AS DÚVIDAS DO VAREJÃO…

Ao término da fase classificatória do March madness universitário americano (único torneio de lá que habitualmente assisto), já posso tirar algumas conclusões sobre o momento ianque de jogar o grande jogo, o mais próximo possível das regras internacionais, um pouco menos conflitante do que o modo NBA de praticá-lo, ou mesmo, transformá-lo num produto altamente rentável, e não um desporto comum a todo o restante deste planeta, unido em torno das regras da FIBA, se constituindo na exceção que as justificam. Sem dúvida alguma é um outro jogo o praticado na matriz, sendo a NCAA um ponto de passagem entre as duas evidências, mas ainda tendendo ao exclusivismo paternal de uma modalidade que vê negado o universalismo além de suas fronteiras…

É um outro jogo, porém com um princípio indivisível e comum ao restante do mundo, a forma de dominá-lo através fundamentos bem ensinados, exemplarmente treinados, e aplicados com maestria dentro dos sistemas ofensivos e defensivos adotados por professores e técnicos bem formados neste mister, apesar da maioria avassaladora dos mesmos se utilizarem do sistema único ofensivo, em contrafação aos flexíveis e variados sistemas defensivos, que diferem em forma, mas comungam dos princípios enérgicos e incansáveis aplicados durante todas as partidas, numa prova coletiva de comprometimento e entrega defensiva a serviço da equipe em seu todo…

Com poucas exceções, as equipes atacavam da mesma maneira, mesmo em dupla armação, onde passes de contorno, espaçamento gerador dos embates 1 x 1, corta luzes fora do perímetro, e trocas muito rápidas de passes visando os arremessos de três (são 30 seg de posse de bola em vez dos 24 seg da regra internacional), se constituíram no lugar comum a ser alcançado, num desperdício físico considerável num torneio de tiro curto como esse, onde a era dos massudos pivosões definitivamente deixou de existir, dando lugar a outros mais velozes, flexíveis e aptos ao jogo interno, como ao externo também, assim como mais versáteis no manejo dos fundamentos básicos do grande jogo. Mesmo assim, não vimos sistemas diferenciados, a não ser o emprego da defesa zonal por poucas equipes, com sucesso relativo, porém suscetíveis aos longos arremessos, responsáveis pela artilharia desferida por muitas das equipes, adotando o estilo Warrios, mas sem a eficiência dos mesmos…

Se quisesse destacar um jogo em especial nessa primeira fase do torneio, Duke 77 x 76 UCF, seria o escolhido, pois representou a afirmação de quebra da mesmice tática por parte do coach K, com sua equipe errática, porém azeitada em quadra, onde uma dupla competentíssima de armadores, alimentava alas pivôs fortíssimos que transitavam dentro e fora do perímetro, com seu grande jogador Zion atuando indistintamente dentro e fora do mesmo, ( o jogo foi vencido através um curto arremesso dele, seguido de um lance livre) defendendo com enorme vigor, principalmente nos rebotes, contra uma equipe dentro dos padrões atuais, contando inclusive com um pivô, Tacko Fall, de 2,29m enfiado no garrafão e dominando defensivamente sua cesta, e um atacante, Dawkins, especialista nas bolas de três, que foi o maior marcador do jogo, mas que no entanto viu sua equipe perder por um ponto, numa partida exemplar pelo confronto direto entre o antes e o depois técnico tático estabelecido no atual panorama do basquetebol de seu país…

Acredito que pouca coisa mudará nas semifinais e grande final deste grande torneio, onde a utilização do atual sistema ofensivo de jogo será mantido, garantindo a continuidade técnica e tática da liga maior, agora mais bem alimentada pela participação de jogadores universitários com um ano somente de frequência escolar, garantidora de sua contínua e inesgotável renovação, num mercado bilionário, e por isso mesmo, cruelmente disputado…

Sobre essa realidade no basquetebol profissional americano, vale a pena ler a entrevista que o jogador Anderson Varejão concedeu ao blog Bala na Cesta do jornalista Fábio Balassiano, da qual pincei alguns e esclarecedores pontos:

-(…) Cara, o jogo é outro. Totalmente. É outro esporte. Tudo muito rápido, todo mundo chutando de fora, muitas trocas nos bloqueios. Você não vê mais aquele jogo de cinco contra cinco, bola no pivô, essas coisas(…)

-(…) O que vejo hoje, e me questiono muito se é eficiente, é que todos os times tentam se igualar na forma de jogar ao que o Golden State Warriors e o Houston Rockets fazem para ter chance de ganhar. Mas será que esse é o caminho? Ou será que o ideal seria fazer algo de diferente pra machucar os caras? No momento é isso aí – correria, chute de três, muita transição, jogo sem tanta defesa agressiva…(…)

-(…) Hoje é um caminho sem volta. Pode ser que em 2, 3 anos a gente volte a conversar e o negócio tenha mudado. Mas hoje é assim(…)

Como vemos, um jogador com larga experiência no basquetebol europeu e americano, em sua liga maior por mais de dez anos, tem sérias dúvidas sobre a realidade que ora se apresenta no âmago do grande jogo, principalmente quanto a sua exequibilidade sistêmica em nosso país, não como um utente negligenciado em sua atuação pontuadora dentro do perímetro, mas sim, como um observador detalhista e consciencioso dos caminhos que se apresentam ao grande jogo em seu desenvolvimento futuro, em bases sólidas  e possíveis de serem trilhadas com conhecimento e competência…

Como acabamos de testemunhar na fase classificatória do march madness da NCAA, da fase classificatória aos playoffs do NBB, das competições sul americanas, assim como o dia a dia dos intermináveis jogos da NBA, a mesmice endêmica técnico tática corre solta e livre, assim como a desenfreada hemorragia das bolas de três impera mundialmente (muito mais por aqui mesmo, em terra tupiniquim), vítimas que somos do colonialismo atávico advindo das matrizes, e que é sutilmente mencionado pelo grande jogador ao responder a uma pergunta direta do Fábio – (…) Você gosta ou é o que é? Não tem muito o que escolher. A vida te leva pros caminhos e você tem de fazer parte disso (…).

E é neste ponto que insiro dois artigos antigos publicados aqui neste humilde blog, cuja leitura em muito poderá auxiliar na plena compreensão do testemunho do Varejão, pois explicita com sobras os porquês de não adotarmos formas diferenciadas de jogar o grande jogo, e mais ainda os porquês da não continuidade das minhas propostas teóricas e práticas quando na direção fugaz do Saldanha da Gama no NBB2, dez anos atrás, a não ser acolhimentos pontuais por determinados técnicos pela dupla armação, ferozmente combatida desde aquela época por blogueiros, jornalistas, comentaristas e palpiteiros, hoje plena e aplicada por todas as franquias, até extrapolando em triplas armações, assim como a substituição dos massudos e lentos cincões, por alas pivôs mais atléticos, ágeis e velozes, que hoje povoam nossas quadras, todos, porém, ainda longe do coletivismo alcançado por aquela emblemática equipe, fruto de uma experiente e qualificada pedagogia de ensino por muitos anos pesquisada, e muito mais ainda distante da compreensão e domínio dos imediatistas estrategistas que as comandam, ao negarem, por muito pouco conhecerem, da importância do árduo treino dos fundamentos individuais e coletivos para seus graduados e nominados jogadores, tornando-os aptos e receptivos a sistemas atípicos às suas monocórdias realidades, dando início a um novo ciclo de aprendizagem e conhecimento pleno do que venha a ser jogo coletivo e verdadeira e consistente leitura de jogo a qualquer momento de uma partida (ápice de um competente treinamento), dispensando o encordoamento manipulador que exercem de fora para dentro da quadra, em descerebrados marionetes fantasiados de jogadores…

Os artigos em questão – Dupla o que?

                                    – Fazendo pensar

Poderiam culminar com um artigo ( O desafio…artigo 1000) que muito explica e esclarece uma inglória luta aqui travada desde sempre, e que hoje responde em alto e bom som as dúvidas externadas pelo Anderson Varejão em sua entrevista, num repto por mim lançado e que pouquíssimas respostas foram elaboradas a respeito, fora e dentro das quadras, escancarando o verdadeiro absurdo do meu coercitivo afastamento do grande jogo, talvez o único profissional com coragem e independência para dar continuidade ao belo e exemplar trabalho iniciado no Saldanha da Gama no NBB2, e que após ser varrido para baixo do tapete da história, se vê canhestra, débil e sutilmente copiado sem o conhecimento, domínio e profundidade do original, que em caso contrário, teria desencadeado soluções teóricas e práticas que naturalmente  evoluiriam estrategicamente na direção do questionamento inquisidor do Anderson – (…) Ou será que o ideal seria fazer algo diferente pra machucar os caras? (…).

Que eu diria e afiançaria diferenciado, proprietário, exclusivo em termos nacionais, da base a elite, democrático, forte e consciente, independente, criativo e responsável, e acima de tudo, nosso…

Durante esta semana assisti de tudo, NCAA, NBB, Euroliga, e até um pouco de NBA, mas para dar um tempo nas mesmas críticas sobre erros e mais erros de fundamentos, cascatas de bolas de três, chiliques e poses ao lado das quadras, pranchetas vazias de idéias e conhecimento real do grande jogo, transmissões e comentários apocalípticos, jogadores americanos deitando regras e comandos nos jogos, ginásios e arenas semi desertos, peladas disfarçadas de clássicos, num NBB formatado e pasteurizado pela mediocridade fruto da teimosia corporativa de seus mentores, é que nada comentarei, no momento (quem sabe nos playoffs), sobre jogos que expõem a triste realidade técnico tática que tanto preocupa o Varejão, e não só ele, e sim a todos aqueles que amam de verdade o grande, grandíssimo jogo…

Amém.

Nota – Atentem nos excelentes comentários agregados aos artigos sugeridos.

Fotos – Reproduções da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

  

O CHIFRE ETERNO…

Bem pessoal, publiquei o artigo a seguir em 2011, se puderem e quiserem lê-lo, inclusive os esclarecedores comentários, o façam, para logo após responderem a uma pergunta que faço – De lá para cá, o que mudou técnica e taticamente no grande jogo tupiniquim, o que?

A ONIPRESENTE CHIFRE…

quinta-feira, 10 de novembro de 2011 por Paulo Murilo

É chifre para cima, chifre para baixo, para o lado, invertido, falso, forte, dissimulado, chifre para tudo e para toda situação de jogo. Sem dúvida o chifre está valorizado, e como.

Tempo pedido, discute-se, às vezes xinga-se, outras silenciam, mas ao final o lembrete: -“vamos de chifre, ah, pra baixo”…

E lá vão os jogadores chifrar o oponente, mas com uma importante ressalva, o fazem sem mudar, acrescentar absolutamente nada ao que vinham, vem e virão a fazer enquanto jogarem, pois simplesmente… chifram.

Observo atento, não, concentrado, concentradíssimo na jogada chifre em questão, e nada, absolutamente nada vejo de diferente, inovador, criador, ou mesmo contestador, nada.

-“Os caras não podem continuar a ganhar os rebotes no ataque, não podem arremessar livre de fora, bandeja então, nem pensar. Marquem forte, e usem a chifre (alto, baixo, pro lado, ora, o que importa desde que seja a chifre…)”.

Mas como todo jogador criativo, exemplo, o Shamell, atuando dentro de uma chifre genérica, sai de sua zona preferida para os chutes estratosféricos de três (às vezes depreendo ser essa a verdadeira função das chifres, colocar jogadores para arremessos de três, será?), e mata o jogo com seis pontos seguidos de DPJ, um deles acrescido de reversão, todos de dois pontos, próximos, seguros, eficientes, fechando a série para a sua equipe.

Do outro lado, uma equipe ensandecida nos arremessos de três e um furor de inócuos dribles por parte de armadores que simplesmente resolveram riscar o jogo interior de suas preferências, e claro, atuando numa chifre polivalente.

Nos três jogos finais as duas equipes finalistas do paulista, perpetraram um 58/145 nos arremessos de três, contra 111/205 de dois pontos, e cometeram juntas 78 erros em perdas de bola, e tudo sob a égide de jogadas nunca obedecidas e defesas permissivas, mas ambas, perfeitamente alinhadas pela mais emblemática das jogadas exigidas, quem sabe até um sistema, a onipresente chifre.

O que me preocupa de verdade, é que o argentino também tem uma queda por ela, o que justifica a sempre presente hemorragia dos três, que nos tem causado tantos contratempos.

E foi sob esse cenário que um talentoso Shamell resolveu e definiu um jogo de 2 em 2, simples e nada glamoroso, sem enterradas e tocos cinematográficos, apesar de ter levado um decisivo na terceira partida da série.

Mas com ou sem chifre, parabenizo a equipe do Pinheiros por sua conquista, e ao Shamell em particular, por sua inteligente opção.

Amém.

OBS-Antes que me questionem – DPJ- Drible, parada e jump, classica jogada dos que sabem jogar o grande jogo.

 

6 comentários

  • Henrique Lima11.11.2011·
  • Jogadas e mais jogadas.
  • Até quando os caras vão entender que o necessário é saber jogar basquetebol e não decorar um livro de coreografias ?
  • Triste de nós, Professor, que andamos numa estrada e com uma luta que parecem não ter fim.
  • Abraços
  • Basquete Brasil11.11.2011·
  • E ainda tem técnicos que vêm a publico afiançar que estão mais preparados para encarar o batente, como se a liga maior fosse algum Jardim da Infância. Mas como são produtos desvairados do conceito Q.I. de escolha, o que podemos esperar? Corporativismo é isso ai.
  • Um abraço Henrique, Paulo.
  • Henrique Lima12.11.2011·
  • Professor,o pior que não tende a acabar.
  • Eu imagino um Pinheiros jogando num sistema diferente, com os atletas sabendo movimentar fora da bola, utilizando os bons pivôs que tem, os excelentes infiltradores e chutadores. Enfim, um time com tanta qualidade e tanto potencial, fica preso à chifres e polegares. Aos individualismos que só dão certo num jogo de NBA e olhe lá … nem mais lá tem dado certo.
  • Agora, ao invés de chifres e polegares para baixo, para o alto, para o lado, se estes caras treinassem 50% do tempo que gastam decorando estas porcarias, em fundamentos, estaríamos em outro nível.
  • Não sei se o senhor notou, o Jack Martinez, pivô dominicano. O cara simplesmente domina todos os fundamentos. É um jogador de basquetebol. Sabe jogar basquete. Fez o que quis no Pré Olímpico, carregou nas costas o time por boa parte do jogo contra nossa seleção e no PAN deitou e rolou sobre o Murilo, que é um atleta competente no nosso nível interno, dos melhores pivôs que temos por aqui, se bobear o melhor do torneio nacional. A diferença na qualidade dos fundamentos dos dois, é monstruosa. É um pequeno exemplo, mas estamos falando de caras de elite né ? Deveriam ser mais parelhos.
  • Dá até pena do quanto este pessoal desperdiça de talento e tempo por aí.
  • Mas, a maioria parece acreditar que este é o caminho, os chifres, os polegares ou o fazem mesmo porque é mais simples para se manterem nos cargos. Aí, a minoria que pensa diferente é vista como louca … embora os resultados dos últimos não sei quantos anos falam por si …
  • Abração
  • PS: Professor, o senhor não teve nenhum convite para o NBB 4 não ?
  • A falta de visão dos dirigentes de basquetebol no país, é algo crítico.
  • É muita gente cega ….
  • Basquete Brasil12.11.2011·
  • Henrique, treinar fundamentos com jogadores de altas folhas salariais, se foram contratados exatamente pela pretensa proficiência nos mesmos? Perder tempo em corrigir adultos calejados naqueles detalhes de ação individual, quando, apesar das falhas, conseguem estar melhores dentro do padrão brasileiro? Nem pensar! Ainda mais quando perfeitamente familiarizados com o sistema único que praticam, independentemente da equipe onde estejam,o que os deixam ” treinados” a priori, sem cansativas inovações.Musculação, alongamentos, aeróbicos, arremessos de preparação, cinco para cada lado, bola ao alto, e vamos todos para os rachas de profunda preparação. Mais adiante, nada que uma bem azeitada prancheta não possa resolver, ou pelo menos, aparentar que resolve. Faz parte do roteiro, como toda e bem entendida coreografia.
  • O Jack Martinez realmente é um excelente jogador, e dono de uma técnica individual indiscutível. Pena que muito marrento e um tanto individualista. Bem orientado e cuidado faria enormes estragos em seus adversários. Realmente, o Murilo não foi páreo para ele, apesar de ser um jogador de boa qualidade, mas pouco exigido nos fundamentos do jogo.
  • Não podemos esquecer Henrique, que a manutenção de um sólido corporativismo é conseguido pela homogeneidade funcional de seus participantes, daí a adoção do sistema único e suas jogadas de passo marcado por todos os seus integrantes, onde algum insurgente tem de ser banido, ainda mais se não socio e participante do mesmo.
  • Se fui convidado? Sequer para o Sub 21,que vai se tornar o continuismo do que ai está implantado. Honestamente, não acredito que melhoraremos agindo dessa forma unilateral e sumamente covarde.
  • Um abraço, Paulo.
  • wilson16.11.2011·
  • o problema não é com a chifre e sim a maneira que se usa, pois ela nada mais é que o pick and roll, no qual é o sistemo que o mundo inteiro joga, o problema do brasil é a demasiada ânsia d pontuar, os arremessos de três, são com chifre, sem chifre, não importa aqui se joga com pressa e não com velocidade…culpar a chifre é culpar todo o sistema ofensivo q nada mais é q uma tentativa de facilitar a ação, portanto deixem a chifre, a punho ou qualquer outra movimentação ofensiva em paz…o erro está na formação oscariana que os técnicos da base enfiam na cabeça dos seus pupilos.
  • Basquete Brasil17.11.2011·
  • Exato prezado Wilson, chifre, punho, cabeça, etc, compõem o repertório do sistema único, que como você mesmo confirma é o “sistema que o mundo inteiro joga”, e que infeliz e convenientemente também é jogado por aqui, numa mesmice endêmica e consentida por todos aqueles que se negam a estudar e pesquisar outras formas de jogar o grande jogo. E exatamente por isso é que estamos na situação em que nos encontramos, de ineficiência técnico tática desde as divisões de base, o que é lamentável.
  • Desculpe, mas não deixei, deixo e jamais deixarei em paz tanta mediocridade e preguiça em buscar novos e ousados caminhos, porta de entrada da criatividade e desenvolvimento. Acredito firmemente que nossos jovens merecem algo de melhor, de instigante. Aliás, todos nos merecemos.
  • Um abraço, Paulo Murilo.

Deixe seu comentário

Logado como Basquete Brasil. Logout »

Comentário:

Assine o Feed

Receba por E-mail

AS TEMÍVEIS E ANUNCIADAS MINI HECATOMBES…

A mídia especializada tupiniquim estipulou que ajudaria no crescimento do grande jogo colocando-o num altar de excelência, onde tudo está em ordem técnica e tática (onde o reinado das pranchetas é absoluto), com arenas e ginásios bem frequentados (inclusive com torcida única presente no caso do RJ), espetáculos e shows atraentes, entrevistas formidáveis, bordões bradados aos gritos, divulgação sistemática de #tags e twitters a não mais poder, abraços enternecidos e beijos a granel para os fãs, enfim, todo uma encenação em parte copiada da grande matriz do norte, onde até a beijação caipira televisiva ameaça adentrar nossas semi desertas bancadas. Mas fazemos por merecer, pela terrível omissão que caracteriza a grande parte daqueles que dizem e apregoam amar o grande jogo, mas que o permitiram ter se tornado refém do granítico corporativismo que se apossou dele com passagem de ida, onde a vinda se torna cada vez mais improvável. Numa matéria de hoje no O Globo sobre nossas chances em Toquio, o basquetebol sequer é mencionado…

Esqueceram, porém, o fator mais importante, determinante para o ressurgimento do grande jogo, e como deveria ser aprendido, treinado, praticado e jogado entre nós, o domínio técnico de seus fundamentos desde a formação de base, ensinado e orientado por bem formados professores e técnicos, treinados e supervisionados por especialistas de verdade, num acompanhamento progressivo, avaliado e medido visando a excelência do ensino, e não os títulos conquistados à revelia do mesmo, beneficiando unilateralmente aqueles interessados em seus currículos profissionais. Carece a maioria da mídia de conhecimentos sobre o largo campo do ensino do grande jogo, suas exigências e implicações, principalmente quanto aos mais jovens, cumulando-os de falsas e perigosas expectativas, mais voltadas ao elitista caminho do sucesso sócio econômico (principalmente além fronteiras), do que uma sólida base em seu processo de crescimento educacional  e cultural…

Sem dúvida um cenário triste e constrangedor, mas, de repente, como um sopro de bem vinda novidade, se apresentou aos internautas da grande rede, uma experiência de transmissão totalmente comandada por mulheres, no jogo Botafogo x Brasília, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, no que se constituiu num bom e instigante trabalho jornalístico, ainda mais numa modalidade complexa e exigente para todos que a tentam transmitir e comentar. As jornalistas se saíram muito bem, inclusive a comentarista, mais comedida e objetiva em suas opiniões técnicas, não extrapolando seu ainda restrito conhecimento da modalidade, fazendo boa companhia a narradora, contida e simpática, assim como as duas repórteres de campo, formulando perguntas a serem livremente respondidas pelos jogadores e técnicos, e não concordes com suas opiniões pessoais. A transmissão foi, sem dúvida alguma muito superior ao que fazem seus colegas masculinos, sem a menor dúvida…

Voltando um pouco às análises acima, podemos afiançar com bastante certeza, serem a maioria das transmissões e comentários de jogos do NBB, responsáveis por uma falsa e manipulável realidade, tanto técnica, onde os erros cumulativos de fundamentos são minimizados e desculpáveis frente a defesas fortes (onde até faltas pessoais de retardo técnico são elogiadas), não tão fortes assim, pois se permitem ultrapassar com facilidade (crasso erro de fundamentos defensivos), assim como erros de manuseio de bola no drible, na finta, no passe  e no arremesso são relevados e sequer apontados, como taticamente, onde o sistema único de jogo jamais é detalhado, a não ser pelas jogadas chifre, punho, camisa, especiais que são mencionadas sem explicitar suas configurações e aplicabilidade dentro do sistema utilizado, exceto as enterradas monstros, tocos monumentais, e bolinhas mágicas de três, carros chefes de seus rompantes ufanistas e altamente influenciáveis junto aos jovens que se iniciam e as torcidas advindas do futebol, e claro agregando singularidades e personalismos a seus ululantes personagens…

Se outra fosse a realidade, em hipótese alguma poderia deixar de ser larga e profundamente comentada a hecatombe basquetebolista ( ao contrário, foi um jogo elogiadíssimo) que aconteceu ontem em Franca pela Liga das Americas, quando o Paulistano derrotou o dono da casa e da festa (?) por 87 x 82, deflagrando por mais uma vez o que vem sendo definido pelos corporativados estrategistas donos do basquetebol nacional, como o “basquete do futuro”, aquele que inventamos antes do Warriors da vez, (segundo o laureado Oscar), mas que como todo movimento modernoso e oportunista, já vem sofrendo perdas e derrotas lá mesmo, na matriz, onde a retomada defensiva se manifesta, como uma volta ao equilíbrio técnico tático que se reveza perenemente no âmago do grande jogo, desde sua invenção no século 19…

A hecatombe? Vejamos os números – Foram 34/59 de cestas de 2 pontos e 21/72 de 3 (16/26 de 2 para Franca e 18/33 para o Paulistano. assim como 10/33 de 2 e 11/39 respectivamente de 3 pontos), com 20/25 e 18/21 de lances livres para ambos, porém bem menos erros de fundamentos, 17 (9/8), numa prova cabal da inexistência defensiva propiciando a chutação desenfreada e insana nas tentativas de 3 pontos. Num jogo com diferença final de 5 pontos (número de erros de Franca nos lances livres), onde foram perpetradas 51 perdas nos 3 pontos e 25 nos 2, num inqualificável absurdo de equipes que se colocam como do mais alto nível em nosso indigitado e pretensioso basquetebol e seus estrategistas de prancheta, que precisam estudar muito e muito, se quiserem se ombrear com a turma lá de fora. Numa continha final, bastaria que uma das equipes investisse um pouco que fosse no jogo interno para vencer o jogo com folga, que não foi o que fizeram Franca e Paulistano, com este arriscando somente duas bolas a mais nos 2 pontos e uma a mais na roleta dos 3, vencendo um escatológico jogo, num triste prenúncio do que nos aguarda nos jogos internacionais do Mundial mais a frente, como o visto nessa Liga Américas, onde equipes já ensaiam defesas mais presentes fora do perímetro,  onde a equipe do Paulistano se viu forçada ao jogo interior para vencer seus três jogos, se classificando ao turno semifinal. Imaginem o que nos aguarda no Mundial da China, quando encontrarmos fortes e bem plantadas defesas dentro, e principalmente fora do perímetro, onde nos consideramos o warriors dos trópicos, inclusive os pivôs?…

Avaliem aqueles que realmente conhecem o grande jogo, o impacto junto aos jovens que se iniciam, testemunhar um jogo desse nível tão primário e absurdo, em equipes compostas dos nossos melhores prospectos, com altíssimos investimentos e patrocinadores, dirigidas pelos mais conceituados estrategistas, perante um “templo” lotado de torcedores, narrado e comentado pela mídia mais respeitada e incensada, para, numa análise bem simples e objetiva se preocupar com um Petrovic avesso a esse modelo tupiniquim de jogar, conforme já expôs em entrevistas largamente divulgadas, com a responsabilidade de liderar a seleção num campeonato de tal envergadura, sabendo de antemão o quanto lhe custará mudar algo, ou alguma coisa no modo de atuar dessa turma que se considera à frente de seu tempo. Conseguirá mudá-los, ou aderirá ao “chega e chuta”agora institucionalizado?…Honestamente, já estou preocupado desde já, prevendo outras mini hecatombes similares a Franca x Paulistano, com efeitos devastadores, a não ser que, bem, o futuro dirá…

Em tempo – Acabo de testemunhar mais uma mini – Flamengo derrota Bauru (80 x 72), onde ambas as equipes arremessaram 20/69 bolas de 3 e 30/54 de 2 (Flamengo 17/26 e 10/33 contra 13/28 e 10/36 do Bauru, cometendo as duas 35 (19/16) erros de fundamentos. Definitivamente entramos na era oficializada e padronizada da chutação de três, tornando as convergências no mote principal da nossa forma de sentir e jogar o que já foi um grande, grandíssimo jogo, cada vez menor para essa turma que nega os conceitos e sistemas defensivos básicos e necessarios para exequibilizá-lo. Palmas para os omissos e oportunistas estrategistas disfarçados em técnicos de basquetebol. Vamos ver suas falseadas convicções postas a prova quando enfrentarem adversários de verdade, que jamais respeitarão equipes com mais de 20 erros de fundamentos por partida, e que arremessam mais de 3 do que 2, anulando toda e qualquer possibilidade de soerguimento deste massacrado e arruinado basquetebol brasileiro ao espelhar seus péssimos exemplos para os mais jovens. Lamentável…

Amém.

Fotos – Reproduções do O Globo, TV e divulgação da Fiba Americas. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

 

SEGUINDO EM FRENTE…

Paulo, com tantos jogos emocionantes no NBB, finais de tirar o fôlego, cestas decisivas de três, enterradas animais, duplos duplos em profusão, jogadas mirabolantes, narradores empolgados e criativos, comentaristas caudais e prolixos, onde conhecer o jogo não é tão importante quanto as postagens no twitter dos telespectadores, os infindáveis abraços e beijos retribuídos dos mesmos, além é claro, das piadas de péssimo gosto destiladas a granel pelos microfones, tudo isso em stereo e a cores, pergunto, como você se ausenta deste magnífico proscênio do mais alto nível desportivo, como, e porque?…

Primeiro, porque amo o grande jogo, dediquei muitos anos de minha vida a ele, e por conseguinte, lastimo e odeio vê-lo tão achincalhado, travestido de “produto de primeira linha”, com “peças” do mais alto nível (?) desfilando um jogo medíocre e primário, no caso da esmagadora maioria dos nacionais, além da enganação e empáfia da maioria dos estrangeiros que só tem um ponto a ser valorizado, o de mandar às favas todas as incursões de seus estrategistas na formulação enganosa de jogadas “exaustivamente treinadas” em suas “pranchetas de ofício”, liberando-os para fazer e jogar como bem entenderem, na contramão dos nacionais, cúmplices e coniventes com a mesmice endêmica em que se encontram ad eternum, com raríssimas exceções…

Segundo, porque ainda não perdi de vez a esperança de vê-lo se soerguer da mixórdia em que se encontra, dosando ao máximo pareceres a respeito como professor e técnico que sou, e não um neófito torcedor vítima de tanta empulhação técnico tática, canhestramente mal copiada da matriz, sem ter 1/1000 avos do poder econômico, social e administrativo da mesma, mas que mesmo perante tanta discrepância, é vendido como algo especial por uma mídia mais deslumbrada pela NBA e sua luxuosa embalagem, sonhando um sonho impossível para a nossa dura realidade, do que expor com clareza e honestidade (às vezes, uns poucos, escorregam e mostram a realidade…) o que deveria ser dito e comentado para o bem do nosso combalido basquetebol, através o objetivo e embasado esclarecimento do que realmente ocorre nas quadras, dentro e fora; da formação de base a decantada elite, e não o dourando com apelos ufanistas, como o “esse é o NBB que vocês nunca viram”, sem especificar um mínimo de conhecimento do que realmente ocorre no campo de jogo, com média de 26,6 erros de fundamentos; de 40 a 50 erros nos lançamentos de três num “chega e chuta” descomunal; troca do real sentido defensivo por “faltas técnicas inteligentes” (aquelas cometidas para travar os contra ataques do adversário); ataque “aberto” com a única finalidade dos arremessos de três, ou uma esporádica penetração em velocidade, que é um recurso muito utilizado por jogadores com pouco domínio ambidestro no drible e na troca de mãos; a quase absoluta ausência de contestação defensiva aos longos arremessos fora do perímetro (fator primordial na disseminação da chutação de três), assim como o pleno desconhecimento do que seja defender no 1 x 1 dentro do mesmo; o primarismo tanto ofensivo, como defensivo nos bloqueios, corta luzes e cruzamentos, fundamentos coletivos que são; a cansativa e inócua coreografia dos estrategistas ao lado das quadras, acompanhada pela explícita coerção sobre as arbitragens, que de forma alguma fazem parte do trabalho “natural” daqueles profissionais, num corolário do que não se deve fazer no âmbito do grande jogo, cuja grandeza é minimizada in extremis perante tanta ignorância e absoluta falta de bom senso, porém pródiga em exposição marqueteira e autopromoção, ao pleno gosto e aprovação da mídia especializada e da direção administrativa das franquias…

Por todo este cenário, fica bem clara a influência negativa sobre os jovens que se iniciam no grande jogo, num espelhamento completamente equivocado para seu desenvolvimento técnico, físico e psicológico, ao emular os péssimos exemplos que lhes são apresentados na teoria e na prática, e o pior, com a aprovação e incentivo de técnicos despreparados e coniventes com as “filosofias” emanadas da elite…

Vários ciclos olímpicos já foram perdidos, inclusive aquele jogado aqui em 2016, todos fartamente alertados por aqueles que realmente conhecem basquetebol, o desporto em seu todo, resultante da mais completa ausência de uma política nacional voltada à educação formal, artística, desportiva e cultural neste imenso, desigual e injusto país, oportunizando desvios monumentais de verbas, ainda não investigadas a fundo, como deveria sê-lo, por aventureiros desonestos travestidos de cultores de um progresso, que só a eles beneficiou com fortunas colossais, deixando para trás a imensidão de elefantes brancos inoperáveis e terrivelmente vazios, numa tétrica repetição que parece não ter fim…

Agora mesmo discute-se na mídia as mais avançadas técnicas de ensino, formuladas através processos cibernéticos, computacionais e até robóticos, claro, tendo como fundo balizador o interesse das indústrias globalizadas que as patrocinam, num país que sequer promove, auxilia e remunera decentemente seus professores, que tentam trabalhar em escolas decadentes e destruídas, sem um mínimo de segurança estrutural, física e econômica, onde em 80% delas inexistem quadras esportivas, piscinas e espaços artísticos, culturais, e pasmem, bibliotecas! Recentemente quis doar uma bem formada biblioteca que serviu de base para meus filhos para uma escola primária perto daqui de casa, que não a aceitou por não possuir espaço para alojá-la, assim como numa recente ida a EEFD/UFRJ, perguntei onde era a biblioteca, sendo informado que não existia, mas que livros do assunto poderiam ser encontrados na biblioteca do CCS a um quilômetro dali! Simplesmente não acreditei, mas sobrava espaço no ginásio de desportos coletivos para armar barracas de campismo para um evento de estudantes, aniquilando o piso especial daquele recinto desportivo…

Enquanto isso, o NBB11 vai de vento em popa com seus emocionantes jogos, que servirão de base para as convocações do Petrovic para o Mundial da China em outubro, mas sem antes fazer uma visita protocolar aos Estados Unidos para conversar com o Felício do Bulls, o Raul do Jazz e o Caboclo do Toronto, perá lá, o Caboclo que recentemente se negou a entrar em quadra num jogo de seleção brasileira, um jogador de NBA, adulto, vacinado e que vota, numa negativa em que se tratando de uma seleção nacional não tem volta? Conversar o que? Quanto aos outros dois, que sequer jogam mais do que 5 min, quando jogam, por suas equipes, transacionar o que? Façam chegar a eles a convocação (a internet hoje é de ação imediata) e o resto é com eles, ou não?…

Por fim, fico imaginando como ser ainda possível que uma equipe perca para uma outra arremessando 20/42 de 2 pontos e 7/18 de 3, com o adversário lançando 22/30 e 11/28 respectivamente, com ambas perdendo 4 lances livres cada, e cometendo 17/14 erros de fundamentos, ou seja, a equipe perdedora arremessou 12 bolas a mais dentro do perímetro, e permitiu que a vencedora arremessasse 10 a mais de fora sem as fundamentais contestações? Ainda se “paga para ver” na nossa “elite”. O jogo? Franca 93 x 78 Pinheiros…

O mesmo poderíamos dizer do jogo Botafogo 67 x 73 Flamengo, quando os botafoguenses arremessaram 19/40 de 2 pontos e 7/29 de 3, enquanto os rubro negros lançaram 13/25 e 10/28 respectivamente, com ambos perdendo 3 e 4 lances livres, e com 5/21 erros de fundamentos, ou seja, o Flamengo errou muitos mais fundamentos, convergiu nos arremessos, chutando mais de 3 do que 2 pontos, e mesmo assim venceu o jogo por 6 pontos. Com uma continha básica, primária mesmo, bastaria os jogadores do Botafogo serem instruídos a substituir 3 ou 4 tentativas das 22 de 3 perdidas por arremessos de 2 e possíveis lances livres, para vencer o jogo, ficando faltando somente, o que? Creio que a resposta é mais do que óbvia, ou não?

Sigo trabalhando meu livro (será que sai até novembro, nos meus 80 anos?), e se paciência tiver (minha ranzinzice a tenho desde muito jovem…) ligarei a TV para a dolorosa penitência de assistir jogos mal jogados tecnicamente (todas as equipes ainda não sabem como atacar uma defesa zonal, o que é lamentável e constrangedor), terrivelmente transmitidos, onde até moçoilas destilam inescrutáveis conhecimentos técnicos sobre algo que nem sabem em que se baseiam (porém simpáticas e falantes, o que “valoriza” as transmissões). Pobre grande jogo tupiniquim, com narradores que teimam e lutam para trazer para as quadras o ambiente futebolístico com seus urros ufanistas, ecoando ginásios afora pela ausência de público, comentaristas em sua maioria mais preocupados com gossips do que um mínimo de técnica e tática de jogo, tornando ínfima a participação daqueles poucos que realmente o entendem, sem o caudal e a prolixidade característica de muitos outros, toda uma realidade que em nada auxilia os esforços, que acredito existentes, de um estrangeiro que tenta incutir mais seriedade a uma seleção, cujos jogadores refletem com precisão todo esse processo descrito, e que não será nada fácil mudar suas concepções de jogo, formatado e padronizado por anos e anos de estrada, desde suas formações numa base profundamente equivocada…

Mesmo assim, torço para que ele acerte e consiga razoavelmente mudá-los, sem concessões, a começar pelo respeito a tradição, a camisa nacional, prêmio maior e objetivo sonhado por todo jovem iniciante no desporto, que em hipótese alguma pode ser maculada, negada e esquecida, no que deveria, obrigatoriamente, ser um caminho sem volta, para todos aqueles que esquecerem e negarem seu indelével primado…

Amém.

Fotos – Reprodução da TV, arquivo pessoal, e divulgação CBB. Clique nas mesmas duplamente para ampliá-las.

O PACTO DA MEDIOCRIDADE…

Caminho com meu filho André da estação Rio 2 até a distante entrada do Centro Olímpico, recordando as inúmeras caminhadas durante as olimpíadas, roteiro agora praticamente deserto, imenso, inóspito. Transpomos o portão com dois funcionários, e nos deparamos com aquele infindável deserto rodeado pelas imensas construções desportivas, como que adormecidas, estéreis, megalonômas, inabitadas, abandonadas. Peço ao André que faça uma foto, essa aí acima, onde aquele pontinho distante, sou eu. Chegamos ao portal da Arena 1, e oito funcionários nos esperavam para, pasmem, nos revistar, e perguntar se a câmera que trazia era profissional, brincadeira…

Entramos na arena reduzida pela metade (as arquibancadas do meio  para cima foram retiradas), procuramos a entrada da arquibancada superior (assim definida no ingresso comprado pela internet), mas fomos direcionados para a inferior, motivados pela ausência de público que a preenchesse, ou seja, o público presente lotaria o ginásio do Tijuca, sem a necessidade de uma longa viagem a Barra da Tijuca, que castigou a todos na saída com uma chuva torrencial, a ser enfrentada na longa caminhada de volta até os transportes, ou seja, aventura digna de uma final de Mundial (?), com a presença fajuta de um bando americano que perdeu o primeiro jogo por mais de 30 pontos de diferença para o Flamengo…

Chegamos a tempo de assistir o quarto final da turma da matriz contra os argentinos, quando também perderam, de bem menos que na estréia, em sua vexaminosa participação, mas era a NBA, logo…

Uma hora e meia de intervalo (ainda bem que levei um jornal), quando começou o espetáculo NBA/FIBA da ocasião, com trôpegas e descoordenadas dançarinas funqueiras, canhões lançadores de camisas, mais funk e batidão em inglês nos níveis sonoros mais altos e agressivos, feéricas luzes, histérico apresentador bilíngue, para enfim, o jogo, com as comissões técnicas das equipes ridiculamente engravatadas para um evento desportivo, onde os trajes arejados e confortáveis se fazem necessário aqui nos trópicos, dentro e fora da quadra, num espetáculo caipira de “liturgia do cargo”…

E veio o jogo decisivo, entre o grego AEK e o Flamengo, equipe planejada e montada para conquistar todos os títulos disputados, num dos dois maiores investimentos da Liga, o outro é o de Franca. A liga sul americana já tinha ido para o espaço, jogada em casa, e agora a vez do Intercontinental secundário, dourado de mundial, que também sucumbiu. Não sou torcedor, nem tiéte de ocasião, e sim professor, técnico de basquetebol, e jornalista editor deste humilde blog, logo analiso técnica, preparo de equipes, táticas e estratégias voltadas ao grande jogo, sem enfeites e penduricalhos disfarçando “incentivo e apoio” a modalidade, cada vez mais frágil exatamente pela falta de análises objetivas, diretas e apolíticas, no momento difícil em que ela se encontra perante os cenários intra e extramuros em que atua…

Conceituou-se de uns tempos para cá, que nosso futuro basquetebolístico se basearia no jogo de transição e nas bolinhas de três, onde a extrema velocidade, a força física nos rebotes e nos embates corpo a corpo teriam de ser levados aos extremos em sua preparação, mote principal e absoluto no protagonismo das ações que propicia a aquisição de tais valores na consecução do conceito proposto, secundarizando o preparo técnico individual, os fundamentos básicos do jogo, se é que o treinavam, sequer o ensinavam, dando início as vastíssimas comissões técnicas, nas quais o técnico principal cede “democraticamente” seu comando master em prol do tal conceito, equivocado, inócuo, e acima de tudo pouco ou nada inteligente, porém importantíssimo para agentes, empresários e dirigentes na formação e formulação de equipes, nas quais até um processo de “minutagem” das “peças” (alcunha modernosa dos jogadores) foi estabelecida, complicando em muito a produtividade real e autêntica das equipes no campo de jogo…

Com essa concepção padronizada e formatada, implantou-se a mesmice endêmica que, adotada por todas as franquias, desfila impávida a pactuada mediocridade que aí está, tendo como prêmios maiores jogos “equilibrados e emocionantes”, onde até os histéricos narradores clamam por prorrogações, a fim de que o prana seja alcançado infinitamente, e onde os tocos, as enterradas majestosas, e claro, as fantásticas e fabulosas bolas de três ascende ao olimpo tupiniquim, pois ao olimpo grego, ascendeu o AEK, com seu “ultrapassado” jogo cadenciado, forte defesa lateralizada e antecipativa, inclusive e basicamente sobre os pivôs, sua anteposição sempre presente às saídas de contra ataque rubro negras, seu paciente e programado até a finitude, de cada 24 segundos a que tinha direito em seus ataques, do jogo de passes curtos e precisos dentro do perímetro interno, na cozinha adversária, dobrando-o mais com finalizações de  2 pontos do que de 3 (20/35 e 10/24, contra 18/30 e 10/32 do Flamengo), forçando o jogo interno que a fez cobrar 16/18 lances livres, contra 4/4 de um adversário que foi incapaz, mesmo dominando os rebotes (foram 39 contra 24 dos gregos) de atuar no ataque interno, onde os marcadores do Marcos, claramente abriam o caminho de suas penetrações pela esquerda, sabendo da extrema deficiência do mesmo no controle e projeção da bola com a mão daquele lado, principalmente na finta, perdendo-a três vezes seguidas, a ponto de no restante da partida, ao iniciar o drible pela esquerda, rapidamente trocava de mão, facilitando demais sua marcação pela previsibilidade gestual. Some-se a essas evidências, a brutal diferença no domínio dos fundamentos por parte de uma equipe européia (tiveram 6 erros contra 20 do Flamengo), mesclada de americanos de terceira opção técnica e contratual( e não de décima quinta em diante como os que para aqui convergem) e são sofregamente disputados por estrategistas pretensamente bilíngues (?), sabedores e cúmplices omissos que são para que os mesmos joguem seu jogo particular, e até coletivo, se dois ou três deles estiverem em quadra, tornando os nacionais em apanhadores complementares de sobras, sob sua torcida incontida por bolas e bolinhas salvadoras de jogos, e de seus empregos…

Porém algo de muito mais sério tem de ser enfocado, discutido, às claras, olho no olho, o enorme desperdício que vem se acumulando nas duas ou mais décadas no preparo de nossos jovens, incentivados e orientados ao “chega e chuta” agora institucionalizado (a equipe grega não arriscou nenhum arremesso dessa forma, nenhum…), as enterradas mirabolantes ( se não me engano foi somente uma dos nossos e duas deles…), ao descaso defensivo, dentro e fora do perímetro, em flagrante contraste com a turma grega que fechou, blindou seu garrafão, onde somente o Varejão com sua grande experiência se sobressaiu, nunca tendo o apoio do Olivinha, do Mineiro, do Marcos e do Nesbitt, todos  atuando fora do perímetro e sendo contestados em suas bolinhas, pois driblar para dentro, nem pensar.  Aliás, contestados foram a maioria dos arremessos longos dos rubros negros, tendo alteradas suas trajetórias e direcionamentos pelas contestações sempre presentes (que é o correto, e não tentar o bloqueio dos mesmos), atitude inversa pela ausência defensiva, quanto aos arremessos gregos, erráticos, mesmo livres, nos dois primeiros quartos, certeiros a partir do terceiro, como que adaptados aos espaços e referências da enorme arena a que não estavam habituados, mas compensados por sua postura superior defensiva, domínio irrepreensível dos dribles, das fintas e dos passes, do bloqueio intencional e programado sobre o passe inicial dos contra ataques brasileiros (sistema de jogar aqui tido como ultrapassado e antiquado pelos estrategistas e mídia “altamente especializada”…), anulando sua maior arma, o chega e chuta mais intencional ainda, liderados por uma dupla armação que jamais funcionaria da forma fragmentada como atuou (ela precisa ser una, participativa e solidária), onde o senso coletivista do excelente Balbi, não encontrou apoio dos outros três armadores, todos compromissados com as finalizações, ante a impossibilidade do jogo interior, mais pela inexistência de um sistema de jogo que o privilegiasse competentemente, do que a efetiva presença blocante grega, ao defender flutuando lateralmente, todos, em bloco, forçando passes em elipse ou retroativos, e não longitudinalmente como os estrategistas estão acostumados, afinal por aqui, na grande Liga, todos atacam igualmente, exatamente por defenderem (?), ou não, igualmente também, selando com sobras e galhardia o pacto da mediocridade em que lançaram o grande jogo, e desnudando uma triste realidade, não sabem e sequer desconfiam como preparar, treinar, ou mesmo ensinar uma equipe para o jogo interior, porque simplesmente não sabem fazê-lo…

Fosse qual fosse o adversário brasileiro do AEK nessa final, venceriam, por um simples e singelo princípio (conceito?…) – Seja qual for o  sistema, princípio ou estratégia de jogo, entre equipes tidas de alto nível, sempre terá como vencedora aquela que ostentar o maior domínio e conhecimento dos fundamentos básicos, instrumental decisivo na consecução de seu sistema, por mais simples que for, ou mesmo inexistente…

Quanto ao fato do “desrespeito” do técnico italiano do AEK ao pedir um tempo a 4seg do final, e convidar o diretor de sua agremiação para ir até o banco vencedor, trata-se de um direito dele, falar com sua equipe ou um diretor, não é da conta de seu adversário, parecendo muito mais uma “revolta oportuna” ante uma derrota inesperada e maiúscula (86 x 70), esquecendo o engravatado estrategista que no recente jogo das estrelas pediu um tempo a 14 seg do final da partida estando vencendo por mais de 30 pontos, para elaborar uma jogada em sua prancheta, fora as inúmeras expulsões de quadra nos NBB’s, campeonatos regionais que tem participado, palavreado indevido e agressivo nos tempos pedidos (felizmente agora vetadas as transmissões pela Liga), num autêntico e lamentável desrespeito ao público, adversários e sua própria equipe. Apelações e comportamentos indevidos não são boas políticas para um aspirante a líder e mestre desportivo…

Ainda temos um longo caminho a percorrer.

Amém.

Fotos – Arquivo pessoal e reprodução da divulgação CBB. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

UMA PEQUENA RESENHA…

Eis-me de volta, depois de algum tempo envolto na construção de minha mini quadra de basquete (de utilidade básica para as futuras Oficinas Técnicas aqui em casa), do enfrentamento de um vendaval que quase afundou de vez essa bela e abandonada cidade, deixando-me sem energia elétrica, internet, tv, por quase uma semana. Com a volta da normalidade, pinçei na mídia algumas notícias e relatos, que farão parte da pequena resenha a seguir:

– Lá fui eu publicar o artigo “O negócio é puxar ferro“, e rapidinho a turma fisioterapeuta da CBB organiza o evento “Performance e prevenção no basquete”, onde o pessoal antenado com a mesmice endêmica incrustada no grande jogo, aprenderá como criar maiores e melhores atletas para a prática do basquete, noves fora, é claro, a bola e suas dispensáveis e ocultadas técnicas de manuseio, frente ao atleticismo performático imposto coercitivamente aos nossos incautos jogadores, a partir da formação de base, induzidos a correrem mais velozmente, saltar na estratosfera, e trombar com potência e energia, enrijecendo a musculatura, sobrecarregando as articulações, prontidão para maratonas, deixando em segundo ou terceiro planos os fundamentos básicos do jogo, a evolução natural física, mental e psicológica de todo jovem, fatores de prioridade máxima na aprendizagem desportiva, anos luz à frente de precoces e discutíveis cientificismos que não nos tem levado a lugar algum, a não ser a geração enriquecedora de “papers” curriculares, deixando de lado aqueles mestres que realmente conhecem, ensinam e desenvolvem o grande jogo técnico e coletivista em nosso imenso, injusto e desigual país, onde uma ENTB se torna inexequível por conta de um corporativismo retrógrado e cúmplice do que aí está solidamente implantado…

– Do Jogo das Estrelas, vi um pouco do torneio das habilidades, onde pude constatar pela primeira vez desde sua implantação, um vencedor que soube driblar dentro das regras e normas oficiais, o Lucas Dias (seu oponente, o Yago carregou, ou conduziu a bola em todos os obstáculos transpostos) , ao contrário de todos os que o antecederam, vencendo irregularmente, conforme publiquei todos os anos. Quanto ao jogo principal, vencido pela turma brasileira por 144 x 92, apresentou os seguintes números (alguns poderão afirmar ter sido resultado da ïnformalidade”da festa…)-30/50 de 2 pontos, 26/49 de 3, e 6/11 nos LL para os brasileiros, contra 22/36, 13/53 e 9/13 respectivamente para os estrangeiros, para um absurdo total de 52/86 nos 2 pontos, 39/102 nos 3, e 15/24 nos LL, com 25(12/13) erros de fundamentos, ou seja, quem inadvertidamente compareceu ao Pedrocão, assistiu 63 arremessos perdidos nas bolinhas, aspecto que conota muito bem a qualidade da festança. Aliás, cabe aqui uma hilariante referência ao  comentarista da ESPN, quando aos 12 seg do final da partida, mencionou o fato do técnico da equipe brasileira pedir um tempo e desenhar uma jogada na prancheta, assim como o técnico adversário, também usá-la estando 52 pontos atrás no placar. Realmente hilariante e constrangedor…

– E por conta da festança, me vem a recordação de nove anos atrás, quando assumi o Saldanha no NBB2, exatamente nessa fase da competição, dando a mim 10 dias para treinar a equipe, ou 18 bons e puxados treinos, basicamente de fundamentos e introdução ao sistema de 2 armadores e 3 alas pivôs, que se revelou excelente nos resultados finais (hoje mal e equivocadamente copiado por todas as franquias da Liga), apesar das perdas de jogadores importantes afastados administrativamente. Me neguei a comparecer em Uberlândia para a festança, mas não pude evitar que três dos jogadores lá estivessem para cumprir a determinação da Liga. Desde então defendo a tese de que um jogo de estrelas devesse ocorrer ao final da competição, reservando as datas das festas de fim de ano para o ajuste das equipes mal colocadas na tabela classificatória. Porém, duvido que as mesmas mudassem algo, a não ser reforçar as jogadas constantes do sistema padronizado e formatado, únicas do conhecimento de técnicos e jogadores, como até os dias de hoje acontece, dando a mim a plena certeza de que o grande problema do nosso basquetebol foi, é, e será por um longo tempo a parte técnica e tática, inclusive na estratégica formação de base, fatores estes que festanças, publicidade, marketing e torneios chinfrins jamais substituirão tais e fundamentais necessidades, encobertas pelo nefando biombo que as separam da dura realidade, onde a mesmice endêmica impera absoluta…

– Finalmente, proponho uma reflexão – Sabemos todos nós que nos Estados Unidos e em grande parte dos países europeus, divisões de base competem somente em seus bairros (8 aos 10 anos), suas cidades (10 aos 12 anos), estados ( 13 aos 16 anos), para daí em diante competir internacionalmente, mantendo os jovens incluídos ou bem próximos de suas famílias, dando prioridade aos seus estudos básicos, complementados pela atividade desportiva, e afastados ao máximo nas etapas pré e pós adolescência de influências fora de seu círculo familiar, por mais limitado economicamente que seja, propiciando auxílios pontuais que não os afastem de casa, onde o fator educação tem importância maior e vital, reservando a escola e o preparo desportivo o fator instrutivo, e o suplemento educacional. Sempre fui contra a retirada de jovens talentos do seu círculo familiar, sempre, vendo com olhar extremamente crítico as cada vez maiores quantidades de jovens afastados de seu lar e entregues a organizações e agentes particulares, clubes, empresários nacionais e até internacionais, para orientá-los ao desporto, nem sempre amparados por pessoal realmente qualificado e responsável para fazê-lo, originando, muitas vezes, em graves desvios sociais e comportamentais, com lamentáveis desfechos. Acredito, honestamente, que se tivéssemos uma verdadeira e autêntica política nacional voltada à educação (fator estratégico de uma nação), aos desportos e as artes, não estaríamos hoje lamentando e chorando a trágica perda de dez jovens num incêndio que jamais deveria ter acontecido, pois lá não estariam por conta de seu precoce valor no mercado do esporte profissional, antecipado em uma década de suas valiosas, jovens e ceifadas vidas…

Amém.

Fotos – Reprodução da TV e arquivo pessoal. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

“O NBB QUE VOCÊ NUNCA VIU”…

Andei analisando e revendo muitos vídeos e fotos sobre os últimos NBB´s, tendo sido alguns daqueles registros parte de muitos artigos aqui publicados, todos fazendo parte de uma rotina imutável, como se houvesse sido baixada uma lei central de que somente um sistema de jogo pudesse ser executado, ano após ano, e já lá se vão dez, de uma mesmice endêmica, onde jogadores, técnicos, dirigentes, analistas , empresários e agentes gravitam em torno do mesmo, num tétrico carrossel em sua monocórdia trajetória, sem princípio, e muito menos fim…

Repetir, insistir, repetir, tornar a insistir, metódica e servilmente, agregando uma novidade/cópia aqui, mais uma imitação alí, uma canhestra apropriação tática acolá, num somatório previsível e na maioria das vezes infantilóide, típico de todos aqueles que se julgam conhecedores de tudo, e certamente de nada, nada mesmo, pois o tatibitati técnico tático faz as honras da mesa de um indigesto banquete, aquele que intoxica e muitas vezes mata…

“É outro o basquetebol agora jogado, e precisam se acostumar”, e tome “chega e chuta”, preparação fisioterápica arrasadora, quase que precisando de uma quadra de 50 metros e uma aro a 3,50m do solo, frente ao poderio atlético descomunal de jogadores que muito tarde descobrem a existência de uma bola no campo de jogo, e a obrigação técnica de controlá-la, dominá-la  direcioná-la com precisão, e não maltratá-la e percuti-la da forma mais primária e imprecisa, isso quando conseguem contatar alguma no meio de tanta insana correria…

Já se ouve comentaristas, uns raros que parecem entender um pouco melhor o grande jogo, dizerem que os jogos pecam demais na técnica, na tática, nos fundamentos, mas sobram em emoções, levando à histeria narradores ufanistas e boquirrotos, empolgando seu público mais para torcedores de futebol do que basquetebol, que raramente enchem os ginásios e arenas, aplaudindo ruindades dentro e fora das quadras, pencas de medíocres americanos para cá canalizados no projeto NBA/NBB, que agora mesmo patrocina escolinhas pagas em estados do país, porém, como num escorregão, prestigiando excelentes armadores argentinos que, honestamente, perdem muito de seu potencial ao se defrontar com um sistema formatado e padronizado, que anula muito de suas qualidades adquiridas no excelente processo de formação de base de seu país…

Mas para não afirmarmos que tudo está perdido, já jogamos, mesmo dentro do inefável SU, com dupla armação, alas pivôs mais atléticos e velozes, um pouco mais de jogo interior, sem, no entanto avançarmos na defesa exterior, e o principal, evoluirmos nos fundamentos básicos do jogo, trocando-os por um atleticismo desvairado, perigoso e descerebrado, principal e estrategicamente na formação de base, onde são poucos os professores e técnicos real e fortemente preparados para exercer tal prioridade para o futuro do grande jogo entre nós…

E como categórico exemplo do que tanto tenho alertado em função dos tortos caminhos em que nos enveredamos, ao término a poucas horas do jogo entre Paulistano e Pinheiros (91x 85 para o Pinheiros), ambas as equipes trucidaram o bom senso técnico tático com os seguintes números: 18/31 nos arremessos de 2 pontos para o Paulistano, contra 17/34 para o Pinheiros, 9/37 nos 3 pontos, contra 12/29 respectivamente, 22/25 nos lances livres, contra 11/32 também respectivamente, totalizando a convergência de 35/65 nos 2 pontos e 21/66 nos 3, numa absurda e perturbadora realidade do que estamos equivocadamente implantando no basquetebol tupiniquim, principalmente como modelo aos jovens iniciantes, ainda mais quando somamos a tal incúria 30 erros de fundamentos (15/15), fechando com chave de m…o que estamos presenciando e testemunhando do que pior possa existir como basquetebol elitizado (?)…

Em breve estaremos disputando as duas últimas partidas na classificatória ao Mundial, que deveremos ultrapassar, restando a incógnita questão do que ocorrerá no Mundial, onde um técnico croata se deparará com uma realidade antítese da sua, a começar com seus assistentes, em tudo e por tudo antagônicos técnica e taticamente a suas convicções e experiência técnica, até jogadores que se acreditam ungidos na seletiva especialidade nos longos arremessos, aí incluídos os pivôs, pouco ou quase nenhum comprometimento com a defesa exterior do perímetro, ausência atávica de movimentação sem a bola, sentido de cobertura longitudinal a linha da bola , e não lateralizada a mesma como deve ser, num caldo incolor, típico de uma elite produto de uma formação de base viciosa, falha e acima de tudo, descompromissada com o duro e permanente trabalho nos fundamentos, ferramenta básica de sua modalidade, sem a qual sistema nenhum de jogo se torna realidade, mesmo o SU a que se dedicam desde sempre, logo, o NBB que você nunca viu, é esse que você sempre viu, o que aí está, agregando a grande revolução da chutação de três. Se acostumar com isso é dose…

Mesmo assim torço para que o Petrovic consiga, de alguma forma mágica, contornar tantos obstáculos, solitário de preferência, pois se depender de sua assistência, certamente estará frito, patinando no escorregadio tapetebol* já estendido a sua frente…

Amém.

Foto – Reprodução da TV. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

 

*Tapetebol – A arte de se puxar o tapete dos pés de um adversário, ou pior, de um colega de profissão.

Mais sobre o tema Tapetebol

O PASSO ADIANTE…

2018 se foi, e como último suspiro um torneio premiando uma classificação para a Liga América, intitulado de Super 8, reunindo num mata mata os oito mais bem classificados ao final do turno inicial do NBB, feericamente anunciado, sendo transmitido ao vivo e a cabo, reunindo em suas transmissões praticamente a nata dos comentaristas e narradores do basquetebol nacional, sem contar os abalizados convidados, medalhados ou não, situados todos em torno da deificação do momento brilhante por que passamos (opinião de todos), auferindo as maiores esperanças de grandes vitórias nos torneios internacionais que se  avizinham, entre eles a classificatória ao Mundial do segundo semestre…

No entanto, em meio a tanto confete e serpentinas, algo sequer foi mencionado, muito menos analisado, os frios e determinantes números emergidos da competição, os mesmos que nos tem afligido e seriamente preocupado, pela dolorosa constatação de que a mesmice endêmica em que nos encontramos estratificados, se mantém incólume, intocada e triunfante, com os 254/482 (52,6%) arremessos de dois pontos, 124/381 (32,5%) nos de três pontos, 225/288 (78,1%) nos lances livres e uma média de 17,9 erros de fundamentos por jogo, quando o padrão aceitável para uma competição deste nível seria de 70% nos dois pontos, 60% nos três, 90% nos LL, e 10 erros por jogo, e um pouco mais em se tratando do repositório das  seleções nacionais…

Não entra nestas contas o sistema formatado e padronizado utilizado por todas as equipes, com seus previsíveis passes laterais, pivôs atuando fora do perímetro, ou solitários quando de posse da bola dentro do mesmo, jogadas totalmente empreendidas para o arremesso de três, desnudando a cumplicidade explícita entre jogadores e estrategistas, juntos neste atentado ao grande jogo, e plenamente cônscios de que o estão “revolucionando”, num erro estratégico e colossal, pela mais profunda ignorância do que venha a ser precisão técnico científica na direcionalidade dos longos arremessos com uma das mãos, contrapondo o alto aproveitamento estatístico dos médios e curtos arremessos, aqueles que realmente vencem jogos…

E como presente de ano novo, na retomada do NBB, Paulistano e Corinthians perpetraram um absurdo jogo, onde o campeão da temporada passada venceu por 82 x 78, arremessando 12/18 bolas de dois pontos e inacreditáveis 15/38 de três (seu adversário arremessou 12/32 de dois, e 12/29 de três), totalizando os dois bandos 24/50 de dois e 27/67 de três, ou seja, 40 ataques perdidos de três, num arrepiante desperdício de tempo e esforço físico, noves fora a ausência defensiva, que o estrategista do Paulistano tentou emular com sua caminhada de ida e volta pelos dez metros em frente ao seu banco, numa frequência aproximada de 5 passagens por minuto, ou  50 metros, que ao final de 40 minutos de jogo proporcionou uma boa metragem (calculem…), entremeadas pelas contumazes reclamações e pressões na arbitragem, e claro, pela torcida escancarada pelas bolinhas, assim como seu oponente do outro lado, e tudo isso emoldurando 33 erros de fundamentos (23/10), dando o direto recado de como será o basquetebol daqui para diante, sob os aplausos da mídia, e daqueles que odeiam o grande jogo, vide o solene vazio de público nas arenas tupiniquins, não adiantando de nada os comentários do técnico Petrovic sobre a farra dos três pontos, e tendo como assistentes diretos dois dos maiores adeptos e utentes das dita cujas em suas equipes no NBB, fato que por si só justificaria suas substituições na assistência do técnico nacional (atitude esta que ele mesmo deveria tomar, claro, se tivesse carta branca para tanto), que em hipótese alguma poderia privar de assistentes em flagrante contraponto com suas convicções técnico táticas, ainda mais numa seleção nacional…

Porém, algo maior preocupa muito mais, a cada vez maior incidência de cobertura jornalística (?) na grande rede sobre a NBA, com requintes técnicos, táticos, administrativos, econômicos, sociais, e até pessoais, sobre um universo que não nos diz respeito pela imensa distância de nossas realidades, mas que tenta influir e direcionar os anseios de nossos jovens, como o eden a ser alcançado, divulgando conceitos de vida opostos e equivocados, dentro da realidade que nos separam, inclusive emitindo opiniões técnicas, táticas, estratégicas, administrativas e comportamentais de técnicos profissionais de um outro país, em seu próprio campeonato, sem o mais ínfimo conhecimento local, pessoal, vivencial, no seu dia a dia laboral, extra e intramuros, soando falso, muito falso, palpiteiro, onde os achismos se fazem presentes, onde opiniões e pontos de vista caem num vazio prepotente e audacioso, que não resiste ao mais primário julgamento qualitativo, ante tanta pretensão de quem se acha conhecedor profundo do grande jogo, aqui, e muito mais, lá fora…

Proclamar aos ventos que o futuro do basquetebol, seu modernismo, sua pujança se reflete na capacidade pontuadora nos três pontos, na força física, na velocidade insana, é duvidar da capacidade centenária de se reinventar do grande, grandíssimo jogo, onde o poder do contraditório fez dele o master dos jogos coletivos, com sua rica bibliografia, filmografia, pródigas muito antes da era digital, da computação, sempre combatendo e defenestrando os bestialógicos postados na mídia através décadas de presença praticamente universal. É a modalidade desportiva onde a enganação não encontra subterfúgios, máscaras, personas, mas que propugna certezas, razões e vasto conhecimento àqueles que humildemente se dedicam honestamente a ela, por ela e para ela, para no final descobrir que muito pouco aprendeu do universo de conhecimentos que ainda tem de descobrir e estudar…

Agora mesmo, um diretor substituído por uma nova administração, revela que buscou o técnico campeão da temporada passada, por estar o mesmo “um passo à frente”, técnica e taticamente de seus colegas de profissão, dotando-o com uma estrutura altamente profissional e jogadores do mais alto nível, para, segundo o mesmo, vencer todas as competições possíveis, nacionais e internacionais, mas que fracassou na recente Liga Sul Americana jogando em casa, porém vencendo um morno Super 8 com vaga na Liga das Américas. Muito bem, pergunto em que passo à frente estava o referido técnico? O “chega e chuta” alucinado de seu sistema de jogo? A permanente dupla armação que integrou a equipe? Dupla armação essa sempre liderada por um armador argentino, cuja escola formativa é imensamente superior a nossa? Defesa maciça nos rebotes e no âmago do garrafão, propiciando os contra ataques? Bem, fora a epidemia da chutação de três, cuja desculpa maior é a da rápida elasticidade nos placares naqueles jogos mais difíceis (engraçado ser esta a desculpa de todas as equipes da liga…), os demais pontos foram pinçados de uma equipe humilde e vencedora de 11 anos atrás, no NBB2, que indo jogar contra a equipe da qual o grande técnico fazia parte, venceu o jogo, apanhando muito ante uma arbitragem “da casa”, fez 91 pontos de 2 em 2 e 1 em 1, com somente 9 tentativas de 3, convertendo 5, conquistando 20 rebotes a mais do que sua equipe (jogando em casa, diga-se), e contestando todos os arremessos longos, (que foram 33!!), e atuando com dois armadores de ofício e três alas pivôs ágeis, rápidos e atléticos, dando o verdadeiro passo adiante na mesmice endêmica existente, e que resiste até hoje, no NBB11. A grande “novidade e conquista” é a chutação insana, burra e irresponsável de três, cuja cobrança tem sido dolorosa nas grandes (as grandes mesmo…) competições internacionais, como os Mundiais e as Olimpíadas…

O primeiro, e até hoje grande passo para a evolução estratégica e tática do grande jogo entre nós foi varrida para baixo do tapete da história, onde até seu implementador foi defenestrado, e proibido de exercer sua profissão de técnico graduado, mantendo a de professor mais graduado e doutorado ainda em Ciências do Desporto, com tese em basquetebol, além de teimosamente manter esse humilde blog, trincheira maior contra a enganação institucionalizada nesse imenso, desigual e injusto país…

Que bom que algo tenha sido pinçado daquela magnífica equipe, pena que não tenham pinçado a totalidade do que ela representou e inovou, mas não os condeno, pois para tanto teriam de…Ora, quem se importa…

Como no exemplo acima, quando o Paulistano venceu fazendo 82 pontos, arremessando 18 bolas de 2 e 38 de 3, fica a lição maior da humilde equipe do NBB2 fazendo 91 pontos, arremessando somente 9 bolas de 3, duvidam? Clique AQUI. ( Outros jogos na seção Multimídia do Blog)

Amém.

Foto – A equipe que deu o primeiro passo, e que foi liquefeita por tanta ousadia, numa opção burra e equivocada, fruto do exacerbado corporativismo que esmaga e humilha o grande jogo no país.

Saldanha da Gama – NBB2.

 

ARTIGO 1500 – UM INACREDITÁVEL, PORÉM PREVISÍVEL 2018…

Há uma semana estou parado frente a tela branca do editor de texto, tentando escrever o artigo de número 1500, uma senhora conquista nestes 14 anos de Basquete Brasil, ininterruptos, pensados, repensados, honestos, técnicos, e acima de tudo éticos, mesmo sofrendo na pele o surdo combate travado contra sua importante destinação, a de colaborar com o soerguimento do grande jogo neste imenso, desigual e injusto país…

Este parágrafo inicial é produto de um imenso esforço que faço para dar seguimento a esse humilde blog, numa sacrificada continuidade no mais antigo blog do basquetebol nacional, escrito, administrado e editado por um professor e técnico, que tem sido mantido à margem das quadras desde o NBB2 em 2010, mas que jamais abandonou o barco, deixando à deriva todo um manancial de conhecimentos e vasta experiência aqui colocada, democraticamente colocada, visando os jovens técnicos e professores, os mais jovens ainda jogadores que iniciam suas caminhadas, e todos aqueles que realmente amam o grande jogo, e não os que o utilizam para inflar falsos egos de “pseudos conhecedores” de uma modalidade ímpar nos desportos coletivos, pela sua história, tradições e vastíssima bibliografia para lá de centenária, cuja imensa maioria dos que se apossaram política e coercitivamente do mesmo desconhecem, e não estão nem aí para conhecer, já que o tentam caracterizar a imagem e semelhança de suas canhestras e colonizadas concepções de um anti jogo inverossímil e na contramão de nossa realidade, inclusive praticado com outras regras, que não as internacionais… Leia mais »

ESQUECER? JAMAIS. ATÍPICO? DE JEITO NENHUM…

–  “É jogo para esquecer, o aproveitamento é de dia, acontece”

–  “Está claro que não o QUANTO se chuta, mas sim COMO e POR QUE se chuta”

–  “Foi um jogo atípico”

São comentários de fim de jogo, vindos da mídia especializada e do croata, contemporizando um pequeno desastre anunciado, aqui mesmo, quando afirmamos que bastaria uma defesa presente dentro e fora do perímetro, com coberturas competentes, e contestações permanentes, para conter uma seleção, cujos jogadores apostam todas as suas fichas na artilharia de fora, não alguns, mas todos, quebrando dessa forma toda e qualquer tentativa de seu técnico de promover o tão sonhado e apregoado coletivismo, cada vez mais distante, diante de uma realidade encanecida pelos longos anos de um sistema de jogo promotor da desgraceira em que chafurdamos, afundando cada vez mais num buraco infindo…

Defensivamente então, melhor sequer tentar analisar, pois trata-se de um assunto tabú, desconhecido por todos aqueles que propugnam pelo chavão de que “a melhor defesa é o ataque”, absolutamente cônscios de seu imbatível e imparável ataque, aquele lá de fora, na zona dos que temem se arriscar às penetrações, onde técnicas refinadas de drible, fintas e arremessos precisos e milimétricos exigem progressivo e incansável treinamento, ajustando e reajustando habilidades cada vez mais exigentes de esforço e entrega ao labor de aperfeiçoá-las, por todo o tempo em que se mantiverem a serviço do grande jogo, ou seja, os fundamentos, ferramenta de trabalho para praticá-lo, e sem os quais, pouco ou nada será conseguido em termos de sistemas de jogo fluido e colaborativo…

Logo, de forma alguma é um jogo para ser esquecido porque as bolinhas não caíram, “não era o dia, acontece”, quando o esquecimento está diretamente relacionado ao outro comentário – “Está claro que não o QUANTO se chuta, mas sim COMO e POR QUE se chuta” – argumento em defesa da chutação, correta ou incorreta, pois dependente do quanto, do como e do por que…

Do QUANTO, fator convergente entre os arremessos de 2 e 3 pontos, como se ambos tivessem a mesma precisão, a mesma técnica de execução, facultando a todo jogador o domínio dos longos, em quantidades progressivas, que é algo assustador pela ignorância mais simplória do que vem a ser o domínio pleno de uma esfera de 600/650 gramas e 75/78 cm de circunferência a ser lançada de uma distância aproximada de 6,75 m a um aro suspenso a 3,05 m do solo , com um diâmetro de 45 cm, girando inversamente em torno de um eixo diametral que deverá se situar o mais paralelo possível ao nível do aro e equidistante de seus bordos externos, a fim de reduzir ao máximo desvios de direção na ordem nunca superior de 1,5/2,0 cm no momento da soltura, utilizando pegas de várias formas, estudadas e pesquisadas cientificamente, adaptando-as às particularidades anatômicas das mãos de cada jogador, e não simplesmente, como em voga, jogá-la para o alto para ver no que dá…

Do COMO, se partindo do pressuposto de que as técnicas corretas estejam presentes, e que mesmo assim exigem estabilidade posicional, equilíbrio e firmeza, com tempo suficiente para que tais ajustes colimem numa razoável, boa ou excelente tentativa, sempre pertencente a uma movimentação técnico tática da equipe, e não, como de costume, forçando-a atabalhoada e muitas vezes irresponsavelmente, como vem acontecendo cumulativamente, até mesmo nas categorias da formação de base…

Do POR QUE? , Ora ora, é o que garante notoriedade midiática, poder decisório deificado, rotulando um poder maior diretamente proporcional ao maior ou menor número de “especialistas” que compõe uma equipe, tornando-a poderosa e imbatível aos olhos primários daqueles que realmente pensam conhecer algo do grande jogo, que esquecem sempre da existência de defensores do outro lado da quadra, aqueles que técnica e taticamente simplesmente defendem, defendem e defendem, despindo o santo de sua arrogância de luminares dos longos arremessos. Foi exatamente isso que tornou a acontecer no enfrentamento com os canadenses, desfalcados de seus ótimos jogadores que atuam na NBA, mas plenamente cônscios de suas habilidades nos fundamentos de defesa, e por que não, nos tiros longos também, ante a inexistência defensiva tupiniquim, entregue a seus devaneios de adoradores dos Currys da vida, cuja equipe já começou a descer a ladeira, como aliás, já era de se esperar, pois lá naquelas bandas do norte, defender é algo que aprendem desde muito cedo, quando por aqui… deixa pra lá, pois já já elas voltarão a cair…

Preocupa-me ver a seleção atuar como hoje, desconectada do que realmente seu técnico deseja para ela, arvorada, perdida e descerebrada, mas incensada em nome de um prestígio que teimam em apoiar e promover na forma absurda de jogar em função das bolinhas, previsível, insípida e com ausência de criatividade, buscando corner players para chutação, abdicando de um jogo interno que poderia, se bem treinado, coordenado e aceito por todos, ser de um poder imenso, se estruturada defensivamente, nos rebotes coletivos e excludentes, nas flutuações lateralizadas, possibilitando a marcação frontal dos pivôs, da presença permanente junto aos atacantes fora do perímetro, obrigando-os a penetrar em busca de 2 pontos, e não de três, nas leituras defensivas e ofensivas de jogo, tão ausentes entre nós, preocupados que estamos em imitar, e muito mal, um outro jogo, com regras diferentes, poder aquisitivo inimaginável, poder econômico avassalador, que nos veem como mercado, jamais concorrentes no jogo, onde até seus vizinhos mais acima aqui vem e nos ensinam um sutil lição, a de que jogadores equipados dos fundamentos básicos do jogo, sempre vencerão aqueles que, desde a base, são formatados e padronizados em sistemas e preparação física “científica”, onde aprendem a correr mais rápido, saltar mais alto e trombar com mais eficiência, muito antes de se dedicarem aos fundamentos, quando o fazem. Esse é o material humano que é posto a disposição de um técnico da escola europeia, que muito pouco poderá acrescentar taticamente quando tecnicamente deixam tanto a desejar, a não ser que os ensine, por pouco que seja, a se aprimorar nas técnicas fundamentais, inclusos os arremessos…

Ao término do jogo, me senti profundamente triste, por um único e instigante fato, o de em nenhum momento de minha vida como professor e técnico ter aceito a mesmice, a repetição o monocórdio, como estou testemunhando acontecer, e sim ter sempre me pautado pelo contraditório, pelo ousado, pelo instigante, pelo realmente novo, jamais a novidade, pela capacitação ao improviso consciente, pois só improvisa quem sabe, quem domina seu instrumento de trabalho e de estudo, ajudando efetivamente os jovens a se encontrarem em si mesmos, e por conseguinte, se situar em grupos, em família. O grande, grandíssimo jogo, precisa árdua e urgentemente de jovens assim formados, jamais formatados e padronizados em torno de uma deletéria e absurda prancheta, instrumento dos emperdenidos e teimosos estrategistas, permanentemente (até quando meus deuses) de plantão…

Amém.

Fotos – Reproduções da Tv. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

Segue uma breve resenha gráfica de um jogo nada atípico, e que nunca deverá ser esquecido:

A primeira manifestação ofensiva da seleção foi um chute de três, contestado…

A primeira bolinha do Canadá, desmarcada…

Leandro tenta penetrar, e como de outras vezes é barrado pelo forte esquema defensivo canadense…

A insistência brasileira nas “bolinhas de 10 pontos”…

Pivôs armando. armadores viram pivôs, numa inversão desesperada de valores…

Canadenses sempre livres nos arremessos…

Brasileiros sempre e severamente contestados, como deve ser…

Em síntese, de um lado uma equipe, que nem é a principal, bem treinada, com fundamentos sólidos e confiáveis, embasando um sistema fluido e competente de jogo, do outro, um retrato fiel de como se joga o grande jogo em nosso imenso, desigual e injusto país…

Fotos – Reproduções da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.