NÃO FOI POR FALTA DE AVISO…

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“Se cada povo tem o governo que merece, porque não o basquete. Todos lá estão pelo caminho do voto (27), ou não? Então, o que está errado nessa equação?”

A CBB está em crise, não paga sequer pela vaga na Olimpíada pelo calote dado a FIBA na compra da vaga no Mundial, e agora, de pires na mão suplica por mais um patrocínio estatal, que não duvido nada, conseguirá com os avais do ME e do COB, pois é de suma importância para esse último, liderado pela turma do vôlei, que o basquete permaneça na mixórdia em que se encontra, garantia maior de que não oferecerá, por um bom tempo, perigo ao patamar  de segundo esporte no gosto do brasileiro, ostentado aos quatro ventos pela turma que, depois de um anunciado escândalo econômico administrativo, recobra o majestoso patrocínio do BB,  sem os arranhões expostos e cobrados à turma menor, a do grande jogo…

Fabio Balassiano vem a público com um excelente trabalho sobre as contas da CBB, suas falhas e dívidas milionárias, liderando uma torrente de comentários pela cobrança de explicações e pedidos de auditorias, que também acredito não dariam em muita coisa, face a blindagem ostentada por esse mundo nebuloso e interesseiro, garantido pelo corporativismo solidadamente implantado no mal fadado esporte brasileiro, refúgio de muita gente oportunista,  inteligente e letal, principalmente no manuseio das verbas oficiais depositadas meneirosamente em suas mãos, onde se lavam mutual e permanentemente, década após decada, num movimento ciclópico, aparentemente, sem fim…

Muitos e muitos reclamam da falta de apoio à luta “quase solitária” do Balassiano, mas esquecem que aqueles que ai estão no comando foram eleitos pelas federações estaduais, muitas delas se locupletando do festim, e que não estão nem um pouco preocupadas em mudanças, garantia do que ai está…

Engraçado que, indo de encontro a solidão do Fabio, muito aqui escrevi sobre o que agora está escancarado, muito mesmo, e para refrescar as cabeças que hoje bradam revoltas e pedidos intervencionistas, sugiro a leitura a seguir, e quem sabe, entenderão alguns “porquês” que assombram o grande jogo em nosso país:

Cronologia do Esquecimento (ou Recordando…)

Amém.

Fotos – Divulgação CBB.

 

O NOVO E O POR QUE?…

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Três anos atrás, publiquei o artigo 1000, O DESAFIO, que foi uma forma sintética de englobar todo um pensamento, todo um conceito de como sempre vi, exercitei e pratiquei o grande jogo na função técnica, em paralelo ao grande número de artigos dedicados aos mesmos, com coerência e teimosia em mais de meio século de batente, no afã de sensibilizar a todos aqueles que o amam de verdade, e que anseiam vê-lo soerguido do limbo em que se encontra a duas décadas de desgoverno, protecionismo e brutal corporativismo…

E o que tem acontecido de lá para cá, senão a confirmação do repto, suavizado e adaptado por aqui, porém levado ao extremo na matriz, ou não?…

Pera lá Paulo, você quer dizer que antecedeu os gringos nessa NOVA forma de jogar? E porque não, se o faço na pratica desde sempre?…

Claro, que outros professores e técnicos também o fizeram, semelhantes que são todos aqueles poucos, muito poucos que teimam em não seguir o corriqueiro, adotando a fácil tarefa de simplesmente copiar o que julgam aprovado e comprovado na pratica,  mesmo que destituído de inventividade criativa, aspecto este de somenos importância no mundo da mesmice endêmica que frequentam com ardor e dedicação, afinal de contas não se mexe em time que está ganhando (?)…

No último artigo aqui publicado, um leitor assim comentou:

Andre – Olá, Paulo Murilo, vc já declarou que não se entusiasma com a NBA, mas parece que o novo campeão, Warriors, é um exemplo daquilo que vc repete aqui nesta coluna o tempo todo! Hoje li Balassiano e ele comentou nesta mesma linha. Poderia fazer uma análise mais específica sobre o time do Warriors?

 

Muito bem,  responderei a sua pergunta, afirmando de saída que o farei como professor e técnico e não como comentarista, que até poderia fazer, já que jornalista qualificado, mas prefiro a área eminentemente técnica, aquela que se fundamenta no conhecimento profundo do jogo, adquirido na pratica sistemática do mesmo dentro e fora da quadra, estudando, desenvolvendo, pesquisando e ensinando-o décadas a fio, humildemente aprendendo mais do que ensinando…

Então, o que vimos na recente e brilhante conquista do Warriors na encerrada temporada da NBA, senão a continuidade da ação iniciada pelo Coach K, logo que assumiu as seleções americanas nos últimos mundiais e olimpíadas, com as quebras radicais de paradigmas clássicos do basquetebol de seu pais?…

Pivôs de força, pouca mobilidade e agilidade, foram substituídos por alas pivôs velozes. atléticos e ágeis, com fundamentação próxima aos armadores, arremessando com precisão das mais diversas distâncias, defendendo dentro e fora do perímetro com igual eficiência, colocando em cheque adversários pesados e pouco móveis (o pivozão russo que o diga…), abrindo espaços formidáveis mesmo próximos à cesta, assim como desenvolvendo armadores, sempre em duplas, somando às suas habituais e históricas habilidades um poderio de arremesso em ambos os perímetros, casando tais qualidades aos alas pivôs, num entra e sai da bola no perímetro interno por todo o tempo de jogo, tornando bastante complicada a concepção eficiente de sistemas defensivos, sujeitos às incontáveis soluções ofensivas a serem confrontadas…

Engraçado, sempre usei essa forma de jogar, porta de entrada (e saída…) da improvisação, da arte de ler e interpretar situações sempre mutáveis (e jamais repetidas) de jogo, onde ter um arsenal de 100 jogadas se torna risível perante às “n” e incontáveis possibilidades do jogo pensado, ousado, corajoso, num sistema aberto e profundamente responsável, âmbito daqueles que realmente o sabem jogar, de verdade…

Os Warriors pertencem a NBA, a liga que congrega a fina flor do basquetebol americano, sempre reforçada por jogadores internacionais, que, com honrosas exceções se equivalem aos locais, porém nunca os superando, onde uma renovação constante, advinda de sua fortíssima estrutura colegial e universitária, mantém sua hegemonia técnica mundial, apesar de claudicar bastante no aspecto tático, estruturado e fundamentado no sistema único, largamente comentado aqui no blog, originando esporádicas surpresas como as apresentadas pelos Warriors, seguidores fieis da proposta do coach K, adotadas pelas seleções nacionais por ele dirigida nos últimos anos…

“Sem os arremessos de três nenhuma equipe vence hoje em dia”, afirma categórico um comentarista de TV, deixando no ar o aspecto saudosista que o incentiva para tal afirmativa, que contesto veementemente, pois jogando em permanente deslocamento de todos os jogadores, abrindo espaços sucessivos dentro e fora do perímetro, optar prioritariamente pelos médios e curtos arremessos (com percentuais mais vantajosos), para de 2 em 2 alcançar mais de 90 pontos, mantém os altamente imprecisos arremessos de três (inclusive para os especialistas) para serem utilizados naqueles momentos em que sua execução seja antecedida pelo mais absoluto equilíbrio e razoável distanciamento de possíveis contestações, onde um raríssimo talento como o Curry, quebra um pouco essas regras, mesmo quando erra…

Do lado dos Cavaliers, um daqueles raros jogadores que insistem em transformar um jogo coletivo em individual (temos um belo representante desta escola aqui mesmo, em terra tupiniquim), contestando seu técnico, um reconhecido tático do basquetebol internacional, esquecendo algo essencial para uma verdadeira equipe, alocar sua refinada técnica a serviço de seus companheiros menos afortunados, colocando-os nas definições de jogadas em busca das possíveis vitórias, e não encerrando sua participação no playoff final como o cestinha absoluto, o maior reboteador e…o grande (por mais uma vez) perdedor…

Finalmente, contesto, também, com veemência, afirmativas conclusivas de que jogadores, técnicos, jornalistas e torcedores admitam que o basquete de hoje difere frontalmente daquele jogado 40 ou 50 anos atrás, quando um Boston Celtics de Bill Russel (cujo trofeu com seu nome premia o MVP), o Cibona, as seleções iugoslavas, brasileiras jogavam de forma parecida, em velocidade, agilidade e arremessadores formidáveis, em tudo antecedendo o que hoje alcunham de NOVO jogo, quando na realidade, recria princípios imutáveis do grande jogo, onde o pleno e absoluto domínio dos fundamentos o embasam, e que mais recentemente, no NBB2, um humilde e agora esquecido Saldanha o ousou recriar, tendo como castigo a marginalização, tanto da maioria dos jogadores, como de seu técnico, o mesmo que lançou o desafio acima descrito, e que jamais contou com o mais remoto apoio do mundo fechado do nosso basquetebol, dos técnicos e suas associações à imprensa dita especializada,  na formulação de  uma singela pergunta – Por que o degredo, o que o explica e justifica, por que?…

Amém.

Fotos – Divulgação LNB. Clique nas mesmas para ampliá-las.

 

VOLTANDO…

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Parei por duas semanas com o grande jogo, quando me dediquei ao V Congresso Brasileiro de Dança Moderna, organizado pela minha filha Andrea Raw, e dando inicio à reforma de minha casa depois de 39 anos de construída. Mesmo assim, assisti uns poucos jogos pela TV e Web, com uma NBA endeusada por aqui, mas que não me comove, desde que a conheci in loco pelos idos dos anos sessenta, quando percebi ser um outro jogo, em nada alinhado ao basquete internacional, que queiram, ou não os deslumbrados tupiniquins, ávidos e sempre prontos a consumí-lo como o prana dos deuses, que cá para nós, deixa muito a desejar, noves fora os milhões de dólares que insuflam a cabeça de muita gente, órfãos crônicos que somos da pobreza econômica e cultural, frutos de uma educação nada compatível a uma “pátria educadora”…

Fica muito difícil para mim assistir um provecto Lebron jogar (ou tentar…) sozinho, com sua equipe(?) abrindo caminho para suas penetrações facilitadas pela regra das coberturas vigentes na grande liga, assistido por um técnico conhecido como um excelente tático no basquetebol FIBA, mas sujeitado ao centrismo e estrelismo do imperador de Cleveland, estertorando sua cansada e judiada musculatura, massoterapicamente trabalhada durante as partidas, resultante de um esgotamento pouco aceitável para um jovem (?) de sua pretensa idade…

Do outro lado, uma equipe que procura o jogo mais coletivista, mesmo contando com um  fora de série nos fundamentos do jogo, como o Curry, agregado ao grupo como formidável armador que é, além de ser um virtuose na arte de arremessar, tanto fora, como dentro do perímetro…

Pela Web, um circo de horror, mais um, numa divisão formativa, a mais importante, a sub 16 masculina, varrida da Copa América da categoria  por potencias como a República Dominicana e Porto Rico, concluindo com um centenário placar contra os Estados Unidos…

Mas o que realmente assusta são as carências técnicas individuais, os fundamentos do jogo, violentados nestas três partidas com os seguintes números: – Perdas de bola – 93 (31 pj na media)

               – Arremessos – De 2 pts – 60/138 (43,4%)

                                      – De 3 pts – 15/52 (28%)

                                      – Lances livres – 51/93 (54%)

              Ou seja, uma equipe nacional de base que não domina, sequer razoavelmente, os básicos princípios do manejo de bola e do corpo, e que sequer ostenta boas técnicas nos arremessos, com percentagens muito abaixo do exigido para uma seleção representativa do basquete de base nacional. Resultado? O de sempre, derrotas por “não atuar no padrão e errar muito nos fundamentos”, segundo seu técnico, esquecendo que os fundamentos deveriam constar da formação, aprimorados nas seleções, e que o “padrão” se torna inverossímil sem o domínio dos…fundamentos…

Mais assustador ainda é a continuidade da frágil formação dos técnicos e professores no país, com as cargas das disciplinas técnico desportivas sendo minimizadas nos currículos das escolas de educação física, substituídas pelas da área biomédica, tornando a tarefa básica de ensinar a ensinar secundária, lançando o conhecimento dos desportos a um mínimo inqualificável e rasteiro, que nenhuma ENTB, no caso do Basquetebol, substitui num nível, pelo menos, aceitável, com seus cursos de “provisionamento” de 4 dias…

Aqui, desta humilde trincheira, nos últimos dez anos de Basquete Brasil, apontamos, discutimos e sugerimos caminhos para a formação de base no nosso imenso e injusto país (e isto bem antes de especializados, que parecem professar a quimera da existência do basquetebol se iniciar com suas vindas ao mundo…), lastreado nos mais de 50 anos antecedentes de muito trabalho e dedicação à causa do grande jogo, hoje coisificado em sua mais estrutural importância, a formação de base (cujos princípios são muito, muito antigos, coisa de mais de um século de pesquisas, estudos e vastíssima bibliografia…), fator que resume a verdadeira dimensão que nos tolhe desde sempre, o fator técnico, simplesmente o fator técnico, resultante da imperícia e má formação de nossos técnicos e professores, mais voltados, em sua maioria, às táticas e sistemas de jogo, omitindo, por desconhecimento ou oportunismo, o laborioso e difícil mister de ensiná-lo em sua complexa essência, através seus fundamentos, seus olvidados e marginalizados fundamentos…

Então, enquanto não sentarmos em torno de 27 mesas, para discutirmos acalorada e enfaticamente, como alcançar e desenvolver didáticas específicas para o ensino responsável e evolutivo dos fundamentos do grande jogo, nada conseguiremos, a não ser a manutenção do compadrio, a culpabilização dos famigerados “detalhes”, a busca dos álibis salvadores que tentam justificar derrotas mais do que previsíveis, e o adiamento espúrio e odioso da negação ao mérito, obstado pelo mais deslavado, contundente e, até certo ponto criminoso, reinado do Q.I….

Até lá, convivamos com o que aí está, amando e desejando uma Rapunzel, digo, NBA, inalcançável e pródiga em parcas benesses,  migalhas de seu poderio hegemônico esportivo, cultural, e por que não, geopolítico…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV e Web. Clique nas mesmas para ampliá-las.