O INÍCIO PROMISSOR (?)…
Paulo, para variar, uma pergunta inédita – Como você projeta o nosso basquete para 2016, o ano olímpico aqui em nossa casa?
Olha cara, não o projeto, e sim prevejo densas nuvens de continuidade do que ai está, desde sempre…
Claro, com algumas novidades no pedaço, como a enxurrada de novos head coaches credenciados no nível III pela exigente e qualificada ENTB (aquela dos cursos de 4 dias…), no comando de equipes da elite do LNB, e que após observar a maioria deles em alguns jogos do NBB, posso, com alguma precisão, defini-los como reais continuadores da atual escola brasileira, a do sistema único formatado e padronizado em todas as faixas etárias do basquetebol em nosso país, onde:
– Os jogadores continuam a ser definidos em posicionamentos de 1 a 5, vício enraizado unilateralmente pelos “conhecedores” da modalidade, avalizada por uma mídia especializada que teima em rotular posições e habilitações técnico táticas sobre algo que definitivamente pouco entendem, nem poderiam, pois quase nada conhecem do verdadeiro grande jogo, atrasando, bloqueando até, o seu natural desenvolvimento, já que influentes na formação de opiniões “conceituais” junto aos que se iniciam na prática, ou mesmo na apreciação da modalidade;
– Jogadas padrão formam o arsenal de todos eles, onde chifres pluridirecionais, punhos idem, camisas, picks com ou sem rolls, infinitos passes lateralizados, polegares para cima e para baixo, bloqueios afastados do perímetro, defesas 2-3, 3-2, algo que definem como mistas, transições que não encontram qualquer embasamento técnico que as definam, ah, e as pranchetas midiáticas que tudo espoem a uma boquiaberta plateia de incautos jogadores e telespectadores a pretensiosa magia que julgam possuir através os equivocados e ininteligíveis garranchos nelas grafados,e tudo isso envolto pelo ridículo e comprometedor gestual ao lado da quadra, acompanhado pela sempre presente pressão aos árbitros, numa ode aos que os antecederam na nobre posição de líderes e comandantes que todos julgam ser e merecer por mérito (?);
– Nos jogos assistidos, nada, absolutamente nada de inovador nos sistemas táticos foi sequer esboçado, nos levando à constatação óbvia de que, por força do corporativismo vigente, nada mudará, nada evoluirá no nosso indigitado basquetebol, a não ser a colossal mesmice em que se debate;
Então, como nada mudou , tanto de fato, como de direito, continuamos na tentativa de implantar um autofágico reinado, o das bolinhas, uma tendencia exercida por muito poucos especialistas nas grandes equipes mundiais, inclusive na NBA, mas que em terras tupiniquins se tornou regra geral, em que todo jogador, desde a base (?), se auto define como expert no mais difícil e seletivo dos fundamentos, o longo arremesso, aquele que exige o mais alto, preciso e estrito grau de direcionamento, com tolerância próxima aos 0,2 graus de desvio, fator que define o especialista do arrivista…
Quanto aos técnicos atuantes, veteranos e novos, sugiro a releitura do artigo 1000 publicado nesse humilde blog, onde os desafiei, e continuo a desafiar (lastimavelmente não me é permitido competir com os mesmos…), a mudarem algo no grande jogo que teimam em manter, numa aterradora mesmice técnico tática, que, infelizmente se fará representar na competição olímpica desse ano, na qual nossos experientes representantes na liga maior, a NBA, mais trajam elegantes ternos ao lado dos bancos do que atuam, e os mais jovens são remetidos à Liga D, todos com muito poucos minutos de quadra, exatamente quando necessitariam estar em forma para a competição olímpica caseira. O hermano vai ter uma trabalheira daquelas, fator que os agentes da turma estrelada se lixam, na medida que os dólares 4/1 encham seus bolsos…
No feminino, no qual atuei a muitos anos atrás, tendo sido técnico campeão nacional de seleções adultas e formação de jovens, optei pelo masculino por ter sido no mesmo toda minha formação básica, teórica e prática, o que não retirou de mim a capacidade analítica em ambas as categorias, tornando-me perfeitamente apto a tecer comentários sobre as mesmas. Então, posso dizer o seguinte sobre a crise que se abateu entre a CBB e a LFB – Trata-se de uma antiga disputa de egos, onde uma comunidade especialíssima, a da formação de base feminina, trabalhando a décadas nas condições mais precárias, se vê,mais uma vez (lembrem-se da imposição técnica da CBB do Brito Cunha no Mundial 94 e sucedânea Olimpíada) submetida aos caprichos políticos e de escambos, justamente na vitrine olímpica caseira, onde resultados cedem espaço precioso a currículos de técnicos com fortíssimos QI, garantidores de bons empregos quando cessam os esgares pós olímpicos, pois mais adiante outros acontecerão, e se repetirão as injustiças, até um dia que se unam de verdade, todos os responsáveis pelo feminino, todos os responsáveis pelo masculino, a fim de botar para correr esse insidioso corporativismo que esmaga e humilha o grande jogo em nosso país, e para o qual, mérito é algo a ser combatido e posto de lado, desde sempre…
Amém.
Fotos – Reprodução LNB e arquivo pessoal.