Tenho por norma de vida, de professor, de técnico, e por que não, de jornalista, jamais emitir parecer, comentário, crítica, sem deixar que a cabeça esfrie, se concentre, estude, pesquise, se questione, se informe, para ai sim, com clareza e objetividade lançar no papel virtual ou tradicional, analises e sugestões pertinentes, fundamentadas, acima de tudo, responsáveis, e sem jamais reivindicar exclusividade na luta, ou solidão opinativa, correndo o serio risco de falseamento da realidade…
Pincei no espaço de comentários do excelente artigo do jornalista Guilherme Tadeu do Basketeria hoje publicado, uma pequena joia de critica solidamente ancorada numa das verdadeiras origens dos problemas técnicos que tanto nos tem afligido, e que culminou na catástrofe (entre outras nas divisões de formação de base) da Copa América, onde, sem dúvida alguma, atingimos o fundo do poço, na acepção mais primaria do termo. Ai vai o comentário, pedindo ao Guilherme e ao seu leitor permissão para mostrá-lo aqui nesse humilde blog:
Qua, 04 de Setembro de 2013 08:37 postado por johnson avelino
Guilherme, concordo com você, basta ver os times que tem as categorias de base, acompanhei os treinos de alguns deles e nunca vi um técnico ensinando basquete, vi sim ensinando jogadas exaustivamente. Também vi protecionismo para atleta filho de fulano, sobrinho de cicrano, irmão de agente tal. Após a categoria sub-19 o jovem faz o que? Estuda? Ou treina em horários que agradam os técnicos, pois eles tem outras atividades fora do clube e assim impossibilitam a ida as escolas. Acredito que muito tem que se fazer e nós de fora do cenário poder opinar para ajudar. Vamos mudar o basquete no Brasil?
Que tal? Simples, objetivo, real, espontâneo, crucial…
Sim, crucial, pois a origem do que se viu em Caracas, e temos visto em outras praças nas categorias de base, nada mais representaram do que a falência do ensino dos fundamentos do jogo, trocados pelos chifres, camisas, cabeças, punhos, copiados deslavadamente do modelo “internacional” de jogar o grande jogo, importado como panaceia milagrosa para a gloria, o pedestal prometido para todos aqueles que empunharem os níveis I, II e III conquistados em cursos e provisionamentos de fim de semana por uma ENTB comprometida com a mesmice instalada por estas bandas tupiniquins de 25 anos para cá, somados a testes específicos patrocinados por preparadores físicos, fisiologistas, psicólogos, em sua grande maioria ignorantes do que venha a ser o ensino competente e artesanal do grande jogo, nas mais diversas etapas do desenvolvimento harmônico e rítmico de jovens profundamente diferenciados entre si, propiciando o nascimento e fixação quase indelével do corporativismo técnico e tático que emperra o progresso dessa infeliz modalidade, basta comprovarmos serem sempre os mesmos profissionais participantes e donatários dessa horrível capitania disfarçada em formadora, mas que na realidade é a base da formatação e padronização do que ai está, e co- responsável pelos pífios resultados nas competições de base, e por que não, na Copa recém terminada, quando o exercito de aspones agregados superava em muito o numero de jogadores, que como vimos, não apresentaram condições técnica, físicas e táticas coerentes ao longo treinamento a que se submeteram.
Agora, depois do leite derramado, criticas descabidas, algumas sutis e outras oportunistas grassam pela mídia, focando, desde a demora nos pedidos de tempo, ao excesso de rotação por parte do equivocadamente assessorado hermano, assim como outras mais fundamentadas, como o erro crasso cometido na convocação e a teimosa insistência em não reconhecê-la a tempo de modificá-la, adaptando-a às perdas pontuais de percurso.
A grande verdade, é que viemos perdendo progressivamente terreno frente a nossos tradicionais adversários, e agora frente a outros impensáveis até bem pouco tempo, fruto de uma estagnação técnica, que se originou nos anos 70 quando foram priorizadas as disciplinas voltadas à saúde nas escolas de educação física, em prejuízo das voltadas e concentradas às ciências humanas e ao ensino das modalidades esportivas, que tiveram suas cargas horárias reduzidas, em muitos casos em 75%, o basquetebol incluso.
Dessa forma, passaram essas escolas a preparar paramédicos de terceira categoria, que hoje alimentam a indústria bilionária do corpo, com o aval tecnocrático do Confef e dos Cref’s, omitindo qualidade as licenciaturas voltadas a escola, e com conhecimentos técnicos desportivos que beiram ao ridículo, frente ao preparo de três décadas atrás.
Então, de onde vieram os técnicos para as divisões de base nos clubes, senão através os econômicos ex-jogadores de divisões superiores e mesmo curiosos e cultuadores do grande jogo, todos absolutamente despreparados para a formação de base com suas extremas exigências de caráter físico, mental e social, para a qual não encontravam respostas mínimas aceitáveis para a sua abordagem didático pedagógica. Claro que uns poucos se preocuparam no estudo mais aprofundado, porém carentes de informação, apoio logístico, supervisão competente, compensação econômica razoável, estágios e atualizações disponíveis, competições sérias e balizadas, tornando todo seu esforço nivelado, muitas vezes para baixo, com aqueles que se fixaram no estéril e abandonado terreno do desporto, esquecido pelo poder público, órfão de uma política voltada a seu desenvolvimento, colhendo as migalhas dos vultosos investimentos concentrados no desporto de elite, aquele que falseia medalhas, promove políticos, encobre corrupção, esmagando anseios e sonhos do nosso amanhã, os jovens.
Em Caracas, experimentamos o gosto amargo da verdade, da nossa verdade, da nossa inépcia, da nossa omissão, da nossa opção pelo cume da pirâmide, quando cantar o hino a plenos pulmões encobre a mais grave de todas as nossas reais e recônditas falhas, o mais absoluto e irrestrito apoio à educação, em todos os seus segmentos, onde o desporto, o basquetebol, tem papel estratégico na plena formação cidadã, em estreita comunhão com as disciplinas curriculares, às artes, música e dança. Sem que nos conscientizemos dessa verdade, nada alcançaremos para o futuro além 2016, absolutamente nada.
Se na capital venezuelana fracassamos como nunca o havíamos feito, nada mais lá foi representado do que a nossa realidade técnica, de preparo fundamental, de tática voltada aos interesses da equipe em sua formulação de principios proprietários de um sistema, e não recriando um modelo “internacional”, que nivela por baixo nossos jogadores, setorizando e especializando-os como maquinas montadas em série, descaracterizando suas personalidades criativas, únicas e exclusivas, que deveriam ser canalizadas para o bem do grupo, e não para a gloria (?) de uns poucos, principalmente quando estabelecem falsas especialidades, como nos arremessos de três pontos, e que no final das contas foram canibalizados pelos mesmos.
Sinto cheiro de fritura no ar, afinal “alguém” terá de pagar por tamanha ignomínia, vergonha nacional, alguém. Mas quem? Como? De que forma? A tradicional, promovendo assistente ao comando, quando deveria cair junto ao titular, exatamente por se constituir parte indivisível de uma unida e una comissão técnica? A autenticação indicativa de um ícone acusado por muitos de ter iniciado a era das bolinhas, instalada como uma inestancável hemorragia, que coerentemente compareceu através os dois últimos arremessos contra a temível Jamaica, quando ainda restavam 5seg de posse de bola, onde uma segura tentativa de jogo interno deveria ter sido efetuada? Ou a contratação de um novo estrangeiro a peso do ouro pago ao atual, que no final das contas somente foi vitima do nosso já enraizado e longevo “momento”, radicalmente diferente e oposto ao “momento platino” que o consagrou com a medalha olímpica, e que não teve o jogo necessário de cintura para tangueá-lo como deveria?
Fico por aqui, porém convicto de algo muito significativo, e que de tão importante tem obrigatoriamente de ser varrido para baixo do tapete, a minha, ai sim, solitária tentativa e posterior desafio, no intuito de tentar estabelecer o contraditório no linear cenário técnico tático do nosso basquetebol, sufocado pelo corporativismo e pela manutenção da mesmice implantada, que teve seu desenlace em Caracas, onde nem mesmo o mais do mesmo se fez presente, a não ser a manutenção burra e suicida do reinado das bolinhas, para o bem, e nesse caso para o irreparável mal..
Estou triste, mas não inconsolável ou insensível, pois aos 74 anos me mantenho lúcido, criativo e profundamente convicto de que dias melhores terão obrigatoriamente de vir para o grande, grandíssimo jogo da minha vida.
Amém.
Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.
Foto 1 – Opção pelos três pontos a 4seg do final em vez de uma ação interna.
Foto 2 – A dura realidade no olhar do capitão.
Foto 3 – Números para não esquecer.