“CHIFRE”…

(…)”Então fica a esperança de que com o título de ontem e com a produção de cinco armadores de bom nível que os jovens de um modo geral sejam bem trabalhados em seus clubes e nas seleções de base. De novo: não é que não tenha jogadores aqui (seria bobeira demais pensar nisso). Há, e há aos borbotões ainda. A questão é como lapidá-los e formá-los”.

Este é o parágrafo final do artigo Brasil revê grande safra de armadores, publicada por Fabio Balassiano em seu blog Bala na cesta, em 24/7/11.

“A questão é como lapidá-los e formá-los”, apregoa o excelente jornalista, e aqui, desta humilde trincheira ouso responder que nunca serão lapidados e formados a permanecer esse absurdo e retrógado sistema único de jogo, que os transformam em sinaleiros e maratonistas, e de uns tempos para cá, finalizadores, em vez de articuladores e organizadores de uma verdadeira equipe de basquetebol.

Observem bem a foto acima, na qual fica exposto todo o equivoco que a caracteriza, quando vemos um armador de seleção brasileira ereto e com a bola inerte em sua mão, atitude de quem acaba de receber um passe, e com a outra mão sinaliza um indefectível “chifre”, nomeada e sedimentada jogada que até os esquimós já conhecem, numa atitude que consume, na melhor das hipóteses, uns 3-4 segundos, de um total de 24 a que sua equipe tem direito de posse de bola a cada ataque, e durante toda uma partida, num desperdício de tempo absurdo e indesculpável. E mais, logo após um passe lateralizado, lá vai nosso comandante percorrer uma trajetória circular por trás da defesa adversária, num percurso aproximado de 20 metros, repetidos monocórdicamente a cada ataque realizado, num outro e lamentável desperdício, o físico. E mesmo quando driblando, o comportamento é o mesmo, na perda estúpida de um tempo crucial.

Vez por outra tentam um bloqueio frontal com a ajuda de um pivô, que se desloca das proximidades da cesta, sua colocação básica e estratégica, para fora do perímetro, a fim de tentarem algo próximo de um corta-luz de facílima defesa, restando aos indigitados protagonistas arremessos desesperados de três pontos, ou uma desbalanceada penetração.

Então, como fazer com que esse armador produza algo baseado em uma percepção aguçada e treinada de leitura de jogo, se perde um tempo precioso fazendo sinais, arrumando seus companheiros nas estratificadas posições, e correndo maratonas sem a posse da bola, e fora do foco direto das jogadas? Como? Desobedecendo a coreografia estabelecida e pranchetada por seus técnicos, que se tentadas os fazem fregueses assíduos dos bancos de reservas? Ou simplesmente abdicando de uma ousada e pensada atitude tática, para preservar seus minutos em quadra? Sem dúvida alguma, nossos armadores que não são lapidados, mas sim formados, não, formatados a um comportamento obediente desde muito, muito cedo, talvez sequer se conscientizem da existência de outras formas de jogar e atuar, se percorressem outros sistemas, e mesmo outras cabeças que os lapidassem e formassem.

No mesmo blog Bala na Cesta de hoje, uma ótima entrevista com o grande Dirk Nowistzki, nos transporta a um universo bem distinto do nosso, e completamente dispare à realidade da própria NBA, de onde se originou o sistema único que nos adotamos com a sofreguidão de uma religião absolutista, mais ainda quando ele afirma: “Acabei percebendo com o tempo que não precisava de tiros longos para ser um jogador dominante e que precisaria me tornar mais versátil se quisesse ter vida longa na NBA. Quando cheguei na liga precisei me acostumar com o jogo de contato que há por lá, e acabei me esquivando um pouco disso nos tiros de três pontos. Além disso, tive que me tornar um passador e um defensor melhor, além de adquirir técnicas de infiltração, coisa que não tinha quando era um novato”. E sobre a armação da equipe: “Sobre o Carlisle, ele teve o mérito de ter fechado e unido o grupo como nunca havia visto na liga. Além disso, e isso vejo pouca gente falar, deu grande liberdade para o Jason Kidd armar – e acho que isso deu resultado, né.”

E mais poderia dizer se abordasse a formidável dupla armação que propiciou toda aquela gama de criatividade aflorada no Jason, no Terry e no Barea, arma letal que impulsionou os homens altos para dentro das defesas adversárias, e dando ao Dirk a oportunidade de expor todo o seu enorme e formidável repertório de ações ofensivas.

Sim meu prezado Fabio Balassiano, lapidar e preparar nossos armadores é um dos caminhos que temos de percorrer para soerguermos o grande jogo entre nós, mas como fazê-lo sob a égide e domínio de um sistema totalmente manobrado de fora para dentro das quadras, em todo o país, em todas as faixas etárias, em todas as divisões, e que se perpetua através cursos de 4 dias na formação(?) de até agora, 490 novos técnicos, através uma ENTB que não enxerga um palmo além dos narizes de seus doutos líderes, utentes e destacados defensores do sistema em questão?

Quando desde sempre defendi, difundi, preparei e lapidei armadores para atuarem em duplas, se ajudando e socorrendo em todas as instâncias de um jogo ferozmente arraigado e manipulado a técnicos e pranchetas de passos marcados, o fiz com a deliberada atitude de quem respeita acima de tudo, a técnica individual através os fundamentos do jogo, e mais ainda, através o poder de criação, somente acessado por aqueles que prezam a arte do discernimento, do livre arbítrio, que são os fatores inerentes ao progresso de um núcleo humano, de uma equipe desportiva ( aqui um exemplo prático).

Sim, temos talentos aos montes, jovens que poderiam liderar suas equipes com a força e o embasamento de seus fundamentos e de sua criatividade, mas, infelizmente, poucos são aqueles que detêm o conhecimento para lapidá-los e treiná-los, já que expurgados do meio por não rezarem da cartilha que ai está implantada e cristalizada.

Finalmente, afirmo com convicção, de que se não abrirmos as portas para novas formas de jogar e de preparar nossos jovens, dificilmente tornaremos a nos ombrear no plano internacional, pois de 1 a 5, o mundo lá fora tem bem melhores e mais preparados jogadores do que nós, essa é a mais pura realidade.

Amém.

ABAIXO DA EXCEPCIONALIDADE…

  • ·  Basquete Brasil 15.07.2011 (6 dias atrás).

Concordo com você quanto a qualificação de nossos jogadores para o Pré, Will, mas somente se o Magnano subverter bastante a mesmice técnico tática de nossa seleção, talvez o único argumento que a coloque em supremacia ante as seleções rivais, e para tanto a dupla armação e a escalação de pelo menos dois de nossos pivôs deva ser priorizada, e ainda, a possibilidade, perante tais perspectivas, de uma convocação de armadores de oficio, que temos muito bons, a fim de iniciarmos a campanha com quatro deles (duas duplas, ou no mínimo três deles) na equipe. Creio que ainda temos tempo suficiente para um enfrentamento qualitativo entre os atuais selecionados (Huertas, Raul, Benite), com jogadores como Valter, Helio, Eric e Rafael, todos bem mais experientes, ofensiva e defensivamente do que, por exemplo, o Raul, numa posição onde a vivência é primordial. Claro, que na opção da dupla armação, pois se, infelizmente, optar pela armação de um homem, o que ai está poderá dar para um gasto sobejamente conhecido por todos os nossos concorrentes na Argentina (…).

Acima, num comentário agregado ao artigo O Álibi, onde a não participação do armador Larry Taylor se prenunciava de difícil solução, antevi sérias dificuldades que enfrentaria o Magnano na formação final da seleção nacional, mencionando que novas convocações pudessem ser feitas, pois afinal, tratava-se de uma seleção prestes a enfrentar o duro e pedregoso caminho de um Pré Olímpico.

Um mês antes, publiquei o artigo O Apogeu da Mesmice, ou o Renascer do Grande Jogo, onde menciono os possíveis caminhos técnico táticos, que poderiam ser trilhados pelo técnico Magnano na condução da seleção, cujo ponto de mais flagrante sensibilidade seria a definição sobre o(s) armador(es) da mesma, e de como se comportaria ante uma simples ou dupla armação:

(…)Mas para tanto, nosso hermano necessitaria de profundos ajustes em sua relação de convocados, a começar pela armação, pois se não temos (é o que afirmam os experts, e que discordo veementemente…) jogadores suficientemente experientes para o sistema único de um armador, teríamos na dupla, onde a ajuda continua no levar a bola, atuação em toda a extensão do perímetro, e agilização  do sistema defensivo, um suporte que em muito compensaria tal deficiência, já que na ajuda contínua a mesma seria vantajosamente compensada. Mas, Benite e Raul ainda não possuem a maturidade funcional, assim como o Nezinho peca pelo individualismo crônico,  o Leandro, Marcelo e o Alex, também pecam nas qualidades ambilaterais exigidas para a função, sobrando tão somente o Huertas e o Larry, que dificilmente, por suas características o faria optar pela dupla armação, e mais ainda se o Larry não for, e a prova é que o Fúlvio, o Helio e outros bons armadores que temos sequer foram cogitados(…).

E se configurou o que tinha previsto com a mais do que certa ausência do Larry, deixando o bom técnico argentino um tanto “pendurado na broxa”, e de tal forma, que assessorado bem ou mal (fico com a última hipótese…), vai em busca de um jovem armador de somente 19 anos para o lugar do americano de 30, deixando pairar no ar sua não convicção nas qualidades dos armadores previamente convocados e em ação nos treinamentos, convencido de que sua participação no campeonato espanhol, assim como o Huertas, o tornara capacitado a tão especifica e altamente técnica função. No entanto, jamais poderemos omitir o fato real de que tem somente 19 anos, jogando numa posição que até mesmo o Rubio se ressentiu na finda temporada, também aos 19 anos, e que muitos criticaram pela pouca evolução…

Utilizando uma simples ou dupla armação, nossa seleção necessitará de um comando firme, lúcido, experiente e maiúsculo dentro da quadra, função (ões) esta (as) somente exercida (s) por jogadores experientes e vividos, como o Huertas atual, e alguns dos bons e experientes armadores que temos aqui atuando, e que foram (como sempre…) esquecidos e mesmo ignorados.

Torno a enfatizar que se uma equipe utente da armação simples se ver diante da fragilidade técnica de um seu formidável armador, por ser em tese o único disponível, e, por conseguinte não podendo participar com o máximo de seu condicionamento físico por toda uma competição com tal desgaste, não será um reserva de 19 anos que equilibrará a situação, a qual poderia ser razoavelmente contornada com a utilização de dois experientes e rodados armadores, que bem poderiam se situar num estágio abaixo da excepcionalidade, ajudando e amparando-se permanente e decisivamente naqueles momentos de pressão e definição, fatores que nos tem roubado vitórias redentoras nos últimos anos.

Não conheço na prática o novo convocado, mas conheço de sobra todos aqueles que não o foram, numa escolha que poderá se transformar num autêntico tiro no pé. Torço para estar enganado, de coração, mas…

Amém.

A PREDIÇÃO DE UM FORUM…

Muito se tem falado e comentado sobre sistemas de jogo nestes últimos tempos, e qual deles melhor se adequariam ao modo de agir, pensar e jogar do jogador brasileiro. São debates apaixonados e muito pouco ligados a uma evidência inquestionável, a de que discutem, como muito poucas variações, um sistema único de jogo, aqui implantado a mais de 20 anos, e continuado através uma difusão maciça, desde as categorias de base, até nossas seleções representativas, o sistema NBA, considerado o supra sumo das ações técnico táticas no universo do grande jogo.

Desde sempre discordei desse sistema, desse modo de agir e pensar o basquete, pois o mesmo se fundamenta numa realidade somente existente no basquete americano, com sua base voltada aos fundamentos e o sistema em si, através muitos milhares de praticantes nas escolas e universidades, e de modo parecido nos países europeus, com suas prioridades voltadas à educação, onde o desporto ocupa um lugar de primordial importância no processo da formação integral de seus jovens.

Ante tão profícuas e evidentes questões, nossa realidade se situa na contra mão daquele primeiro mundo, numa contundente constatação de que não possuímos e sequer dominamos um mínimo de conhecimentos básicos, não só no campo desportivo, como, e principalmente, no aspecto acadêmico em geral, nos situando, infelizmente, na situação de puros imitadores dos resultados finais alcançados por aquelas nações, sem os estágios probatórios das etapas necessárias por que passaram ao longo de décadas, como se o fato de pularmos etapas nos alinhassem aos mesmos nos conhecimentos e na produtividade, num ledo e triste engano.

Então, e no caso do basquetebol, discutir sistemas de jogo, dissociado da formação básica nos fundamentos, soa falso e sem propósito, já que sistemas, sejam lá quais forem, somente se materializam e exequibilizam quando têm como base sólida de apoio, o pleno domínio dos fundamentos, sem os quais perdem todo o sentido prático.

Portanto, desde muitos anos atrás, quando do preparo das muitas equipes que dirigi, o foco prioritário sempre foram os fundamentos, o pleno domínio dos mesmos, para todos os jogadores, fossem baixos ou altos, fossem armadores, alas ou pivôs, de equipes infantis ou de elite, todos, aprendendo de forma igual, com os mesmos requisitos e exigências, sem exceções, para mais adiante, optarmos por sistemas que melhor se coadunassem com as características de cada um, e não mergulhando-os num sistema único, padronizado e engessado a jogadas pré estabelecidas e coreografadas. E assim foi por longos 50 anos, apostando na capacidade que cada jogador se desenvolvesse no domínio, leitura e amor ao grande jogo.

Finalmente, em 2010 dirijo uma equipe na LNB, que por ser da elite despertou uma enorme curiosidade pelo fato de treinar fundamentos e jogar de “forma diferente”, quando na realidade o fazia fora dos rígidos e engessados padrões que nos impuseram nos últimos 20 anos, tanto em sua preparação baseada nos fundamentos, como no sistema de atuar com dupla armação e tripla atuação no perímetro interno, o que despertou alguns interessantes debates, como esse fórum que surpreendentemente descobri ao percorrer os muitos existentes no blog Draft Brasil – Um pouco de táticas e algumas reflexões que apesar de não ser muito extenso, descobre uma forma não usual de discussão, pois situa o sistema por nós utilizado, numa possível utilização por equipes da NBA, sem mencionar como possível utente do mesmo aquela que veio a se sagrar campeã esta temporada, a equipe do Dallas, que se utilizou de um sistema correlato, cujos detalhes em muito se assemelhavam ao nosso, quebrando de uma vez por todas o rígido sistema da grande liga, num processo que teve no Coach K, quando da direção da seleção americana, vencedora do último mundial, o seu grande incentivador.

Vale a pena dar uma olhada no fórum, quando muito, para avaliarmos o quanto de positivo avanço técnico tático incrementou aquela grande equipe, no âmago do grande e portentoso basquetebol que praticam, ao mesmo tempo compararmos o que ocorreu com o “basquete diferente” desenvolvido pelo Saldanha no NBB2, varrido e jogado para baixo do tapete da história, como uma contravenção indesculpável e inimaginável dentro dos medíocres padrões que teimamos em seguir, disseminar, formatar e padronizar no país, muito mais agora através uma ENTB investida nessa tenebrosa e suicida continuidade, numa progressão aritmética que já alcança 490 técnicos graduados no nível 1 em 3 cursos de 4 dias, autêntico e dantesco recorde mundial, tendo antes graduado em seu curso inicial técnicos de nível 3,  também em 4 dias. E pensar que estudo, pesquiso, ensino, divulgo e pratico o basquete a mais de meio século, e sequer imagino, por não me importar, o nível a que pertenço, já que me situo e considero um humilde professor e técnico, com muito ainda por aprender, e ensinar o grande jogo.

Amém.

O ÁLIBI…

O Pré Olímpico bate às portas, e já saberemos se marcaremos, ou não,  os passaportes para Londres, depois de 16 anos de sentida ausência nas quadras olímpicas.

Mas antes, e desde sempre, estabeleceu a CBB um roteiro da mais absoluta e deslavada incompetência, na teimosa e delirante mania de pré definir uma seleção que somente existe no imaginário de seus luminares, especializados numa espécie de álibi às custas de pretensas e conhecidas  ausências de competições desse porte, pois contratos milionários não podem ser postos em risco pela aventura de defender um país onde o basquetebol é mercadoria de terceira categoria, tendo uma administração de quinta.

Viagens aos Estados Unidos, Canadá e Europa levaram nas classes executivas e hotéis de primeira linha, técnicos e dirigentes, com a missão redentora de ouvirem ao vivo e à cores, os testemunhos de tão importantes personalidades, quando um simples e objetivo email, convocando-os à defesa de seu país seria o caminho óbvio a ser tomado, pois ante a presença bajuladora, e a vinda após convocação, um único fator se faria presente, a efetiva vontade e disposição de participar.

No entanto, tais viagens encenaram um pastiche operístico, o de estabelecer para o público torcedor aquela que deveria ser a seleção ideal, real e reconhecidamente capaz (?) de nos levar a Londres, alimentado-o com falsas (porém bem articuladas…) ilusões, quando a realidade dos fatos apontavam na direção contrária,  agora desmascarados, de que tal encenação simplesmente alimentava o álibi de um possível fracasso, perante o qual as culpas e desvios teriam de ser convenientemente justificados pelas ausências agora anunciadas através… email’s, numa desigual contrapartida.

Acredito firmemente que o técnico Magnano tenha se apercebido da situação que se desenhava à frente, e aproveitando o momento sugeriu a convocação do excelente Larry, mesmo sabedor dos prolongados trâmites por que passam aqueles que desejam a naturalização em nosso país (o jogador Shamell já a tenta a anos…), robustecendo o álibi a uma possível desclassificação olímpica, já que quatro jogadores básicos estariam fora da disputa, o Nenê, o Leandro e o Larry, além da impossibilidade médica do Anderson.

Pronto, consciências libertas ante uma possível derrota, já que grande parte do nosso pretenso poderio estará ausente, ficarão expostos à linha de fogo aqueles que atenderam a convocação, e que sei lutarão com a valentia e a técnica de que são possuidores, e que mesmo sub valorizados, sempre honraram a camisa do país, e cujo único álibi é estarem sempre presentes quando convocados.

Então, ficamos assim acordados, temos um substancial álibi se tudo der errado, afinal de contas, estamos “definitivamente” sem nossa força (?) maior, e um maior ainda, se “repentinamente” nos classificarmos.

Sem dúvida alguma é mágica essa palavrinha, álibi, ainda mais nas mãos de profissionais na arte de utilizá-la.

Amém.

 

ALIBI (á), s. m. Presença de uma pessoa em lugar diverso em que se perpetuou o crime de que ele é acusado; (p. ext.) justificativa ou escusa aceitável. (Do lat. Álibi.)

(Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa)

PS-Dirimindo qualquer dúvida, esse artigo foi postado às 0:42 da madrugada de 14/7/11.

OS DETALHES…

Fato é que decididamente nos negamos a aprender.

Fato é que lamentavelmente continuamos a errar.

Fato é que soberbamente insistiremos no erro.

Fato é que arrogantemente culparemos os…detalhes.

 

Detalhe é que os fatos condenam o que implantaram.

Detalhe é que corporativamente não abandonarão o nicho.

Detalhe é que jamais se reconhecerão errados.

Detalhe é que negarão o novo, o ousado, o instigante.

 

Pois, entre fatos e detalhes naufragam gerações de talentos.

Pois, dentre fatos e detalhes, sequer permitem  uma réstia de luz.

Pois, acima dos fatos permeiam detalhes que os pensam absolver.

Pois, ante consumados fatos, quem sabe, o verdadeiro detalhe ressurgirá.

 

O fato maior de que o grande jogo merece, por história e tradição, ser

redimido através o maior dos detalhes, a meritória competência.

 

Amém.

UMA QUESTÃO DE FUNDAMENTOS…

(…) O AIS é uma instituição importante para os jovens do esporte do país (e não só no basquete, mas também na natação, no atletismo, no vôlei etc.). Falando da nossa modalidade, posso te garantir que é o melhor lugar da Austrália para quem quer se desenvolver no basquete, pois os treinos são com os melhores técnicos possíveis e com uma estrutura que assusta de tão boa que é. Para ser sincero, é praticamente impossível você não melhorar por lá como pessoa e como atleta, e é um orgulho imenso para mim representar o trabalho do AIS em competições internacionais. E, sim, como você mencionou, ele é responsável por “produzir” talentos aos montes. A Elizabeth Cambage (que hoje joga na WNBA pelo Tulsa Shock) foi a última da fornada deles.(…)

( Trecho da matéria publicada pelo jornalista Fabio Balassiano no blog Bala na Cesta, em 5/6/11, com o jogador Anthony Drmic da seleção australiana sub-19).

Eis uma robusta pista dos “porquês” de uma equipe solidamente preparada na base, cometer 8 violações num jogo duríssimo de mundial, e nossa equipe o fazer em 20 oportunidades, sendo que nossos armadores foram responsáveis por 9 das perdas de bola, números incompatíveis na posição que ocupam, pois os australianos nos roubaram 15 bolas, perdendo 3 para os nossos, numa desproporção até certo ponto assustadora, e anulando a supremacia que obtivemos através 44 rebotes, contra 37 dos mesmos.

Claro ser impossível uma análise técnico tática do jogo pelo não televisionamento, mas o placar baixo pela média do campeonato até aqui ( 63 x 57), deixa claro ter sido um jogo de fortíssima pegada defensiva, fator determinante na importância vital do pleno domínio dos fundamentos, principalmente o drible, as fintas e os passes, básicos nas progressões e nas articulações de jogadas sob intensas pressões.

Falar dos arremessos então, se torna repetitivo, monocórdio, pois teimar na aventura dos “gatilhaços” de três (2/17), quando bastariam trocar 4 dos 15 perdidos por tentativas de dois pontos para vencer a partida, soa como um solitário grito num deserto de idéias, de bom senso, de liderança enfim.

(…) posso te garantir que é o melhor lugar da Austrália para quem quer se desenvolver no basquete, pois os treinos são com os melhores técnicos possíveis (…), ou seja, lá encontram os melhores formadores, as melhores didáticas de ensino, o melhor acompanhamento técnico prático, aprendem a conviver, dominar e se relacionar com a bola e sua instabilidade esférica, tornando-a extensão de seu corpo, garantindo uma melhor submissão e domínio da mesma em situações extremas, daí resultarem perdas menores, além, muito além de aprenderem a amar o jogo, ao contrário de nossos jogadores, jamais submetidos nos últimos 20 anos aos ensinamentos ( sim senhores, e-n-s-i-n-a-m-e-n-t-o-s…) de nossos melhores mestres na arte dos fundamentos, mas atulhados de sistemas, jogadas marcadas, sinalizadas e coreografadas em minúcias ( vide foto acima do Raul no jogo de hoje…), por uma turma de “estrategistas”, como se comandassem bonecos e seus cordéis, num arremedo de basquete, e não do grande jogo.

Sei que errar faz parte do jogo, mas não em tal quantidade perante defesas mais fortes, que se avolumarão mais adiante quando do afunilamento da competição, quando terá de se fazer presente o domínio dos fundamentos, sem os quais, chifres, punhos, polegares, cabeças, camisas, e todo um corolário de “estratégias” e coreografias se esfacelarão por não driblarmos, fintarmos, passarmos, defendermos e arremessarmos com a mesma eficiência de nossos bem fundamentados adversários. Talvez, quem sabe, possamos até nos medalharmos na competição, afinal de contas ainda nos restam resquícios de nossa tradicional combatividade e capacidade de improvisação, de talento, apesar das limitações básicas, e também porque ainda existe quem acredite que alguns dos deuses torcem por nós, e assim, quem sabe…

Prefiro, como professor e técnico, acreditar e torcer para que os grandes e verdadeiros formadores de jogadores existentes no país sejam resgatados, para que num grande mutirão ajudem eficientemente a soerguer o grande jogo entre nós, pois se assim não agirmos, dificilmente teremos convenientemente preparada uma geração para 2016, que jogue, entenda e ame basquetebol, e não se deixe levar por rabiscos desconexos nas pranchetas da vida.

Amém.

PAPEANDO COM O ALCIR…

Chego em casa voando, e já são 13:20, ligo a TV e…nada, vou para o laptop e…nada, me resigno em não poder comentar mais um jogo da seleção sub-19 em um importante mundial, pois não emito qualquer opinião técnico tática por estatísticas, em nada minimamente comparadas ao testemunho ocular de um jogo tão repleto de minúcias como o basquete, onde achismos e suposições cedem espaço à realidade inquestionável, quando…o skype toca, e o Alcir me envia um link salvador, e pude, enfim, assistir um jogo da tão decantada seleção sub-19 jogando contra a Letônia, a dona da casa.

No entanto, nada mais dinâmico do que relatar o nosso pequeno debate sobre o jogo, em tempo real, quando discutimos os aspectos relevantes do mesmo:

[13:34:05] Alcir: está assistindo o jogo do Brasil contra Letônia?

[13:34:36] Alcir: este é o endereço na internet: http://www.ltv7.lv/video_streams/adobe-flash-player-350kbps/

[13:35:07] Paulo Murilo: Cheguei agora do banco e vou tentar ver o jogo. Está na tv ou internet?

[13:35:24] Alcir: Isto, o endereço esta acima

[13:35:27] Paulo Murilo: ok, vou ligar. Depois comentamos.

[13:35:39] Alcir: o time esta jogando direitinho

[13:44:49] Paulo Murilo: Deu para ver que as duas equipes se utilizam do mesmo sistema ofensivo, fator esse que beneficia a equipe que tiver os melhores jogadores em cada posição de 1 a 5, e nisso o Brasil me parece bem melhor.  Preocupa-me somente quando enfrentarmos equipes com melhores fundamentos, onde a similitude de sistemas pouca diferença fará.

[13:45:41] Alcir: eu achei o time bem treinado e sem precipitar

[13:46:30] Paulo Murilo: Mas essa foi a formula mágica que as comissões técnicas da CBB encontrou e adotou para o nosso basquete, e é ai que discordo deles todos, pois lá em cima, a diferença de estilos é que darão as cartas. O Dallas acabou de provar a tese do Coach K no Mundial.

[13:47:28] Paulo Murilo: Somos macacos de imitação, no que denomino de colonização endêmica, pois fica mais fácil copiar do que estudar e criar algo de inusitado.

[13:47:38] Paulo Murilo: Vamos ver no que vai dar…

[13:48:04] Alcir: acho que vamos ganhar

[13:49:02] Paulo Murilo: O que me preocupa não é ganhar agora, e sim lá na frente, na divisão principal, que é a que modela as gerações que se iniciam.

[13:51:44] Paulo Murilo:  Essa é uma equipe de base, e está na linha do que viemos fazendo nos últimos 20 anos, só que com jogadores melhores. Se está bem treinada e sem se precipitar, concordo somente no aspecto do não abuso nos arremessos de três, cuja campanha a respeito venho mantendo nos últimos 6 anos de blog. Acho que agora começam a entender que de 2 em 2 também podemos vencer jogos.

[13:53:07] Paulo Murilo: Agora, para não darem o braço a torcer, esnobam a dupla armação, que poderá ser o ponto de desequilíbrio quando adversários que a utilizam nos enfrentarem nas fases finais. Vamos ver se tenho ou não razão…

[13:53:09] Alcir: Eu achei treinadinha e com possibilidades de brigar pelo titulo pelo que o pessoal que está lá fala

[13:55:09] Paulo Murilo: Alcir, base é para abastecer as futuras equipes seniors, e para tanto têm que apresentar algo que as diferenciem da mesmice. Esse é o ponto que realmente interessa, pois quem vai disputar olimpíadas é a equipe principal, e não subs.

[13:56:37] Alcir: começou

[13:56:43] Paulo Murilo: E essa equipe joga igualzinho ao que viemos jogando desde sempre, com menos chutes de três. E ainda falha demais na defesa. Essa é a minha preocupação, pois estamos repetindo à exaustão um modelo que todos os demais estão abandonando.

[13:56:56] Paulo Murilo: Vamos ao jogo que recomeçou

[13:56:58] Alcir: vou assistir ao jogo

[14:43:23] Paulo Murilo: Bom Alcir, a equipe venceu bem, mas me pareceu que os donos da casa se pautaram demais nos arremessos de três. Foi contestá-los um pouco que as bolas começaram a não cair, dai para frente a contagem se dilatou, finalizando preferencialmente de dois pontos, como deve ser.

[14:44:24] Paulo Murilo: Vou almoçar agora que estou morto de fome. Mais tarde, se você quiser, conversamos mais. Aliás, esse bate papo daria uma boa matéria para o blog, mas você quase não me deixa falar, ehehehehehe.

[14:44:35] Paulo Murilo: Uma abraço Alcir. Até mais.

 

Acessando as estatísticas após o jogo, constata-se alguns aspectos que pouco se encaixam com as suposições e avaliações dos que analisam jogos pelas mesmas, a começar pelo fato de que nesse jogo a equipe brasileira arremessou mais bolas de três ( 7/25 – 28%) do que a decantada artilharia da Letônia com seus 5/21 – 23.8% arremessos. Nos de dois pontos nos sobressaímos com 25/42 – 59.5%, contra 20/41 – 48.8% dos letonianos, e também  nos LL ( 17/20 – 85%, contra 18/28 – 61.3% da Letônia).

Como praticamente empataram nos rebotes, 36/35 para nós, os pontos decisivos foram aqueles dentro do perímetro, onde o Raul ressuscitando o DPJ em grande estilo definiu sua alta pontuação sem uma tentativa sequer dos três pontos, esta sim, uma grande evolução técnica.

Com o afunilamento da competição, mais do que nunca a diferenciação técnico tática se fará sentir para a definição da mesma, e é nesse ponto que me preocupa o sistema de jogo da seleção, pois carece de um comportamento tático  mais elaborado na direção de seus altos e ágeis centrais, presos que estão aos padrões dos pivôs clássicos e pesadões, assim como pela pouca habilidade nas fintas de seus alas, prioritariamente dirigidos às finalizações de três pontos, o que os afastam dos rebotes ofensivos, destinando as penetrações com finalizações ao armador em quadra, pois é uma equipe que raramente se utiliza da dupla armação. Defensivamente continuamos a falhar nas coberturas e ocupações de espaços nas linhas de passe, ocasionando um altíssimo número de faltas, principalmente de seus homens altos. Nos jogos mais difíceis que os aguardam, teremos dimensionada em todo seu realismo, a qualidade da preparação a que foram submetidos, tanto no preparo e sintonia fina dos fundamentos do jogo, como na percepção e leitura tática de seus oponentes, e por que não, de si mesmos. Ademais fico imaginando o quanto de qualidade e de contagem teriamos alcançado, se tivessemos substituido 15 dos perdidos 19 arremessos de três por

finalizações de dois…

Amém.

PS- Foto de um DPJ do Davi Rosseto, excelente opção para armadores. Clique na mesma para ampliá-la.