O TRIGÉSIMO TERCEIRO DIA – O JOGO EXEMPLAR…

Mais um jogo, contra Assis, mais uma derrota, mas pequenas vitorias são alcançadas, numa melhora defensiva acentuada de jogo para jogo, quando já evoluímos para os 3/4 da partida em igualdade de condições técnicas, um quarto além dos excelentes dois quartos iniciais que fazíamos, num trabalho bem sei lento, mas cuja tendência evolutiva advirá com certeza.

Num jogo cujo poder de rebote do fortíssimo adversário somaram 45 acertos, contra 25 dos nossos, virar para o quarto decisivo 8 pontos atrás, por si só caracteriza uma enorme evolução se comparada aos 18 pontos em média dos dois jogos anteriores, faltando tão somente um maior condicionamento físico e mental para que o equilíbrio técnico seja alcançado, numa escalada difícil e sofrida, mas não impossível, mesmo a esta altura do campeonato, bastando mantermos o alto nível de comprometimento que a quase maioria dos jogadores demonstram no dia a dia do preparo da equipe, onde uns poucos ainda se mantêm num nível abaixo dos demais, os quais tenho dado atenção redobrada.

Claro que os fatores negativos que assaltaram a equipe nas duas últimas semanas influenciaram por demais a produtividade de todos os jogadores, cujas correções nos tem tomado tempo precioso e que ainda nos cobrarão juros bastante altos, queiram muitos críticos reconhecerem ou não, tão contundentes evidências, indiscutíveis por sinal, exatamente por ser o basquetebol uma modalidade de altíssima técnica, cuja aquisição, manutenção e desenvolvimento da mesma não tem paralelo em outras modalidades.

Exatamente por esta característica técnico tática é que os resultados custam muito a se concretizarem, sem que os mesmos atinjam a excelência de seus princípios básicos de execução.

E por ter conhecimento das reais capacitações dos jogadores, provadas e comprovadas nas quadras sob meu comando, é que afirmo ser plenamente possível alcançarmos um estágio acima do razoável para o restante do campeonato, e uma gradação técnico tática de vulto na continuidade de um trabalho pleno de possibilidades e consideráveis avanços, se prestigiado e patrocinado com isenção e plena confiança de seus gestores.

O jogo de hoje, como os que o antecederam nos últimos 30 dias, representou uma renovada chance de afirmação de uma equipe desacreditada, ainda perdendo jogos, mas plantando a cada partida uma semente de boa técnica, bons sistemas e um principio fundamental a qualquer equipe, o comprometimento de muitos, mas não muito longe da maioria.

Hoje apesar da longa experiência adquirida dentro e fora das quadras, pude voltar a sentir aquela emoção de estar lutando em igualdade de condições contra uma equipe poderosa e muito forte fisicamente em 3/4 da partida, que serão 4/4 muito em breve, tenho a mais absoluta certeza.

Esta será uma semana de trabalho intenso, pois nos defrontaremos com duas equipes que ponteiam a Liga, Minas e Brasília, ante as quais uma evolução bem planejada poderá ser comprovada, ou um pouco mais adiada , dependendo do caminho a ser escolhido, treinado e aceito por todos.

Amém.

O TRIGÉSIMO SEGUNDO DIA…

Já madrugada aqui em Assis, os jogadores dormem depois de um treino bastante intenso, quando desenvolvemos o sistema defensivo, que na medida das possibilidades atuais da equipe, deverá ser aquele setor prioritário no jogo de daqui a pouco contra a forte equipe da cidade. Ao som da banda de meu filho caçula ( www.Myspace.com/flightband) que na lonjura de Budapest sei que torce por mim e a equipe nessa duríssima Liga, projeto no papel e na minha mente ações que pretendo desenvolver no jogo, pesando soluções e alguns recursos ainda não suficientemente explorados, na busca permanente de uma vitoria, que apesar de difícil obtenção não é descartada em hipótese alguma de meus cada vez mais críticos planos, haja vista tantos percalços nos 30 dias que preparo e dirijo a equipe.

Tenho conversado muito com os jogadores, transmitindo e detalhando os treinamentos e os sistemas adotados, numa permanente troca de experiências e opiniões que visem o crescimento de todos, inclusive o meu próprio, obtendo considerável e benéfico retorno, e mais, pesquisando suas esperanças, pequenas ambições e sonhos no amanhã de suas vidas. E a possibilidade de estudarem, concomitante ao basquete, é o objetivo mais ansiado por todos, o que em hipótese alguma me deixa surpreso, dadas as pistas por mim captadas nos encontros e trocas de idéias, não fosse eu um experiente professor com mais de 50 anos de batente. Sem dúvida alguma esse é um ponto prioritário que abordarei no projeto para a próxima temporada, claro que se for sinalizada a querência à minha continuidade na direção da equipe, onde uma inteligente manipulação de horários de treinamentos propiciaria o desenvolvimento da dualidade desporto-estudo no seu mais puro sentido.

Mais são projeções para um futuro perto ou distante, mas que caracterizariam um enorme e decisivo avanço no seio da atividade desportiva em nosso país.

São duas da manhã e preciso descansar um pouco. E embalado pelo som do filho querido me deixarei adormecer e acordar para mais um encontro com o destino de uma equipe que já se faz merecedora de uma vitoria, de uma ansiada vitoria.

Amém.

O TRIGÉSIMO PRIMEIRO DIA – A REGRA OMITIDA…

Nesta manhã fizemos um bom treino de fundamentos e arremessos, visando primordialmente uma execução mais objetiva do drible e conseqüente mudança de direção, a fim de que a organização do nosso sistema  de jogo pudesse fluir mais naturalmente e com alguma dose de liberdade no permanente combate com a defesa contraria, principalmente por parte dos armadores, numa antevisão da única forma possível de evitá-lo, a anulação da conexão entre os armadores e os pivôs dentro do perímetro interno.

E fomos para o jogo à noite, planejando forçar as ações internas, com deslocamentos permanentes de todos os pivôs móveis, e consequente ligação com os armadores. Na defesa, o abandono da dobra interna, a fim de serem evitados os passes para as laterais onde arremessadores de três pontos costumam atingir bons índices de acerto pela total liberdade presenteada pela referida dobra que tenta em ajuda evitar finalizações de curta distância, cedendo no entanto o espaço mais do que confortável para o arremesso de três pontos. Minha proposta aos jogadores foi a de trocarmos 3 por 2, ao permitir o corte em direção à cesta, em vez de deixá-los à vontade para o arremesso de três, onde são realmente poderosos.

Mas desde os primeiros minutos de bola em jogo, testemunhando a poucos metros de distância os verdadeiros atentados cometidos sobre meus armadores, através uma marcação faltosa todo o tempo, onde a carga ilegal ao corpo dos mesmos era constante e violenta, sob os olhares complacentes e absolutamente ignorantes quanto à interpretação das regras elaboradas e emitidas pela FIBA, mas perfeitamente alinhados aos critérios utilizados na NBA, que percebi de pronto a quase impossibilidade de fazer chegar nossos passes com precisão aos nossos pivôs na zona interna, numa cristalina constatação do formidável equivoco em que vem se transformando a arbitragem brasileira, principalmente quanto às cargas faltosas e ilegais sobre os armadores e demais jogadores. Mais tarde no hotel, aquela visão inicial que tive sobre o jogo era confirmada a cada ação pelo irrefutável vídeo que assistia, incrédulo e inconformado, inconformismo este que não manifestei durante todo o jogo por não considerar válidas intervenções coercitivas aos árbitros,atitude incompatível  a minha função de técnico de uma equipe que deveria estar disputando um jogo de alta competição, arbitrado por juízes preparados para a mesma.

Quebrado o sincronismo entre armadores e pivôs, nos restou as tentativas individuais que tanto treinei para que não acontecessem dentro do sistema adotado, numa clara demonstração do quanto de poder negativo uma arbitragem omissa pode desencadear no âmago de uma equipe. No nosso banco os auxiliares e jogadores ensaiavam protestos contra critérios tão desiguais, os quais procurei conter para que não perdêssemos as poucas oportunidades que nos restaram para buscarmos um equilíbrio minimamente possível.

Nos terceiro e quarto quartos conseguimos a duras penas e muita insistência de minha parte evitarmos as dobras nas penetrações do adversário, mantendo por conseguinte os arremessadores sob um maior controle defensivo, mas a diferença passando dos 20 pontos inviabilizava uma reação.

Lições foram listadas para posteriores correções, onde duas variáveis sobressaem, a reestruturação defensiva de alguns jogadores, habituados a não contestarem tentativas de três pontos dentro do sistema único de jogo que praticaram desde sempre, e o reestudo de uma formula que tornem os armadores capazes de atuar e alimentar seus pivôs embaixo de pancada, isso mesmo, na acepção do termo, pancada, numa constatação lamentável e constrangedora, e que infelizmente vai se impondo ao nosso basquetebol.

O jogo eminentemente físico mascara e até anula em alguns casos a técnica e a habilidade de muitos jogadores, numa perigosa e irresponsável emulação do que ocorre com o futebol, onde jogadores de alta técnica sofrem coerção aberta por parte de jogadores inábeis e violentos, como se fosse um pecado original o exercício da arte de jogar. O basquete corre sério perigo de se ver no mesmo caminho do futebol, sob o beneplácito de uma arbitragem equivocada e pessimamente formada. Urgem discussões de técnicas de jogo com os conselhos de arbitragens em todo o país, a fim de que a essência do jogo não descambe para o âmbito de um prosaico circo romano.

Mas verdade seja dita que perdemos para uma equipe melhor, com bons arremessadores, e extremamente rápida, mas que teve facilitada sua vitoria pela quase impossibilidade de nossos armadores jogarem dentro das regras, caçados que foram por toda a partida, numa claríssima constatação de que seus defensores estavam orientados a não permitirem que a bola chegasse ao perímetro interno em boas condições, mas que infelizmente para o correto e legal desenvolvimento do jogo faltou a correta aplicação das regras, onde a violência deliberada deve ser coibida permanentemente.

Sem dúvida estudaremos maneiras de contornar tal comportamento agressivo, sem que o imitemos jamais, pelo bem do grande jogo.

Domingo teremos mais um jogo aqui em São Paulo, contra a equipe de Assis, esperando, no mínimo desejável uma arbitragem condizente com o espírito das regras da FIBA, e não dentro do espírito agressivo e ilegal preconizado pela NBA.

E aos problemas que temos enfrentado, que não se some mais este, para o qual não existem treinamentos imediatos que o anulem.

Conseguimos manter nossos valores estatísticos bem próximos aos que vínhamos obtendo nos jogos anteriores, com uma pequena queda nos lances livres e números de rebotes, o que demonstra o acerto do sistema adotado, cuja tendência de se firmar aumenta a cada dia, a cada treino, a cada competição. Muito trabalho temos pela frente, e é para lá que vamos, todos.

Amém.

O TRIGÉSIMO DIA…

Que maratona meus deuses, 3 vôos desde Vitoria até aqui, Bauru, num sobe e desce monótono e cansativo. Mas o Hotel é bom, a alimentação excelente e a cidade simpática. À noite fomos ao ginásio treinar exclusivamente arremessos após uma minuciosa sessão de alongamentos. A eficiência e a regularidade tem se mantido constantes, principalmente nos arremessos de 2 pontos e nos lances livres, a bem pouco tempo atrás o frágil tendão da equipe. Sem dúvida alguma, melhoramos, e muito nos arremessos, reforço considerável ao sistema adotado, privilegiando a precisão em face das aventuras arrivistas dos 3 pontos.

Mas Paulo, os “chutes” de 3 estão marginalizados na equipe? Claro que não, desde que executados por um dos dois especialistas, e em situações alternativas e pontuais, nunca como base tática da equipe, tornando-a seletiva e responsável. Temos de valorizar o simples, a síntese, o essencial, que representam o clímax de uma equipe madura, antítese da aventura adolescente, numa conquista difícil mas compensadora a longo prazo.

Todos estão dormindo, e meu cansaço é evidente. Daqui a pouco voltaremos ao ginásio para mais e mais arremessos e movimentos fundamentais, numa rotina necessária e estratégica para uma equipe que luta para reverter um quadro desvantajoso, mas não terminal.

Boa noite a todos, amanhã nos encontraremos.

Amém.

O VIGÉSIMO NONO DIA…

Desde que aqui cheguei não havia enfrentado tanto calor e tanta umidade como hoje, transformando o pouco ventilado ginásio numa sauna insuportável. Mesmo sob essas condições realizamos um ótimo treino matutino de fundamentos e arremessos, com especial ênfase nos lances livres. Também procuramos acertar os pontos certos dos passes dirigidos aos pivôs em movimento, fator básico do sistema que utilizamos, onde a precisão dos mesmos é o objetivo maior a ser alcançado.

Sob uma temperatura mais amena, o treino do final de tarde foi muito proveitoso, intenso e exigente, quando detalhamos o ataque contra marcação por zona, pressão e individual, assim como, e concomitantemente, aprimoramos a defesa linha da bola. Como só estava instalada uma das tabelas, o ligeiro coletivo que encerra a fase que antecede um jogo oficial não foi realizado, mesmo assim, os jogadores  se sentiram satisfeitos com o trabalho. Amanhã bem cedo embarcamos para Bauru, de encontro, por mais uma vez, de um resultado que premie o enorme esforço de todos.

Sei das grandes dificuldades que enfrentaremos no interior paulista, mas, de acordo com as condições e atribulações por que passamos acredito seriamente que jogaremos muito bem, e constato isto admirando o enorme empenho nos treinos, onde sobram demonstrações na busca pelo movimento correto, pelo melhor passe, pela escolha e seleção do melhor arremesso, pelo incentivo de uns para os outros, antes, durante e depois das práticas realizadas. Aos poucos, mas seguramente, reencontramos o sentido de equipe, tão abalado pelos fatos ocorridos dias atrás. E vamos superá-los.

Serão jogos duríssimos, pois o final da classificação se aproxima com todas as equipes procurando e lutando pelas vagas no play off,  meta distante, mas não impossível para a nossa equipe.

E lá vamos nós, cheios de fé e a mais absoluta certeza de que o trabalho intenso e sacrificado nos dá a certeza de que estamos muito perto dos grandes resultados, apesar do descrédito de muitos, e das amargas situações porque temos passado.

Enfim, vamos a luta, vamos jogar o grande jogo como deve ser jogado.

Amém.

O VIGÉSIMO OITAVO DIA – A RETOMADA…

Chego ao ginásio para a sessão de vídeo às 9:00 hs, e encontro os jogadores sentados na mureta em frente ao mesmo a espera do assistente técnico e do preparador físico que estão trazendo de suas casas a TV e o reprodutor de DVD , já que a equipe não os possui. Vamos para o palco atrás de uma das tabelas, dispomos as cadeiras, ligamos os aparelhos e…a TV simplesmente falha seguidamente, inviabilizando a emissão das imagens. Fim da sessão, e ficamos sem poder corrigir posicionamentos e deslocamentos errôneos no jogo de domingo. Pacientemente nos deslocamos para a quadra onde funcionários acabam de constatar que o sistema hidráulico de uma das tabelas simplesmente não funciona.

Sem vídeo e sem uma das tabelas realizamos um treino especifico de fintas e arremessos, que pelo menos pudemos concretizar.

18:00hs- Iniciamos um treino de retomada após a tsunami que nos assaltou nos dois últimos dias, e como foi puxado no confronto defesa linha da bola versus nosso sistema de ataque, com enfoque detalhado na ação dos três pivôs. Repetições e mais repetições, minuciosas e cansativas, exaustivas mesmo, quando o cansaço embota o raciocínio e os gestos tendem à lentidão, num momento em que situações de jogo se tornam reais, num momento em que o treino pode se tornar realmente proveitoso na descoberta dos limites físicos, mentais, psicológicos, ou simplesmente no reconhecimento de que muitas barreiras ainda terão de ser transpostas, num sem fim de possibilidades alcançáveis ou não.

Nesses momentos mágicos a dimensão de cada jogador é revelada em toda sua extensão, além do cansaço, muito além da exaustão. Aquele que se entrega, aquele que se supera, outro que se exaspera, e mais outro que se sublima, e aquele único que lidera a todos pelo exemplo e pela resistência, mantendo sua reserva técnica pronta e lapidada para aplicá-la nos momentos decisivos. É a busca que todo técnico deve perseguir no conhecimento real de sua equipe, com parcimônia, objetividade, e acima de tudo com bom senso.

Ligeira interrupção no esforço para os arremessos de lance livres, onde suor, tensão muscular e mental recriam com exatidão aqueles momentos em que as partidas são decididas, naqueles momentos em que a precisão depende de todo o controle físico e mental que possa ser alcançado.

Retomamos o duelo, agora contra defesa por zona, que no quinto minuto de duração é interrompido pela comunicação do administrador do ginásio que outro treino, de voleibol se iniciaria naquele momento. Frustro-me com a ausência de um planejamento mais elaborado, e prometo a mim mesmo que se o trabalho se estender para a próxima temporada fatos desta monta não se repetirão. Encerro o treino, e vejo nas feições cansadas dos jogadores o quanto de produtivo e compensador foi seu esforço, que amanhã, sem falta, repetiremos pelo prazer do dever cumprido.

Amém.

O VIGÉSIMO SÉTIMO DIA…

Lucas, Daniel, Mosley são ótimos jogadores, que junto aos demais componentes da equipe do Saldanha da Gama me foram apresentados um mês atrás quando fui convidado por Alarico Lima para dirigi-los no NBB2.

Iniciei as atividades contando com o empenho de todos num trabalho minucioso de reconstrução de uma equipe falida e depreciada, mas que respondeu ao treinamento intenso com melhoras que cresciam ao passar dos dias. Foram 18 até o embarque para São Paulo, onde brilharam intensamente contra o Pinheiros e o Paulistano, merecendo dois dos jogadores, o Roberto e o Lucas suas escolhas para a seleção da rodada, e o Roberto como o Dono da Bola da mesma.

Este inicio bem sucedido encheu a todos nós de esperanças em dias melhores, em uma melhor colocação no campeonato, e em uma elevação na auto-estima de todos. Voltamos a Vitoria, e na segunda feira tudo desmoronou, todo o esforço despendido se tornou em vão, a equipe se fragmentou. E a causa alegada foi a negativa de quatro jogadores (Amiel era o outro, reconsiderando depois) de continuarem treinando e jogando enquanto pagamentos atrasados não fossem honrados pela administração. Por conta destas decisões  enfrentamos Franca e Araraquara em grande desvantagem, perdendo este último por não poder contar com jogadores necessários ao rodízio obrigatório pelo sistema defensivo que empregamos, o da linha da bola, desgastante e exaustivo.

Torcia para que tudo pudesse ser resolvido antes dos dois próximos jogos em São Paulo contra Bauru e Assis, que poderia nos dar um novo e definitivo alento nesta equilibrada Liga.

Hoje, Lucas, Daniel e Mosley foram dispensados ao lutarem por  direitos que consideravam válidos e justos, e que certos ou equivocados deveriam ter tido de mim, o técnico da equipe, um posicionamento opinativo, com conotações eminentemente técnicas e comportamentais nos treinos e jogos,  sobre decisões tão drásticas que foram tomadas  pela administração da equipe. E a atitude lógica que teria o meu voto seria a da conciliação, do acerto das dividas, garantidora da continuidade de um trabalho realmente promissor, que se estenderia por somente mais um mês no caso da não habilitação aos play offs , ou um pouco mais se classificada a equipe. E ao fim da temporada tudo se aclararia e possivelmente , ou não, se resolveria sem a perda irremediável de um trabalho realmente inovador.

Mesmo em se tratando de um problema muito anterior à minha chegada, uma palavra, uma posição a favor da integridade de uma equipe duramente formada e renovada poderia ser levada em conta, já que nada, absolutamente nada pesava na minha relação com todos eles, a não ser o fato da ausência aos últimos  treinos pelos  motivos alegados, jamais técnicos.

Foram dispensados mesmo ante tais argumentações, quando todo um processo técnico tático se encontrava em acentuada e ascendente evolução, interrompendo-o de forma radical, foram dispensados por pêndegas entre eles e a administração da equipe, o que lamento muito. Mas tenho sob comando os demais jogadores, que se esforçaram e trabalharam com a mesma intensidade,  que confiam em mim e concordam na continuidade do processo e na mensagem que passo através de muito trabalho e dedicação, e aos quais devo respeito e alta consideração, na mesma proporção e intensidade que sempre tive aos hoje dispensados Lucas, Daniel e Mosley, aos quais desejo ardentemente sucesso onde vierem a atuar.

Deverei seguir em consideração e respeito à equipe e a palavra empenhada ao Alarico que me trouxe para sua equipe, cumprindo o contrato de 3 meses, dedicando todo o meu conhecimento e força de trabalho a respeito do grande jogo, findo os quais tomarei as medidas que naturalmente se imporão ao projeto proposto, que estarão, ou não, ao alcance da equipe, como um todo, e a mim em particular.

Tenho um trabalho, agora dobrado, pela frente, mas que tem de ser exequibilizado a um custo bem maior do até agora realizado, e que nos custou muito esforço  e suor. Recomeçar, é o que nos espera.

Amém.

O VIGÉSIMO SEXTO DIA – O JOGO…

Como jogamos bem hoje, como lutamos e perseveramos, como suprimos no limite da resistência aqueles que não estiveram junto a nós, mas perdemos, ao final do último quarto, contra uma equipe que venceu a pouco os grandes da competição, e que não ultrapassou os 70 pontos, mas perdemos, o que nos tornam, a mim e os jogadores, alvo dos descrentes de que algo de renovador possa transcender a mesmice técnico tática a que nos habituamos nos últimos 20 anos, mas infelizmente perdemos, quando uma vitória nos redimiria de tanta incompreensão e imediatismo vindo daqueles cuja mediocridade arrasa mentes e espíritos abertos, e que não se cansam do que fazem.

Que pena a não divulgação pela TV de um jogo, de uma peculiar maneira de jogar, senão diferente, eficiente, democrática, criativa, onde jogadores aprendem a ler o jogo de verdade, onde se ajudam e discutem os melhores caminhos, errando algumas vezes, mas indo de encontro às soluções sem pranchetas e controle coercitivo de fora para dentro da quadra, onde o técnico os assessora e aconselha, e não escravizando e bitolando.

Iremos continuar, treinaremos muito, trabalharemos sem limitações, para em breve, ou um pouco mais adiante, estarmos realmente prontos e plenamente donos de um sistema que nos caracterizará, nos identificará como uma equipe a ser respeitada e digna de ser apreciada.

Amanhã reinvidicarei um pequeno equipamento de vídeo, e reforçarei o pedido de alguns apetrechos de madeira que desenhei para auxiliarem no treinamento, principalmente de arremessos. São muito simples e eficientes, e que muita falta nos fazem. Enviarei também um pedido à LNB para que nos permita colocar o vídeo de um de nossos jogos aqui no blog, para que os jovens técnicos do país o avaliem, comentem e discutam sua validade, ou não. Seria uma ótima oportunidade que a Liga daria aos mesmos, tão carentes de informação de qualidade.

Ainda mantenho as esperanças de que a administração possa solucionar de vez o impasse com os jogadores que não disponho para treinamento e jogos desde a volta de São Paulo, e que tanta falta nos fizeram contra Franca e Araraquara, e que também farão neste fim de semana contra Bauru e Assis.

Mas apesar das derrotas, sinto que algo nos tem empurrado de encontro a estes novos tempos, patrocinados por um sistema de jogo que aceitaram e lutam para incorporá-lo definitivamente em sua s ações e em seus comportamentos, e da melhor forma que é desejável, como base de uma equipe, de uma verdadeira equipe.

Perdemos, mas em breve não perderemos mais, pelo menos da forma que nos tornam alvo do descrédito e da mais absoluta falta de visão de todos aqueles que se acham donos do grande jogo, já que pasteurizados e colonizados irremediavelmente. Busco e todos buscamos um verdadeiro sentido de equipe, solidificado no terreno fértil dos bons sistemas de jogo, e de um espírito de união que nos leve de encontro a vitoria, e a conseguiremos.

Amém.

Adendo 1 – Aos juízes da Liga.

Em 1972 publiquei na Revista Arquivos da EEFD/UFRJ um artigo sobre a defesa linha da bola, onde mencionava a enorme dificuldade em convencer os juízes das ações não faltosas na marcação frontal dos pivôs. Somente quando professor convidado nos cursos de formação de juízes da FBERJ, lecionado aspectos técnicos dos fundamentos do jogo, é que pude vagarosamente provar a ação não faltosa. Hoje esse tipo de marcação pode ser exercida livremente, e por conta desta evidência é que apelo aos juízes maiores atenções nas ações extremamente faltosas embaixo das cestas, onde o aspecto físico em muito transcendem o técnico, em evidente prejuízo ao basquete brasileiro. É bom lembrar que os critérios atualmente empregues nos aproximam aos padrões eminentemente físicos adotados e praticados na NBA, quando nossos esforços deveriam ser dirigidos aos padrões FIBA. São situações e atitudes que deveriam ser devidamente discutidas, estudadas e aplicadas corretamente nos nossos campeonatos, onde técnicos poderiam ajudar nos esclarecimentos, como os fiz alguns anos atrás  nos cursos de formação de juízes no Rio de Janeiro.

Paulo Murilo.

O VIGÉSIMO QUINTO DIA – O JOGO E SUAS VERDADES…

São 4 horas da manhã, penso muito no jogo, no que fizemos e trabalhamos, e mais ainda no que sofremos. Vacilo junto ao teclado de meu laptop, mas os dedos, como guiados por algo maior que minha vontade  treinada em relevar pequenos e grandes falhas humanas, escorregam para ele, e digitam o que deve ser digitado, orientados por uma mente que guardou um maravilhoso  ensinamento de uma saudosa e velha amiga, minha mãe, que dizia do alto de sua sabedoria- Paulo meu filho, ouça  tudo na vida, conselhos e sugestões, para ao final seguir a sua consciência, pois é perante ela que você terá sempre que responder.

Imaginem a situação de um técnico que até o domingo passado orientava uma equipe capaz de em 18 dias de treinamento técnico e físico intenso, ir a São Paulo e desenvolver um basquete de alto nível, contra equipes tradicionais , como Pinheiros e Paulistano, e jogar magnificamente, a ponto de se tornar o foco de interesse e atenção das demais equipes, da extensa e categorizada mídia alternativa e imprensa em geral, e ao voltar para mais uma semana de preparo, a fim do enfrentamento com Franca e Araraquara, se vê privada de cinco de seus melhores jogadores, por motivos extra quadra, exceto um que tem tido problemas com um filho recém nascido, e os demais envolvidos com sérios problemas financeiros motivados por um atraso no repasse de verba pública retida em canais administrativos, originando necessidades e premências em uma equipe profissional composta de homens, com as mesmas necessidades econômicas de um cidadão comum.  E por tudo isso nove treinos não contaram com a participação de todos, inviabilizando o reforço, o ajuste e a busca da sintonia fina dentro do sistema acabado de ser implantado, com suas novas propostas e situações inéditas.

E você assiste dois dos quartos iniciais razoavelmente equilibrados, dentro de um planejamento estratégico contra uma fortíssima equipe, mas já sentindo que o nível cairia irremediavelmente ante o inegável desentrosamento, fruto da ausência daqueles jogadores que não treinaram, mas que ante a esperança de ver suas situações resolvidas à curto prazo, participam, três deles, sendo que dois sequer trocam de roupa, de um jogo desigual para eles, e logicamente para toda a equipe.

E no terceiro quarto a hecatombe, na forma de 10 arremessos de três pontos quase seguidos sem as justas e devidas contestações motivadas por um desentrosamento progressivo e irremediável, pondo fim às ínfimas esperanças de reverter a partida., agora sob total domínio de Franca. Nada pode se antepor ao cansaço motivado pela ausência de preparo, não só físico e técnico, como, e principalmente o mental, e psicológico, e mais, de dois jogadores muito bons na marcação,  na semana do confronto. Numa divisão de elite 9 treinos fazem muita falta.

Mas quem está de fora critica o que vê, demonstra insatisfação pelo que não vê do tão prometido e inédito modo de jogar, incensado pelos que assistiram os jogos em São Paulo, repletos de novidades e novos conceitos para o nosso insosso basquete, e cuja apresentação deixa um que de decepção pairando no ar.

E com 30 pontos de vantagem( 15/28, ou 53,57% em arremessos de três), a ajustada e encaixada equipe de Franca chega ao final da partida com a tranquilidade daqueles que se prepararam melhor, sob o seguro manto de uma organização bem planejada, presente técnica e administrativamente, e por isso mesmo, justa e meritória cúmplice da vitória natural e incontestável.

Quanto a nós, que tratemos com urgência de sanar questões extra quadra, já que no interior da mesma resolvo eu os problemas( como manter a supremacia reboteira( 35/28), a seletividade nos arremessos de três( 10 tentativas no jogo), as finalizações possíveis de curta distância(21/51, ou 41,18%, razoável dentro das perspectivas do jogo), mantendo um percentual satisfatório nos lances livres(10/14 ou 71,43%), e com somente 6 erros cometidos, claro, se problemas exógenos não obliterarem nossa trabalhosa e esforçada busca pelo melhor caminho a ser trilhado pela equipe, além do meu próprio, nesta retomada corajosa e exigente, merecedora de apoio, respeito e acima de tudo consideração, na mesma proporção do que recebo e sempre recebi por mais de 50 anos dentro das quadras, como os calorosos votos de insistência e determinação dos dois Hélios, pai e filho após a partida.

Acredito que tudo, ou quase tudo, possa vir a ser resolvido na urgente brevidade que nos separa de hoje com a próxima partida, amanhã, domingo, contra Araraquara, quando poderemos retomar um caminho momentaneamente  interrompido, e sabendo de antemão o quanto nos custou e sem dúvida custará os nove treinos incompletos pela ausência de seus mais experientes jogadores, mas que no de logo mais possamos encontrar soluções emergenciais para os próximos e decisivos jogos que nos aguardam. Tentaremos todos dentro da quadra, onde as legítimas verdades acontecem, reencontrar as mesmas ou outras soluções que nos encheram de brio e determinação no belo giro pela paulicéia, mantendo minha palavra e comprometimento integral com a organização, e principalmente com os jogadores que a mim confiaram seus esforços e futuro, e que em uma única semana situa na seleção LNB da 18ª rodada dois jogadores, Lucas e Roberto, sendo que este o “dono da bola” na mesma. Além de sites e mais sites, inclusive o da própria liga enaltecendo o trabalho dos mesmos.

Que assim seja, sempre.

Amém.

Foto – LNB- Roberto o “dono da bola” da 18ª rodada do NBB2.

O VIGÉSIMO QUARTO DIA…

Véspera de um jogo, de um grande jogo, Franca aqui está, com toda a sua tradição, com toda a sua mística. Para toda uma imprensa, a maioria dos torcedores, creio que até para eles mesmos, o favoritismo é inegável, o terceiro colocado na Liga duelando contra o último, chances desiguais, que a frieza dos números, as estatísticas, não desmentem.

Entretanto, não comungo com essas objetivas e pragmáticas evidências, afinal dirijo e tenho treinado uma excelente equipe, sem a tradição cinquentenária de nosso valoroso adversário, mas repleta de um certo tipo de vibração que me custou muito compreender, e aceitar. Uma vibração recôndita, inerme, como que sedada, acalmada em sua prisão comportamental, que aos pouquinhos fui fustigando com simplórios exercícios de fundamentos, que praticaram no inicio de suas carreiras, uns mais, outros menos, despertando aquela alegria desconfiada e juvenil de quem redescobria o prazer no manuseio de uma bola, descobrindo seus segredos , suas manhas, suas imprevisibilidades.

Poucos dias, somente 18 dias, passaram céleres, imbuídos de esforço e muito suor, de trabalho intenso e compensador, pois com os fundamentos em dia, com a técnica individual aprimorada, um conceito de jogo, inovador quem sabe, teria campo semeável à frente, molhado por mais suor, mais trabalho, e trabalho, e trabalho.

E um sistema foi absorvido, discutido e agregado à equipe, num comum acordo inédito e democrático, numa aceitação espontânea e leal. Dois jogos em São Paulo concretizaram e provaram a duramente conquistada identidade, uma nova e particular identidade para uma equipe desacreditada e esquecida, mas que se redescobre forte e proprietária de um sistema técnico tático próprio, pertencente somente a ela, conquistado com dedicação e trabalho.

Então, não posso concordar com favoritismos e resultados apriorísticos. Posso e devo acreditar que será um grande jogo, não um jogo travado entre equipes que ocupam posições díspares na tabela, mas equipes que ao disputarem uma liga nacional duríssima, se fazem presentes com o seu melhor, que no nosso caso é aquele fruto do comprometimento corajoso de uma equipe em busca de um lugar entre os melhores. Tentaremos ultrapassar este desafio com o ardor dos justos, mas antes vamos aos treinos de hoje, duros e exigentes, como sempre.

Amém.