BASQUETE, PRANCHETAS E VAIDADES…
Tenho estado fora do blog por algum tempo, já bem prolongado, mas não ausente do entorno do grande jogo, mesmo que me negue a descrevê-lo pela mediocridade que o envolve desde sempre, numa inamovível triste realidade que, salvo raras exceções, mantêm nosso basquetebol no patamar de uma mesmice endêmica de arrepiar…
E poe mesmice nisso, técnica e taticamente, onde o volume de erros de fundamentos chega a uma média aproximada de mais de 25 por partida nos playoffs (façam as continhas, por favor), números que constrangem numa liga maior, princialmente nas fintas com drible por parte de alas que somente tem olhos para os lances de três, e nos passes, por conta de armadores que visam as finalizações ao preço que for. Taticamente, novos chifres e punhos dão as caras, que agora são largos, especiais para baixo, para o lado, e aonde não sei mais, mas que, invariavelmente, não funcionam, a não ser nas superfícies lustrosas e delirantes das midiáticas pranchetas, verdadeiros e lamentáveis biombos entre estrategistas e jogadores, afastados e dicotomizados personagens de um desencontro sem prazo de validade…
E uma constatação, triste constatação, a de vermos monocordicamente a exibição de vastos conhecimentos táticos através estrategistas que clara e diretamente enviam seus rebuscados, rabiscados e ininteligíveis recados para uma tripla audiência, a mídia que os deificam, dirigentes que os contratam e um público que pensam ser suscetível a tanta sapiência, mas que aos poucos vão se dando conta de tamanho engôdo. No entanto, como ficam os jogadores cassados das informações mais vitais, aquelas que deveriam ser passadas nos treinos, isso mesmo, nos treinos, que se bem assimiladas dispensariam as “atualizações pranchetadas”? Omitem informações básicas (terreno exclusivo para quem realmente conhece o grande jogo…) sobre o comportamento defensivo dos adversários, suas brechas individuais e coletivas, suas opções ofensivas (e ai vale o peso do treino defensivo voltado às suas próprias falhas…), tudo relevado a lamentáveis atitudes, como a “falta tática”, artifício rasteiro e comprometedor de quem não sabe, sequer desconfia do que venha ser defesa, dominar suas técnicas e minúcias, substituídas pela atitude vazia e indefensável da absoluta falta de conhecimento, ausente e trocado pelas “estratégias pontuais”, que em hipótese alguma são treinadas “exaustivamente” como afiançam os comentários televisivos, substituídas pela criação improvisada nas e em cima das coxas, berço das mágicas, midiáticas e fabulosas estrelas do jogo, por que se assim não fossem, dispensariam o gratuito e risível espetáculo que engendram…
Mas um outro algo tem me chamado profundamente a atenção, o extremo conhecimento do basquete NBA por parte de nossa imprensa jovem, que vai muito além da crítica pura e simples do que veem pela TV, indo a detalhes técnicos e táticos “admiráveis e profundos, profundíssimos”, muitos dos quais sequer domino após mais de cinquenta anos de batente, no que avalio ser a diferença de alimentação, vacinação, sei lá, dessa geração precoce e antenada numa rede (onde está tudo lá, bem mastigadinho…) que não frequento, mas se o fizesse, jamais omitiria suas referências, atitude básica ao mundo acadêmico a que sempre pertenci, trocando-as simplesmente pela simplória…quadra, onde as verdades verdadeiras realmente acontecem…
Finalmente algo que mexeu comigo, mexeu mesmo, pela imprecisão e deliberado esquecimento de um fato marcante ocorrido seis anos atrás em Vitoria, quando dirigi a equipe do Saldanha da Gama por 11 jogos (tão poucos, meus deuses!) no NBB2, numa ação de 49 dias (todos aqui reportados) de muito trabalho, sérios imprevistos, mas plenos de inovações técnicas e táticas que, queiram ou não os analistas jovens ou veteranos, influem até a presente data no nosso basquetebol (a confraria corporativista nega isso, mas eu sei,,,), e que se lá tivessem tido continuidade em muito as teriam acelerado (lá se vão seis temporadas…), pois seriam desenvolvidas por quem as criou, treinou e praticou, à imagem daqueles desprestigiados e subestimados (até hoje o são…) jogadores, e por mim, afastado compulsoriamente até hoje, numa inexplicável ação varrida para baixo do tapete dessa curta história da Liga. E o motivo que me incomodou foi um trecho da entrevista dada ao Globoesporte, pelo dirigente Alarico Duarte, quando afirma em um dos parágrafos da mesma:
(…)Quando nosso time saiu da Liga (Saldanha da Gama), algumas pessoas até gostaram, que sobraria mais dinheiro para outros esportes. Mas hoje de mim, amanhã de ti. O Estado ajudava aqui com transporte e tudo, mas não era possível contratar um time competitivo. O time não tinha dinheiro, tinha alguma estrutura, como tínhamos. Mas não tínhamos o salto de qualidade quando o NBB cresceu. Quando todo mundo era igual, ganhamos do Flamengo lá dentro, do Brasília, do Pinheiros. Mas depois, os outros estados evoluíram e ficamos no mesmo – recorda(…).
Impressionante tais declarações, pois a equipe em questão, que foi montada por ele mesmo (a peguei no returno daquele campeonato), era composta de muito bons jogadores, que frente aos resultados alcançados no restante da competição, exatamente por se diferenciar tática e tecnicamente das demais equipes, pela propriedade de sistemas diferenciados de jogo, daria o salto mencionado de qualidade no NBB3, sem dúvida alguma, pois, apesar do desmonte provocado por ele mesmo após os dois bons resultados em São Paulo (quando afastou três importantes jogadores, dois dos quais titulares), enfrentou a corajosa e dedicada equipe duas semanas de derrotas que poderiam ter sido contestadas se tivesse sido mantida completa, mas que mesmo a frente de tantos obstáculos, conseguiu ascender a uma condição técnico tática admirável, mesmo restrita a uma rotação dos nove experientes jogadores remanescentes. Logo, bastaria ter mantido a equipe, com no máximo duas novas contratações de jogadores sem muita projeção midiática, mantendo a mim e a mini comissão técnica existente, para que o salto fosse dado. Preferiu uma parceria fracassada com uma equipe paulista que visava a posse da franquia, que somente aproveitou dois jogadores daquela bela equipe, ficando na lanterna do paulista, provando a fraqueza do projeto, e mais adiante, preferiu investir no sistema único de jogo (fator que anulava o tal salto de qualidade…),amealhando derrotas de mais de 50 pontos, mesmo contando com alguns jogadores remanescentes da equipe do NBB2, negando a qualidade do meu trabalho inovador. E quando digo inovador, podemos avaliá-lo por conceitos que aplicamos e publicamos na época, e que vem sendo utilizados pela maioria das equipes atuais, como a dupla armação e a utilização de três homens altos ágeis e velozes, mas claro, muito longe da forma como jogávamos (e aqui vai um exemplo), pois os princípios didáticos utilizados na implementação daqueles sistemas, o ofensivo e o defensivo, continuam inalcançáveis pelos estrategistas que ai estão, quando simplesmente trocam um ala por outro armador, mantendo, no entanto, o sistema único intocado, principalmente na tutela rígida e excludente de jogadores às jogadas impostas de fora para dentro do campo de jogo, e que por conta disso vemos aumentar vertiginosamente desobediências técnicas e táticas por parte daqueles jogadores mais inconformados, ou simplesmente, mais esclarecidos…
Sinto muito pela omissão depreciativa do Alarico, a quem fui leal ao não aceitar, na sua presença, a um convite de uma das maiores franquias da Liga, o que lastimo profundamente hoje, ao aprender como funcionam as engrenagens do desporto de alto nível em nosso infeliz e injusto país. Mas no fundo o compreendo, e um jogo esclarece muito sua posição, quando num ginásio repleto em Vitoria, o classificado nos playoffs e eterno rival Vila Velha, perdeu para seu Saldanha por 30 pontos, dirigida por um veterano professor e técnico que, (in)felizmente teve seu nome aclamado pela torcida em cena aberta (está no vídeo), num gesto espontâneo de agradecimento pelo trabalho realizado, mas mortal quando a vaidade é posta em jogo…
Em tempo – O Flamengo ao vencer o Mogi na quinta partida do playoff, se classificou à final com o Bauru, também para um outro melhor de três. Venceu uma partida em que ambas as equipes privilegiaram o jogo interno, mais seguro e eficiente, não exagerando nas bolas de três, e atuando ambas em dupla armação e velocidade no perímetro interno, com uma única exceção, o Paulão, pivô estilo cincão que, com sua baixa velocidade propiciou ao Flamengo um domínio nas táboas sempre que o mesmo estava em quadra, a tal ponto que os cariocas, numa decisão, somente arremessaram 3/5 lances livres. Velocidade contra massa não se discute mais, ah, mais uma das lições do Saldanha do Alarico no NBB2…
Amém.
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