O ÓTIMO E OPORTUNO NARRADOR CHINÊS…
Foi muito trabalhoso encontrar imagens dos jogos na China, mas conseguimos em parte, com os melhores momentos do jogo contra a Itália, e o jogo completo contra a Sérvia, e com ótimos bônus, pois nos livramos da gritaria apoplética de nossos narradores, e comentários ufanistas da turma que teima em apresentar um jogo que somente eles vêem, ante a simplicidade comedida de um chinês tradicional…
Porém, nada mudou, a não ser a definição para a nossa seleção do que venha a ser atuar em dupla armação, e mais, definir um jogo consistente dentro do perímetro, falha que vem se mantendo por demasiado tempo, afogada pelo tsunami dos arremessos de três, cada vez mais presentes nas competições de que participamos a um longo e tenebroso tempo, e que deveríamos exorcizar de vez para realmente melhorarmos…
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As transmissões chinesas não postaram as estatísticas de fim de jogo, as quais não consegui acessar em nenhum blog especializado, mas que me deixaram convicto de que a chutação nunca foi tão presente como agora, e que cada vez mais abandonamos a prioridade do jogo interno, abre te sésamo no enfrentamento das grandes equipes estrangeiras, exatamente pelo poderio das mesmas nesta zona da quadra, onde rebotes importantes e estratégicos deixam de ser conquistados pela aridez presencial de nossos gigantes naquele precioso terreno, tanto atacando, como contra atacando, sim turma, rebote ofensivo é contra ataque, ou não?…
Mas o que fazer se a turma de fora autoriza e incentiva a queimar tudo “estando livre”, seguindo orientações fundamentadas em um sistema padronizado e formatado desde sempre, não, desde que um determinado grupo corporativo assumiu o destino técnico, tático e formativo do grande jogo neste imenso, desigual e injusto país. Dificilmente sairemos desse nó górdio que nos asfixia, lenta e gradualmente a cada competição internacional, fruto direto da nossa claudicante formação de base, inócua e equivocada, tendo como espelho uma divisão adulta mais equivocada ainda, assim como sua liderança, a tal onde as pranchetas falam…
Sábado agora a seleção inicia sua trajetória no mundial, desajustada em sua concepção de jogo no perímetro externo, e mais desajustada ainda no interno, e já nem mais toco no aspecto defensivo, onde estabeleceu-se o principio de que se falharmos atrás, compensamos lá na frente, pois não se tornou mistério para ninguém que possuímos os melhores arremessadores de três do planeta, todos pretensos especialistas, dos armadores aos pivôs, passando pelos alas, e quem sabe o mordomo também, mas para defender…
Prevejo sérios problemas, pois na amostragem pública nestes amistosos, nem tão amistosos assim, fica razoavelmente fácil estabelecer pontos defensivos visando uma efetiva contestação às bolinhas, chegada mais forte e radical nos armadores que se isolam, se perdendo em dribles desnecessários, onde uma dupla armação bem esquematizada jamais deixaria tais assédios acontecerem, e uma inteligente e óbvia ação no enfrentamento defensivo frontal dos pivôs, sempre isolados quando acionados, tendo como movimento básico os passes para fora do perímetro para os lançamentos da turma completamente aberta em seus locais preferenciais ou induzidos para a matança redentora…
Ora, trata-se de uma atitude cujo primarismo espanta até mesmo quem não conhece bem o grande jogo, pois rouba do mesmo a possibilidade do jogo coletivo, não aquele de intermináveis passes mais um, no intuito de obtenção de espaço para arremessos, quase sempre sem posicionamento efetivo para os possíveis rebotes, mas sim aquele em que a movimentação sincronizada, ou mesmo assíncrona de todos os atacantes, fora e dentro do perímetro, obrigando a movimentação permanente dos defensores, propicie lançamentos de curta e média distâncias, mais efetivos percentualmente, assim como obtenção de espaços suficientes para passes curtos em cruzamentos, corta luzes e bloqueios próximos a cesta, permitindo pontuação de 2 em 2, e muitas vezes de 1 em 1, pelas largas possibilidades dos defensores cometerem muito mais faltas pessoais, do que tentando contestar longos arremessos ou se antepondo a um solitário atacante dentro de sua cozinha, reservando como atitude complementar as bolas de três, pelas mãos de seus poucos especialistas, e não uma equipe inteira…
Enfim, atuar num sistema 2-3 de ataque não se trata de escalar jogadores nesta formação, e sim ensiná-los, treiná-los e prepará-los para se ajustarem dinâmica e pontualmente no campo ofensivo, numa constante e envolvente movimentação, permanentemente ligada ao comportamento do adversário, numa leitura de jogo eficiente, cujas situações jamais se repetem, pois sistemas ofensivos eficientes não são aqueles que dão certo em sua movimentação básica, e sim quando provocam reações, que quanto mais previsíveis forem melhor se situará o sistema, o bom sistema, o qual em hipótese alguma poderá se submeter a “criações” de prancheta, espelho refletivo de estrategistas que se repetem ad infinitum no seu estratificado discurso mercadológico, que se perde ante o realismo da fraqueza de jogadores no pleno domínio dos fundamentos básicos, sem os quais sistema algum obterá pleno sucesso, apesar de serem talentosos e fisicamente capazes…
Temos cinco bons armadores, que deveriam agir em sincronia e ajuda permanente fora do perímetro, alas bem altos e velozes, podendo trafegar com desenvoltura dentro do perímetro, em apoio aos também bons pivôs que possuímos, mas que infelizmente atuam como vasos não comunicantes, ocupando todos áreas predeterminadas, como os corner players por exemplo, quando poderiam estar jogando sem a bola, do lado ou em oposição a mesma na quadra, deslocando defensores, que por estarem em movimento podem ser superados mais facilmente, até mesmo aqueles que marcam o pivô frontalmente, mas com todos focados na cesta, indo de encontro a ela, e não se perdendo em passes de contorno, ou em dribles exibicionistas sem objetivo algum…
Bem sei que tais comportamentos são difíceis de obter, mas que deveriam ser perseguidos estoicamente por toda comissão técnica que entendesse profundamente do grande jogo, o que acredito seriamente não ser o caso das atuais que se responsabilizam pelas seleções nacionais, todas elas, que se encontram sob o domínio de uma sistemática técnico tática, onde o preparo físico “ciêntífico” se sobrepõe ao preparo fundamental e técnico, quando apresentamos equipes que correm desabaladamente, saltam a estratosfera, e trombam como carretas de 40 toneladas, porém falhando no manejo de sua ferramenta de trabalho, a bola…
Precisamos ensinar, treinar e formar equipes com jogadores de verdade, fundamentalmente capazes, taticamente preparados e acima de tudo, sabedores dos caminhos e descaminhos que sempre encontrarão dentro de uma quadra, seja de treino, seja de jogo. Para tanto precisamos urgentemente preparar melhores professores, técnicos, e por que não dirigentes, que ao menos gostem de basquetebol, e não o que podem alcançar política e economicamente com ele…
Vou torcer para que façamos um bom mundial, honesta e sinceramente, mas jamais me iludindo com caras e bocas ao lado da quadra e pranchetas que falam…
Em tempo – Não toquei em sistema defensivo para não me situar na mesmice modal que nos aflige. Creio que já escrevi muito sobre ela, está tudo aqui neste humilde blog.
Amém.
Fotos – Reproduções da Internet. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.