




Outra semana de muito basquete, aqui e lá fora, em playoffs muito disputados aqui, e não muito lá fora, vide as estilosas varridas na metrópole, onde um veteraníssimo plantel texano ainda dá as cartas, provando que juventude não é tudo na primazia do grande jogo, e que o equilíbrio entre as gerações deva ser o caminho a ser seguido, principalmente para o nosso ainda insipiente basquetebol…
Técnica e taticamente somos insipientes, vide uma formação de base altamente precária, uma compulsão doentia pelo sistema único, que não funciona e jamais funcionará sem o domínio dos fundamentos do jogo, mas que é copiado e exigido à exaustão por estrategistas que se projetam monocordicamente através suas midiáticas pranchetas, uma imprensa especializada que comete lamentáveis deslizes em suas preferências de conteúdo equivocado, e incentivador de graves erros técnicos, principalmente em jovens ouvintes, facilmente influenciáveis pelo apelo imediatista de “jogadas e ações consagradoras”, e o pior, incitando a burla a regras do jogo, como em dois recentes comentários, quando um jogador foi punido por conduzir a bola, ao imobilizá-la situando a mão impulsionadora por baixo da mesma no ato do drible, recebendo o seguinte comentário dos dois ex-jogadores que analisavam o jogo – “Poxa, se os juizes marcarem todas essas conduções não tem jogo, e era o que eu fazia todo tempo quando jogava (risos), não é fulano?” “Sem dúvida, beltrano, eu também (mais risos)”… Simplesmente lamentável…
Também ex juiz que comenta tática e tecnicamente os jogos insistindo na liberação da vantagem quando um jogador sofre falta em seu caminho para a cesta, indo de encontro às regras do jogo que coíbe esta ação, argumentando ser uma recomendação da FIBA, no intuito de não beneficiar o infrator, mas que ainda não se caracteriza como regra deliberada oficialmente (recomendação não é regra), e portanto deve ser obedecida…
Como também, no jogo entre Bauru e Franca, enaltecendo a enxurrada de arremessos de três – “Me desculpem os puristas, mas esse é o “verdadeiro estilo do basquete brasileiro” onde até um jogador argentino, o Mata, vindo de um basquete contido e cadenciado “se soltou” adotando essa forma de jogar”- Esqueceu, ou omitiu, entretanto, o fato de que a maioria dos estrangeiros que aqui aportam, de saida “compreendem” que se não o adotarem, frente a inexistentes contestações, poucas chances midiáticas terão…
Mas foi exatamente nesse jogo, que a tal equipe chutadora (com inacreditáveis 13/34 de três e 10/20 de dois) e repleta de “nomes”, convergente de longa data, perdeu um jogo em seus domínios para uma outra muito jovem e que se enfiou “lá dentro”, arremessando 19/41 de dois e 9/22 de três, vencendo exatamente pelos 2 em 2 (não esquecer que contabilizaram 27 pontos nos três contra 39 dos donos da casa…), e ainda perderam 7 lances livres…
Logo, trata-se de um “estilo” enganoso e perigoso, pois é perfeitamente anulado frente a defesas bem postadas fora do perímetro (um dia as teremos por aqui…), alem de frontalmente exposto a perdas importantes de rebotes ofensivos, pelo péssimo hábito que vem se estabelecendo por pivôs abrindo para as tentativas de fora, numa opção que equipes estrangeiras que enfrentaremos mais adiante nas grandes competições, não permitirão,contestando-os sem tréguas…
No jogo aqui no Rio, a recalcitrante equipe carioca nas bolinhas (21/33 de dois e 5/29 de três) perde para a paulista que equilibrou suas opções de cesta (25/42 de dois e 7/21 de três), jogando um pouco mais internamente (foram 16 pontos no garrafão contra 8), contestando mais efetivamente as bolas de fora, travando com mais eficiência as penetrações, provando que a preferência por bolas de três nem sempre ganham jogos, mas quase sempre propiciam bons e eficientes contra ataques se contestadas com competência e decisão. A equipe do Flamengo ainda se debate com indefinições do quem é quem dentro de quadra, que é um preocupante quadro num plantel cheio de nomes, nem sempre aptos a aceitar a reserva, pois não compreendem, ou passaram a não compreender, e consequentemente aceitar, um papel estratégico a qualquer equipe de alto nível, onde o poder de rotação define seu destino em uma longa e exigente competição de elite, mesmo que atuem por poucos minutos…
Finalmente, uma equipe, Mogi, que se apresenta bem equilibrada taticamente, arremessando 27/51 bolas de dois pontos, 6/20 de três e 12/16 de lances livres, perdendo para Macaé, também razoavelmente equilibrada com seus 21/34 de dois, 10/23 de três e 17/21 de lances livres, porém pegando mais rebotes (36/28) e convertendo 46 pontos no garrafão contra 40 de seu adversário, e que vê seu técnico conotar a derrota às atitudes “estupidas“ de seus armadores (que na realidade se viram batidos pelo americano Jamal em noite inspirada, ao contrario de seus habituais e centralizadores recitais),numa retórica de sempre culpar a equipe e os jogadores pelas derrotas, quando, ele próprio comete erros táticos como o deste jogo, ao não preparar a equipe para o enfrentamento de um americano imprevisível tecnicamente , mas controlável taticamente. Em Macaé, veremos a quem vai culpar, ou não…
Porém, algo alvissareiro, a volta, ou melhor, a redescoberta de que temos bons pivôs, e que se não estão melhores deva-se ao “estilo brasileiro de jogar”, que os remeteu por duas décadas ao papel de recolhedores de bolas das artilharias de fora, sem o direito sequer de adquirir algumas técnicas individuais, como o drible, as fintas, os deslocamentos com posse de bola, enfim, a participação no jogo coletivo de suas equipes, travando-os servilmente dentro de um sistema obtuso e retrogrado, mantido pelo corporativismo vigente, mas que aos poucos vem se abrindo na marra, na marra do inadiável, na substituicão da estupidez pelo mérito. Acredito que evoluiremos, apesar de tudo…
Amém.
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