UM EMAIL ESCLARECEDOR…
Assunto | Professor Paulo |
Remetente | Henrique Lima |
Para | Paulo Murilo |
Data | Ter 09:09 |
Professor Paulo Murilo, como está?
Primeiramente, um feliz natal e feliz 2012, de muita paz, saúde, basquetebol e textos. E da minha parte, obrigado por tantos ensinamentos, ainda que à distância,
mas com a proximidade que a internet pode nos proporcionar. Embora alguns reclamem da modernidade, acredito que é melhor poder ler seus textos pela internet,
essa ferramenta excepcional, do que nunca ter tido a oportunidade de lê-los, caso isso não existisse !
Agora, o senhor viu Chris Paul e Chauncey Billups juntos na armação do Los Angeles Clippers? Dois armadores fantásticos, da melhor qualidade, jogando juntos.
No garrafão, dois laterais, o fabuloso Blake Griffin e o excelente Caron Butler, apenas um pivô, embora cru nos fundamentos (o que é uma pena), mas com
muita velocidade, agilidade e qualidade no saltos e tempo de bola para tocos, além de pegar alguns rebotes, De Andre Jordan. Mo Williams, outro veterano armador, é o
sexto homem. O Clippers montou um belo e organizado time. Caso o senhor não tenha visto, lhe recomendo.
O Dallas jogando com Kidd e Barea, parece que não passou despercebido por aquelas bandas, já por aqui, poucos esforços, talvez por isso eu tenha gostado de Minas
e Limeira, é algo fora do nosso padrão e que o senhor batalha tanto para ser pensando, refletido e praticado.
Um forte abraço,
Henrique Lima
Ao receber esse email de um leitor de longa data, com o qual travei (e ainda travo) excelentes debates, me vi perante um impasse do tipo – “Que bom que ele existe”- pois nos obriga a optar por um de dois caminhos, ou se desiste de batalhar por um ideal, ou segue-se na luta, mesmo que dificilmente (não impossível…) o alcancemos. E que ideal é esse, caro Paulo? O de ver, testemunhar uma efetiva e séria mudança no nosso modo de jogar, sentir, ver e ler o jogo de outra forma, que não a mesmice endêmica a que nos atrelamos subservilmente nas últimas duas décadas. E esse email nos obriga a lembrar que a luta mal começou, e que muito ainda há por vir, principalmente quanto à dupla armação (dupla mesmo, e não um reparo substituindo um dos alas por um armador dentro do sistema único…), e um jogo mais dinâmico e veloz dentro do perímetro, com dois e até três pivôs móveis (ou alas-pivôs se preferirem), modificando a essência do jogo, numa guinada radical e ousada no mundo formatado e padronizado do basquetebol.
Essa guinada se torna necessária, na medida em que celeremente o sistema único se aproxima da exaustão, pelo quase absoluto controle do jogo por parte dos técnicos, com suas coreografias repetitivas, e suas pranchetas absurdamente impostas como um dogma sagrado. A criatividade, o livre pensar e ler o jogo por parte dos jogadores tem de ser resgatado dessas coercitivas amarras, a fim de que seja recriado o maior dos tesouros deste grande jogo, o amor incondicional em jogá-lo, desde a formação até as divisões adultas.
Mas como fazê-lo Paulo, pois simplesmente copiar o que vai dando certo não garante o sucesso de uma equipe, já que determinantes e decisivas transformações exigem toda uma didática de ensino, profundamente alicerçada em estudo, pesquisa e trabalho árduo, ações essas que não encontram muitos adeptos entre os estrategistas de plantão.
Isso me recorda o testemunho de um veterano técnico que disse algo referente a minha obsessão de estudar sistemas de jogo – “Por que vou quebrar minha cabeça com isso se você já o faz? Basta ver o que dá certo e copiar…”.
Essa é uma realidade que se repete ad perpetuam em nosso basquete, e não só o nosso, como no de muitos países, até mesmo aqueles considerados de ponta, aonde a concentração de talentos de 1 a 5, contratados a peso de ouro, vem garantindo a perpetuação dos tais estrategistas, para os quais ensinar algo a um deles, mesmo um movimento fundamental, sequer é cogitado, e por um único aspecto, não sabem como fazê-lo, ficando a espera de quem o faça, para oportuna e simplesmente…copiar.
Por tudo isso, nunca a necessidade de evoluir tenha alcançado o patamar da sobrevivência a que chegamos, onde o investimento transcendental tem de ser concentrado na formação de base, através a somatória de esforços daqueles que realmente concentram o conhecimento do grande jogo, na contramão dos simplificadores estratégicos que teimam em formatá-lo e padronizá-lo à mesmice endêmica em que o aprisionaram. Trata-se, repito, de sobrevivência do grande jogo entre nós.
No próximo dia 27 poderemos ver ao vivo o quadrangular final do torneio da LDB para a divisão sub 21, até agora acompanhado por estatísticas, nas quais o índice de erros de fundamentos chegam a assustar pelos seus elevados e injustificáveis números, assim como também poderemos testemunhar a existência, ou não, de algo técnico tático inovador, ofensiva e defensivamente falando, já que se trata da geração sucessora da que ai está competindo no NBB.
Lá estarei torcendo contritamente para que algo de novo e de bom esteja nascendo no âmago do grande jogo.
Desejo a todos os professores, técnicos, jogadores, diretores, jornalistas, ou simples e apaixonados torcedores que lêem e prestigiam esse humilde blog, um Feliz Natal, e um Ano Novo de conquistas e pródigo em saúde e muita paz.
Amém.