UMA OBJETIVA REFLEXÃO SOBRE O GRANDE JOGO (ARTIGO 1600)…

Sobre a matéria publicada neste humilde blog, A Crônica de uma Vida, em 10/7/18, dois comentários traçam com fidedignidade e precisão o atual momento do basquetebol brasileiro, valendo a pena uma reflexão argumentativa sobre os mesmos, podendo originar um bom e esclarecedor debate sobre nossas pretensões no plano internacional do grande jogo…

2 comentários

  • João
  • 12.07.2018
  • Treinador..Desculpe ser importuno, mas para sua análise:
    Verificando um levantamento dos nossos atuais atletas “selecionáveis” e suas atuações , certifiquei-me que é pouco provável que o Brasil consiga realmente algum resultado expressivo no cenário mundial daqui para frente…vejamos:
    Na faixa dos 35 anos,.. os que estão queimando o último cartucho temos o Larry,Huertas,Marquinhos, Leandrinho, Varejão, Nenê, Alex, JP Batista, Olivinha, Murilo,Guilherme…um grupo considerado forte, mas que não conseguiu passar da fase de grupos na olimpíada do Rio.
    Mas é na faixa dos 25 a 31 anos que estão a maioria dos jogadores que fazem parte do futuro do nosso basquete, Raulzinho,Benite,Felício,Léo Mendell, L.Bebé, Caboclo,Scott Machado, R.Mineiro, Cauê Borges,Elinho,Gui Deodato,Rosetto, Derek,Renan…e podemos colocar neste grupo o Yago com 19 e o Lucas Dias com 23 anos.. destes jogadores quem tem realmente um destaque.?..jogadores com grande potencial e talento a nível internacional ,a ponto de impactarem dentro de uma seleção ?
    Comparando com as principais equipes, não temos um time em reais condições de brigar pelas primeiras colocações contra as melhores seleções do mundo, atualmente estamos fora do Top 10 da FIBA…
    Urge um trabalho muito sério de desenvolvimento total das categorias de base do basquete nacional..abraço Treinador.
  • Basquete Brasil
  • 12.07.2018
  • Prezado João, nada a desculpar, somente agradecer pela sua colocação “chave” porque passa o grande jogo neste imenso e injusto país. O levantamento feito por você, mostra uma realidade técnico tática comum a todos os jogadores apontados, independendo se acima ou abaixo dos 30 anos, se em fim ou início de suas trajetórias pelas quadras daqui e lá de fora, já que todos, absolutamente todos, professam e praticam o sistema único desde a formação de base, orientados por técnicos, daqui e lá de fora, utentes do mesmo sistema, formatado e padronizado pelo mundo, com poucas exceções, fator este que projeta uma indiscutível evidência que reporto desde sempre nesta humilde trincheira, a de que num universo em que todos jogam de uma forma semelhante, vence aqueles que, em cada posição estabelecida de 1 a 5, que é uma marca indelével do sistema em questão, tiverem os jogadores mais preparados nos fundamentos(que não é a nossa realidade formativa), constituindo as melhores equipes, que somente poderão ser vencidas por adversários que se utilizem de sistemas divergentes, tornando-os proprietários de algo antagônico ao que pratica a esmagadora maioria dos jogadores e das equipes daqui, e lá de fora também. Sempre defendi essa colocação, inclusive colocando-a em prática quando na direção do Saldanha da Gama no NBB2, em continuidade ao que ensinei e treinei jogadores e equipes por 50 anos, com mais do que evidentes sucessos ante adversários pseudamente mais fortes pelos plantéis que possuíam. Já postei inúmeros artigos sobre este assunto, e só posso concluir afirmando convictamente que, independendo dos jogadores e suas idades, apontados por você( veja a realidade do futebol neste mundial com seus veteranos ditando o ritmo de jogo), a equipe nacional que defenderão, obteria bons resultados se radicalizasse seu preparo, desde os fundamentos, até a constituição de sistemas proprietários, absolutamente antagônicos a mesmice endêmica que praticam, assim como, seus últimos técnicos estrangeiros, todos adeptos do sistema único, ou não?
    Exceto os americanos, que inovaram(?) com o Coach K, não vejo mais ninguém jogando de forma diferenciada, e sabe porque João, pelo fato da mais absoluta ausência de coragem e preparo para ousar outros caminhos na busca do inusitado, do realmente novo, pois é bem mais cômodo professar uma globalização pétrea e profundamente burra, mas garantidora do emprego de todos.
    Enfim João, mudar não é para qualquer um, é para os melhores.
    Um abraço, e obrigado pela “chave”…
  • Amém.

Com esse artigo alcançamos a marca de 1600 publicados nesses 16 anos de Basquete Brasil. Que os deuses nos ajude a prosseguir,,,

TIRANDO (E USANDO) DO BAÚ…

Lá para o fim do terceiro quarto, o comentarista me sai com esta – “ Muito inteligente essa estratégia do técnico do Flamengo utilizando 2 armadores e 3 pivôs rápidos, depois da enorme perda de arremessos de 3 na noite de hoje, virando um placar contrário e vencendo a partida jogando dentro do garrafão”. Até aquele momento os cariocas haviam arremessado 47 bolas de 3, com 10 acertos. Ao final, contabilizou 14/55 nas bolinhas e 13/18 nas de 2 pontos. Seu adversário argentino, o ITT, perdeu de 1 ponto (78 x 77) arremessando 21/39 de 2 pontos e 7/24 de 3, numa claríssima constatação de que o incensado e deificado modelo de basquetebol moderno brasileiro, que fatal e inexoravelmente será institucionalizado nas seleções nacionais, passará por essa insana e absurda “correção de rumos”, a seguir da saída do croata, que, possivelmente não conseguirá moldar a seleção adulta para as futuras competições internacionais, a jogar de outra forma que não esse pastiche que ora nos deparamos (e se fritará se tentar), onde o “chega e chuta” já conta, inclusive, com a exultante adesão dos estrangeiros que aqui atuam (são quatro por equipe), que juntamente com aqueles poucos nacionais que os acompanham, encasquetaram em suas cabeças que personificam a fina flor dos especialistas mundiais nos longos arremessos, e da forma mais contundente e avassaladora de que temos conhecimento. Só esquecem de um simples “detalhe”, de que por aqui em terra tupiniquim ninguém marca e contesta ninguém, e onde falta pessoal passou a ser “inteligente” no afã de travar o adversário, e não se impor pela técnica defensiva, talvez um dos fundamentos mais importantes do grande jogo…

Este jogo foi lapidar, pois a equipe do Flamengo, que de há muito convergiu definitivamente seu modo de complementar a cesta, onde os arremessos de 3 em muito superam os de 2, até aquele momento da guinada “genial e criativa” de seu mais genial ainda mentor, fazendo seus obedientes e teleguiados jogadores a atuar em dupla armação (Balbi e Yago), e três hábeis e ligeiros pivôs (Demétrio, Mineiro e Marcos), transitando declaradamente pelo perímetro interno, e não abertos como de praxe, abdicando do jogo mais pesado com o Olívinha e o Hettshemeir, equilibrando a partida, definindo com mais precisão com as bolas de curta e média distâncias, tirando uma larga diferença e virando um jogo por pouco perdido…

Ao final, foram 13/18 arremessos de 2 e 14/55 de 3, onde por 41 vezes no ataque as bolinhas sagradas não caíram, por outro lado somente 5 bolas de 2 foram perdidas num total de 21 arremessadas, numa brutal evidência de pouca inteligência quando confrontada com uma equipe qualificada defensiva e ofensivamente bem treinada e conscientemente coletiva. Venceram a partida exatamente por mudar sua forma de atuar a partir do terceiro quarto, quando atuou no 2-3 ofensivo…

Ora ouvis estrelas, mudar um jogo quase perdido utilizando um sistema (sistema, sim senhor…), com dois armadores de ofício e três alas pivôs leves, rápidos e determinados aos rebotes, jogando na cozinha adversária, concluindo com mais precisão pelas curtas e médias distâncias, arremessando as bolas de três realmente necessárias pelo trabalho interior, defendendo com a velocidade e técnica de seus dois armadores, arrastando os hábeis pivôs para o jogo antecipativo, foram armas preciosas para a virada e consequente vitória, com um significativo e revelador pormenor, a rendição tardia (mas que não falha nunca…) a uma forma de jogar que um longínquo e esquecido Saldanha da Gama ousou tentar quebrar a mesmice técnico tática que imperava no NBB2 (2009/10), vencendo grandes equipes, porém lanterna num campeonato no qual por 49 dias de insano trabalho, realmente provou que podiam jogar um basquetebol diferenciado, brilhante e vencedor, podendo ter chegado um pouco mais longe com um mês a mais de treinamento, ou uma completa temporada no ano seguinte, infelizmente brecada politicamente…

De lá para cá pouca coisa mudou, cristalizando a mesmice técnico tática vigente, exceto pelo enxerto absurdo e autofágico da hemorragia dos três pontos, desvirtuando e jogando para baixo do tapete da história a essência de nossa forma de jogar, e que será contestada no enfrentamento internacional, inexoravelmente. Porém, como milagres as vezes acontecem, tirados ou não de cartolas mágicas, pudemos ver neste jogo, ressuscitar o velho (?) sistema que implantei naquela bela equipe (e nunca repetido, sequer esboçado), vencendo, inclusive, o Paulistano em SP, onde no banco do mesmo se encontrava um auxiliar técnico que hoje dirige o rubro negro carioca, que ante o perigo de ser derrotado pelas 41 bolas perdidas de três de sua equipe, lançou mão de conveniente 2-3 ofensivo, tão negado, combatido e vetado em seu continuismo. Lembrou bem, se deu melhor ainda, afinal, não a toa o comentarista considerou a ação inteligente e interessante, que claro, aplicada por quem se trata ganha um contorno, podemos dizer, genial. Mas sei, que inteligente como é, o jovem aspirante a selecionador nacional entenda de uma vez por todas que, sistematicamente convergindo não chegará a lugar algum, pois as escolas mais desenvolvidas que a nossa não permitirão…

Não esquecer, também, que naquele jogo debaixo de uma pancadaria consentida pela arbitragem, o Saldanha fez 91 pontos arremessando de 2 em 2 e 1 em 1, com somente 5/9 bolas de 3, mostrando a possibilidade de tal produtividade com um sistema proprietário e eficiente, de tal forma que nem a dispensa de três de seus melhores jogadores tirou da equipe vitórias importantes , como a sobre o campeão daquele NBB, o Brasília…

Enfim, espero que a bem lembrada opção do jovem treinador se repita com a frequência que se faz necessária nesse inodoro e insosso NBB, onde a prevalência do “chega e chuta” enxovalha e assusta o grande, grandíssimo jogo.

Amém.

Em tempo, os jogos com Paulistano e Brasília