O EXIGIDO E FUNDAMENTAL COMANDO…
Pronto, explodiu a refrega, pipocam de todos os lados apoios e críticas sobre as escolhas da CBB na direção da seleção nacional, quando reivindicam direitos meritórios, continuidade de um trabalho montado para sucessões automáticas, críticas contundentes de dirigente clubístico em nome de um técnico injustiçado, claro, sua opinião, voltando à ribalta os poderosos argumentos sobre direitos adquiridos por títulos conquistados, e o mais impactante, salta aos olhos a velada influência marqueteada no endeusamento advindo de uma classe de torcedores nem sempre do grande jogo, em torno de nomes deificados por uma mídia fabricante de mitos e de falsos magos, na maioria das vezes auto promovidos, numa ciranda de interesses muito mais individuais do que coletivos, como deveria ser em se tratando de uma modalidade…coletiva…
Mas, fluindo de toda essa discussão, esquecem daquela entidade que conta com a unanimidade de todos, e que deveria face a essa primazia ser eleita sem ressalvas a responsável pela direção da seleção, isso mesmo, sua majestade sereníssima, a prancheta, sendo de somenos importância aquele que a portasse, a partir da evidência tácita de que fosse quem fosse, as diretivas, estratégias, jogadas e macêtes técnicos lá estariam armazenados, prontos para o consumo comum a todos eles, pois afinal de contas “as pranchetas falam”, ou não?…
Noves fora tais verídicos ou não fatores, esquecem mais do que nunca alguns importantes, vitais e sutis pormenores, a saber:
1 – Campeonatos nacionais, amadores ou profissionais, em cada um dos países que lideram o grande jogo no mundo, pela sua equilibrada competitividade e permanente renovação de bem formados jogadores, escolhem técnicos nacionais nem sempre os mais galardoados, e sim aqueles que representam melhor a essência técnico tática evolutiva de suas escolas, sendo na esmagadora maioria deles apontados os mais experientes, vividos, e por isso mesmo menos sujeitos aos erros comuns aos mais jovens, fator decisivo na produtividade de uma seleção nacional;
2 – Em contraponto a esta constatação, desenvolvemos de trinta anos para cá, o hábito de premiar (não indicar ou escolher) aqueles mais titulados, em campeonatos de uma pobreza franciscana em termos de preparação individual dos jogadores nos fundamentos básicos do jogo (e isso de maneira geral), logo incapacitados de conceber e desenvolver um sistema de jogo minimamente aceitável nos planos coletivos ofensivo e defensivo, fatores que os colocam de saída inferiorizados ao confronto internacional de alto nível, aí incluídos os verdadeiros responsáveis que adotaram desde sempre um limitado e manietado sistema único de jogo, os técnicos, em sua quase absoluta maioria, e o pior, desde as categorias de base, adotando, padronizando e formatando-o coercitivamente, liderados por uma comunidade corporativada, e por isso mesmo, comungando da mesmice endêmica que lá se encontra arraigada, e até essa indicação do novo técnico, interino ou não, inamovível. Logo, fosse quem fosse, de saída, repito, já entra em inferioridade técnica e tática no concerto mundial, e que por uma questão de menor importância dessa Copa América, pode se dar ao luxo de manter o que faz a muito tempo, sem maiores riscos, mas mesmo assim contestado clara ou disfarçadamente, afinal, poderia ser um bem mais laureado…
3 – E neste curioso contexto, somente vejo uma saída para contornar este libelo, que o novato, interino ou não, rompa com o sistema único, de uma vez por todas, quebrando essa lamentável dependência escravizante, e como será uma seleção bastante jovem, que dê a todos eles a oportunidade de fazerem algo que os promovam a um outro patamar, pois a continuar atuando na mesma sintonia ao que fazem e como atuam seus futuros adversários, certamente encontrarão sérias e até intransponíveis dificuldades, motivadas por sua inferioridade nos fundamentos do jogo, confrontando a máxima aceita pela comunidade séria dos técnicos das maiores escolas, ao propugnarem o fato indiscutível de que entre duas equipes que atuam num mesmo sistema, vence aquela que domina mais eficientemente os fundamentos, e não através um sistema fragilizado pela ineficiência dos mesmos;
4 – Neste raciocínio, o mérito jamais dependerá somente de títulos conquistados, e sim de sua qualificação técnica superior, tanto na formação e orientação técnica de jogadores, como na condução tática dos mesmos, onde a diagnose de falhas estivesse ao alcance imediato das devidas retificações, distância esta que quanto menor for, maior sua qualificação profissional;
5 – E mais um determinante e primordial fator, hoje praticamente extirpado em nome da divisão de responsabilidades pela delegação fracionada de comando, com a entronização de cada vez mais auxiliares técnicos, preparadores físicos, fisioterapeutas, gerentes disso e daquilo, supervisores, psicólogos, médicos em profusão, nutricionistas, e até um inédito analista de desempenho, compondo um exército que ultrapassa em número o de jogadores, num esquema organizacional que minimiza o ponto fulcral na consecução de uma verdadeira equipe de basquetebol, o comando indivisível, responsável, altamente competente e solitariamente decisório de um autêntico head coach, o técnico principal, aquele que por suas qualidades de liderança adquirida pelos anos de estudo, pesquisa e árduo trabalho, caberá o indivisível e muitas vezes solitário comando, incluindo ou não a cedência de delegação de poderes, e a constituição da equipe assessora e diretiva com quem trabalhará, sem divisões políticas e interesseiras de responsabilidade, desculpas ou mesmo de caráter ético…
Por todos estes fatores acima apontados, permanece no ar uma decisiva e básica questão – Temos no país homens com tal perfil de comando no âmago do grande jogo? Sim, temos, são poucos, mas os temos, bastando que sejam mobilizados para a tarefa maior e de inadiável urgência, e não indicar os seis por meia dúzia usuais, ou mesmo um estrangeiro, que aqui desembarcará com as mesmas convicções pelo sistema único, agravado pelo distanciamento sócio cultural com seus países de origem, nem um pouco interessados em nossa evolução, mas claro, em busca dos nossos sacrificados e contidos dólares ou euros, muito mais importantes se aplicados aqui, ajudando a alavancar o soerguimento do grande, grandíssimo jogo entre nós…
Finalmente, um repto ao novo técnico nacional, o mesmo que fiz a antiga comissão, assim como aos demais técnicos do país através o insistente desafio, esnobado e sequer tentado, a não ser por uma ou outra tentativa de adaptar a dupla armação ao sistema único, e jamais levar em consideração a utilização de três alas pivôs atuando dentro do perímetro em constante e permanente movimentação, quebrando de vez a mesmice endêmica de nossa atual maneira de jogar, padronizada, formatada e pretensamente globalizada, aproveitando a oportunidade única de disputar uma Copa América sem injunções classificatórias a competições importantes, oportunizando sem desmedidas cobranças que um jovem grupo e alguns experientes jogadores se preparem dentro de um sistema proprietário, inovador, corajoso e acima de tudo inédito para as fortes equipes que enfrentarão. Que treinem fortemente os fundamentos mais básicos, inclusive como forma de preparação física e orgânica, não perdendo tempo precioso com testes de saltos, impulsões, força, dobrinhas cutâneas, motricidades várias, que só são aplicadas e lembradas quando da vitrine de seleções nacionais, ocupando tempo no crítico calendário das competições internacionais, para a “pesquisa” de uns poucos, quando seriam de grande importância se existentes permanentemente nos clubes e equipes formadoras desde as divisões mais básicas, e aferidas em seu ápice, e de forma laboral na fase adulta. E antes da revolta científica, pergunto no que resultam dados coletados na véspera de uma competição? Resposta de quem como eu pesquiso desde sempre? Nada, absolutamente nada de prático e utilizável, logo, “sentem brasa” nos fundamentos, colocando todos os selecionados num mesmo barco, remando na mesma direção, sejam armadores, alas ou pivôs, pois é a melhor maneira de se conhecerem profundamente, nos acertos, e principalmente nos erros, qualificando a todos no reconhecimento do que cada um tem de melhor e de precario, e como aproveitar suas qualificações, e em algum sistema que nossos adversários desconheçam mesmo, era o que eu faria, aliás, tenho feito em todas as oportunidades que tive para preparar, treinar e fazer jogar uma equipe de alta competição, por isso, e mais uma vez o desafio, que se aceito, sem a menor dúvida, estabelecerá um salto decisivo em nossa evolução a patamares mais elevados, mas que exigirá muita coragem e convicção para alçá-lo, terá? Torço sinceramente que sim…
Amém.
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