REUNIÃO EM LAS VEGAS.
E de repente, emergindo de uma reunião logo após a tremenda e constrangedora derrota contra Porto Rico, ressurge um outro time, uma outra disposição para o enfrentamento, uma outra concepção de liderança, uma outra relação inter pares, enfim, uma outra equipe. Pouco ou nada se sabe sobre o teor da reunião, a não ser alguns entreveros flagrados pela TV, onde abundaram ofensas e graves quebras de hierarquia logo após o encerramento do jogo, ainda em quadra. No entanto, duas entrevistas que antecederam o jogo desta noite com o México, dadas à imprensa pelo delfin e pelo Guilherme, deixaram no ar que pontos muito sérios e controvertidos foram postos à discussão aos presentes na mesma, que pasmem, era composta exclusivamente pelos jogadores, sem a presença do comando da equipe, a comissão técnica com seus três integrantes. Numa linguagem evasiva e hermética, externaram ter sido a reunião um ajuste entre algumas posições divergentes e pessoais, realizada olho no olho, e que culminou num “fechamento” de objetivos a serem alcançados por todos. E tantas eram as divergências, que o treino desta manhã deu lugar a um segundo tempo de reunião, onde mais posicionamentos foram definidos.
E então, o que se viu ainda no primeiro quarto do jogo contra os mexicanos, foi uma guinada radical na escalação da equipe, quando, contrariando o seu reiterado posicionamento de partidas anteriores, a comissão técnica fez entrar os até aquele momento inaproveitados Guilherme e Huertas, encostando de forma visível e acintosa os jogadores Nezinho e JP Batista, reservas preferidos do técnico principal, que somente participaram nos minutos finais do jogo, e cujos semblantes demonstravam nitidamente suas insatisfações ante a nova situação. Outrossim, Marcelo e Alex se firmaram em suas inabaláveis posições, agora na companhia do Guilherme, exatamente o trio de cardeais que expuseram pela mídia, ao término do Campeonato Mundial de triste memória, seus posicionamentos contrários àqueles jogadores que se negavam à participar da seleção, o delfin em especial. Com a definição da base da equipe, formada pelo Valter, Leandro e o delfin, de a muito definida no check list nenesiano, o grupo cardinalício formado pelo Marcelo, Alex e Guilherme se impôs nas escalações levando consigo o Huertas, preterido claramente pela comissão nos jogos do torneio, em favor do Nezinho . No campo dos pivôs, os posicionamentos do delfin, do Spliter e do Murilo, não poderiam ser obstados pelo novato JP Batista, preferido pelo técnico principal em muitas das etapas percorridas pela equipe, mesmo sendo um bom jogador.
Com estas disposições estabelecidas, constatou-se de uma vez por todas o conservadorismo técnico-tático enraizado no âmago dos jogadores, acostumados e sedimentados no sistema de jogo tradicional com um armador e suas movimentações padronizadas e repetitivas. Essa forma de jogar e atuar garante o aproveitamento permanente dos alas, dos cardeais, num rodízio de três para duas posições, destinando o Huertas à reserva direta do Valter, em vez do preferido Nezinho. Claro, que com a adoção de dois armadores a divisão territorial das capitanias hereditárias seria alterada para menos, o que não era de interesse dos cardeais.
O que se viu daí para diante, foi a tremenda ascensão da liderança dos jogadores por sobre o comando da comissão, que não pode sequer disfarçar tal evidencia, haja visto as radicais mudanças de escalação testemunhadas por todos aqueles que entendem um mínimo de basquetebol, e mesmo por aqueles que pouco entendem do mesmo, bastando para isto revisar os jogos anteriores. Temos então estabelecida uma nova ordem, item final do check list onde o quadradinho permitindo a continuidade do técnico pode ser preenchido pelo xis do delfin e dos cardeais.
A entrevista do delfin, onde explica ao seu modo como a equipe se comportava tecnicamente, e como mudou esse mesmo comportamento após o estabelecido na secreta reunião, nos esclarece a dimensão do que lá ocorreu, e do que foi modificado, aspectos estes demonstrados através a performance da equipe na vitória contra os mexicanos. E tudo à revelia da comissão, que se tiver um pingo de dignidade, se vê na obrigação de tomar duas atitudes : ou restabelece seu primado de comando, agora mesmo submergido pela liderança dos que deveriam ser os comandados, ou, por uma questão de quebra irrecorrível e definitiva de hierarquia e de ética, se retira de um campo de luta a que não mais pertence por deposição de comando, antes de que seja vitima de seus próprios erros, de suas omissões.
Mas meu amigo, se tais mudanças levaram a equipe à vitória, por que tanta objeção a uma simples e retórica reunião de jogadores bem intencionados? Bem, vimos o que ocorreu no jogo contra o México, uma equipe fraca e de pior performance defensiva do torneio. Esperemos os dois jogos à seguir, contra argentinos e uruguaios, onde as definições serão de maior monta, para aquilatarmos objetivamente quem realmente deve comandar uma equipe nacional de basquetebol lutando por uma vaga olímpica, se uma comissão técnica , ou um núcleo de jogadores opositores da mesma. Bem sabemos a resposta, e a coragem necessária para assumí-la. Tudo o mais é conversa de compadres colocando panos quentes, no afã de não perderem feudos conquistados também em reuniões ,tão ou mais fechadas e herméticas do que esta em Las Vegas.
Amém.