AS ENTRANHAS DO GRANDE JOGO…
Grandes e pequenas notícias, entrevistas mil, abalizadas análises, pontos de vista a perder de…vista, novidades para o feminino, mais ainda para o masculino, prospectos de enterradas femininas no abaixamento das cestas, conceitos e projetos para as seleções, sonhos realizados, reuniões diretivas, promessas de marketing aprimorado, festivo, consumista, lucrativo, num turbilhão de achismos e certezas de sucesso…
Muito bem, mas, e a técnica de jogo, do jogo, como fica, como? Nenhuma lauda, uma linhazinha sequer, como se os fatos picarescos e circenses acima descritos fossem mais do que o suficiente para o reencontro do grande jogo tupiniquim com as glórias de um passado já um pouco mais distante, desde de quando caiu nas mãos dos estrategistas pranchetados, padronizados e formatados que aí estão, protegidos, irmanados,impolutos e inatingíveis, fincados pelas profundas raízes de um sistema anacrônico e equivocado, sombreado pela matriz de um outro jogo, de uma outra realidade econômica e cultural, de uma realidade antítese da nossa, pobre e carente de educação, de insumos, de investimentos, e de coragem para assumi-la, e por isso escravos da cópia canhestra, osmótica, de incapaz fuga para algo realmente proprietário, que já o fomos um dia, quando o mérito na maioria das vezes se fazia vencedor, escolhido e reverenciado, ao invés do deslavado protecionismo corporativista que tanto nos empobrece e humilha…
Fala-se às tantas nas “filosofias de jogo”, nos conceitos (?), no domínio e conquistas de sistemas modernos, quando de moderno mesmo fulgura a preparação física, quando jogadores ficam mais rápidos, saltam às estrelas, enterram com inaudíta violência, e arremessam cada vez mais distante, num pastiche comprometedor para o grande jogo, que cada vez mais prima pela monocórdia previsibilidade, vítima e refém da tenebrosa mesmice endêmica que insidiosamente se abateu sobre ele, tornando-o incapaz e engessado de criar, de improvisar, de se fazer e tornar brilhante como outrora, sendo esta a verdadeira razão do afastamento dos torcedores e admiradores desta outrora e inigualável modalidade de jogo coletivo, transformada numa vitrine de inflados egos dentro, e principalmente fora das quadras, que se transforma aos poucos em guerras miniaturizadas dos confrontos futebolísticos, insufladas por estrategistas emplumados e exibicionistas, que sabem muito bem como transformá-las em explosivos e perigosos sextos jogadores a apoiá-los irresponsavelmente…
E a pergunta que se nega a calar retorna – E a técnica de jogo, como fica, como?
Publiquei um desafio sete anos atrás, e nada mudou, sequer foi tentado mudar, pois não é do interesse mudar algo garantidor do “nicho profissional” graníticamente instalado, onde ao término de cada temporada trocas são feitas, de jogadores, de estrategistas, de americanos, e um ou outro latino, num seis por meia dúzia exatamente para continuar a mesmice endemicamente instaurada, com reflexos terríveis nas seleções, atuando e jogando como os mais fortes adversários, que com uma ou duas exceções praticam a mesma “filosofia”, o mesmo sistema único de jogo, porém com uma básica e estratégica diferença, a de manterem em alto nível suas formações de base, orientadas e dirigidas por professores e técnicos comprometidos com os fundamentos do jogo, e não voltados, como nós, ao sistema, a coreografia padronizada e formatada em todas as divisões, que nada ou pouco produzem, exatamente pela impossibilidade técnica dos jogadores em exequibilizá-lo pela fraqueza de seus fundamentos, ferramenta básica que não dominam, mesmo nas divisões de elite, e que não encontram ninguém que os ensinem, corrijam, por não saberem como fazê-lo…
John Wooden dizia que “uma equipe bem preparada nos fundamentos e somente neles, sempre se imporá a outra que pretensamente utilize sistemas de jogo sem um razoável domínio dos mesmos”, numa constatação cada vez mais negada, e até desconhecida pela maioria de nossos especializados estrategistas, e pela grande maioria da mídia, para os quais o entorno midiático que envolve o grande jogo se torna mais importante que sua verdadeira essência, campo limitado aos que o estudam, pesquisam e ensinam de verdade, e por isso marginalizados…
Numa recente matéria, a jogadora Hortência assim se manifestou – (…)A Rainha acha que falta também metodologia de trabalho na base. Para ela, as equipes devem ter o mesmo padrão de jogo do sub-11 ao adulto. Sem podar a criatividade, mas criando um sistema de jogo mínimo para que na mudança de categoria as garotas não sejam completamente reorientadas: “A menina do sub-15, quando chega no sub-17, precisa ter o mesmo método. Quando a jogadora chega no adulto, não tem mais o que corrigir. Já está adulta” (…).
Meus deuses, não é exatamente o que vem acontecendo nos últimos 30 anos de imposição do sistema único, quase sempre antecedendo, e mesmo substituindo o correto e básico ensino dos fundamentos individuais e coletivos do grande jogo, e que coerentemente se torna inaplicável exatamente pela ausência dos mesmos? Ela mesma assume e exemplifica seu arremesso com uma das mãos afirmando ser produto de sua enorme eficiência no mesmo o fato de ser o dedo indicador o último a tocar na bola em seus lançamentos, quando na realidade são dois, o indicador e o médio, os últimos a fazê-lo, e que por projeção final á frente da mão impulsionadora parece ser o indicador o último? Creio que nem ela própria tenha se apercebido deste detalhe, num dos fundamentos básicos do jogo, posicionamento idêntico ao de outro grande arremessador, o Oscar…
São princípios essenciais ao ensino dos fundamentos, dentre uma infinidade de outros mais, que não podem jamais serem substituídos por “jogadas e esquemas táticos” que fazem parte do corolário sistêmico, como polegares, chifres, punhos,etc,etc e tais, que extrapolam de insensatas pranchetas, verdadeiros biombos separando jogadores de técnic..digo, estrategistas que as abraçam enlevados, pois, segundo muitos, “elas falam”, e de tanto falarem é que nos encontramos mergulhados neste interminável, absurdo e grudento limbo…
Gostaria imenso que pudéssemos alçar voos maiores, corajosos e desbravadores voos, inusitados e criativos voos, embalados todos eles num pujante domínio dos fundamentos, para aí sim, termos segurança e conhecimentos básicos dos movimentos que alavancariam sistemas, ofensivos e defensivos, abertos e democráticos, onde um princípio proprietário pudesse florescer, o do improviso em torno e no bojo de quem sabe jogar, sempre respeitando o coletivo, campo somente acessível àqueles que amam, compreendem e dominam o grande, grandíssimo jogo, dentro e fora das quadras, e que infeliz e lastimavelmente não ser o nosso caso, mas até quando, até quando?
Amém.
Fotos – Série de detalhamentos sobre sintonia fina no controle de direcionamento do arremesso com uma das mãos, arte maior deste fundamento do grande jogo. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las e acessar as legendas.
Artigos correlatos – Anatomia do arremesso I, II, III, IV, V e VI (Clique em cada um para acessar os artigos)