jogadores, impossibilitado de se movimentar, agredido verbalmente, ameaçado fisicamente, não pode exercer seu direito humano e inalienável de sair daquela perigosa situação abrindo espaços com seus braços? Como reagiria o mesmo Fred se a situação fosse inversa?
No entanto, ninguém naquele ginásio se preocupou com a opinião do técnico Paulo Chupeta, que até agora deve estar lastimando a desobediência explícita de seu jogador, que adora discursar em seus pedidos de tempo, quanto a uma diretriz técnico-tática combinada por todos, e acredito que anteriormente treinada ( já que tanto falam em jogadas para situações especiais…), e que foi solenemente desprezada pelo astro de sua equipe, num comportamento nada incomum ao mesmo, até mesmo em seleções nacionais.
Logo mais, as quatro equipes, todas na mesma situação classificatória decidirão que sai e quem fica na competição, e espero que o manto da humildade baixe por sobre alguns jogadores tidos e havidos como os expoentes do atual basquetebol brasileiro, a fim de que evoluamos firmemente em direção ao soerguimento do grande jogo entre nós, começando pelo reconhecimento de suas falhas e limitações, e pela necessidade de mais trabalho fundamental e bom-senso coletivista.
Amém.