2011…PARA ONDE CAMINHAMOS?

Foi um fim de ano com muito trabalho, e como todo professor que se preza, uma tonelada de papéis, relatórios, recortes de jornais e revistas, emails impressos, tiveram o destino anual do descarte, necessário pela enorme quantidade, mesmo tendo a maioria deles guardados em memórias e HD’s. Terminei a faxina ontem a tarde, no momento em que liguei a TV para o jogo do Pinheiros contra Limeira pela final paulista, e antes não o tivesse feito, pois assisti à cores e em som estéreo  a uma das cenas mais degradantes que testemunhei nesses longos anos em que milito e vivencio o grande jogo.

Lá pelo segundo quarto de um jogo horripilante, onde a artilharia dos três pontos tirou do sério até o pacato comentarista da ESPN, o técnico da casa pede um tempo, e ao se preparar para as instruções é violentamente interrompido pelo jogador americano, que toda a imprensa sonha ver atuar pela seleção brasileira, que aos berros em seu claudicante português espinafra a todos, exigindo raça, atitude, até o momento em que o técnico se intromete e leva pela testa um “deixa eu falar” tonitruante e constrangedor, que o deixa desarmado, até que, também aos berros e não menos inúmeros e reprováveis palavrões televisivos, faz o insurgente jogador se calar até o final do quarto, quando ao ser entrevistado tece comentários de cunho e responsabilidade exclusiva do técnico, e não sua.

Recomeça o jogo com o malcriado jogador no banco ( fosse comigo já teria trocado de roupa à muito…) e a equipe indo mal na quadra, mesmo continuando a apostar na chuvarada de arremessos de três, assim como seu adversário, totalizando 63 tentativas contra 67 de dois pontos de ambas, numa tendência que vem se instalando em nosso basquete de quase se igualarem em números os arremessos de três e os de dois, numa prova inconteste de que o individualismo exacerbado  ameaça de morte o coletivismo, que ainda define a estrutura técnico tática de uma equipe, sem contarmos com o altíssimo número de bolas perdidas por falhas nos fundamentos, que nesse jogo chegou a 25. E para sermos mais claros, das 29 bolas de três arremessadas pelo Pinheiros, somente 5 foram convertidas, contra 14 das 36 arremessadas por Limeira, ou seja um tremendo “chega e chuta”, definição do próprio comentarista da ESPN.

Um pouco mais adiante, um novo tempo pedido pelo técnico da casa, que num tom suplicante pede mais luta, união, ajuda, e de pronto faz voltar o americano, que por três sucessivas vezes arremessa de longe, sem sucesso, e numa dessas tentativas nem o aro alcançou. Daí par o insucesso final foi só uma questão de tempo.

Lamentável episódio, um tanto mais comprometido com a defesa do americano feita pelo pacato comentarista, tentando justificar uma tremenda falha disciplinar como tendo sido uma “balançada na equipe” e nada mais. Fico pensando se sob o comando de um Togo Renan, o grande jogador que foi teria feito o mesmo em plena quadra de jogo. Creio que não, e o próprio Kanela jamais o permitiria.

Numa análise derradeira, que sistemas de jogo podem ser desenvolvidos quando duas equipes finalistas do propalado e incensado campeonato paulista  arremessam 63 bolas de três pontos, ou sejam, 189 possíveis? E como falar em defesas perante tanta permisividade?

Desliguei a TV e dei uma passada pelos blogs, e o que vejo?  Técnico de seleção ser indicação de um diretor de marketing, vindo do vôlei, e que se  acha capacitado na área técnica de uma modalidade que não a sua?  Inacreditável!

Curso de capacitação de técnicos no nível I com a duração presencial de 4 dias promovido por uma ENTB coordenada por um preparador físico? Um absurdo!

Um excelente técnico argentino “descobrindo” para nós que a formação de base é o cerne do grande jogo, e que temos de deixar o estilo NBA de jogar para trás?  E o que temos feito e alertado nos últimos 20 anos de descalabro e 6 de Basquete Brasil?

Que por mais uma vez a LNB distribui uma planilha para a formação das seleções que se enfrentarão no Jogo das Estrelas, seguindo as posições de 1 a 5, que é exatamente o modelo criticado pelo Magnano em suas entrevistas, comprovando a padronização e formatação do nosso basquete àquele modelo? Me divirto imaginando a dificuldade de colocação dos jogadores com as minhas indicações baseadas na formação de 2 armadores e 3 alas pivôs, numa solitária posição de negação à mesmice endêmica que nos domina e constrange.

Finalmente me deparo com escolhas dos melhores de 2010, em todas as áreas e funções do basquetebol, e não vejo uma linha sequer, mesmo que ínfima, sobre a pequena revolução técnico tática estabelecida pela equipe do Saldanha da Gama no NBB2, se antepondo à mesmice acima mencionada, fator fundamental a uma reviravolta em nossa maneira de jogar e atuar, comprovando ser isso possível e exeqüível, bastando para tanto uma boa dose de coragem e ousadia, além é claro, de conhecimento e experiência, elementos que seriam impossíveis de adquirir em cursos de formação e habilitação de 4 dias.

Terminei o dia, neste limiar de um novo ano, mais uma vez descrente de que tenhamos a força necessária  para alavancar o soerguimento do grande jogo entre nós, se contarmos somente com os quadros cebebianos, continuísta e corrompido politicamente, onde a função técnica sempre dará passagem ao apadrinhamento e à troca de favores, a não ser aquela tênue réstia de esperança que poderá ser deflagrada pela classe que conhece e domina o jogo, e por isso mesma afastada das grandes decisões, os técnicos brasileiros, que ainda teimam em se esconder no anonimato de suas manifestações pela mídia virtual, alimentando e perpetuando com esse comportamento as felpudas e profissionais raposas que infestam a modalidade que tanto amamos.

Peço aos deuses que nos protejam nesse 2011, fervorosamente.

Amém.

O HEAD COACH…

– O Head Coach estuda muito, sempre estudou, e continuará estudando até o fim.

– Ele jamais assumiu, assume ou assumirá um cargo aonde irá para aprender com assistentes e dirigentes, e sim para ensiná-los como se lidera e dirige uma equipe, seja iniciante, seja de alto nível.

– Em hipótese alguma admitiu, admite ou admitirá ser tutelado por prazos, por interesses incidentes em suas funções, por acordos tampões, ou por qualquer necessidade de cunho pessoal que possa ser explorado por outrem.

– Sua graduação, experiência, conhecimento profundo do jogo, sua audácia e destemor ao novo fundamentado no antigo e nas tradições, e seu sentido de transmissão de conhecimentos, o tornam consistentemente preparado para ações de ponta, e jamais dependente de interesses que não os cunhados e forjados pelos princípios do mérito e da ética.

– Seu reconhecimento natural e insofismável cala a maioria das críticas, debela oposições injustificáveis, aplaina e suaviza seu caminho a muito trilhado com sacrifícios, muito e doloroso trabalho, mas com coragem e sabedoria.

– O Head Coach não se vende, não se leiloa, não se permite minimizar, pois é produto de uma classe de professores muito especiais, a dos Mestres, aqueles que até os detratores respeitam, por reconhecerem  sua essência, e seu modo de ver, conotar e, acima de tudo, valorizar a vida.

– O Head Coach erra pouco, mas errou muito em seu caminho, e errará cada vez menos com o avançar dos anos, não importam quantos, se vividos com lucidez, honra, dignidade, saúde, ética profissional e ética para consigo mesmo.

– O Head Coach tem obrigatoriamente de ser mobilizado pelo país a que pertença, pois o representará com o que possui de melhor, num longo e custoso investimento, não só econômico, mas fundamentado e lastreado em seus recursos humanos, advindos das carências mais primarias de seu povo.

– São Mestres maduros, prontos a servir, a por seus conhecimentos a serviço dos mais jovens, jogadores, assistentes, dirigentes, torcedores, jornalistas, e não dependerem destes para aprender o que tem a obrigação de dominar, ampla, mas não totalmente, o universo de sua modalidade.

– O Head Coach não pode ser motivo daquele tipo de debate que antepõe mérito com interesse político, pois se situa eticamente acima do mesmo, já que  qualificado e reconhecido com majoritária unanimidade.

Conheci alguns destes grandes Mestres, aqui e lá fora, e sempre admirei a mais considerável de suas qualidades, sua independência cultural, técnica e político econômica, tornando-os únicos e verdadeiros, ao professarem a ética pelo trabalho e pelo incontido respeito ao grande jogo, a grande meta de suas vidas.

Jamais torci e desejei tanto para que tais princípios se instalem definitivamente em nosso país, justificando o primado da justiça e do reconhecimento a quem de direito, e peço aos deuses todos os dias por isso.

Amém.

PS- Paremos para refletir o quanto de falta nos faz uma associação de técnicos, forte, independente, numa hora como esta…

PROFESSOR, UMA LEMBRANÇA…

“Senhores presentes nesta reunião, creio que todos foram agraciados com as verbas necessárias para tocarmos o grande projeto Rio 2016, e mais virão, na medida em que os prazos se tornarem exíguos, dispensando essas futilidades denominadas, concorrências. Afinal de contas, é o prestígio do nome Brasil que está em jogo, ou não?

Vejamos em linhas gerais o que conquistamos, técnica e politicamente, e que apesar de vultoso, ainda pode ser bem mais lucrativo. Novos hotéis, estradas, pontes e viadutos, saneamento, transporte, moderno, confortável, rápido, novos estádios e ginásios, piscinas, pistas e alojamentos, verbas para assessorias nacionais e internacionais, alimentação em grande escala, hospitais, novos aeroportos, rodoviárias, ferrovias e portos, publicidade, segurança ostensiva, benfeitorias, serviços de apoio, e as verbas emergenciais.

E tudo em nossas mãos, patriarcal e hierarquicamente distribuído, onde os vínculos do interesse globalizado tem de ser respeitado, onde nem mesmo impostos podem ser cobrados pelo estado brasileiro. É a nossa independência econômica e financeira, arduamente conquistada, e com data marcada será irrecorrível e definitiva.

E agora, como estamos todos de acordo, podemos dar por encerrada essa histórica reunião.”

– Sr. Presidente, por causa da euforia causada por tão esperadas noticias, esquecemos dois pontos da pauta, e gostaria que pudéssemos enunciá-los, seria possível?

“ Pois não, do que se tratam?”

– Projetos e planejamentos para a formação dos atletas, afinal de contas serão eles que disputarão os jogos…

“Prezado confrade, esse é um pormenor que terminado os jogos rapidamente cairá no esquecimento. Um ou outro jornalistazinho ainda teimará em abordagens inócuas, e como disse antes, rapidamente esquecidas. Temos de dar graças a esse salutar habito brasileiro de não valorizar memórias passadas. Por acaso você pensou no montante de verbas que teríamos de abdicar para que fossem empregues em escolas, em clubes, em parques, para que se perdessem em atividades que não geram os lucros de que necessitamos? Por que abrir mão do agora, do nosso, para investir no futuro de outros? Já imaginou tal insensatez?”

– Mas se trata de uma herança a ser deixada para a educação de nossos jovens, das gerações futuras, da plena utilização dos espaços pela população como um todo, pela…

“ Paremos por ai, caro confrade, ou ex confrade a continuar enunciando tantas besteiras. Educar um povo, para que ele, assim “educado e culto”, nos derrube num futuro próximo, é inconcebível! Deixemos como está, e nos locupletemos o mais que pudermos, ou não temos famílias e amigos para sustentar?”

-Mas, desculpe, faltou um último, sei que insignificante item, o que representa a coletividade responsável pela formação destes atletas, futuros cidadãos, os técnicos, os professores…

“QUEM?? Não ouse…”

Homenageio a todos os técnicos e professores desportivos, do ensino formal, técnico, cientifico e artístico desse nosso enorme e infeliz país em seu dia, apesar do criminoso esquecimento de que são vitimas por amarem sua função acima das vicissitudes e dos injustos sacrifícios.

Nosso país ainda reconhecerá, um dia, sua tarefa única, estratégica e patriótica, ajudando-os a estudar mais, a se aprimorarem, remunerando-os com justiça, para ai sim, se tornar digno de um futuro melhor, e quem sabe, mais digno ainda de uma Olimpíada. Um abração a todos.

Amém.

PREOCUPAÇÕES…

Preocupa-me a herança do NBB2, principalmente na forma de jogar das equipes intervenientes, da limitação e alto grau de previsibilidade técnico tática das mesmas pelo uso indiscriminado e absoluto do sistema único de jogo, onde a maioria de suas ações são voltadas ao preparo e a consequente execução dos arremessos de 3 pontos.
Preocupa-me o elevadíssimo número de erros de fundamentos, acusados sistematicamente na maioria das partidas do campeonato, sendo que nos playoffs finais atingiram cifras alarmantes.
Preocupa-me a fragilidade defensiva da maioria das equipes, principalmente na anteposição aos arremessos de 3 pontos, e à marcação dos pivôs, sempre por trás, jamais à frente, como deveria ser.
Preocupa-me o fato de uma defesa centenária por zona, a 2-3, ainda se constituir um terror para equipes de alta competição, numa desoladora perspectiva do quanto ainda temos de evoluir em termos de fundamentos de drible, fintas e passes, ou seja, o bê a bá do grande jogo.
Preocupa-me a tendência cada vez mais presente de uma homogeneização e padronização deste sistema único nas divisões de base do país, limitando perigosamente a criatividade e espontaneidade de nossos jovens.
Preocupa-me o avanço maciço de alguns profissionais, e outros nem tanto, de outras áreas, na formação destes jovens, com um conhecimento canhestro do jogo, e apresentando propostas incompatíveis à evolução natural dos mesmos, tanto no aspecto bio psíquico, como no social e cultural.
Preocupa-me a não organização das associações de técnicos, fundamentais ao desenvolvimento da modalidade em todos os sentidos, principalmente no político, social e profissional, bases de uma profissão reconhecida e respeitada.
Preocupa-me que pela ausência das associações, outras categorias envolvidas no esporte se apossem de núcleos técnicos específicos, para coordenarem e implantarem cursos e escolas para os quais não têm competência e formação, se situando única e exclusivamente pelo poder político vigente.
Preocupa-me a passividade e aceitação de técnicos a essa situação ambígua e constrangedora, tornando-se possíveis cúmplices de uma anomalia inadmissível.
Preocupa-me a seleção, ou seleções, entregues a estrangeiros que convocam jogadores que se negaram a defender o país dentro de competições internacionais, claro, por não se tratar dos países deles, e que se verão ante jogadores que lideram grupos fechados, e que em muitos casos, não costumam seguir instruções que não forem de seu agrado, como temos assistido no campeonato nacional.
Preocupa-me a divulgação do basquete voltada aos jovens, com sua maioria quase absoluta impossibilitada ante a TV aberta, pois somente canais a cabo o divulgam, assim como a precariedade na popularização do mesmo nos núcleos escolares, e mesmo clubísticos, a muito abandonados à própria sorte.
Preocupa-me que o poder de novas idéias, de novos rumos técnico táticos, fundamentados na pratica maciça dos fundamentos e da plena utilização da criatividade e do livre pensar, seja minimizado pela ausência de divulgação quase unânime, pela mesmice e pela mediocridade de um sistema único e avassalador, implantado no âmago de nossa juventude, ávida de conhecimentos e sonhos, por interesses que não os nossos, brasileiros, e outrora campeões mundiais e medalhistas olímpicos.
Enfim, preocupa-me a impossibilidade ao êxito e a um futuro inspirador, tolhido que estamos pela mais absoluta ausência de bom senso, responsabilidade cívica e amor ao grande jogo, naquele ponto que o torna imbatível no concerto das demais modalidades, sua concepção instigante e de permanente evolução.
E com estas preocupações me dirijo amanhã ao Congresso dos Técnicos da LNB em São Paulo, para o qual fui convidado como técnico do Saldanha da Gama, onde no calor dos debates, dos temas, das apresentações e das bem vindas discussões possamos manter vivas as esperanças de encontrarmos o caminho perdido nas trilhas dos últimos 20 anos, de desmandos e de imperdoáveis omissões. E honestamente espero que assim seja.
Amém.

UM CONGRESSO EM LISBOA…

IMG_7997Dedico o artigo de hoje à apresentação da palestra de abertura que  proferi em Lisboa na abertura do 3º Congresso Mundial de Treinadores da  Língua Portuguesa em 17 de julho de 2009, quando tive a honra de ser  convidado a desenvolver o tema – O que vem a ser um técnico de sucesso.

O TÉCNICO DE SUCESSO- Não propriamente o maior vencedor de torneios e campeonatos, grandes ou de menor expressão, e sim alguém visceralmente comprometido com a tarefa de educar através do desporto, preparando bons cidadãos, ótimos atletas, e equipes competitivas, todos dentro dos mais altos padrões sociais, éticos e desportivos, no seio da sociedade em que vive e atua, sempre com presteza, conhecimento e profissionalismo.

O mundo em que vivemos,  repleto de injustiças e insensibilidade, anseia por mudanças, principalmente aquelas nações relegadas ao estigma terceiromundista, que no limiar de um novo século ainda não encontraram soluções que reduzam tantas e profundas diferenças com as demais nações desenvolvidas.

A Educação é um dos caminhos redentores, base e sustentáculo de uma sociedade mais justa e igualitária, e o desporto um dos elementos voltados a estes objetivos, com sua proposta aglutinadora e profundamente democrática.

O professor / técnico desportivo foi, é e continuará sendo o agente propulsor de alguns destes importantes objetivos, e para tanto deverá ser preparado e instruído com afinco, atualizado e reciclado permanentemente à luz dos conhecimentos científicos, didático pedagógicos e incondicional acesso à informação virtual.

O professor / técnico desportivo assim preparado, experiente, estudioso e participativo, sempre trilhará o caminho do possível e alcançável progresso de seu povo, através seus alunos, seus atletas, suas comunidades e equipes. E quando um destes segmentos atingir objetivos e metas planejadas, poderá ser considerado professor e técnico de sucesso, se bem que tal projeção não seja tão importante e crucial como se propala, pois o sucesso deve ser definido como um bem realizado trabalho, nada mais do que um bom e recompensador trabalho. Notoriedade e fama ficarão por conta de outras, e quase sempre descartáveis circunstâncias.

Espero ter representado com honra e dignidade professores e técnicos deste esperançoso país.

Amém.

PS – No caso do último segmento não rodar, reinicie o artigo e clique no mesmo que rodará. PM.

3º Congresso Mundial de Treinadores da Língua Portuguesa – Parte 1

3º Congresso Mundial de Treinadores da Língua Portuguesa – Parte 2

3º Congresso Mundial de Treinadores da Língua Portuguesa – Parte 3

PAPAGAIOS DE PIRATA…

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E o homem falou, contido, sério e profundamente cauteloso, a ponto de não ferir suscetibilidades linguísticas ao mencionar sua intenção prioritária em estudar o idioma, e de não precisar de tradutor ao entender com precisão todas as perguntas que lhe foram feitas, ao vivo e à cores, ao contrario da ridícula tradução às suas respostas aos interlocutores do SPORTV, numa demonstração de preciosismo ante uma divindade aqui baixada para classificar nosso basquete às Olimpíadas de 2012, fator este que elegante e tecnicamente tratou de ponderar, traindo-se um pouco ao mencionar que medalha no Mundial poderá ou não ser conquistada, e que jamais aceitaria um contrato que exigisse tal conquista, mesmo que fosse em seu país, pois tais cobranças não se coadunam com sua forma de trabalhar.

Perguntas válidas e algumas tolas foram feitas, conveniente e politicamente respondidas, principalmente quando questionado sobre os segredos da vitoria olímpica, depois de um longo tempo de apagão internacional de seu país. Para uma platéia embevecida pelas perspectivas que sua presença poderá representar em vitorias nacionais, respondeu com a simplicidade argumentativa de quem teve por trás de si toda uma estrutura técnica de alta qualidade, que se empenhou por mais de vinte anos de trabalho e estudos intensos em todas os segmentos, da base à Liga Nacional, referendadas por fortes e bem estruturadas associação de técnicos e escola de treinadores, fazendo questão de mencionar seu agradecimento a todos os técnicos de formação, cujo trabalho silencioso e longe das mídias propiciaram os magníficos resultados que alcançou.

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GRITOS NA ARIDEZ…

Na imensa aridez do deserto de idéias realmente válidas para o basquetebol nacional, eis que uma, duas, três vozes se levantam para um protesto atrasado em vinte anos, durante os quais tudo de retrógado, ineficaz  política e tecnicamente nos lançou num fosso do tamanho da omissão cometida.

Juntou-se à minha solitária peregrinação junto as consciências adormecidas de meus pares, exceto uns e efêmeros apoios, tímidos e fugidios, os gritos indignados do Ferreto e do Ângelo, técnicos experientes e competentes, que se revoltam contra a vinda de um técnico estrangeiro para o feminino, após serem todos os profissionais que militam nesta categoria taxados de incompetentes, atrasados e desatualizados pela direção técnica da CBB, incluso o Bassul, para o qual está reservado, quando muito, o cargo em uma seleção de novos, e tudo isso sob a garantia da convocação de uma jogadora que se negou publicamente e de livre vontade a defender a seleção durante um jogo de uma competição olímpica.

Seus depoimentos vem levantando muitas discussões no seio da mídia virtual, e também na tradicional, pois reacende situações a muito marginalizadas e dolorosamente esquecidas, como os movimentos associativos dos técnicos e da organização de uma escola de treinadores como continuidade ao trabalho e união dos mesmos.

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NAS ENTRELINHAS…

(…) “Os tempos mudam e as pessoas mudam. Estamos em um momento em que temos de torcer para que os resultados voltem. No Brasil, infelizmente, ao contrário das potências, a nossa seleção nacional é o que mais conta. A Itália, que não se classificou para o Mundial, foi convidada, mas negou para não atrapalhar o campeonato local. O mesmo acontece na Espanha e nos EUA. E o nosso forte  é o resultado, é o que puxa organização, patrocínio para competições locais. E o nosso basquete está fraco nestes últimos 12 anos. Então, temos que torcer para que ele faça um grande trabalho. (…) O principal desafio é ter resultado. O Brasil tem uma tradição de resultados que estava perdendo nestes últimos anos. Desde 1996 que não temos resultados expressivos. Queimamos algumas gerações de jogadores que poderiam render mais do que renderam. Estou falando de grandes competições, Mundial, Pré-Olímpico. Neste aspecto, perdemos tradição. Há três ciclos que não acontece nada. E maior o desafio.” ( Marcel de Souza para o Globo.com).

O grande Marcel tocou na ferida, elegante e educadamente, mas não pode fugir nas entrelinhas da mais refinada ironia, aquela que que se captada inteligentemente, muda conceitos, aponta caminhos, faz cabeças pensarem.

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BIENVENIDO…

Por obra e graça de um marqueteiro o Moncho se foi, pois não possui um cacife que possa, ao menos emular, com uma medalha olímpica do hermano do sul, fator que por si só explica e define a presença do ex-voleibolista, agora mestre do marketing, no processo de queima do espanhol, e da ascensão do argentino.

Mas como nem tudo que reluz é ouro, e nem tudo que balança cai, a “genialidade” mercadológica, também resguarda óbices nem sempre levados em consideração, quando a frenética busca por patrocínios ( leia-se dinheiro, muito dinheiro, que se público, tanto melhor…), poderá, não, deverá se confrontar com os mesmos, a começar pela validade, confiabilidade e exequibilidade do projeto que o Magnano tão pronta, e oportunisticamente aceitou, a partir do momento que altas cifras (e põe altas nisso…) se esparramaram na mesa, fazendo inclusive aparecer um competente empresário no cerne da questão. Num momento em que a economia do país irmão se debate em sérios problemas, um contratão a 2hs de vôo de casa cai de um céu de brigadeiro, impossível de não aceitar.

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O IMENSO VAZIO…

1447 NOVA

Um grande salão em um hotel paulista, e uma disposição de mesas e cadeiras em U marginando as paredes laterais e a de fundo, tendo próximo à parede frontal e de entrada uma mesa, duas cadeiras e um equipamento de projeção de vídeo.

Na formação em U, técnicos minuciosamente convidados a assistirem uma exposição oficial sobre a futura escola de treinadores, e na mesa de cabeceira estrategicamente isolada, dois especialistas na montagem e formatação(?) da mesma, um ex técnico de voleibol, e um preparador físico.

E nos 4/5 restantes da imensa sala, o vazio cinza e amorfo, como o reluzente chão, vasto e dominador.

Vazio este que deveria estar preenchido em sua totalidade pela presença maciça de técnicos, muitos técnicos, jovens e veteranos, e mesmo os muito veteranos, que ali acorreriam espontaneamente, já que democraticamente acessível, não para ouvir disciplinada e cordeiramente uma preleção absurda pela inversão total de valores, mas sim para participarem ativamente, como num “brain storming” ( a turma amante do inglês vai adorar…) de uma discussão acadêmica iniciadora de um movimento redentor, pujante e participativo com o que temos de melhor, nossa história vencedora e inolvidável, e não esse pastiche fantasiado de modernidade, na verdade, modernoso.

O que é uma escola senão a representatividade real de um conceito democrático e de livre pensar, sempre na vanguarda criativa, lastreada no classicismo fundamental, utente das conquistas presentes e lançadora das conquistas futuras, produto do entrelaçamento de todas as épocas? E quem melhor a representa senão o também entrelaçamento das gerações, com suas conquistas, experiências e trabalho meritório?

Quanto de qualificação curricular alcançaríamos pelo simples fato de enchermos aquele e outros salões pelo país afora se fossemos convidados a participar e discutir uma verdadeira escola, generalista e adaptada às nossas regiões continentais e gentio das mais variadas etnias, Quanto?

Mas a dura realidade, aquela patrocinada pelos espertos e oportunistas, tem como reflexo o cinza brilhante daquele salão amorfo na capital paulista, tão vazio como as idéias que o habitaram, em U.

Amém