SEM PIVÔS
Com três de seus quatro pivôs inabilitados por diversas razões, a equipe de Franca enfrentou a de Rio Claro, pelo Campeonato Paulista,com somente um pivô, o Estevan, que logo no primeiro tempo torceu o tornozelo, atuando mancando até o final do jogo. Mesmo assim, venceu a partida muito bem, pois atuou, como vem fazendo ultimamente, com dois armadores, um outro muito habilidoso na função de ala, e um veterano, porém disposto ala, completando a equipe. E tudo isso dentro do sistema usual, empregue por todas as equipes brasileiras. O diferencial foi, como vem sendo, a qualidade nos fundamentos de seus jogadores. Com um jogo veloz, controlado e eficiente, mesmo sem praticamente um pivô, envolveu o adversário com tal facilidade, pelo simples fato de serem superiores no manejo dos passes, do drible, das fintas, e consequentemente nos arremessos, já que, pela movimentação de toda a equipe, sobravam espaços para lançamentos livres, e consequentemente, equilibrados, sem contar os fulminantes contra-ataques originados pela grande velocidade imposta ao jogo. Foi uma vitória da técnica individual, mesmo manietada por um sistema caduco e inócuo.
As últimas atuações da equipe francana, deixa transparecer o grande e trágico equívoco em que se encontra o basquete brasileiro, a meio caminho de uma total reformulação técnico-tática, freada pela adoção maciça de um sistema único de jogo, que só nos trouxe atraso e derrotas no plano internacional, mesmo com a desculpa de que no plano nacional era o que bastava. E ironicamente, o técnico que mais se beneficiou no plano interno, com suas continuadas e repetidas vitórias, pela repetição ad eternum do tal sistema, apelidado pelo mesmo como “o moderno basquete internacional”, utilizado inclusive nas seleções nacionais que dirigiu, é o mesmo que, premido por uma tentativa de mudança, ou mesmo, convencido de que a mesma deva ser tentada, se dispõe à novos rumos, inclusive em seu comportamento no banco.Tem sido uma mudança claramente para melhor, e oxalá permaneça como atitude permanente e muito bem vinda.
Por outro lado, técnicos da nova geração se mantêm radicalmente à favor do sistema único, perdendo todos uma grande oportunidade de evoluírem e de fazer evoluir o basquete num todo, salto este iniciado e mantido pela equipe de Franca. Não se trata de adotarem um novo, e único sistema, e sim tentarem fugir da fatal armadilha da mesmice instituída, que é a panacéia dos preguiçosos e curtos de idéias, mas sempre prontos a usufruírem das “vantagens” de um sistema pronto, acabado e devidamente testado no plano de consumo interno, o que para a maioria deles é o suficiente e seguro para enfrentarem as toscas exigências de um mercado restrito e fechado. Se tem dado certo, para que mudar? Mudanças exigem investimentos em estudo, em pesquisas, e denotam um tempo que não admitem perder. Time is money, é a lei a ser seguida e obedecida, mesmo que os resultados nos afastem cada vez mais do cenário internacional.
E é nesse ano crucial que disputaremos, mais uma vez, a chance de uma competição olímpica, em torneios que nos classificarão, ou não, numa triste repetição de tentativas anteriores. Urge que mudemos nossa maneira de jogar, de pensar e de agir de conformidade com a verdadeira vocação de nossos jogadores, o jogo rápido, técnico e instintivo, características intrínsecas de nosso povo. Não acredito, honestamente, que alcancemos os resultados tão ardentemente desejados, mas, temos a obrigação de tentar mudanças arejantes, para num futuro à médio prazo termos reais chances de classificação olímpica. Até lá, muito trabalho pela frente, muito estudo e pesquisa, e acima de tudo, muita vontade de realmente mudar, para melhor.