2011…PARA ONDE CAMINHAMOS?

Foi um fim de ano com muito trabalho, e como todo professor que se preza, uma tonelada de papéis, relatórios, recortes de jornais e revistas, emails impressos, tiveram o destino anual do descarte, necessário pela enorme quantidade, mesmo tendo a maioria deles guardados em memórias e HD’s. Terminei a faxina ontem a tarde, no momento em que liguei a TV para o jogo do Pinheiros contra Limeira pela final paulista, e antes não o tivesse feito, pois assisti à cores e em som estéreo  a uma das cenas mais degradantes que testemunhei nesses longos anos em que milito e vivencio o grande jogo.

Lá pelo segundo quarto de um jogo horripilante, onde a artilharia dos três pontos tirou do sério até o pacato comentarista da ESPN, o técnico da casa pede um tempo, e ao se preparar para as instruções é violentamente interrompido pelo jogador americano, que toda a imprensa sonha ver atuar pela seleção brasileira, que aos berros em seu claudicante português espinafra a todos, exigindo raça, atitude, até o momento em que o técnico se intromete e leva pela testa um “deixa eu falar” tonitruante e constrangedor, que o deixa desarmado, até que, também aos berros e não menos inúmeros e reprováveis palavrões televisivos, faz o insurgente jogador se calar até o final do quarto, quando ao ser entrevistado tece comentários de cunho e responsabilidade exclusiva do técnico, e não sua.

Recomeça o jogo com o malcriado jogador no banco ( fosse comigo já teria trocado de roupa à muito…) e a equipe indo mal na quadra, mesmo continuando a apostar na chuvarada de arremessos de três, assim como seu adversário, totalizando 63 tentativas contra 67 de dois pontos de ambas, numa tendência que vem se instalando em nosso basquete de quase se igualarem em números os arremessos de três e os de dois, numa prova inconteste de que o individualismo exacerbado  ameaça de morte o coletivismo, que ainda define a estrutura técnico tática de uma equipe, sem contarmos com o altíssimo número de bolas perdidas por falhas nos fundamentos, que nesse jogo chegou a 25. E para sermos mais claros, das 29 bolas de três arremessadas pelo Pinheiros, somente 5 foram convertidas, contra 14 das 36 arremessadas por Limeira, ou seja um tremendo “chega e chuta”, definição do próprio comentarista da ESPN.

Um pouco mais adiante, um novo tempo pedido pelo técnico da casa, que num tom suplicante pede mais luta, união, ajuda, e de pronto faz voltar o americano, que por três sucessivas vezes arremessa de longe, sem sucesso, e numa dessas tentativas nem o aro alcançou. Daí par o insucesso final foi só uma questão de tempo.

Lamentável episódio, um tanto mais comprometido com a defesa do americano feita pelo pacato comentarista, tentando justificar uma tremenda falha disciplinar como tendo sido uma “balançada na equipe” e nada mais. Fico pensando se sob o comando de um Togo Renan, o grande jogador que foi teria feito o mesmo em plena quadra de jogo. Creio que não, e o próprio Kanela jamais o permitiria.

Numa análise derradeira, que sistemas de jogo podem ser desenvolvidos quando duas equipes finalistas do propalado e incensado campeonato paulista  arremessam 63 bolas de três pontos, ou sejam, 189 possíveis? E como falar em defesas perante tanta permisividade?

Desliguei a TV e dei uma passada pelos blogs, e o que vejo?  Técnico de seleção ser indicação de um diretor de marketing, vindo do vôlei, e que se  acha capacitado na área técnica de uma modalidade que não a sua?  Inacreditável!

Curso de capacitação de técnicos no nível I com a duração presencial de 4 dias promovido por uma ENTB coordenada por um preparador físico? Um absurdo!

Um excelente técnico argentino “descobrindo” para nós que a formação de base é o cerne do grande jogo, e que temos de deixar o estilo NBA de jogar para trás?  E o que temos feito e alertado nos últimos 20 anos de descalabro e 6 de Basquete Brasil?

Que por mais uma vez a LNB distribui uma planilha para a formação das seleções que se enfrentarão no Jogo das Estrelas, seguindo as posições de 1 a 5, que é exatamente o modelo criticado pelo Magnano em suas entrevistas, comprovando a padronização e formatação do nosso basquete àquele modelo? Me divirto imaginando a dificuldade de colocação dos jogadores com as minhas indicações baseadas na formação de 2 armadores e 3 alas pivôs, numa solitária posição de negação à mesmice endêmica que nos domina e constrange.

Finalmente me deparo com escolhas dos melhores de 2010, em todas as áreas e funções do basquetebol, e não vejo uma linha sequer, mesmo que ínfima, sobre a pequena revolução técnico tática estabelecida pela equipe do Saldanha da Gama no NBB2, se antepondo à mesmice acima mencionada, fator fundamental a uma reviravolta em nossa maneira de jogar e atuar, comprovando ser isso possível e exeqüível, bastando para tanto uma boa dose de coragem e ousadia, além é claro, de conhecimento e experiência, elementos que seriam impossíveis de adquirir em cursos de formação e habilitação de 4 dias.

Terminei o dia, neste limiar de um novo ano, mais uma vez descrente de que tenhamos a força necessária  para alavancar o soerguimento do grande jogo entre nós, se contarmos somente com os quadros cebebianos, continuísta e corrompido politicamente, onde a função técnica sempre dará passagem ao apadrinhamento e à troca de favores, a não ser aquela tênue réstia de esperança que poderá ser deflagrada pela classe que conhece e domina o jogo, e por isso mesma afastada das grandes decisões, os técnicos brasileiros, que ainda teimam em se esconder no anonimato de suas manifestações pela mídia virtual, alimentando e perpetuando com esse comportamento as felpudas e profissionais raposas que infestam a modalidade que tanto amamos.

Peço aos deuses que nos protejam nesse 2011, fervorosamente.

Amém.

ENGANAR E ADORAR SER ENGANADO…

9/12/2010
CURSOS DA ENTB COMEÇAM EM JANEIRO
Rio de Janeiro — A cidade do Rio de Janeiro vai receber o primeiro curso de 2011 da Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol (ENTB). O curso de formação de treinadores de basquetebol nível I será realizado de 12 a 15 de janeiro, no Clube Botafogo de Futebol e Regatas (Av. Venceslau Brás, nº72 – Botafogo). As inscrições poderão ser feitas no site da Confederação Brasileira de Basketball (www.cbb.com.br) a partir de segunda-feira (dia 13).
O curso de formação Nível I é destinado a todos os profissionais de educação física e que trabalham com basquete, e foi dividido em dois módulos: presencial (32 horas/aula) e à distância (28 horas/aula). Os inscritos serão submetidos a três avaliações. Uma após o módulo presencial, outra durante o módulo à distância e uma avaliação prática seis meses após o módulo presencial. Nos meses de janeiro e fevereiro, a ENTB promoverá mais dois cursos Nível I, nas cidades de São Paulo e Recife.
Os treinadores que estiverem de acordo com o sistema CONFEF/CREF e que forem aprovados no curso de Formação Nível I com média sete ou superior (somatória das três avaliações) receberão o certificado e a carteira definitiva “Nível I”. Os demais receberão o “Certificado de Participação”.
CORPO DOCENTE NÍVEL I
Aluísio Elias Xavier Ferreira (Lula)
André Germano
Dante De Rose Jr.
Diego Jeleilate
Flávio Davis Furtado
Hermes Ferreira Balbino
José Alves dos Santos Neto
Maria do Carmo Mardegan Ferreira (Macau)
Paulo Roberto Bassul
Roberto Rodrigues Paes
Sérgio Maroneze
Tácito Pinto Filho
CADASTRO NACIONAL DE TREINADORES DE BASQUETEBOL
O cadastro Nacional de Treinadores de Basquetebol continua recebendo inscrições. Os objetivos são mapear e quantificar os profissionais do basquetebol no Brasil, além de ser uma importante ferramenta de informação e comunicação entre os profissionais da modalidade. Os técnicos devem se cadastrar no link: CADASTRO.
Em 1963, logo após minha licenciatura em Educação Física pela ENEFD/UFRJ, fiz o Curso de Técnica Desportiva, em Basquetebol, na mesma instituição, com a duração de 360 horas, em dois semestres de atividades teóricas e práticas, paralelamente a atividades em escolas e clubes, na mesma modalidade, numa somatória de estudos e praticidade que marcaram minha formação.

Em 1983 fui o responsável por curso correlato no IEF/UERJ, naquele que foi o último curso de formação de técnicos no Rio de Janeiro dentro de uma instituição formadora de professores em Educação Física.

Foram cursos completos, com disciplinas voltadas a formação de um técnico de basquetebol, onde a Psicologia Desportiva, a Cinesiologia, a Fisiologia e a Organização e Administração complementavam os aspectos teóricos e práticos do grande jogo.

Daí para frente, com a pulverização dos cursos de educação Física na área do humanismo, e conseqüente ida dos mesmos para a área biomédica, toda uma estrutura de formação de técnicos foi transformada em apoio paramédico aos novos comandantes das atividades físicas no país, os médicos, com sua cultura voltada ao corpo e a saúde, hoje um dos grandes negócios do país, movimentando acima de 12 bilhões de reais anualmente, segundo o Atlas da Educação Física e Desportos, do Comte. Lamartine Costa, e tendo o apoio logístico e político do Sistema Confef/Cref,  avalista e garantidor do grande negócio em que transformaram o desporto e as atividades físicas no país, claro, fora das escolas, garantindo uma clientela utente de seus serviços quando na idade adulta, o que seria seriamente prejudicado se tais princípios educativos, esportivos e salutares fossem adquiridos através os currículos escolares, que é um direito cidadão amparado e previsto pela constituição do país, mas sócio politicamente vetado aos jovens brasileiros.

Agora, assistiremos o segundo capítulo de uma ENTB voltado ao Nível 1, meses após ter sido dada a partida da mesma através um curso formativo de Nível 3, onde num prazo de 4 dias dizem e afirmam solenemente terem preparado técnicos para a elite do basquete nacional, e ao módico custo de 800 reais, onde atividades de quadra foram inexpressivas, e até palestras sobre direito esportivo foram feitas, num currículo confuso e equivocado.

E o mais sério, se percorrermos o corpo docente para esse nível (pressupondo existirem outros para os demais níveis…), e o colocarmos frente ao numero de horas aulas previstas para o curso, 32 presenciais nos 4 dias iniciais, e 28 à distância, com uma avaliação prática seis meses após o modulo presencial, podemos concluir que se dividirmos essas horas por 12 professores, teremos 5 horas para cada um ( não sei se suportaria tal carga de trabalho…), se todos derem suas aulas. Mas se os dividirmos pelos demais dois cursos que serão realizados em São Paulo e Recife, teremos 15 horas para cada um, numero esse rigorosamente insuficiente para percorrerem, por exemplo, três fundamentos básicos, como passes, dribles e arremessos, para começar.

Mas como tudo pode ser possível nesse país de vivaldinos (?), veremos e comprovaremos brevemente que- “Os treinadores que estiverem de acordo com o sistema CONFEF/CREF e que forem aprovados no curso de Nível I com a média sete ou superior (somatória das três avaliações) receberão o certificado e a carteira  definitiva “Nível I”. Os demais receberão  o “Certificado de Participação”. ( Diretriz constante do regulamento da ENTB), fato este que oficializará a festa dos provisionados, a grande massa critica do famigerado sistema.

Podemos então agora perceber com clareza, os porquês de muitos dos grandes professores e formadores de jogadores estarem fora da ENTB, pois jamais admitiriam que tal escola funcionasse de forma tão primitiva e rudimentar, ainda mais quando a mesma foi, é, e continuará a ser coordenada em sua formatação e padronização (?)  por um preparador físico, e não um professor e técnico de basquetebol, numa inversão de valores comprometedora e constrangedora àqueles que aceitaram e aceitam tal liderança, e mais, sendo todos seus integrantes ligados desde sempre à CBB, numa flagrante marginalização dos demais e competentes professores e técnicos espalhados e trabalhando em todo o país.

E se observarmos bem o logotipo da ENTB, concluiremos ser o mesmo o retrato autêntico e fiel de sua missão baseada na padronização de um sistema falido e mal intencionado, a começar pela prancheta lá eternizada, com seus garranchos ininteligíveis, ali bem demonstrados em vermelho, onde setas apontam para lugar nenhum, numa alegoria de seu equivocado direcionamento.

Mas fico profundamente curioso para testemunhar mais uma conquista brasileira para o mundo, a de, por mais uma vez, formar técnicos do grande jogo em 4 dias presenciais, façanha esta que bem demonstra nossa capacitação única de enganar, e adorar ser enganado, na medida que um certificado aconteça.

Peço aos já cansados e desiludidos deuses que nos ajudem, uma vezinha mais…

Amém.

OUSAR PARA VIVER…

Foram 271 arremessos de três nessa rodada, e uma equipe, a de Joinville conseguiu a façanha de arremessar mais de três do que de dois (14/38, 18/34) em seu jogo contra o Pinheiros, num total de 62 tentativas de longa, e agora ampliada, distância.

Em tempo algum o sistema único de jogo, com seus especialistas nas posições de 1 a 5, atingiu tal culminância da alcançada nesse NBB3, onde, inclusive, pivôs  retornam gloriosamente aos arremessos de três, situando-se num perímetro onde a captação de rebotes é nula, função básica de um reboteiro de ofício.

E com a maior abrangência de espaços, decorrentes do aumento na distância da linha de três, os embates de 1 x 1 se tornaram mais freqüentes, nos quais a pouca habilidade nos dribles e fintas, somada à inabilidade defensiva da maioria dos jogadores, culminam numa sucessão de erros de fundamentos altamente preocupante numa divisão de elite, agravada quando defesas zonais são empregadas, desencadeando uma hemorragia de arremessos de três, solução que dispensa(?) maiores envolvimentos com chatíssimos dribles e fintas.

E por sobre tal cenário, nosso técnico nacional percorre o país desenvolvendo um projeto de seleção permanente para jovens de 15 a 18 anos, cujo referencial básico é fazê-los jogar de forma parecida com a divisão adulta e seu sistema único de jogo, codificado, marcado e coreografado, cujo grau de previsibilidade é de conhecimento até de técnicos chechenos e esquimós.

Combater essa previsibilidade técnico tática teria de ser a prioridade das prioridades, onde um ensino qualificado dos fundamentos, em todas as suas minúcias e variações, se constituiria no projeto a ser atingido numa preparação séria e responsável, além de uma segunda etapa, a busca de sistemas diferenciados de jogo, que explorassem todas as potencialidades naturais de nossos jovens, e que se constituíssem numa fonte inesgotável de criatividade e leitura permanente de jogo, habilidades estas hoje obliteradas pelo monitoramento das ações, de fora para dentro da quadra de jogo.

Acredito firmemente que somente um grande esforço voltado ao eficiente e responsável ensino dos fundamentos individuais e coletivos em nossas divisões de base, nos tiraria dessa repetição do óbvio, dessa mesmice técnico tática, desse limbo em que nos encontramos.

Mas para tanto, torna-se urgente e necessário uma reformulação de clinicas e atualizações, nas quais se perdem recursos e precioso tempo em discussões inócuas, proferidas por pessoal não qualificado na função de ensinar a ensinar a base do grande jogo, seus fundamentos, mais preocupados com preparação física, testes inconseqüentes, padronizações e formatações de caráter coercitivo e altamente limitadoras.

Essa deveria ser a função precípua da ENTB, e que por si só já renderia estudos e pesquisas, se bem planejadas na pratica. Formar um pequeno exército de professores habilitados no ensino correto dos fundamentos, precederia toda e qualquer tentativa de se implantar sistemas de jogo antes de alcançadas as metas projetadas para os mesmos, sem os quais sistemas inexistem em precisão e confiabilidade.

Mas como abandonar as pranchetas, o sistema único, a confraria que os utilizam, e por isso mesmo se tornam fonte de emprego e aparente fonte de segurança e continuísmo, em prol de uma atividade que exige muito estudo, pesquisa e trabalho, muito trabalho, e acima de tudo quase sempre mal pago?

Isso me lembra um técnico que justificava seu posicionamento de não estudar, com uma pérola de raciocínio – Porque perder meu precioso tempo estudando, se existem malucos como você que estudam e pesquisam? Vejo o que dá certo com você e simplesmente o aplico, sem sacrifícios e inúteis renúncias.

Creio que é chegada a hora de decidirmos o que queremos para o soerguimento do nosso basquete, e um primeiro passo foi tentado por mim no Saldanha da Gama, onde baseei todo o trabalho nos fundamentos e num sistema diferenciado de jogo, provando ser factível que adultos se exercitem nos fundamentos, com melhoras e aprimoramento técnico visível. Por que não nossos jovens? Mas Paulo, você ficou fora do NBB3 por conta dessa tentativa, não?  Sim, numa prova cabal de resistência de um status quo solidificado, mas que pode, e deve ser rompido, se quisermos sair dessa mesmice, desse deserto de idéias e ausência de criatividade.

Ousar é sinônimo de vida, de progresso. Ousemos então.

Amém.

ALICERCES DE BARRO…

PROGRAMAÇÃO DA 86ª CLÍNICA TÉCNICA E PREPARAÇÃO FÍSICA

— Quarta-feira (1º de dezembro) – 19h00 às 21h00 – Aula teórica com Diego Falcão

. Periodização da base – alto nível
. Princípio geral do treinamento
. Característica física do basquete
. Periodização e controle do treino
. Jogos pré-desportivos

— Quinta-feira (02 de dezembro) – 15h00 às 18h00 – Aula prática com Diego Falcão

. Treinamento combinado: coordenação/fundamento
. Abordagens das capacidades físicas no basquete
. Treino de força
. Voluma e intensidade: treino de físico e suas variáveis

— Sexta-feira (03 de dezembro) – 15h00 às 18h00 – Aula teórica com André Germano

. Princípio de continuidade e planejamento plurianual
. Filosofia e metodologia de trabalho
. Especialização precoce
. Conteúdos de treinamento

— Sábado (04 de dezembro) – 09h00 às 12h00 – Aula prática com André Germano

. Treinamento técnico-tático e técnico-físico: exercícios combinados
. Conceitos de jogo ofensivo
. Treinamento: Tático
. Defesa: individual/zona match up

Esta a programação da Clinica na cidade de Maceió, em sua octogésima sexta versão, visando a padronização e formatação dos jovens técnicos brasileiros, numa ação em conformidade com a ENTB e seus princípios didático pedagógicos.

Observemos que os dois primeiros dias são de responsabilidade de um preparador físico, não um técnico experiente na função formativa, mas lá está o nobre colega(?) discorrendo seus conhecimentos sobre as etapas da base ao alto nível, dos princípios gerais do treinamento, do controle do treino, até de jogos pré desportivos, reservando somente um tópico de sua especialização sobre características físicas do basquete, transpondo em muito suas atribuições técnicas, e tudo isso em abordagens teóricas, pois nas praticas, no dia seguinte é que entra com vontade numa área em que não tem competência de se meter, mas lá está, laborando a tarefa de ensinar a ensinar o que não sabe e domina, mesmo.

O técnico de formação somente se manifesta nos terceiro e quarto dias, quando comunicações teóricas e práticas se orientam às padronizações e formatações técnico táticas que tanto combato, e que nos escraviza ao sistema único de jogo (seguramente o único que conheça, daí seus fervor em defendê-lo a todo custo…e miseráveis resultados), que é compartilhado por todos que compõem as famigeradas clínicas.

São onze horas de intervenções pseudamente técnicas em quatro dias de trabalho, jornada esta que eu dava em clinicas praticamente num único dia, que em quatro perfaziam oito horas diárias, num total de trinta e duas, e não onze, como nestas enganosas clinicas da CBB. Ah, com um detalhe de somenos importância para essa turma, reservava 70% do tempo para os fundamentos, a verdadeira meta a ser alcançada numa clínica de iniciação ao grande jogo.

Analisem bem os tópicos teóricos e práticos que compõem a grade curricular, e encontrarão a resposta dos porquês estamos nessa realidade indigente na qualidade fundamental de nossos jovens jogadores (as).

Mas algo de novo bate com precisão em todo esse processo de sedimentação do sistema único, numa reportagem do Globoesporte.globo.com em 04/12/2010, com o técnico Ruben Magnano, que percorre o país em busca de jovens talentos, para constituir uma seleção permanente de 15-18 anos, visando 2016, e que lá no penúltimo parágrafo discorre:

– “A estrutura deve ser maior para que mais meninos joguem basquete. A criação da Escola Nacional de Treinadores também foi um passo importante para que depois possam ser exigidos os resultados. A idéia é que as seleções de base joguem de forma parecida com a principal, respeitando a idade. Precisamos entender que um jogador de 30 anos está num estágio diferente de um de 16. Raulzinho (armador de 18 anos que foi ao Mundial da Turquia) foi em boa hora para a seleção. Esse trabalho aponta que temos meninos para o futuro”.

Ai está, os meninos devem jogar taticamente como os adultos, sedimentando o sistema único, e o trágico, até 2016!

Claro, que determinados fundamentos serão escalonados pelas exigências (?) das posições de 1 a 5, e não TODOS os fundamentos, como deveria ser, ainda mais numa preparação onde o domínio tático é prioritário, e não os fundamentos.

“Na América não conheço um projeto assim. Na Argentina, acompanhei o que foi feito de perto e não houve um tão estável, ficando o tempo todo concentrado no trabalho, disse o Magnano”.

Mas porque  na Argentina foi diferente? Ao desembarcar em Ezeiza com o título olímpico em mãos, a primeira manifestação do Magnano foi o agradecimento aos técnicos de formação de base que propiciaram a ele comandar a grande geração advinda do grande e perseverante trabalho daqueles técnicos dedicados e patriotas, sem os quais nada teria sido alcançado, trabalho aquele centrado prioritariamente nos fundamentos, seguindo a escola espanhola, irmã e ancestral.

E aqui em nosso continental país, quem são esses técnicos, como são ou serão acionados, como serão lembrados e formados, como?

Pela ENTB que se iniciou “formando” técnicos da elite em quatro dias?  Pelas clinicas cebebianas cujo conteúdo programático ai em cima expõe uma realidade injustificável?

O continuísmo administrativo na CBB gerou o continuísmo técnico tático impingido às nossas seleções desde a base, num moto contínuo inamovível ainda por um longo tempo, suficiente para nos levar ainda mais ladeira abaixo, pois capitania hereditária de uns poucos e apaniguados que se julgam detentores do conhecimento do grande jogo entre nós, e poderosos o suficiente para afastar quem ouse se antepor a seus princípios e domínios.

Que os deuses, em sua infinita paciência, nos ajudem.

Amém.

PROFESSOR, UMA LEMBRANÇA…

“Senhores presentes nesta reunião, creio que todos foram agraciados com as verbas necessárias para tocarmos o grande projeto Rio 2016, e mais virão, na medida em que os prazos se tornarem exíguos, dispensando essas futilidades denominadas, concorrências. Afinal de contas, é o prestígio do nome Brasil que está em jogo, ou não?

Vejamos em linhas gerais o que conquistamos, técnica e politicamente, e que apesar de vultoso, ainda pode ser bem mais lucrativo. Novos hotéis, estradas, pontes e viadutos, saneamento, transporte, moderno, confortável, rápido, novos estádios e ginásios, piscinas, pistas e alojamentos, verbas para assessorias nacionais e internacionais, alimentação em grande escala, hospitais, novos aeroportos, rodoviárias, ferrovias e portos, publicidade, segurança ostensiva, benfeitorias, serviços de apoio, e as verbas emergenciais.

E tudo em nossas mãos, patriarcal e hierarquicamente distribuído, onde os vínculos do interesse globalizado tem de ser respeitado, onde nem mesmo impostos podem ser cobrados pelo estado brasileiro. É a nossa independência econômica e financeira, arduamente conquistada, e com data marcada será irrecorrível e definitiva.

E agora, como estamos todos de acordo, podemos dar por encerrada essa histórica reunião.”

– Sr. Presidente, por causa da euforia causada por tão esperadas noticias, esquecemos dois pontos da pauta, e gostaria que pudéssemos enunciá-los, seria possível?

“ Pois não, do que se tratam?”

– Projetos e planejamentos para a formação dos atletas, afinal de contas serão eles que disputarão os jogos…

“Prezado confrade, esse é um pormenor que terminado os jogos rapidamente cairá no esquecimento. Um ou outro jornalistazinho ainda teimará em abordagens inócuas, e como disse antes, rapidamente esquecidas. Temos de dar graças a esse salutar habito brasileiro de não valorizar memórias passadas. Por acaso você pensou no montante de verbas que teríamos de abdicar para que fossem empregues em escolas, em clubes, em parques, para que se perdessem em atividades que não geram os lucros de que necessitamos? Por que abrir mão do agora, do nosso, para investir no futuro de outros? Já imaginou tal insensatez?”

– Mas se trata de uma herança a ser deixada para a educação de nossos jovens, das gerações futuras, da plena utilização dos espaços pela população como um todo, pela…

“ Paremos por ai, caro confrade, ou ex confrade a continuar enunciando tantas besteiras. Educar um povo, para que ele, assim “educado e culto”, nos derrube num futuro próximo, é inconcebível! Deixemos como está, e nos locupletemos o mais que pudermos, ou não temos famílias e amigos para sustentar?”

-Mas, desculpe, faltou um último, sei que insignificante item, o que representa a coletividade responsável pela formação destes atletas, futuros cidadãos, os técnicos, os professores…

“QUEM?? Não ouse…”

Homenageio a todos os técnicos e professores desportivos, do ensino formal, técnico, cientifico e artístico desse nosso enorme e infeliz país em seu dia, apesar do criminoso esquecimento de que são vitimas por amarem sua função acima das vicissitudes e dos injustos sacrifícios.

Nosso país ainda reconhecerá, um dia, sua tarefa única, estratégica e patriótica, ajudando-os a estudar mais, a se aprimorarem, remunerando-os com justiça, para ai sim, se tornar digno de um futuro melhor, e quem sabe, mais digno ainda de uma Olimpíada. Um abração a todos.

Amém.

MUNDIAL-PRIMEIRO DIA:OS FUNDAMENTOS…

Desativo o som da transmissão televisiva a fim de não sentir o desprazer de ouvir tantas imprecisões sobre o que de real interesse a equipe americana apresentava na quadra.

Glorificar ao êxtase enterradas, bloqueios e arremessos de três, dando continuidade ao que reputam serem tais aspectos a essência do jogo, induzindo os jovens telespectadores (claro, aqueles cujo poder econômico os tornam espectadores de um espetáculo via cabo…) a errônea idéia de que “aquilo” que está sendo glorificado é o exemplo a ser seguido, imitado, buscado e praticado, numa ótica absurda e irresponsável.

Técnicas apuradíssimas de drible, fintas, passes, mudanças de ritmo e de direção, posicionamento defensivo irretocável, leitura antecipativa, na defesa e, principalmente no ataque, posicionamento nos rebotes, corta-luzes, cruzamentos, contra-ataques, arremessos DPJ, paradas bruscas, e acima de tudo, todo esse arsenal de habilidades executado numa velocidade assombrosa.

Trocando em miúdos, uma exibição do mais alto nível de fundamentos do jogo, sua marca indelével desde as categorias de base, aprimorada no dia a dia em seus treinamentos, já que ferramenta indissociável para a pratica do grande jogo.

Armadores, alas e pivôs, irmanados ao principio básico do jogo, esteio de qualquer sistema que empreguem, ou mesmo, sem utilizarem sistema algum, pois uma equipe mestra nos fundamentos sempre estará apta a enfrentar qualquer outra que se baseie unicamente em táticas e sistemas, porém com fundamentos de menor qualidade.

Foi o que vimos no jogo de hoje, onde podemos acrescentar mais dois aspectos pouco ou nada relatados por nossos narradores, analistas, jornalistas e um mar de comentaristas nos blogs da modalidade, a defesa dos pivôs à frente, e o entra e sai ofensivo destes mesmos marcadores quando no ataque, jogando de frente para a cesta, raramente de costas, ações estas somente possíveis a jogadores de alta estatura cujo potencial genético é preservado quanto à velocidade e elasticidade, na contra mão dos autênticos mamutes que muitos defendem por aqui, e que já se assanham nas exigências de mais 20-5kg de lastro ao jovem Lucas, que se “modificado” neste patamar, perderá sua maior qualidade, a velocidade, e arriscando-se a futuros rompimentos de tendões e articulações, como o inditoso Delfin.

Mike Krzyzewski, que apesar da exibição acintosa e vaidosa de dois anéis de campeão NCAA, um em cada mão, copiando (infelizmente) seu colega Rick Pitino, demonstra sua fidelidade ao princípio estrutural do basquete americano, elevando aos píncaros a importância dos fundamentos acima dos sistemas, fator que pode ser razoavelmente contestado por equipes com igual ou aproximado poder fundamental, que se somado a um eficiente sistema de jogo, principalmente valorizando ações interiores, poderá colocar tão cabal superioridade em risco considerável.

Mesmo assim, o simples fato da equipe americana ter posto de lado o sistema único de jogo, advindo da NBA, imitado por todas as equipes que até agora tiveram seus jogos transmitidos ( e acredito mesmo que todas o utilizarão), por si só conota uma verdadeira revolução, fator sempre bem vindo ao progresso do basquetebol.

Pena que nossa seleção se mantenha fiel ao mesmo, que claudique seriamente nos fundamentos, e que permaneça escrava de uma administração continuísta e política, onde a meritocracia não encontra a mínima acolhida, esmagada desde sempre pela mais deslavada e medíocre mesmice, que foi o que vimos hoje contra a fraquíssima equipe do Iran.

Os três magníficos pivôs nunca estiveram em plena forma, onde um já se foi, um outro só joga daqui a duas partidas(?), e o outro saiu de quadra hoje com uma bolsa de gelo na coxa, demonstrando não estar curado da lesão, além dos outros dois não terem atingido o nível técnico exigido para uma competição de tal magnitude.

Armadores? Temo pelos mesmos quando tiverem de enfrentar defesas mais próximas e agressivas, assim como nossos alas não estão a altura das exigências defensivas e reboteiras, pelo menos em comparação às equipes que tiveram seus jogos hoje transmitidos, assim como temo por uma classificação mais digna se adaptações emergenciais não forem fomentadas, principalmente no jogo ofensivo interior, e no bloqueio efetivo dos arremessos de três, trocando-os pelos de dois.

Nosso basquete tem que ser submetido a uma reforma radical, desde a base, desde a preparação de novos técnicos, sem as formatações e padronizações alardeadas pomposamente pela ENTB/CBB, ainda mais agora quando tais aspectos estão sendo confrontados pela pequena revolução técnico tática americana, advinda de uma escola pluralista e democrática, a mesma pequena e parecida revolução que ousei ensaiar na direção do Saldanha no NBB2, convenientemente expurgada para o NBB3.

Mas como santo de casa não faz milagres, Vox populi, Vox dei.

Amém.

EM OFF, CARA?…

Paulo, aqui em off, quais suas analises sobre a seleção do Magnano que disputa o Mundial dentro de alguns dias?

Em off cara? O fato de ter entrado no clube da LNB (já me saíram…), não tira de mim o tique blogueiro, afinal de contas o Basquete Brasil está ai desde 2004…

Antes, um pequeno intróito justificativo ao que veremos taticamente dentro de poucos dias.

Nos sete primeiros jogos do campeonato paulista, com oito equipes que também participarão do NBB3, 440 arremessos de três foram perpetrados, numa média de 62.8 tentativas e de 28.5 bolas perdidas, numa clara demonstração de que a sangria dos três e os erros de fundamentos ainda continuarão a reinar por um longo tempo entre nós, assim como o indefectível sistema único de jogo, com suas capitanias hereditárias de 1 a 5.

E como a seleção representa a forma de jogar de seus jogadores, quanto mais a nossa que segue fielmente a notória globalização técnico tática advinda da NBA, pressinto que a mesmice irá imperar absoluta na Turquia, talvez com a exceção da equipe americana, pela ausência de seus pivôs de choque, tendendo para três alas-pivôs e os dois armadores clássicos de suas formações desde sempre, pois o Coach K indubitavelmente não teme mudar conceitos e sistemas de jogo, como excelente técnico que é.

E se quisermos mais análises feitas por quem realmente conhece o grande jogo, ai está um comentário do Prof. Walter Carvalho postado aqui no blog sobre a postagem “E SE NÃO BASTASSE…” DE 4/8/2010.

·  walter carvalho 16.08.2010 (2 dias atrás) ·

Professor Paulo Murilo,

(…) Em relação à seleção brasileira que está se preparando para o mundial, tive a oportunidade de assistir os jogos treinos no Brasil e estes são os meus comentários:
1. Não podemos contestar os resultados alcançados pelo técnico argentino..
2. Assistindo o jogo pela TV – não pude observar nenhuma diferença na forma de atuar do Brasil – O time parecia que ainda estava sendo dirigido por Lula, Helio Rubens, etc…O que eu pude observar foi um maior comprometimento e mais seriedade dos jogadores e isto geralmente acontece no período de lua de mel entre técnico e jogadores
3. O Brasil da forma que atuou não terá condições de competir a nível de mundial – pois a equipe com 3 armadores baixos e 2 pivôs não é a formação ideal para os adversários que encontrarão na competição na Turquia.
4. A defesa ainda comete os mesmos erros básicos de outrora – ou seja, deixam nossos pivôs Varejão e Splitter – desprotegidos e em situação de 1 contra 1 – pois os nossos armadores não sabem marcar o homem da bola – contra algum técnico esperto o Splitter e o Varejão não ficarão muito tempo na quadra pois sairão já no primeiro quarto com 2 faltas.
5. O sistema de ataque do Brasil era similar ao de nossos adversários, pois estes utilizam jogadas e movimentações da NBA e não movimentações que venham a favorecer e a tirar vantagem da habilidade individual de nossos jogadores – ou seja, não tem um jogo e forma brasileira de atacar
6. O Brasil marca mal o arremesso de 3 pontos e os bloqueios verticais e horizontais sem bola do adversário – movimentações estas muito utilizadas por equipes européias
7. Para o Brasil ter sucesso na competição 5 jogadores pelo menos terão que ter uma performance de 70-80% de aproveitamento em todos os segmentos do jogo (física e técnica) com jogos diários – isto será muito difícil manter e os nossos substitutos não estão no mesmo nível dos que começam o jogo.
8. As substituições feitas durante o jogo a nível de observação – não poderão ser feitas no mundial. Isto irá certamente influenciar na manutenção do rendimento técnico e físico dos atletas principais de nossa equipe
9. A formação inicia do Brasil é muito baixa – Huertas, Leandrinho e Alex não terão como auxiliar no rebote defensivo e este será um dos maiores problemas do Brasil.
10. O aproveitamento do Brasil nos arremessos de fora do garrafão e de 3 pontos é muito baixo – e nossos atletas são baixos para penetrar no garrafão dos europeus com eficiência.
11. A equipe não demonstrou nestes jogos possuir plano de jogo para cada adversário – jogou da mesma forma com as mesmas alternâncias técnicas e táticas previsíveis
12. O técnico argentino já deve, hoje, estar analisando, e espero que corrigindo os erros na composição da equipe e os erros defensivos – porém eu não acho que ele conhece bem os jogadores e tenha tempo o suficiente para corrigir.
13. Acredito também que o sistema defensivo que deve ser usado contra as equipes européias é um sistema de marcação combinada (triangle-and-two-ou box and 1) pois só assim o Brasil irá poder forçar a equipe adversária a jogar de uma outra forma ou a ter que se ajustar taticamente durante o jogo o que seria um fator positivo – Se marcar pura e simplesmente homem a homem voltaremos de uma competição mundial mais uma vez sem alcançar o sucesso esperado!
14. O Brasil só tem um armador – o Huertas -e continua dependendo dele para as armações táticas ofensivas da equipe – isto é um erro e o Brasil teria condições de fluir bem melhor no ataque jogando com 2 armadores. Do jeito que a seleção atuou aqui nos jogos amistosos, e se o Huertas tiver um dia ruim, ou se o marcador não o deixar jogar o Brasil não terá equilíbrio ofensivo e isto é um grave erro!
15. O resultado do amistoso contra Porto Rico já deve ter forçado o técnico argentino a ter que rever seus planos técnicos e táticos, e espero que ao chegar na Turquia estes planos tenham sido corrigidos, efetivados e implantados.

No mais só nos resta torcer, pois a falta de bons resultados em competições internacionais não é bom para nenhum de nos brasileiros que militam no grande jogo, tanto no Brasil quanto no exterior.

Seja o que Deus quiser!

Ao que respondi-

  • Basquete Brasil Ontem ·

Walter, se me permitir, assino embaixo de suas análises, precisas, irretocáveis. Muitos pretensos “conhecedores” do grande jogo não concordarão, e até se sentirão ofendidos, mas a realidade dos fatos você expôs na veia. Somente acrescentaria um penúltimo pormenor, o de não sabermos, e mesmo desconfiarmos do que venha a ser jogar com os pivôs, que segundo o Oscar, só servem para pegar rebotes, a fim de propiciar oportunidades aos matadores, principalmente os de três. Lamentável afirmação, de quem nos legou essa incontrolável hemorragia dos longos arremessos, desde as divisões iniciais de base, até a elite de nosso país.
E concluindo Walter, no excelente blog Bala na Cesta de hoje (17/8/2010), o Fabio Balassiano anotou(…)”Os 84 x 68 talvez espelhem não a diferença entre os times, mas a diferença dos “dois basquetes” jogados nos dois países(…) (Sobre o jogo de hoje contra a Espanha).
Creio que o bom jornalista cometeu um pequeno equívoco, pois assim aqui, como lá, o sistema único de jogo é utilizado, com uma diferença, os de lá praticam-no à base de fundamentos muito bem estruturados desde a mais tenra base, daí seus 1, 2, 3, 4 e 5 serem superiores aos nossos, ao passo que nós…
Um abração Walter. Paulo.

PS- Nesse nosso encontro convidei o Walter para fazer parte do projeto Escola Carioca de Basquete que lançarei em breve, reunindo-o a mim e ao Gil Guadron, para provermos os jovens técnicos brasileiros que se interessarem, de materiais gráficos, artigos e análises de sistemas e formas de treinamento, numa tentativa de difundirmos nossas experiências fundamentadas na generalização democrática de conceitos técnico táticos, e da informação, numa oposição clara e objetiva às formatações e padronizações que muitos vêm impondo coercitivamente ao nosso basquetebol.

Oxalá sejamos bem sucedidos nessa honesta tentativa. PM.

Amém.

Foto- Walter e eu no almoço de hoje(17/8/2010). Clique para ampliar.

O MEU AMIGO GIL…

O meu amigo Gil, técnico em Chicago, me enviou esse artigo na data de seus 63 anos, como o melhor presente que recebeu, não agora, mas em quase toda a sua vida de treinador. Divido-o com todos vocês, jovens técnicos de meu país, sugerindo ser este um dos temas a ser estudado, com afinco, na ENTB/CBB.

Gil Guadron, Wooden su influencia

Parabéns pelos seus 63 anos de maravilhosa vida.

Amém.

PS-Na foto, o Gil é o primeiro à esquerda, em Loyola, Chicago, com o técnico Jim Whitesell e um jovem treinador de El Salvador.(clique na foto para ampliá-la)
PS2- Clicar duas vezes no titulo do artigo.

NIVELANDO POR…


“Estamos aqui presentes fazendo a história do basquete nacional” (Diego Jeleilate, na inauguração da ENTB/CBB, como seu coordenador, mesmo não sendo técnico, e sim preparador físico).
“Esse é o inicio de um trabalho que será importante para nivelar o nível dos treinadores aqui no Brasil. Isso nos dá uma tranquilidade, pois sabemos que todos os técnicos terão que passar por esse curso, desde os mais experientes até os que estão começando agora”, afirmou o técnico do Assis Basket, Carlão.
NIVELAR, v. tr. dir. Medir com o nível a diferença de elevação que existe entre (dois ou mais pontos); tornar horizontal; aplainar; (fig.) igualar: a morte nivela ricos e pobres; destruir; arrasar; tr. dir. e ind. pôr ao mesmo nível; igualar; nivelar um terreno com outro; (fig.) graduar; proporcionar; equiparar; tr. ind. igualar-se em nível; ficar no mesmo plano; pr. Igualar-se; equiparar-se.
( Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa).
“O que falta para os técnicos brasileiros é a capacitação. Não são todos que têm condições de ir para o exterior para fazer cursos e clínicas internacionais. Acho que esse é o primeiro passo para o aperfeiçoamento e nivelamento dos nossos treinadores”, afirmou o técnico do Paulistano/Amil, Gustavo De Conti. ( Depoimentos constantes de matéria publicada no site da LNB em 7/7/2010).
Ou seja, nivelamento é a palavra de ordem para os técnicos da categoria adulta, aspecto gerador de tranqüilidade, pelo fato de que todos, experientes ou iniciantes, estarão num mesmo plano técnico existencial, fator que para outros capacita o treinador para o exercício de suas funções, independendo de currículo, graduação, pós-graduação, estudo, pesquisa, e longa estrada teórico prática percorrida, como numa pré justificativa de que tais variáveis temporais passem a inexistir quando o interesse único é o do nivelamento puro e simples, este sim, justificando a oficialização profissional dissociada de tão incômodos detalhes “acadêmicos”.
ESCOLA (ó), s. f. Casa ou estabelecimento, onde se recebe ensino de ciências, letras ou artes; conjunto de professores e alunos desse estabelecimento; método e estilo de um autor ou artista; processo seguido pelos grandes mestres; doutrina de algum filósofo ou homem célebre; sistema; seita; (fig.) aprendizagem; experiência; exemplo. (Do lat. Schola.) (Do mesmo dicionário)
E a história está sendo feita, mas por quem, de que forma, com que objetivos?
Ensinar a ensinar o grande jogo, ou nivelar técnicos, aspirantes a técnicos, ou pseudo técnicos num mesmo e absurdo patamar, como se tal nivelamento fosse exequível, ou mesmo aceitável ante a cronologia do processo didático pedagógico indissociável do fator tempo, responsável pela maturação do saber?
Ou simplesmente o nivelamento cúmplice e conivente no nascedouro de um corporativismo garantidor de um nicho profissional, onde vivências, experiências curtas e longas, ou mesmo inexperiências, se tornam caldo de um mesmo tacho, à sombra de um nivelamento lastreado numa “certificação” adquirida em quatro dias de palestras?
E por onde se perdeu a meada do processo seguido pelos grandes mestres, aqueles poucos e esquecidos que justificariam e endossariam uma verdadeira escola, todos técnicos, um dos quais poderia estar proferindo as palavras do inicio desse artigo, substituido injustamente por um profissional de outra área, e que nunca privou da arte de ensinar o grande jogo?
Finalmente, como entender uma escola que começa sua caminhada na contra mão de sua função básica, a de preparar jovens que iniciam suas carreiras, e não certificar e nivelar técnicos, que acima de tudo e de todos deveriam propugnar a diversidade, o livre pensar, a democratização sistêmica, fatores que geram as discussões, as contradições, a busca da verdade, a criatividade, a eterna aventura ao desconhecido, molas impulsionadoras do progresso humano?
Pensei e repensei ir à escola, mas me deparei com uma verdade inquestionável, a coerência de toda uma vida voltada ao estudo, à pesquisa e a transmissão do pouco que amealhei e aprendi nesta já longa jornada, de muitos sacrifícios e renúncias, mas plena da maior das satisfações, a do dever cumprido, com firmeza e dedicação, onde a hierarquia e o mérito sempre se antepuseram ao nivelamento escuso e político.
Ainda tenho uma tarefa a cumprir nessa liga, a de sedimentar um sistema de jogo iniciado no Saldanha da Gama, antagônico e diferenciado, mas jamais nivelado, produto do grande esforço de uma equipe humilde e lutadora, que espero seja mantida, para uma tarefa que poderá ser de grande importância para o nosso basquete, a de provar que podemos jogar o grande jogo de formas diferentes, com atitudes e posicionamentos diferentes, como diferentes têm de ser as capacitações e níveis dentro de uma modalidade que pretenda tornar a ser vencedora.
Poderei fazê-lo, e me deixarão realizá-la? Honesta e sinceramente não sei responder. Mas sei, bem sei da minha competência, do meu espírito sempre em busca do novo, e de minha inesgotável competividade. Amo o basquete, o grande jogo de minha vida, ao qual jamais cometerei o erro de nivelá-lo… por baixo.
Amém.

TÉCNICOS POR ATACADO…


Se porventura um técnico atuante e experiente tiver que estar presente ao Curso de Certificação Nível III em São Paulo, para em 4 dias (7 a 10 de julho) poder ter acesso a uma das carteiras que o tornem um técnico daquele nível, e sem a qual não poderá exercer a orientação de uma equipe adulta, numa ação didático pedagógica impar no universo do ensino, pela concentração de conteúdos de tal ordem extraordinários, que reduz a tão poucos dias o que qualquer técnico desportivo leva anos, décadas para aprender, tornou-se claro para mim a necessidade de analisar tão revolucionário programa, constituído de onze temas, os quais passo a enumerar e discutir:
– A importância da formação dos treinadores.
Este é um tema realmente importante para um curso de administradores, ou gerentes, ou mais propriamente para um público leigo nos assuntos desportivos, nunca para os técnicos, já que os mesmos, inseridos no contexto, sabem e conhecem de sobra a importância e liderança resultantes de sua formação. Logo, nada a somar para esse nível. Mas em se tratando de técnicos nível I, seria um assunto aceitável. Com tão escassos dias de curso, obviedades deveriam ser descartadas em prol de assuntos realmente relevantes.
– Gestão e marketing esportivo.
Por que motivo(s) tal tema tenha de ser desenvolvido em um curso de formação de técnicos de 4 dias, quando uma vasta bibliografia sobre o assunto está à disposição dos mesmos em qualquer biblioteca ou livraria? Não creio que tais assuntos repassados superficialmente somem algo que realmente beneficie a formação técnico tática de um treinador de alto nível.
– Justiça desportiva.
Parece que muita gente quer deixar sua marca na fase inaugural da ENTB/CBB, não importando o que fale, discurse ou comunique, na medida que ponha seu lacre na ata de fundação de uma escola pioneira.
– Aspectos táticos: conceitos ofensivos e defensivos.
Eis um assunto realmente importante, pena que tais conceitos divaguem por sobre um só existente, o sistema único de jogo, desenvolvido e implantado em todo território nacional, em todas as categorias e faixas etárias a mais de 20 anos, no plano ofensivo. No defensivo, o que dizer, quando um sistema ofensivo único reina por duas décadas sem anteposições? Ou se negam a admitir que se conceitos defensivos eficientes tivessem sido desenvolvidos o tal sistema único de jogo não teria sido sistematicamente mudado? E o que justificar quando professamos a ditadura dos arremessos de três pontos, exatamente pela inexistência dos tais “conceitos”?
– Filosofias de jogo.
É de arrepiar quando vemos uma escola mencionar para estudos “filosofias de jogo”. Por que não sistemas, conceitos, estratégias, táticas de jogo? Filosofia? Seria mais interessante que incentivassem os técnicos no esclarecimento etimológico da palavra filosofia, pois muitos males entendidos seriam corrigidos. Uma leitura rápida em um dicionário bastaria.
– Valorização da profissão e do profissional.
Obviedade é isso ai, menos para os crefs da vida. Meus deuses, e ao custo de 800 reais!
– Tecnologia no basquete.
E lá vai a turma da estatística dar o seu recado para os desinformados do nível III. Haja sacrifício por uma prosaica carteira…
– Terminologia do basquete.
Anos atrás um grande professor de educação física, Otavio Fanalli editou um libreto com as terminologias mais comuns na educação física e nos desportos. Por que não um libreto, ou apostila com os termos basquetebolisticos pura e simplesmente? Sobraria tempo para o basquete de 4 dias.
– Preparação física.
Ridículo, se todos são professores experientes, ou não são? Se são técnicos largamente experientes, ou não são? Ou terão de ser “provisionados”?
– Formação de jogadores da base ao adulto.
É o típico tema para os técnicos de nível I, não para os de nível III, largamente formados e informados na temática da formação de base da
modalidade, pela qual, obrigatoriamente passaram em suas longas formações, ou não?
– Disciplina tática.
É o aspecto que justifica a presença de todos no curso, não só a disciplina tática, mas a técnica e a de vida, logo, não discutida por ser mais do que óbvia.
Concluindo, somente o quarto tema daria por si só assunto para os 4 dias do curso, com suas variáveis e diversidades, todas do mais alto interesse de técnicos de alto nível, mas somente possível se realmente professássemos conceitos e sistemas diversificados, e não um só, absoluto e imutável, e ai tenho de reconhecer, sobrariam muitas horas nos 4 dias propostos, e talvez seja esta a justificativa da presença dos temas definidos no programa, e que acima discuti.
Mas uma analise bem superficial constata uma particularidade sobejamente conhecida por todo professor e técnico experiente, a de que a formulação temática do curso segue a norma estabelecida pelo Confef em seus cursos para provisionados, onde o preparo de leigos para uma tarefa de transcendental importância para o processo educacional da juventude brasileira prima pela falta de bom senso, numa primeira ação de conquista, para agora evoluir de encontro aos licenciados e aos técnicos mais experientes, amparados por leis que antecederam a fundação de tão arrogantes e nefastos conselhos, e cujo curso de formação de treinadores parece ser uma jóia preciosa em seus desígnios de poder absoluto sobre a indústria do corpo, para a qual são os avalistas e banqueiros.
E que outra justificativa daria a ENTB quando na ficha de inscrição para o curso consta o item CREF (nº do registro) e sua validade?
Por prever e antecipar exatamente tudo isso que vem ocorrendo, é que me insurgi técnica e hierarquicamente contra a indicação de um preparador físico para coordenador da escola de treinadores, sabedor dos reais motivos para tal escolha. Agora que todos vocês já sabem, optem admitir, ou não. De minha parte emiti desde sempre um brado de indignação, e continuarei a lutar e me indignar para garantir o direito constitucional de continuar a ser o que sempre fui, um professor e técnico, por formação acadêmica e nas quadras desse imenso país, a mais de 50 anos, e não formado, provisionado e certificado em 4 dias.
Mas, se não restar mais nenhum recurso que me garanta, por direitos adquiridos, a direção de uma equipe adulta, e dependendo da ajuda finaceira da equipe do Saldanha da Gama, da qual sou o técnico, para fazer frente aos gastos de passagens, estadia, alimentação em São Paulo, e o tal “investimento” exigido pela ENTB/CBB, serei obrigado a comparecer ao tal curso, onde sentado por 4 dias, ouvindo palestrantes, estarei sendo devidamente atualizado e certificado, e por que não, reiniciado na carreira de técnico de basquetebol. Seria cômico, se não fosse absolutamente trágico.
Mas, se for este o preço que terei de pagar para poder enfrentá-los numa quadra, o farei, e quem sabe…
Com a palavra a Liga Nacional de Basquetebol – LNB, a qual não deveria por sua chancela a tão evidentes distorções.
Amém.

PS – Sugestivo o logotipo da ENTB/CBB, onde se destaca altaneira e absoluta…uma prancheta! Coerência é isso aí…