Fiz direito as contas do tempo que lido com o grande jogo, quando tudo começou em 1948 no Grajaú TC, onde o conheci pela primeira vez, e como estou com 75 anos, lá se vão, hum, façam as contas…
Até os 13 anos o assistia fascinado, torcendo e aprendendo a amá-lo, dia após dia, até que tentei praticá-lo na escolinha do grande Geraldo da Conceição, lá mesmo no GTC (Geraldo ainda ensina em Brasília aos 90 anos, fantástico…), e depois no CRVG com o célebre Fu Manchú, que reencontrei em Belo Horizonte no Brasileiro Juvenil de Seleções em 68, quando dirigi a equipe de Brasília, vencedora da chave dos perdedores (5o lugar), levando a Taça com o nome dele, que muito doente ainda pode comparecer para entregá-la, num reencontro emocionante…
Mas pouco produzi como jogador, principalmente pela baixa estatura, e o interesse mais voltado para as técnicas e táticas do jogo (isso aos 14/15 anos…), aspecto esse que me abria um amplo leque de possibilidades de estudo e descobertas. Mais adiante, cursando a ENEFD, pude sedimentar o sonho de abraçar a técnica, que já praticava na Escola Carioca de Basquetebol, criada por mim e pelo Luis Peixoto, pai do Peixotinho, nossa primeira cria, e onde floresceu o Paulo Cesar Motta, ambos chegando a seleções brasileiras…
Dai para diante foi um torvelinho de emoções, fortes emoções, trabalhando na base e na elite, em clubes de renome, como Vila Izabel, Flamengo, Vasco da Gama, Fluminense, Olaria, Barra da Tijuca, seleções cariocas, brasilienses, estagiando, por concurso, em universidades americanas, dando clinicas pelo DED MEC em estados brasileiros, lecionando em escolas de ensino primário e secundário, universidades, aqui e na Europa, onde me doutorei, para finalmente ter uma breve e instigante experiência na LNB (NBB2), também me graduando na ECO/UFRJ em Jornalismo, e finalmente, a criação deste humilde blog em 2004, um dos motivos que provocou minha interdição na direção de equipes, entre outros mais recônditos, na Liga Nacional…
Pois bem, porque todo esse preâmbulo a um simples artigo, por que?…
Primeiro, para lembrar a muitos que 56 anos antes do meu despertar para o grande jogo, ele já era cultuado, admirado, amado, e praticado com fervor pelo mundo, o tornando o desporto coletivo mais divulgado dentre todos,desde sempre, logo, com toda uma história técnica e tática a ser observada, aprendida e apreendida por todos aqueles que, realmente, o quisessem compreender e entender toda a sua dimensão de esporte maior, ainda mais se desejasse ensinar e divulgá-lo às gerações sucedâneas através seu/meu parco conhecimento, numa humilde constatação de sua riqueza técnica e cultural…
Segundo, para lembrar a outros muitos também, que julgam e agem como se o grande jogo tenha sido criado quando de suas vindas ao mundo, numa atitude arrogante e presunçosa, passando a ideia de que o dominam total e enfaticamente, num posicionamento falseado e muito distante da realidade do que pensam e julgam conhecer, pois copidescar e “interpretar” articulistas estrangeiros não vale na maioria das vezes, absolutamente não vale, mas…
Terceiro, para relembrar algo de muito serio que teimo em publicar sequencialmente nessa humilde trincheira, o fato inconteste de que sempre existiram bons, alguns ótimos, e péssimos dirigentes , e fui testemunha da ação de muitos na direção da modalidade no país, porém com uma fulcral diferença relacionada aos dias atuais, a existência a época de grandes e verdadeiros técnicos e professores de basquetebol, na base e na elite, garantidores de gerações com eficiente formação nos fundamentos, e brilhantes na direção das equipes da elite, onde apresentavam sistemas de jogo proprietários, evoluidos, inéditos, e acima de tudo, corajosos e criativos,,,
…Muito diferentes da mesmice endêmica que vem nos assombrando a duas obscuras décadas de mediocridade e compulsivo corporativismo, estendido ao comportamento formatado e padronizado entre os jogadores de todas as faixas etárias, e por que não, consubstanciados pelo apoio da maioria da mídia especializada, a que sabe como ninguém discernir sobre as técnicas do grande jogo, sem, no entanto, jamais explicá-las à luz de seus significados táticos e estratégicos, num en passant cansativo de 5 x 5, 1 x 1, exaustivamente treinadas jogadas, box one, punhos, chifres, picks, zona 2-3, e outros mais chavões repetitivos que nada esclarecem, e nem são cobrados, já que o padrão é o mesmo para todos, desde os posicionamentos de 1 a 5, até a utilização do sistema único por todos, indistintamente, da base a elite, e por que não, nas seleções também, alcançando como resultado o nível em que se encontra o grande jogo entre nós…
Com as escolas de educação física diminuindo a cada dia a carga horária da aprendizagem e pratica dos desportos (substituindo-as pelas da área biomédica…), incapacitando seus licenciados e bacharéis ao competente ensino dos mesmos, com cada vez mais ex jogadores sem o minimo e adequado conhecimento didático e pedagógico assumindo a formação de base, e crefs provisionando leigos para a mesma função, com uma ENTB esquematizada ao continuismo do que ai está, pouco ou nada avançaremos no soerguimentp do basquetebol nacional…
Então, não se trata somente de más administrações, que como afirmei antes, as tivemos boas, ótimas e péssimas desde sempre, mas nunca, em tempo algum tivemos por tanto e seguido tempo um conceito técnico tático de tão baixa qualidade como agora, fruto da coisificação proposital e corporativista de uma geração de técnicos compromissada com o que de pior puderam e quiseram imitar da matriz do norte, sem sequer tentar adequá-la a uma realidade econômica, social e cultural diametralmente oposta a nossa, sob qualquer critério que se possa avaliar e comparar, levando ao desastre em que nos deparamos inermes e fragilizados…
Por tudo acima exposto, façam o favor de racionalizar tentativas de querer unir má administração com técnica de jogo, como ação e reação de um mesmo principio, de um mesmo conceito de fato, um conjunto indissolúvel de ações geradoras do produto vigente, ao não esquecerem que dirigentes não formam, treinam e desenvolvem jogadores, seja na base, seja na elite, ou mesmo num processo de massificação da modalidade, que por conta e risco da formatação e padronização implantadas coercivamente pelo corporativismo técnico vigente, e que oblitera toda e qualquer tentativa de evolução que fuja do existente, explica com sobras o descalabro técnico do grande jogo aqui implantado , e onde a mesmice endêmica vigora e reina absoluta, no âmago da nossa cruel realidade…
Iniciei, desenvolvi, estudei e pesquisei o grande jogo convivendo com essa imutável realidade, que somente transmudou o jogo quando da implantação abusiva e deletéria do Q.I., desalojando o mérito como a forma correta e justa visando o progresso, com seus resultados muitas vezes vencedores, e não contumazes perdedores como agora, onde uma péssima administração se torna justificativa de fracassos técnicos, numa inversão de valores assustadora, pois não responsabiliza direta e contundentemente aqueles que fazem também o grande jogo acontecer, os jogadores, os técnicos, e uma mídia enaltecedora da mediocridade tupiniquim, contrastando com sua feérica bajulação e endeusamento de uma cultura antítese da nossa, sob qualquer critério analítico que se queira mencionar, formando a coluna mestra de tudo aquilo que pulsa e acontece de injustificável nas quadras desse enorme e injusto país…
Concluindo, o momento trágico por que passamos, apesar da enorme falha administrativa existente, se origina basicamente na falência do aspecto técnico, tático e estratégico do jogo, que nem uma maravilhosa administração anularia, já que dominada por uma clã compromissada e comprometida com um triste e desalentador corporativismo, e com a manutenção da mesmice endêmica em que afundaram, todos, inclusive os gringos, que se fecham a qualquer iniciativa de mudança, do surgimento de algo que ponha em risco seu retrógrado posicionamento, ferindo de morte o grande jogo, grandíssimo jogo, sendo esse o maior dos obstáculos que trava seu soerguimento e desenvolvimento, que se continuado nos levará por um caminho sem volta, não mais para 2016, já perdido, mas sim, para os subsequentes ciclos olímpicos dessa infeliz “pátria educadora”…
Amém.
Foto – Veiculada para internet.