“O BASQUETE MODERNO”…

Percorri todos os canais que transmitiram o Eurobasket, profundamente interessado pelas análises técnico táticas dos especialistas que cobriram os jogos de algumas das melhores equipes do mundo FIBA.

Aguardei ansioso analises sobre os sistemas de jogo empregados, suas concepções, evoluções, novidades, até mesmo retrocessos, mas o que nos era informado jamais ultrapassava o 5 x 5, imbatível num momento, inseguro em outro, inexistente mais adiante, ah, que em alguns momentos a zona 2-3 era utilizada, em outros a pressão ½ quadra, e só.

Mas os tocos fantásticos, os petardos de três arrasadores, as sublimes enterradas, as inenarráveis pontes aéreas e o coletivismo mágico dos espanhóis, galgaram o Olímpo reverencial, o supra-sumo da arte desportiva, o basquete moderno.

No entanto, por se tratar de um jogo de equipe, esperava que fossem salientados, discutidos e analisados aqueles aspectos que realmente pudessem concorrer para o desenvolvimento do nosso basquete, afinal de contas estavam se apresentando as melhores equipes européias, que junto à equipe norte americana serão nossos adversários diretos em Londres.

Esperei em vão por algo incompreensível para todos, já que definitiva e lamentavelmente atados ao sistema único, o único que conhecem e defendem.

Então, gostaria de apresentar a todos esses senhores a seleção do campeonato, eleita pelos bons entendedores do grande jogo na Europa, e cuja formação, na foto acima, conta não com dois, mas três armadores (vá lá, o Navarro é um ala-armador, mais armador do que ala…) e dois alas pivôs, rápidos, ágeis, flexíveis, e acima de tudo, hábeis nos fundamentos do jogo.

Kirilenko, McCalabbe, Parker, Navarro e Gasol, que juntos às suas seleções derrubaram os últimos resquícios do basquete paquidérmico, estático e marcado por jogadas coreografadas, fazendo eco à pequena revolução patrocinada pela equipe campeã mundial do Coach K, definiram o rumo e a concepção de jogo que será estabelecida em Londres, e que, infelizmente ainda é solenemente negada entre nós (mas, embrionariamente ensaiada na seleção), a da dupla armação e dos alas pivôs dinâmicos e tão bons nos fundamentos quanto seus companheiros de armação, guardadas as devidas proporções, que são concepções advindas do mais profundo e vasto preparo nos fundamentos desde as divisões de base, e sua manutenção nas divisões adultas, e mesmo nas seleções.

-Dois armadores e três alas pivôs? Alguém já pensou isso por aqui?

-Certeza que sim.

-Onde, quando, por onde anda?

-O que importa, não o tiraram de circulação?

-Triste…

Amém.

INQUESTIONÁVEIS DIFERENÇAS…

Foram duas grandes semi finais no pré olímpico europeu, mas ambas com uma característica em comum, o fortíssimo jogo interior, onde montenegrinos, espanhóis, russos e franceses apostaram todas as suas fichas no mesmo, insistindo com seus pivôs extremamente ágeis e velozes, comprimindo as defesas, e consequentemente liberando o perímetro externo para os arremessos de média e longa distâncias, equilibrados e precisos.

Obviamente, criaram-se situações em que as defesas foram obrigadas ao combate externo, originando uma terceira via, a dos cortes e penetrações em alta velocidade, e o mais emblemático, é que tais situações técnico táticas foram as mesmas para as quatro equipes, variando somente nos momentos em que foram exequibilizadas.

Identicamente, espanhóis e franceses tiveram em seus terceiros quartos os momentos em que uma conjunção de jogo interno, penetrações externas e arremessos de três foi a responsável por suas incontestáveis vitórias, levando-os a final, já classificados para Londres.

Se formos mais explícitos, todos jogaram em dupla (e até tripla) armação, dois pivôs dentro do garrafão e um ala que em muitas oportunidades agia como um terceiro pivô, numa formação tática que desconhecemos(?) e não ousamos(?) utilizar por aqui, onde as exceções não contam…mesmo.

Era engraçado ouvir um dos comentaristas televisivos um tanto evasivo, já que entusiasta dos arremessos de três, que segundo ele é o modus vivendi do basquete moderno, ante a realidade do jogo interno de 2 em 2, apresentado pelas equipes semi-finalistas, tão em desacordo com suas inabaláveis concepções de jogo, omitindo o que naqueles momentos ficava claro à análise de quem entende o grande jogo, o fato de que para todas aquelas excelentes seleções, e por extensão, ao basquete que praticam em seus países, serem os arremessos de três complementares, e não a base de seu jogo.

Mas para além de qualquer outra consideração, um fato marcava e delimitava a atuação das excelentes equipes, seu insuperável sentido de equipe, onde cada peça exercia sua função visando um todo, fossem estrelas ou não, nas quais um Parker, um Navarro, um Kirilenko, um McCalabbe, trabalhava e lutava em torno de um bem comum, com a humildade dos grandes campeões.

Também nos classificamos no Pré Olímpico de Mar del Plata, e encontraremos franceses e espanhóis em Londres, mas será que estaremos em igualdade de condições técnico táticas com os mesmos e  outras equipes não menos competentes?

Se não contarmos com uma trinca de bons armadores, podendo usar uma dupla armação, e não somente o Huertas, não jogarmos com pelo menos dois pivôs com boa movimentação ofensiva e ação antecipativa  na defesa, como a marcação à frente dos pivôs e altamente treinados no bloqueio de rebotes, e uma boa dupla de alas, que atuem em penetração ou mesmo como um pivô móvel, e principalmente, se nos conscientizarmos de que os arremessos de três fazem parte do jogo, e não se constituem no jogo, teremos razoáveis chances em Londres, que só não serão de primeiro plano, pelo fato inquestionável da sempre presente deficiência que nos pune naqueles mais importantes e definidores momentos de um jogo decisivo, nossa ainda não contornada e corrigida deficiência nos fundamentos do jogo, que sonho seja a nossa meta prioritária para 2016.

Amanhã, às 15hs poderemos assistir a grande final entre espanhóis e franceses, num jogo que deveria ser gravado por todos os nossos técnicos, para sempre se lembrarem de como jogar com os pivôs, de como dividir responsabilidades entre dois armadores, de como devem atuar os alas, dentro ou fora do perímetro, e não ficarem atrelados ao sistema único de jogo, responsável pela perpetuação de técnicos e jogadores irmanados num corporativismo  garantidor de empregos e posições destacadas em nosso engessado basquete.

Precisamos fugir e nos livrar dessas nefastas amarras, adotando conceitos plurais, abertos e instigantes, desde a base, priorizando os fundamentos individuais e coletivos, e principalmente preparando e treinando na pratica nossos futuros técnicos, acompanhando e assessorando-os em seus locais de trabalho, e não provisionando e certificando-os em cursilhos de 4-5 dias através uma ENTB/CBB/Cref, equivocada didática, pedagógica e tecnicamente falando.

Cinco anos nos separam da Olimpíada no Rio de Janeiro, e urge em caráter absolutamente prioritário mudarmos nossa forma de ver, estudar, pesquisar, preparar e desenvolver o grande jogo no país, e para começar que se façam presentes, atuantes e executantes os verdadeiros professores e técnicos existentes e politicamente esquecidos do país, pois fora isso nada mais poderá, como não está podendo, ajudar em nosso soerguimento. Essa é a nossa realidade.

Amém.

Foto-Divulgação FIBA.

PONTO FINAL…

Custo a engrenar o comentário, pois algumas cenas ficaram marcadas no jogo final desta Copa América, como após duas tentativas bem concluídas de cesta, e sendo lançado faltosamente pela linha final, o Scola mesmo caído cerra os punhos e vibra intensamente, numa demonstração de garra e vontade de vencer o rival histórico. Por outro lado, a medonha visão de um grupo de jogadores (não todos…) profissionais aderindo a uma estética advinda do futebol, no que ele representa de pior, “moiconando” seus cabelos, numa demonstração de que os festejos pela classificação estiveram bem acima do que o foco direcionado a uma decisão de campeonato, importante pelo fato de que do outro lado se encontrava um possível adversário olímpico, jogando em seus domínios e ferido pela derrota de dois dias atrás, num cenário de confronto que dificilmente poderá ser emulado na preparação para Londres. Temi que, para concluir a pífia representação inicial, uma dancinha fosse estimulada, como a da preliminar com a participação de dominicanos e portorriquenhos, parecendo estarem felizes da vida  pela não classificação. O descompromisso da nossa seleção ficava evidente, inclusive em boa parte do primeiro quarto, quando perdeu por 21 x 9!

O segundo quarto foi bem mais disputado (parecendo que a ficha tinha enfim caído…), com a seleção se utilizando de dois pivôs, o Spliter e o Hettsheimeir, forçando os jogadores altos argentinos a um duelo que nos favoreceu em algumas jogadas, suficientes para vencer por 18 x 14, numa confirmação de que se tivesse entrado no clima decisivo desde a véspera a contagem teria sido bem mais próxima do que os 35 x 27 que encerrou a primeiro tempo da partida.

Retornando bem mais concentrada na defesa e no jogo paciente no ataque, a seleção voltou a vencer por 21 x 15, levando a decisão para o quarto final, num esforço que teria sido bem menor se tivesse, repito, iniciado o jogo com mais seriedade e menos carnaval.

No quarto final da apresentação no pré, enfim o Magnano colocou em quadra o Benite  junto ao Huertas, abrindo um 8 x 0 empolgante, para logo a seguir com a entrada do Alex, jogar com os três e os dois pivôs, tornando a movimentação da bola mais veloz e de difícil marcação por parte dos argentinos. Mas desse ponto em diante o fator feérico retornou, primeiro com um monumental toco de aro sofrido pelo Hettsheimeir (no ataque seguinte, concluiu com uma bandeja clássica, provando ter aprendido a lição…), e dois passes errados nas duas jogadas subsequentes, do Guilherme e do Marcelo Machado, ambos que teriam sido espetaculares, mas inadequados àquela altura do jogo, em seus momentos cruciais, dos quais os argentinos se aproveitaram para fechar em 80 x 75, cabendo lembrar os 12/21 lances livres tentados pela seleção.

Sei que muitos criticarão os pontos que acima apontei, ressalvando os momentos de intensa alegria e conseqüentes festejos pela classificação alcançada, mas o semblante contraído e preocupado do Magnano nos momentos decisivos do quarto final, bem demonstrava que ali ele estava para vencer o jogo, sua determinada  prioridade, e para a qual (a vitória) trabalhou tanto, dando a ele uma certeza,  de que muito ainda falta para que a seleção atinja o ápice do comprometimento, impermeável e blindado a qualquer manifestação que arrisque, mesmo de leve, o objetivo final a ser alcançado. Depois sim, que raspassem tudo que quisessem e pudessem, se é que o fariam…

Amém.

FOTOS-Divulgação FIBA Americas

O RECADO…

Quando todo um universo de analistas, narradores, jornalistas, blogueiros e seus sempre presentes comentaristas, anônimos ou não, aguardava ansioso a nova formação base da seleção, com pelo menos o Hettsheimeir efetivado, face à sua brilhante participação contra os argentinos, e quem sabe, a escalação do Benite na segunda armação, dando efetivamente início a tão aguardada renovação, não só técnica, como tática também, eis que o técnico Magnano manda um recado contundente a seus críticos (nos quais me incluo em alguns aspectos de estratégias de convocação e formação de equipe), mantendo sua inamovível base, a que restou após a não ida dos jogadores NBA ao Pré Olímpico. Assim, Huertas, Guilherme, Spliter, Marcos e Alex, iniciaram os três primeiros quartos, e só sendo substituídos ao final dos mesmos, vencidos por 77 a 49.

Dessa forma, e com a artilharia um tanto a contragosto aprovada, o bom técnico argentino qualificou aqueles jogadores que se mantiveram fiéis à seleção, inclusive seu sexto homem de confiança, o Marcelo Machado, nitidamente contido nos arremessos, onde e ironicamente brilhou o até aquele momento discreto Spliter, como para demonstrar que o surpreendente Hettsheimeir continuaria na sua reserva, pelo menos enquanto for mantido o sistema único de jogo, agora acrescido da movimentação de bola típica do passing game, numa costura definidora de um coletivismo ainda não muito aceito, ou compreendido, pelos experientes cardeais. Mas como desta vez, e com a absurda passividade defensiva dos portorriquenhos (gerando inclusive revolta entre eles mesmos…), as bolinhas caíram aos magotes (16/25), ficou adiada sine-die a utilização de um segundo pivô, e quem sabe, uma dupla armação para alimentá-los no jogo interior, conceito tático que terá de ser levado em alta conta no caso de uma classificação olímpica, onde as exigências reboteiras, de jogo interior, de armação segura e dinâmica, e de efetiva consistência defensiva se farão prioritárias, perante seleções de qualidade muito superior das que participaram deste Pré Olímpico.

Consumada a classificação, pois uma derrota para os dominicanos se tornou improvável ante a personalização da equipe em seu todo, muitas modificações (jamais adaptações…)terão de ser feitas pelo Magnano para a campanha olímpica, a começar pelo inevitável reforço do banco, onde Caio, Nezinho e Rafael Luz ainda não estão a altura de uma competição daquele nível, e mesmo o Augusto e o Hettsheimeir, terão de evoluir muito nos fundamentos básicos do jogo, para competir com sucesso na mesma. Como a adesão interesseira, e por isso mesmo nefasta, da dupla que se negou a competir no Pré, deveria ser obrigatoriamente negada, a constituição final da equipe, mantido o sexteto básico de confiança do técnico, e os dois jovens pivôs, ficarão em aberto quatro vagas, que ao serem preenchidas por pelo menos mais dois armadores, um ala e o Varejão, dariam oportunidade aos jogadores que mais se destacarem no próximo NBB, aumentando e valorizando sua importância para o futuro do basquetebol nacional e sua seleção.

No entanto, um importante fator se fará presente se confirmada a classificação olímpica, a necessidade urgente de serem estudadas, treinadas e postas em prática novas formas de jogar basquetebol, fugindo da mesmice técnico tática a que nos apegamos covardemente nos últimos vinte anos, a fim de que evoluamos pela diversidade, pelo livre pensar e vivenciar essa modalidade impar e emocionante de jogo, extremamente rica em conceitos sadios de vida e de amor ao esporte, e a seleção poderia dar partida a essa revolução em Londres, pois somente inovando e ousando é que conseguiremos soerguer o grande jogo entre nós.

Mas antes, torçamos no sábado pela confirmação de uma classificação a principio tão improvável, como brilhante.

Amém.

FOTO- Divulgação FIBA Americas.

ETAPA QUASE VENCIDA…

Sobe a bola e o Nocioni cai ao solo com o tornozelo torcido aos 15seg de jogo. A Argentina perde seu melhor rebote e excelente defensor, além de um finalizador de peso. De saída, um dos grandes problemas do Magnano, o miolo do garrafão ganha uma providencial ajuda, pois o Oberto, assim como o Spliter, não se encontra no melhor de sua forma, e o Scola teria de redobrar seus esforços para conter nosso jogo interior, ausente até o final do segundo quarto, quando entrou o Hettsheimer.

Até o momento da entrada do jovem pivô, que foi o único da posição que se apresentou em forma física, sendo veloz e voluntarioso, a equipe se perdeu numa enxurrada de arremessos de três (3/17) e sete perdas de bola, mas apresentava uma eficiente e enérgica defesa individual com ajuda permanente, equilibrando o seu baixo aproveitamento ofensivo, e travando a notória produtividade argentina, num final de primeiro tempo perdendo por um ponto, 27 x 28.

Nesse primeiro tempo, bem que o Magnano tentou a dupla armação, a fim de incrementar o jogo interior, aproveitando a perda vital do Nocioni, fazendo entrar o Benite para atuar junto ao Huertas, mas nervoso ao marcar o Ginobili, cometeu rapidamente duas faltas pessoais, voltando ao banco. A seguir, com a aposta argentina de permitir os arremessos de três brasileiros, que não estavam sendo aproveitados, um afrouxamento defensivo no perímetro externo facilitava a armação das jogadas, mesmo contando com um só armador de oficio, aspecto este confirmado pelo assistente técnico da seleção, ao responder a uma pergunta do narrador da Bandeirantes, de como o Magnano analisou junto aos jogadores no meio tempo, a isca lançada pelos argentinos de incentivarem os arremessos de três dos brasileiros, para contra atacá-los.

Com a diminuição, exigida ou não pelo técnico, das bolinhas a esmo ( foram somente sete nos quartos finais), e o aumento considerável do jogo interno, onde o Hettsheimer se impunha ao Scola e a toda e qualquer cobertura interveniente, com firmeza e precisão, assim como a manutenção da defesa em alto nível de empenho e agressividade, foi a seleção mantendo o placar a seu favor, culminando numa vitória importante e que abre uma excelente perspectiva de sucesso para uma classificação olímpica.

Um outro aspecto deve ser levado em conta na derrota argentina, o fato de que frente a esse resultado, dificilmente essas duas seleções possam se enfrentar em uma das semifinais, beneficiando a ambas na busca classificatória, pois portorriquenhos e dominicanos são adversários muito menos poderosos que uma equipe argentina decidindo uma vaga direta em seus domínios, e uma brasileira de moral elevada pela instigante vitoria.

A equipe brasileira, ainda um pouco longe do coletivismo apregoado, e defendido por uma mídia mais torcedora, do que técnica, deveria ter em conta em seus comentários um ponto fundamental, exemplificado no dia de hoje, o de ter vencido um jogo de tal importância se utilizando praticamente de 7 jogadores, já que Benite, Luz e Augusto, jogaram 2-3 minutos, e Caio e Nezinho, sequer isso, provando que o núcleo de confiança do técnico argentino é restrito a sete jogadores, muito pouco para uma campanha de tal magnitude e as futuras também, e não esquecendo que Benite, Luz e Nezinho são armadores, que ainda não ganharam a plena confiança do técnico para comporem uma dupla armação, que se tornará da mais alta importância, se ao contrario dos argentinos, futuros adversários pressionarem nosso isolado e sobrecarregado armador.

Finalmente, temos de enaltecer o espírito combativo da seleção na defesa, a contenção dos arremessos de três nos dois quartos finais da partida, propiciando o arrasador jogo interno do  Hettsheimer, e acima de tudo, a maturidade da equipe frente a enorme pressão de uma torcida vibrante e participativa como a argentina, quebrando uma serie de resultados adversos nos últimos 15 anos de grande e sadia rivalidade. Parabéns a todos.

Amém.

FOTOS-Reprodução da TV.

 

A MUDANÇA(?)…

Escalada a equipe com os armadores Huertas e Benite (sim senhores, armador, conforme testemunho público dele próprio, e que o motivou a trocar de equipe…), o ala Marcos, e os pivôs Spliter e Hettsheiner, numa mudança conceitual importante, e o que se ouviu de comentários televisivos iam de “ uma chance aos que pouco atuaram”, a “não importam os que iniciam uma partida, desde que o coletivismo não seja alterado”, que das duas uma, ou nada entendem de formações táticas, ou jamais darão o braço a torcer quando suas inarredáveis concepções de sistema único de jogo sejam postas em dúvida, afinal é o que conhecem desde sempre.

Claro que aquela formação inicial não daria uma sequer razoável liga coletivista por parte dos jogadores, depois de uma vida inteira voltada ao sistema único, mas era algo realmente, e de acordo com as atuais e indefinidas circunstâncias, surpreendente, e seria um laboratório prático para que o Magnano e seu assistente Duró colhessem algumas e importantes informações sobre o “como contornar” dois dos inúmeros problemas que os afligem, o preenchimento do miolo defensivo, e a ausência nos rebotes ofensivos, além de pesquisar, também na prática, como incrementar o jogo ofensivo interior com dois armadores. Mesmo assim, fez entrar nesse quarto inicial o Alex e o Guilherme, que com suas duas bolinhas de três estabeleceu a diferença num placar de 20 x 13, selando sua já confessa dependência das mesmas.

Daí em diante, atestada a passividade comprometedora da equipe panamenha, com seu técnico pouco, ou nada ouvido por seus jogadores, tornou-se a partida um imenso racha, com a participação festiva de todos, mas com um fecho constrangedor, pela única tentativa de arremesso do Nezinho, o último a entrar, um petardo de três, mais para tiro de meta, do que um arremesso de basquete. Triste, muito triste.

Ah, em tempo, foi o jogo com o maior índice de bolinhas, 11/24, onde só o Marcelo perpetrou um 3/7! Sob esse aspecto, o Magnano não tem o que se preocupar, pois quem sabe, logo mais contra os seus compatriotas as famigeradas caiam aos magotes?

Sem dúvida alguma o bom argentino se encontra numa tremenda encruzilhada, e sua fugaz experiência ao inicio do jogo demonstrou o quanto de preocupação aqueles dois “vazios” acima mencionados o incomodam, ainda mais quando terá pela frente os três adversários que contam com pivôs mais determinantes e experientes que os seus, os argentinos, dominicanos, e portorriquenhos.

De agora em diante, se inicia o Pré Olímpico para valer, e vamos ver quem tem botellas para vender.

Amém.

PS-Foto festiva reproduzida da TV.

VITÓRIA DO BOM SENSO…

Iniciou no segundo quarto, e se firmou nos dois últimos a implementação do…inusitado, garimpado pelo bom senso técnico tático da dupla aí de cima, acredito que depois de muita discussão, estudo de probabilidades, e acima de tudo, pela enorme e inadiável necessidade de mudanças.

Mesmo assim, iniciaram o jogo com a formação de praxe, mas com poucos minutos eis que o Alex sente o ombro, e olha quem entrou? O Benite, ensaiando uma dupla armação com o Huertas, mas contando somente com um pivô, o Spliter. O quarto termina em 25 x  16 para nossa seleção, e com um incomum aspecto, somente 2/4 nos arremessos de três.

No segundo quarto, o Luz se junta ao Benite, mantendo a dupla armação, entrando o Marcelo Machado que se dedica ao jogo interior, acionando o pivô, e passando em branco nos arremessos. No entanto, o miolo do garrafão ainda se mantinha inseguro, permitindo penetrações e rebotes dos uruguaios, que mesmo desfalcados de dois importantes jogadores, o Osimani e o Aguiar, imprimiam um jogo corajoso e incisivo, dando muito trabalho à nossa defesa, permitindo uma perigosa aproximação no placar, que marcou 42 x 34 ao final do quarto.

Finalmente, no transcurso dos dois quartos finais, uma improvável defesa por zona 2-3 (vide foto) bastante eficiente e combativa é estabelecida pelo Magnano, assim como a escalação de um segundo pivô, e dando continuidade à dupla armação, onde o Benite se situava muito bem, inclusive alcançando um alto nível de aproveitamento nos arremessos de três (5/7), sem ter forçado nenhum deles.

Benefícios imediatos? Três, e da mais alta importância, a saber:

– Com a dupla armação, o apoio ao jogo interior se tornou mais constante, num fluxo de passes e assistências considerável. Melhorou em muito a combatividade defensiva, e permitiu que espaços mais amplos fossem conseguidos, originando arremessos mais livres e equilibrados, inclusive os de três.

– Com a escalação de dois pivôs, o Spliter ficou mais desonerado da luta solitária com os grandes pivôs adversários, cobrindo com maior eficiência os já tradicionais buracos no miolo da defesa, e mesmo os demais pivôs que  vinham sendo pouco utilizados, ganharam mais tempo de participação em praticamente toda a partida.

– E por força dessas mudanças, com um só ala escalado por vez, diminuiu muito o fluxo das “bolinhas”, vide os seguintes números nos arremessos de três ao final da partida: Alex ( 0/1), Marcelo Machado (0/1), Marcos (2/4), Guilherme (2/3), Nezinho (0/1), Huertas (1/1), e o Benite (5/7).

Ao final do jogo, algumas conclusões poderão ser mencionadas como de grande importância para os futuros e decisivos jogos deste Pré Olímpico:

– Com a escalação de um segundo pivô, e a manutenção de dois armadores, ficará mais do que garantido o jogo ofensivo interior, assim como será reforçado o miolo do garrafão defensivo, contra a arma até agora utilizada contra nós, o duplo pivô.

– Com somente um ala de oficio escalado por vez, cessa o caudal de arremessos de três, e se estabelece prioritariamente o de dois, mais eficiente e seguro.

Finalmente, com esses novos (?) conceitos de jogo, penso acreditar que teremos valorizadas as possibilidades de classificação, já que reforçados os setores defensivos, e ampliados os ofensivos, por se situarem mais próximo à cesta, valorizando a precisão de cada arremesso dado.

Torço para que o Magnano desenvolva esse conceito de jogo junto aos jogadores, mesmo que fira e desoriente alguns deles, que por hábito longamente adquirido, somente vêem o sistema único como verdadeiro, negando o novo, o inusitado. E se isso ocorrer, que tome as medidas convenientes, entre elas a barração, para o bem da equipe em seu todo.É o dever básico de quem comanda, de quem vê adiante, e que não hesita em fazê-lo, se necessário.

Amém.

PS-Clique nas imagens para ampliá-las.

Fotos reproduzidas da TV.

OUSAR INOVAR…

Não acredito, honestamente, que a seleção esteja bem, equilibrada, e acima de tudo, tranqüila. O baque contra os dominicanos fez um grande estrago, ao por em dúvida o sentido coletivista adquirido no longo treinamento, e agora veementemente contestado por sua visível falta de unidade, tornando-o frágil e quebradiço.

O jogo de hoje contra a jovem e inexperiente equipe cubana, expôs com crueza o alto grau de estagnação por que atravessa o nosso basquete, principalmente quanto ao domínio dos fundamentos básicos do jogo, tornando inexeqüível qualquer tentativa de ser estabelecido um padrão confiável na maneira de jogar da equipe, e, por conseguinte, constituindo-se no maior obstáculo às pretensões técnico táticas do técnico Magnano.

A defesa interior da equipe se liquefaz a cada partida jogada, assim como continua a ser mantida a ausência de contestação aos arremessos fora do perímetro, culminando hoje com os 83 pontos consignados pela equipe cubana, fatores estes que colocam em real perigo uma já tão difícil e complicada classificação olímpica.

Ofensivamente, a sofrível forma física do Spliter, a sobrecarga tática incidindo no Huertas, as insuficientes penetrações de nossos alas, o crescente abuso nos arremessos de três pontos, a pouca qualidade técnica de nosso banco, e acima de tudo o crescimento inquestionável de nossos futuros adversários na segunda série de embates, colocam a seleção numa posição de visível inferioridade, a não ser que ocorra uma guinada radical em sua forma de agir e atuar frente a tantos obstáculos.

Serão quatro jogos duríssimos, mesmo os contra o Uruguai e o Panamá, pelo simples fato dos mesmos terem perdido bastante o receio de enfrentar uma equipe tradicional e outrora poderosa, mas que hoje ostenta deficiências de tal ordem que os encorajam a vencê-la.

Urgem mudanças na forma de jogar, e o bom técnico argentino não pode adiar tais mudanças, pois estaria incorrendo no maior dos erros, o de não ousar inovar, afastando de vez a previsível mesmice que nos tem diminuído e humilhado no cenário do basquete internacional.

Desejo que a seleção torne a se encontrar, e que o Magnano consiga de vez, resgatar a nossa tradição de bons e corajosos combatentes.

Amém.

OS TRÊS(MAIS DO QUE) PREVISTOS FATÔRES…

Num espaço de 48hs, a imensa maioria dos comentários nos blogs da modalidade passaram do velado e cuidadoso otimismo com a seleção, para a maciça reprovação pela derrota de hoje frente aos dominicanos, como algo que havia se tornado improvável a partir da derrota dos mesmos frente ao Canadá, vencido por nós.

Mas mesmo vencendo as duas partidas iniciais, contra a Venezuela e o Canadá, a equipe brasileira apresentou sérias deficiências técnico táticas, que se avolumariam na medida em que adversários mais consistentes a enfrentasse, o que para a grande maioria torcedora não seria o caso da República Dominicana, esquecendo que aquela boa equipe apresentava em tese, três setores bem mais estruturados do que a nossa seleção, o poderio nos rebotes, o fortíssimo jogo interior decorrente, e uma dupla , eficiente e pontuadora armação.

A dupla armação dominicana, atuante em todos os setores fora do perímetro, praticamente empurrava seus potentes e altos alas para bem dentro do perímetro, conjugando seus esforços ao pivô atuante naquele momento, de um total de três de boa qualidade, ante um posicionamento defensivo interior brasileiro, claudicante e inferiorizado na dinâmica , força de combate e anteposição dos curtos e médios arremessos com que se confrontavam.

Essa mesma força e dinâmica dominicana também e poderosamente se fazia presente em seu próprio garrafão, tornando estéreis a maioria das tentativas de nossos pivôs, sempre em menor número naquele estratégico setor do jogo. Se estivéssemos estruturados para atuar em dupla armação, igualando a supremacia dominicana nesse setor, certamente o Huertas não cometeria as 10 perdas de bola que protagonizou, exatamente por se encontrar solitário e extremamente pressionado na missão de organizar todas as ações de sua equipe, aspecto que ficou mais gritante, quando ao fim do segundo quarto o Rafael Luz o substituiu, frio e sob intensa pressão perdeu a bola em sua primeira tentativa de ataque.

E exatamente pelas dificuldades de armação, luta defensiva e ofensiva no interior dos garrafões, e pelas mínimas tentativas de corte em direção a cesta por parte de nossos alas, que por enraizado hábito preferiram, por mais e teimosamente vez, investir na artilharia de três, onde apresentaram os seguintes números: -Marcelo Machado,2/5 – Alex, 0/4 – Guilherme, 0/5 – Marcos, 3/6, ou seja, dos 5/22 arremessos de três da equipe, esses jogadores concluíram 20, quando teria bastado a metade dos 15 perdidos, se transformados em arremessos de dois pontos para vencermos o jogo, fora os 4/9 lances livres do Spliter.

Foi um jogo para tirarmos algumas conclusões, e porque não, ensinamentos. Concluamos que nos faltaram pivôs mais atléticos e velozes para enfrentarmos de forma antecipativa , bloqueadora, e contestadora os curtos arremessos e rebotes dominicanos, assim como uma efetiva e necessária ajuda na armação da equipe, não permitindo o confronto solitário do Huertas com os velozes e grudentos armadores  rivais, com suas dobras eficientes. Um segundo armador se fazia necessário, mas não foi lançado, (ou talvez não tenha sido uma forma de jogar devidamente treinada) em nenhum momento do jogo. O Marcelo Machado, o Alex e o Marcos não têm o domínio da bilateralidade nos dribles, tornando-os fáceis de serem marcados nas tentativas de penetração, e sem a calma necessária para a leitura eficiente do jogo, optam pelos longos arremessos, as conhecidas “bolinhas”, que definitivamente hoje, não caíram, e cairão menos ainda quando se defrontarem com defesas contestadoras e eficientes (e mais do que nunca atentas) fora do perímetro, aspecto esse que conota a nossa maior falha desde sempre, sendo produto direto de uma formação de base para lá de deficiente, senão irresponsável.

Bem, a equipe ainda ostenta razoáveis possibilidades de classificação, mas para tal deverá se reestruturar, senão radicalmente, pelo menos se adaptando a uma forma mais incisiva de jogar, como se utilizando de dois pivôs, uma dupla armação e um ala de velocidade, pois temos, além do Spliter, um Augusto que preenche essa necessidade de velocidade e força, com o Rafael para a rotação. Temos quatro armadores na equipe, e pelo menos dois alas velozes e pontuadores, posicionamentos estes que levariam a equipe para mais junto da cesta, reforçando os rebotes ofensivos, assim como preencheriam nosso espaço defensivo, minorando bastante a deficiência de marcação dos pivôs que por certo, enfrentaremos daqui para diante.

O Magnano terá que se desdobrar para incutir nessa turma artilheira, o sentido da precisão mais eficiente e segura dos arremessos de dois pontos, em vez da hemorragia vertida a cada jogo pelas ‘bolinhas” pseudo salvadoras.

Torço de coração para que consigam.

Amém.

Fotos-FIBA AMERICAS

DE 2 EM 2…

Terminado esse jogo contra o Canadá, permanece no ar uma enigmática questão- por onde anda o tão decantado coletivismo incutido, treinado e testado em amistosos, depois de tanto trabalho, formidável empenho, dedicação e comprometimento de todos? Por onde anda?

Como ousou o técnico campeão olímpico tentar trazer para o âmago de suas concepções vitoriosas de jogo coletivo, uma plêiade de alguns estrelados jogadores, que em síntese, vêem o tal coletivismo como algo limitador de suas próprias convicções de jogo (o próprio Wlamir Marques reconhece tal situação em seus comentários), aquelas movidas e alimentadas pela volúpia dos longos, extasiantes, e midiaticamente enaltecidos arremessos (inclusive de tabela) de três gloriosos pontos? Porque perder tempo em dribles e fintas de aproximação, quão trabalhosas e cansativas são, se o serviço (bem remunerado, aliás) pode ser resolvido de longe, sem riscos (para eles, noves fora os erros…) e esforços desnecessários, e premiados pelo frêmito enlouquecido das duas torcidas que importam, os que pagam os ingressos, e os que transmitem seus feitos geniais? “No inicio as bolas não estavam caindo, mas insistimos, pois sabíamos que elas voltariam a cair…”Lembram-se?

Pois é minha gente, não estão caindo como achavam que deveriam cair, afinal de contas, treinaram tanto…

E como tal, que sistema coletivista de jogo pode prosperar seguro e eficiente ante uma indiscriminada artilharia desse calibre? Respondam.

Além do mais, se garantimos cestas triplas aos magotes, por que se empenhar exaustivamente em posicionamentos defensivos necessários nos rebotes, quando o objetivo é a bola? Pois é turma, rebote se pega olhando e, por conseguinte, calculando a trajetória linear dos adversários, a fim de antecipá-los, para depois, ai sim, buscar a bola, vendo-a em visão periférica, e não olhando diretamente para ela, num dos primários fundamentos do jogo, sabiam?

Mais um detalhe, dos muitos esquecidos, ou desconhecidos, a respeito de nossos alas, suas limitadas capacitações nos dribles e fintas, e mesmo nas conclusões de curta e média distância. Saltava aos olhos a habilidade de todos os alas canadenses de atuarem tanto fora, como dentro do perímetro, numa verdadeira função de alas pivôs, e não somente arremessadores, também uma simples questão de fundamentos.

Ora, com tantas limitações vindas de uma formação de base deficiente e carente de qualificações, como um sistema coletivista pode prosperar sem tais conhecimentos, nem um pouco corrigidos, ou mesmo atenuados?

E nesse ponto o Magnano se fez presente com uma proposta brilhante, a garra e o intransigente combate defensivo (numa ação coletiva), mesmo que em quartos alternados, ou, como nos dois últimos jogos, no quarto final. E para tanto, seu incessante rodízio tinha como objetivo prioritário fazer chegar a esse decisivo quarto, a maior quantidade possível daqueles jogadores que confia para a missão, de preferência, todos eles, no que foi bem sucedido, mas…como no caso do jogo de hoje, pode contar com uma performance de altíssima qualidade, através o Huertas, que resolveu a questão arremessando sucessivamente 5 bolas de…isso mesmo, 2 pontos, estipulando a diferença necessária para uma vitoria dura e salvadora, provando àqueles “especialistas” das longas distâncias que de 2 em 2 também se vencem partidas, principalmente numa competição de tanta e decisiva importância, como esse pré olímpico.

Honestamente não acredito que, devido a composição básica dessa equipe, seja o conceito coletivista levado a bom termo, mas que algo de positivo poderia ser implantado, mesmo que coercitivamente imposto, o de priorizar o jogo interior, seja através os pivôs, ou penetrações, a fim de otimizar cada ataque através arremessos de dois pontos, mais precisos e equilibrados, forçando o jogo nos pivôs adversários, para ai sim, retornar bolas de dentro para fora do perímetro, para alguns arremessos de três seguros,  livres de anteposições, e com decorrente e bem postado rebote ofensivo.

A seleção ainda passará por sérios embates daqui para a frente, agora que suas deficiências foram devidamente anotadas pelos concorrentes diretos à vaga olímpica, os dominicanos e porto-riquenhos, além dos donos da casa, os argentinos, fazendo com que o técnico Magnano exponha suas cartas na mesa da verdade, fazendo-a jogar coletivamente, ou não. Torço para que se saia bem, e feliz.

Amém.