ENFIM, UM POUCO DE LUZ…

(…)Teremos quatro armadores, mas isso não é nenhum tipo de problema. De 15 a 20 minutos, vamos jogar com dois armadores ao mesmo tempo, pois temos armadores diferentes. Essa experiência pode ser muito boa. Além disso, está tudo ‘normal’. Lucas Mariano está muito bem no São Paulo e merece essa convocação. Os demais, já vêm participando de outras janelas. Estou feliz com esses atletas – citou Aleksandar Petrovic(…)

Somente uma declaração dessa do técnico da seleção brasileira ontem publicada, faria com que eu saísse do mutismo em que me encontro a uns bons dois meses, não pelo fato de estar confinado numa quarentena forçada por uma pandemia criminosamente omitida e minimizada por um governo espúrio, tendo como algum contato com o grande jogo um NBB insosso e desprovido do insumo básico para a sua aceitável prática, seus fundamentos básicos, aviltados numa escalada assustadora na maioria quase absoluta dos jogos até agora realizados nessa competição, que são números que não mentem, 969 erros de fundamentos básicos em 36 jogos, alcançando a média de 26,9 por jogo, com partidas como Corinthians x Franca, e Flamengo x Campo Mourão, onde 36 erros foram perpetrados, e um inacreditável Corinthians x Pinheiros, com 38, isso mesmo, 38 assassinatos dos fundamentos. Somente duas partidas, Flamengo x Pato, e Brasília x Corinthians ficaram abaixo dos 20 erros (19/18), números ainda bem acima de marcas aceitáveis para uma divisão de elite, como é considerado(?) o NBB, com o basquete “como você nunca viu”,como tronitroam narradores ensandecidos pelos espetáculos da mais “pura técnica técnico tática” que transmitem e comentam enlevados…

Mas como nada ainda pode ser considerado como perdido neste deserto de idéias e absoluta falta de criatividade, por mais simplória que seja (já teve estrategista rodando com somente um jogo engabelado), vemos com surpresa atenção a maturação da dupla armação pela maioria das equipes da liga, não como uma mudança sistêmica mais profunda, e sim como um artifício para melhorar a qualidade técnica de um sistema único corroído e arcaico, que teimam em perpetuar, por ser o único que conhecem, todos, de técnicos a comentaristas, e porque não, agentes e dirigentes, convencendo patrocinadores a apoiá-los, numa trilha que vem lançando o grande jogo ladeira abaixo, ano após ano, década após década, de encontro a um infindo fundo de poço colossal. e cada vez mais enriquecido com o idioma da matriz, agora mais do que nunca com a permissividade de quatro estrangeiros por equipe. E o artifício tem enganado muita gente, ao substituírem um ala (o 3 deles) por um outro armador, numa simulação de dupla armação, denominando-o como um 2 pontuador, ou seja, tudo como dantes, com um pouco mais de destreza individual…

No entanto, como toda burrice crônica e endêmica, um ou outro estrategista mais esclarecido e inteligente, foge da mesmice, e aos poucos vai descobrindo o real valor de uma dupla armação voltada ao todo da equipe, e não a estúpida setorização, que atinge sua magnitude na falácia dos “cinco abertos”, onde o 1 x 1 encontra seu nicho ideal, porém fracassando pela ausência e desconhecimento dos fundamentos, principalmente no drible e nas fintas com bola em movimento, onde a negaça e as trocas variáveis de direção exigem o mais completo domínio do corpo e da bola, instrumento esférico e altamente volúvel e de controle difícil e especializado, daí a busca frenética por armadores americanos e argentinos, infinitamente mais técnicos e preparados do que nossa escola tupiniquim, gerando por conseguinte o enorme engano de que por si só resolvem os embates 1 x 1, anseio maior dos estrategistas torcedores de beira de quadra, além, muito além, da artilharia de fora, embuste sufragado pela mais completa e ausência defensiva, como num trato de cavalheiros, onde “o faço que defendo e você chuta” persiste até a última bolinha, que convertida, ou não, define o vencedor, até o próximo encontro…de cavalheiros, onde todos fora dos perímetros, armadores, alas e pivôs brincam de basquetebol, sem as agruras estafantes de preparo nos fundamentos, onde todos, remam um barco na única direção que professam, um bem fornido e irrespirável fundo de poço…

Como afirmei antes, uns poucos, muito poucos entenderam a dupla armação com suas imensas possibilidades, mas ainda não entenderam o que venha a ser jogar dentro do perímetro com os três alas pivôs em mobilidade constante e errática, assíncrona, criativa e profundamente improvisada, pois “só improvisa quem sabe e conhece profundamente seu ofício, seu instrumental de trabalho, os fundamentos e o domínio de sua ferramenta, a imponderável e sutil bola”…

Quero e preciso acreditar que o inteligente croata esteja no limiar de conceber esses novos tempos, de descobertas e criação, comuns em seu velho continente e novo mundo americano, porém rarefeito por aqui, onde as raras exceções foram devidamente varridas para baixo do tapete, mesmo provando na teoria e na prática como ensinar, treinar e preparar equipes para atuar com dupla armação e três alas pivôs dentro de perímetro, assim como defesas na linha da bola lateralizada e prática constante e ininterrupta dos fundamentos básicos do grande, grandíssimo jogo…

Sugiro humildemente que se interessados forem sobre o que venha a ser dupla armação e como jogar dentro do perímetro com três alas pivôs, que vejam ou revejam dois jogos da extinta equipe do Saldanha da Gama no NBB2, dirigida por mim, para terem uma idéia de como foi jogada fora pela janela da história, uma sacrificada experiência, que se tivesse tido continuidade estaríamos em outro patamar técnico tático no confronto interno, e mesmo internacional, e não esse pastiche que praticamos referendados em 26,9 erros em média nas partidas do NBB, noves fora a hemorragia jamais estancada nas bolas de três, terrível hábito que se espraia nas divisões de base, fatores que não encontrarão na humilde, competente, bela e esquecida equipe de Vitória…

Amém

Saldanha x Brasília 

Saldanha x Joinville

Fotos – Divulgação CBB e arquivo pessoal.

TRÊS OBJETIVOS TÓPICOS…

Neuci, Didi, Angelina, Rosália, Luci, Marlene, Delcy, Marly, Zezé, Norminha, Átila, Regina

(…) Corria o distante ano de 1966, estava eu com 25 anos, jovem técnico das divisões de base do CR Vasco da Gama, quando fui convidado pela Federação do Rio para dirigir a Seleção Adulta Feminina no Campeonato Brasileiro daquele ano em Recife. Era uma época de grande prestígio no basquete feminino, cujas finais, sempre com São Paulo, arrastavam multidões e tinha ampla divulgação na mídia, inclusive no novíssimo meio televisivo. Numa equipe onde atuavam jogadoras do quilate de uma Norminha, Delci, Marlene, Neuci, Marli, Atila, Regina, Zezé, Rosália, Angelina, Didi, Luci, que enfrentariam em mais uma previsível final jogadoras inesquecíveis como Nilza, Odila, Ritinha, Nadir, Darci, Elzinha, Amelinha, Neusa, Marlene Righetto, Irene, todas elas formando a base da Seleção Brasileira.

Antes de um dos treinos que realizamos no ginásio da Policia do Exercito, conversávamos com a grande jogadora Marlene, que polida e educadamente ponderava que não se sentia segura e confiante com o sistema de jogo que eu desenvolvia nos treinamentos, que diferia bastante dos que ela se acostumara nas equipes de que participou. Fiz ver a ela que tivesse paciência e confiasse na proposta técnica que desenvolvia junto a equipe, e que em breve teria nela um dos suportes básicos para o sucesso da mesma. Tudo isso discutido em particular, e que somente hoje, 41 anos depois torno público. Nem o restante da equipe soube algo a respeito, e como garanti, foi a Marlene a grande estrela da final com São Paulo com seus maravilhosos 38 pontos, na única partida que disputou, pois havia se contundido seriamente ao final dos treinamentos no Rio.(…)

São dois parágrafos do artigo O peso do comando, publicado em 22/6/07 nesse humilde blog, reportando o comportamento ético e responsável da excelente jogadora que nos deixou na semana passada, originando um vácuo comportamental que encontra pouquíssimos exemplos similares no âmbito do basquetebol de nossos dias, repleto de estrelismos mercadológicos, em tudo e por tudo oposto ao comportamento daqueles que engrandeceram de verdade o grande jogo nesse imenso, desigual e injusto país. Marlene deixará imensas saudades em todos aqueles que a conheceram e a viram jogar magistralmente…

Um outro e chamativo tópico foi a convocação da seleção masculina para a America Cup, com 16 nomes da novíssima geração que vem se destacando no país, e com somente um atuante fora dele, na Argentina, o Caio, armador futuroso e experiente em quadras hermanas…

Tudo bem, ótima tentativa, corajosa até, mas que terá pela frente uma pedreira difícil (porém não impossível) de ser transposta pelo técnico croata, a mesmice técnico tática entranhada profundamente na forma de atuar dessa geração enclausurada no sistema único de jogo, padronizado e formatado desde sua formação de base, acrescentada pela atual e “revolucionária” filosofia de jogo sedimentada nos arremessos de três pontos, e o consequente desleixo nos fundamentos básicos de jogo, defensivos e ofensivos, dispensados que passaram a ser pela “matação orgiástica” bem para fora do perímetro, onde os mesmos perdem a razão de ser na distorcida ótica daqueles que vicejam no cerne do grande jogo, sem as mínimas qualificações e conhecimento para lá estarem, pseudos estrategistas e aspones que são em sua grande maioria, onde as exceções pouco contam…

Seleções de graduados e de novos e promissores valores comungam os mesmos princípios, a mesma formação, a mesma e profunda forma de atuar e pensar(?) o grande jogo, onde o lugar comum da intromissão e gerência absolutista de fora para dentro da quadra, os transformam em marionetes     encordoados a estrategistas convictos de que comandam e definem o jogo, através suas midiáticas e inúteis pranchetas, cada dia mais coloridas e vazias de idéias factíveis, na busca das jogadas mágicas e irrepetíveis, fatores aqui explicados…

Se coragem e discernimento tiver o bom croata, para atuar em dupla e permanente armação ( convocou quatro armadores dos bons), forçando o jogo para dentro do perímetro (alas e pivôs altos e atléticos convocados em profusão), para de 2 em 2, onde os arremessos são mais precisos e confiáveis, suplementares arremessos de três, lançados por quem realmente os dominam, nas condições ideais que exigem, e defesa pressionada por todo o tempo, principalmente nos armadores contrários, marcação frontal dos pivôs e de todos aqueles que adentrarem seu perímetro interno, todos exercendo a linha da bola lateralizada, jamais perpendicular a cesta, e tudo isso englobado num programa férreo e exigente nos fundamentos básicos (a forma mais eficiente de preparação física, onde a bola estará sempre presente), e onde a “puxação de ferro” tem de ser limitada a compensações pontuais de alguma deficiência com ordem médica, comporiam um verdadeiro programa de preparação para uma equipe jovem e promissora, estimulada a um sistema de jogo onde a criatividade e o improviso consciente, advindos de uma constante leitura de jogo, os tornassem proprietários de uma forma única de jogar, definitivamente dissociada de um sistema único castrador e hegemônico de uma geração de estrategistas que tanto mal nos impuseram de três décadas para cá…

Num terceiro tópico, um exemplo lapidar do que discutimos acima, a partida decisiva da Champions League, entre o Flamengo e o Quinsa da Argentina, vencida pelos hermanos por 92 x 86, e aqui contada em algumas imagens coletadas e comentadas:

Comecemos com a estatística final, onde os 13/32 (41%) nos 3 pontos do Flamengo (39), supera em muito os 8/23 (35%) do Quimsa (24), porém a supremacia dos argentinos nos 2 pontos, com 24/39 (62%), faturando 48 pontos contra os 34 do Flamengo, 17/38 (45%), onde os arremessos de curta e média distâncias confirmaram o conceito de precisão, claramente exposto quase ao final da partida nessa foto conclusiva de definições dentro do

garrafão, com 28 pontos dos hermanos e 12 dos brasileiros, uma evidência que prancheta nenhuma corrigiria, a não ser abrindo a porteira para a chutação de fora, o que ocorreu…

Aqui, la dentro…

A lúcida opção argentina de jogar preferencialmente dentro do perímetro, acrescentou uma outra e vantajosa alternativa, os 20/30 lances livres, contra os 13/19 dos rubro negros, e o mais instigante, o domínio dos rebotes com 47 (13/34) portenho, contra 33 (9/24) tupiniquim…

A cada temporada que passa, mais se solidifica o princípio da precisão real e decisiva dos arremessos de média e curta distâncias, sobre os mais imprecisos de longa distância, evidência lógica sob qualquer análise técnica, ou mesmo, no campo da física e da matemática. Outrossim, contratações estelares, por si só não garantem sucesso em competições, onde a primeiríssima equação a ser considerada, estudada, pesquisada, ensinada e treinada, não for estabelecida definitiva e estrategicamente aplicada ao cotidiano do grande jogo, da base a elite, como a norma basilar para o efetivo soerguimento do nosso sofrido e maltratado basquetebol, absolutamente nada alcançaremos. Os hermanos já descobriram isso a longo tempo, nos vencendo corriqueiramente, frente ao pétreo e inamovível corporativismo que se apossou do grande jogo (minúsculo para ele) desde quase sempre…

Ah, a equação – O sucesso técnico tático de uma equipe será diretamente proporcional ao maior ou menor domínio que seus componentes tenham sobre os fundamentos básicos do jogo.

Noves fora a festança irresponsável dos três…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV e Arquivo pessoal.

16 ANOS, ATUANDO E LUTANDO…

Hoje completamos 16 anos de existência, e o Basquete Brasil segue em frente, com ou sem quarentena, sem muito a discutir de um NBB que se repete, agora na entressafra das trocas e constituição das equipes, e como sempre, monocordicamente, trocando ¨peças¨ (nova designação dos jogadores), falhos e descartáveis para uns, aproveitáveis para comporem elencos para outros, numa ciranda que se repete a cada temporada, assim como a desesperada busca pelos milagrosos americanos, e um ou outro bom argentino disponível, ainda mais quando serão quatro os estrangeiros permitidos por franquia, tornando realidade o sonho dourado da maioria dos estrategistas de dirigirem (?) e liderarem (??) verdadeiros craques ao encontro de  fantasias emanadas de suas pranchetas mágicas e midiáticas, donos e proprietários das verdades técnico táticas que têm a mais absoluta certeza de possuírem, mesmo que batuquem uma mesma tecla ano após ano, mas que vingarão com novos contratados, bem sucedidos nos adversários, sem preocupações menores de ensinarem e treinarem os que se foram, párias que seguirão a sina dos deserdados das ferramentas básicas do grande jogo, seus fundamentos…

E La nave vá, sem rumo e esquecida, sem perspectivas de vislumbrar algo de novo, ousado, corajoso, presa a mediocridade endêmica que se instalou em nossa forma de ver, sentir e jogar o grande jogo, onde a volúpia autofágica dos três pontos, das enterradas monstros, dos tocos siderais, e dos cinco abertos, brilham nas coberturas e narrações ¨indecentes¨, e nos comentários  mais voltados ao social e político, do que uma simples e objetiva análise do jogo em si, como numa sala de espelhos, onde as figuras e comportamentos são imitados de forma idêntica, sempre e sempre iguais, repetições e plágios de uma padronizada formatação, sustentáculo do corporativismo a que pertencem…

Sobra uma NBA insípida, destituída de veracidade frente a realidade mundial, onde jogadores conquistam 30/40 pontos em partidas que perdem, assim como outros com  doubles e triples perdendo também, numa competição cada vez mais individual, onde embates políticos e raciais se avolumam cada vez mais, dentro de um padrão milionário a que tudo releva, exatamente pelo poder dos valores envolvidos nas disputas, e que se vêem furtivamente emulados, sem as mínimas condições econômico sociais, pelo nosso basquetebol tupiniquim, fazendo-nos esquecer e abandonar nossos reais valores e tradições, que nos fizeram grandes num passado não tão distante assim, hoje cópia canhestra e lastimável da hegemônica matriz…

Mal temos boas escolas funcionando, com o perigo real de se verem transformadas em escolas militarizadas, com oficiais de polícias militares lecionando valores discutíveis e perigosos, com seu didatismo pedagógico antagônico àquele adquirido nas escolas superiores de educação das universidades nacionais, onde a ausência de uma política nacional de educação generalista, com as disciplinas formais se coadunando com as artes, ofícios e desportos se perdem num emaranhado de indecisões e má vontade política, que é o arcabouço  da educação plena nos países desenvolvidos, matéria prima do desporto americano e europeu, fornecendo gerações de jovens educados, bem iniciados e melhor treinados nos fundamentos básicos artísticos e desportivos, na contramão direta do que fazemos com nossos infelizes jovens…

Nossa base inexiste, pois longe das escolas, das universidades, vingando um pouco em alguns clubes, onde a profissionalização precoce leva muitas vezes a graves distorções, inclusive comportamentais. Sem base existente de forma alguma poderemos sequer pensar em rivalizar com países mais desenvolvidos, quiçá uma NBA, ou persistem duvidar dessa realidade? 

A partir do próximo artigo darei início a ECB, Escola Carioca de Basquetebol, com cursos pela internet, através um site aqui agregado, através a Arteducação Empreendimentos Artísticos e Educativos, pequena firma pertencente a minha filha Andrea Raw e a mim, onde abordarei desde os fundamentos até a formação de equipes, numa experiência adquirida em mais de 50 anos de trabalho junto ao grande jogo, tendo os mais de 1600 artigos aqui publicados nesse humilde blog, como textos de consulta e estudo, que já são de conhecimento de um vasto público espalhado nesse imenso, desigual e injusto país…

Amém.

Fotos – Arquivo pessoal.

ANOS LAMENTAVELMENTE PERDIDOS…

TRISTE, MUITO TRISTE…

Em 2013 escrevi e postei o artigo O Prodígio, que sugiro fortemente que o leiam, antes de prosseguir a leitura do artigo que hoje posto. E o por que da sugestão, senão pelos fatos irrefutáveis de que nada, absolutamente nada mudou no cenário pobre e carente do basquetebol nacional, apesar dos “altos” investimentos em tecnologias midiáticas, televisivas, patrocínios e parceria com uma NBA voltada muito mais aos seus interesses econômicos e comerciais, do que realmente ajudar a mudar a mesmice técnica da parceira tupiniquim, decidida e servilmente submetida às migalhas da matriz, e sabedora incorrigível de que os parâmetros financeiros da mesma são e serão irremediavelmente inalcançáveis por uma modalidade desportiva que mal sobrevive em um país que não desenvolve e apoia sua cultura e educação, quanto mais desportos…

(Pausa para a leitura)

Bem, para os que leram ou não, pergunta-se – O que não mudou? Estamos em 2020 e o artigo é de 2013, depois de um Pan Americano, e três anos antes de uma Olimpíada, que para o basquetebol foi trágica, com a equipe feminina derrotada em todos os jogos, e a masculina eliminada pela rival argentina. De lá para cá, foram mais quatro anos da mesmice endêmica técnico tática de sempre, porém maquiada por feéricos espetáculos, transmissões com narrações apopléticas e ufanistas, comentários fora da realidade, e acima de tudo, uma pobreza técnica pungente, onde nem a presença de muitos estrangeiros aufere benefícios, frente a dura realidade de que vigora no âmbito da maioria esmagadora das equipes do NBB, a “filosofia” dos cinco abertos, da autofágica sanha dos três pontos, e da mais absoluta e absurda ausência defensiva, fator alimentador dessa terrível realidade…

Terrível? Sim, e mais ainda quando brotam desse terreno inóspito um caudal de “filosofias” personalistas, na maioria copiadas sem referências autorais e bibliográficas, “lives” com palestras atulhadas de termos em inglês e conclusões estéreis e vazias de conteúdo, numa embromação que incomoda pela desfaçatez, assim como depoimentos históricos e personalistas, e nas poucas matérias técnicas, o cientificismo rolando solto, como a panacéia de todos os nossos males. Mas o buraco negro que nos engole sequer é cogitado de ser enfrentado, o salto a ser dado em nossa evolução técnico tática, que é decorrente da falência de um consistente preparo de professores e técnicos nos cursos superiores de educação física, cujos currículos das disciplinas desportivas foram esvaziados e minimizados pelas disciplinas da área médica, fator preponderante para a falência nos alicerces da pirâmide da formação de base, nas escolas e nos clubes, sem a qual, absolutamente nada alcançaremos para o soerguimento do desporto, e do grande jogo em particular…

No bojo cruel dessa pandemia, algo voltado a técnica deveria ter sido patrocinado pelas entidades que lideram e organizam o basquetebol nacional, dos princípios aos conceitos, da organização aos projetos formativos, do estudo ao compartilhamento da informação técnica e didático pedagógica, alimentando de conhecimentos e experiência todos aqueles que lutam e perseveram no ensino do basquetebol, situados nos confins deste imenso, injusto e desigual país, que sempre amou e prestigiou o grande jogo, mas que foi encampado por uma corriola oportunista e político interesseira, que se corporativou e se estratificou muito além do bom senso, a ponto de expurgar todo aquele que se opuser a seus dogmas, onde a importância estratégica do contraditório é simplesmente omitida, ou mesmo, defenestrada…

Os problemas e as falhas apontadas no artigo em questão são, após sete anos, os mesmos de hoje, como uma ou outra raridade inovadora rapidamente afogada, expurgada de um meio totalmente voltado a um sistema de ensino, preparo e aplicação prática, solidamente padronizado e formatado, formando e moldando “filosofias” definidoras do basquetebol que nos tem arruinado de vinte cinco anos para os dias de hoje, e o pior, sem indícios minimamente aceitáveis de que irá evoluir para melhor, lamentavelmente…

Que os deuses em sua magnanimidade nos protejam…

Amém.

Foto – Reprodução da TV.

O GRANDE GERSON…

Em junho de 2012 postei um artigo sobre o grande pivô Gerson Victalino, que fora vítima de uma enorme e injustificável injustiça, que calou fundo no ambiente desportivo brasileiro, republicando-o, pois também se reporta à sua espetacular presença no Mundial de 1986 na Espanha…

Ontem perdemos o formidável jogador aos 60 anos, deixando seus admiradores órfãos de uma personalidade impar, humilde e acima de tudo guerreira, muito pouco reconhecido e prestigiado pelo alto comando diretivo do desporto brasileiro, como quase sempre acontece…

Vai deixar grandes lembranças o grande Gerson Victalino.

Amém.

GERSON…

sábado, 16 de junho de 2012 por Paulo Murilo13 Comentários

Estava em Portugal fazendo meu doutoramento em 1986, e ali do lado, na Espanha, transcorria o Campeonato Mundial de Basquetebol, com a grande presença da equipe brasileira. Meus estudos não permitiam que lá fosse assistir a competição, mas a acompanhava através os jornais e a TV.

E foi uma caminhada brilhante a da nossa seleção, com atuações coletivas inesquecíveis, e algumas contundentes presenças em quadra por parte de jogadores que defendiam uma tradição de qualidade histórica em nosso país, e que acima de tudo amavam defender sua gloriosa camisa, sem protelações, recusas, esquivas e interesses que não fossem os da seleção.

Um destes jogadores se elevou ao máximo de sua posição, o grande pivô Gerson. Reboteiro inigualável sucedeu o inesquecível Ubiratan, pelo poder defensivo, pela dedicação, pelo amor ao grande jogo. Rivalizou e superou jogadores como Sabonis, David Robinson, Wiltger, tendo ao seu lado outro mito nos rebotes, o Israel.

Terminou o Mundial como o maior e mais eficiente jogador na difícil e altamente especializada arte dos rebotes, com brilho e poder.

Na quarta feira passada, o grande jogador foi retirado do recinto onde a seleção olímpica treinava por ordem de um técnico estrangeiro. Lamentável, vergonhoso, constrangedor.

Mas quem sabe, talvez mereçamos, por nossa omissão e subserviência.

Amém.

Fotos – Reproduções. Clique nas mesmas duplamente para ampliá-las.

Link do artigo original com fotos mais definidas-http://blog.paulomurilo.com/2012/06/16/gerson/

13 comentários

  • Douglas – SP
  • 18.06.2012
  • E nessa época, infelizmente pivô brasileiro só conseguia se destacar na defesa e pegando rebotes resultantes dos quatrocentos mil arremessos do mala do Oscar em cada partida. Aliás, hoje em dia as coisas não são muito diferentes.
    Quanto a situação pela qual o Gérson passou, é realmente triste e lamentável.
    Esse é um dos problemas em se ter um técnico estrangeiro. Para ele não importa quem construiu a história do basquete aqui, creio que ele nem sabe quem é o Gérson.
    Não importa a situação das categorias de base no país, naturalizando estrangeiros sem um pingo de identificação tudo se resolve (uma tremenda de uma trapaça que dificilmente ele aceitaria na seleção Argentina).
    Não importa se os jogadores atuais são comprometidos com a seleção. O negócio do Magnano é receber o salário, convocar os medalhões e com isso se eximir de qualquer responsabilidade por qualquer fracasso que possa vir a acontecer.
    Considero o Magnano um baita treinador, mas não goste desse jeito sargentão dele.
  • Rodolpho
  • 18.06.2012
  • Menos, pessoal. Bem menos.
  • Douglas Gaiga
  • 18.06.2012
  • Olá, professor.
    Nesse caso, houveram erros dos dois lados.
    Lado da CBB, e, sem sombra de dúvidas, o mais grave: Sequer alguém conhecer a imagem de um atleta de mérito, que muito fez à seleção e que representou a entidade em um passado bem pouco remoto. Sinceramente, eu mesmo não o conhecia, possuia apenas 1 ano de idade quando ele fez tudo que foi descrito pelo nosso professor Paulo Murilo. As referências do passado são poucas. E, se a CBB não lembra sequer dos títulos mundiais do passado, não dá para esperar nada diferente disso com os ex-atletas.
    Lado do ex-atleta: Poderia ter se comunicado previamente com a esquecida entidade, refrescando a memória de sua participação na seleção, e que, humildemente, gostaria de conversar com os atletas atuais, dando data e horário de sua visita. Infelizmente, teria que ser assim. Não deveria, mas é a triste realidade.
    Abraços, professor.
  • Basquete Brasil
  • 19.06.2012·
  • Prezado Douglas, muito além da dureza que podemos externar sobre um assunto tão delicado como este, devemos nos ater prioritariamente às origens do mesmo, a grande omissão dos técnicos quanto ao associativismo relegado desde sempre entre os mesmos, e por conseguinte o nascedouro de tantos desencontros e equívocos. Somos, talvez, o único país com um passado tão brilhante no grande jogo, que não tem em sua organização a presença de uma associação de técnicos atuante, técnica, forte e progressista. Esse indesculpável hiato, origina todo um processo corporativista de uma minoria atuante e retrógrada, que impõe a triste realidade que nos esmaga e humilha, nas duas últimas décadas de um basquete mais retrógrado ainda.
    Um abraço, Paulo Murilo.
  • Basquete Brasil
  • 19.06.2012
  • Mas o suficiente, prezado Rodolpho, infelizmente.
    Paulo Murilo.
  • Basquete Brasil
  • 19.06.2012
  • Nada justifica esse desconhecimento, principalmente por parte da gestora maior do basquete no país, prezado Douglas Gaiga, nada, absolutamente nada.Essa é a verdade.
    Um abraço, Paulo Murilo.
  • Ricardo
  • 19.06.2012
  • Sobre as figuras –> realmente sensacional a tabela dos rebotes!
    E também o comentário ao lado da figura de baixo “El juego brasileno se basa en gran parte en la capacidad reboteadora de sus jugadores….”!
    Tomara voltemos a ter algo similar com essa safra de pivôs que temos atualmente (incluindo os diversos jovens).
  • Basquete Brasil
  • 19.06.2012
  • Foram grandes tempos aqueles, prezado Ricardo, que ainda custarão um bocado para serem resgatados, pois havia um sólido trabalho de base nos clubes e colégios também. Hoje, buscam-se “nomes”, como artigos prontos a usar, assim como prontos para serem descartados se não atenderem aos rogos e padrões dos estrategistas. Formar, corrigir, ensinar, desenvolver, pouco e insuficiente é feito, a não ser esperarem que nossos jovens partam e voltem do exterior com a “experiência internacional” tão valorizada pelos mesmos, a fim de garantirem suas capitanias hereditárias, seu corporativismo mafioso, seus nichos salariais impenetráveis. Enquanto perdurar essa barreira, dificilmente cruzaremos as fronteiras do progresso do grande jogo entre nós.
    Um abraço, Paulo Murilo.
  • Giancarlo
  • 20.06.2012
  • Olá, professor,
    Não sei se o senhor teve a oportunidade de ver os jogos da Seleção Sub-18 no site da FIBA Americas.
    Foi um bom resultado contra o Canadá, vaga na final garantida.
    Só me preocupa um pouco o oba-oba generalizado e instantâneo. Até compreendo: para quem sofre diante do Paraguai, eliminar um badalado time canadense talvez pareça, realmente, histórico. Já estamos agora elevando um garoto de 16 anos, franzino que só, ao patamar de A Próxima Esperança.
    Mas não custa lembrar dois ou três resultados recentes (quarto lugar no Mundial de Paulão, aquele vice do continente com Lucas Bebê) que em absolutamente nada condizem com nossa realidade aqui.
    Publiquei agora há pouco um texto sobre nosso armador, Deryk, de Limeira. Estamos vencendo sob sua liderança. Já virou “herói” por ter feito uma bola de três contra os canadenses no fim, sendo que tinha 2/9 em aproveitamento até então, ignorando a própria Grande Aposta brasileira.
    “Em quatro jogos da Seleçãozinha na Copa América, há um claro divisor nos números do armador. Contra México e Ilhas Virgens, ele acertou 11 de 24 arremessos no geral (45,8%), oito de 15 na linha de três (53,3%). Contra EUA e Canadá, aproveitamento despencou para 7 de 27 (25,9%) e 4 de 16 (25%), respectivamente. Em média, Deryk arremessa 12,5 vezes por partida para um total de 15,0 pontos e 3,25 assistências. ”
    Seguimos formando reizinhos, mas tenho notado cada vez mais na rede uma empolgação suprema com o estado das coisas. Por não compartilhar dela, acabo enxotado para o time dos pessimistas por natureza, dos que torcem contra, dos que sabe-se-lá-o-que-se-pode-definir-pela-lógica-deles.
    Amém, professor, amém.
    Um abraço,
    Giancarlo
  • Basquete Brasil
  • 21.06.2012
  • Giancarlo, esbocei um artigo sobre o jogo do Brasil com o Uruguai pelo Sul Americano, assim como consegui ver o jogo final do Sub 18 pelo computador, apesar das interrupções, e para ser franco, deletei o que havia escrito, e sabe porque? Nada teria a acrescentar do que já venho a anos escrevendo, publicando, me indignando…
    Afinal, o que poderia escrever a mais do que você publicou exemplarmente, o que mais?
    Restou somente o silencio sobre o curso nivel III da ENTB, cuja finalidade era a de provisionar a turma que dirigirá a LDB, quando cursos nivel I é que deveriam ser prioritários (Cursos de verdade, e não reuniões comentadas). Aliás, um curso nivel III de 4 dias está de bom tamanho para formar estrategistas… Técnicos? Jamais.
    Mas, depois da pequena catarse, e olha que já são 3hs da madrugada, me deu vontade de publicar algo a respeito, mas como Scarlett O’Hara na última fala de O Vento Levou- “Amanhã, pensarei algo a respeito…”
    Um abraço, Giancarlo. Paulo.
  • Lucy Silva
  • 21.06.2012
  • Professor eu estou tão revoltado como o nosso mão santa Oscar,
    o que é tão grave que além da CBB não tentar se retratar pedir desculpas pelo mau que fez ao nosso grande Gérson, e com isso a todos nossos ex grandes jogadores que passaram pela seleção, porque poderia acontecer com qualquer um deles, qualquer um ex técnico, e até com o senhor, é que muitos mais muitos mandaram mensagens no facebook para a CBB, twitters, e-mails, reclamando disso,
    e a CBB, não digitou nem um ‘a’, fingindo de surda, ela está desprezando, menosprezando, não tá dando a mínima, fazendo pouco caso , indiferença, sabe quando você fala com uma pessoa e essa não olha para você, não te responde, olha no vazio e finge que a pessoa não existe,
    isso que a CBB está fazendo nas reclamações de todos no caso Gérson,
    vergonhosa Gestão,
    burra Gestão,
    nem o Grego era Burro assim,
    agora tem um campeonato nacional 3X3 da CBB no Rio em um ginásio e um campeonato 1×1 patrocinado por uma empresa americana que será no Aterro do Flamengo e leva o vencedor a São Paulo e de lá para Alcatraz-USA, não é que a CBB mudou do dia 01/08 para justamente dia 08/08 o campeonato adulto, justamente no dia do campeonato da empresa americana,
    e agente reclama com ela, como é que pode fazer uma coisa dessas, e a CBB tá fingindo que nós não existimos no nosso questionamento tipo caso Gérson,
    deixa ela que ela vai ver,
    fizemos uma enquete num grupo de facebook de basquete no Rio de Janeiro,
    qual campeonato você prefere ver, assistir dia 08/08, o 3X3 da CBB ou o 1×1 King of the rock basketball no aterro,
    é uma grande surra que a CBB tá levando na enquete,
    a CBB despreza o torcedor do basquete,
    despreza bem,
    porque dia 08/08 torcida lá no campeonato dela vai praticamente ser só dos familiares dos envolvidos no evento,
    infelizmente essa Gestão terá apoio quando começar as olimpíadas das Tvs, muito grande da Globo, e aí o que se passa na mídia não é a realidade que está dentro dessa instituição, a maioria do população que se mobiliza nas olimpíadas para torcer pelo Brasil não saberá o que lá dentro está ocorrendo.
  • Lucy Silva
  • 21.06.2012
  • corrigindo o campeonato é dia 08/07(julho) e não 08/08
  • Basquete Brasil
  • 22.06.2012
  • Respeito sua indignação, prezada Lucy, mas se mantenha sempre num razoável grau de frieza na observação e constatação dos fatos, a fim de poder contribuir com sugestões que possam vir a contribuir para a redenção e soerguimento do grande jogo no país. Acredito que dias melhores hão de vir, com certeza.
    Um abraço, Paulo Murilo.

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A ENDÊMICA CEGUEIRA…

Quarentena a todo vapor, saída para vacina contra a gripe cercada de todo um aparato de guerra, máscara, assepsia ao sair e voltar, e sem sair do carro, mas ao final do dia, caramba, um momento simples de curtição gastronômica, frente a uma pizza e um cálice de um bom tinto português, compensando um pouco o afastamento social a que todos estamos submetidos, apesar de reféns dos descompassos governamentais a que assistimos incrédulos, ante tanta insensibilidade com a saúde de um povo sofrido e abandonado em sua grande maioria…

Porém, mesmo paralisado pela grave crise que nos assola, o grande jogo ainda nos reserva insuspeitadas surpresas, como as saídas das equipes de Bauru e Pinheiros do NBB, fato inadmissível num incompleto campeonato, principalmente frente aos critérios econômicos e logísticos exigidos às franquias para o ingresso na LNB, aspectos que não justificam seu abandono sob qualquer ponto de vista, como o de Bauru, mais focado na próxima temporada, como se a atual, que mesmo adiada sem prazo determinado, poderá, ou não, ser concluída, oferecesse um confronto desigual com Mogi no playoff, resultado nada desejado pela franquia em questão, cujo plantel não conta com as “peças” desejadas, mas possíveis para a próxima temporada. No caso do Pinheiros, clube referência na formação de jogadores de ponta, é uma saída mais drástica, pois já vinha dando indícios de que sairia do NBB, mesmo contando com uma equipe competitiva dentro dos padrões técnico táticos das demais franquias, alinhadas ao sistema único de jogo, agora oficialmente referendado pela LNB na escolha através votação do quinteto ideal dos NBB’s, onde as posições foram definidas como armador, dois alas e dois pivôs, modelo básico do sistema único, em contraposição a dupla armação e três alas pivôs que, aos poucos, vem sendo desenvolvido e aplicado por umas poucas franquias, com inconteste sucesso. Como vemos, a liderança técnica encastelada na liga, determina ser esta a direção a ser continuada no basquetebol nacional, onde a inclusão da ” filosofia” do chega e chuta deverá ser mantida agora, e nos futuros NBB’s, afinal de contas, trata-se do “basquete moderno”, aquele que nos levará de volta ao concerto internacional, fato que, particular e conscientemente, duvido que consigam, sob quaisquer critérios que se possa analisar, infelizmente…

Trata-se de uma endêmica cegueira, gosmenta e pegajosa cegueira, que me fizeram postar alguns artigos neste humilde blog, um dos quais relembro agora, colocando-o no painel daqueles que nunca foram comentados, apesar da importância de seu teor contestatório e desafiador. Leiam-no se assim o desejarem…

Amém.

A INADIMISSÍVEL CEGUEIRA…

quarta-feira, 17 de outubro de 2018 por Paulo MuriloSem comentários

Olhando com cuidado e muita atenção a página inteira do O Globo ai do lado, fico imaginando o que estão fazendo com o basquetebol brasileiro, proposital e cirurgicamente, destinado-o ao comezinho papel de “poste”(está na moda…) virtual e presencial de um outro jogo, de uma liga que sequer prática as regras internacionais, dimensionada à estratosfera de um poder econômico brutal, e um suporte técnico lastreado por uma formação maciça de base em suas escolas e universidades, numa contraposição devastadora frente a nossa realidade educacional, econômica e social, mas possuidora de um emergente mercado a bordo de seus 208 milhões de habitantes, onde um décimo de seus jovens, por si só, viabiliza investimentos em calçados, uniformes e apliques oriundos das franquias da turma lá do norte, e claro, de seus fiéis e colonizados prepostos abaixo do equador…

Honestamente, não vislumbro qualquer vantagem mínima nesse intercâmbio, a não ser para a turma lá de cima, amaciando nossos jovens na inoculação de seus princípios e metas a médio e longo prazos, onde o acesso às riquezas de seu interesse estratégico e político, se tornam factíveis na medida direta da maior ou menor simpatia e admiração de seus valores por parte de uma juventude torcedora da NBA, da NFL, e por que não, do MMA…

O basquetebol, sem dúvida alguma é o desporto mais consumido em todo o mundo, divulgado e estudado de forma científica desde sempre, e aquele que comporta a mais vasta bibliografia acadêmica e popular, o que justifica plenamente o imenso interesse político social dos irmãos do norte, principalmente na inteligente globalização que estabeleceram em sua liga maior, elencando cada vez mais estrangeiros em suas franquias multibilionárias…

Olhando com mais cuidado ainda me pergunto – o que representa o Le Bron, ou o Tom Brady para o nosso país, para nossos jovens, quando nenhum deles jamais poderá ter acesso ao seu status econômico e social jogando basquetebol ou chutando uma bola oval? Quem sabe trocando pancadas numa arena de MMA, como alguns patrícios que, inclusive, sugerem ser a modalidade adotada em nossas escolas…

Triste país, onde nem a direita e nem a esquerda deseja o povo educado. aquela para se manter no poder, esta para usá-lo como massa de manobra para conquistá-lo, como nos últimos desgovernos que nos lideraram, e que ainda teimam em manter o que aí está, vide a ausência dessa estratégica necessidade nos discursos dos que aí estão na reta final das eleições…

E no compêndio educacional e cultural de nosso imenso e injusto país, o grande jogo tem um lugarzinho no coração de nossos jovens, e daqueles que já o foram um dia, nas escolas, nos clubes, nos parques, e nas imorredouras imagens de um recente e brilhante passado, onde venciamos a todos, mesmo aqueles que agora nos impõem regras e comportamentos fora de nossa realidade, mas plenos da certeza de que, pelo poder econômico nos dobraremos a sua cultura e poder hegemônico…

Este é o padrão que está sendo estabelecido por uma liga associada a liga maior, aquela lá de cima, onde os negócios, os patrocínios e os master investidores semeiam a padronização, a formatação de um conceito de basquetebol antítese de nossa realidade de país carente daquele aspecto que tornam seus mentores poderosos, a formação de base, a massificação desportiva nascida na escola e nas políticas governamentais, nos destinando a feérica ilusão de um espetáculo dentro das quadras que raia ao ridículo atroz, em sua pobreza técnico tática e de formação de base, onde a média de erros de fundamentos, nessa versão 2018 da LDB, alcança os 35.9 por jogo, com partidas, como  UNI 71 x 85 Corinthians, com inacreditáveis 59 erros de fundamentos (29/30) !! E como nos primeiros quatro jogos da primeira rodada do NBB11, quando duas equipes perdem seus jogos arremessando mais de três pontos do que de dois (Paulistano 8/37 e Brasília 11/38), com um dos técnicos justificando –  Precisamos defender melhor. Tomamos bolas fáceis. Nós precisamos evoluir muito defensivamente. Isso é o que vai dar força para o time buscar os resultados. Porque com o poder ofensivo que nós temos, vai ser natural o nosso ataque desenvolver bem”- Terrível equívoco este, pois com tal desperdício de tempo e esforço com bolinhas em profusão (11/38), perdendo o jogo por um ponto, bastaria seguir a regra das continhas, trocando metade das bolas de três perdidas pelas de dois, quando venceria com alguma folga. Mas é claro que os jogadores tiveram o beneplácito do técnico na enxurrada de bolinhas, corroborando com a afirmação do mesmo sobre o “poder ofensivo” da equipe, ou não?

Felizmente, parece, ainda de uma forma um tanto tímida, que a hemorragia dos três pontos começa a ser estancada (inclusive na matriz) com contestações mais enérgicas e presentes no perímetro externo, o que será muito bom para o basquetebol tupiniquim, num momento em que as equipes embarcam seriamente na dupla armação, e investem em alas e pivôs atléticos, rápidos e flexíveis, mesmo que ainda falhos nos fundamentos básicos, tornando o jogo mais dinâmico, apesar de ainda muito longe da fluidez necessária para alçar ao patamar competitivo no campo internacional, fator este que exige um didatismo mais elaborado para o ensino e a aprendizagem da mesma, num processo pedagógico exclusivo de uns muito poucos profissionais ainda existentes no país, porém relegados ao ostracismo em prol de uma corporação de estrategistas, pouco ou nada interessada em modificar sua rentável e proprietária zona de conforto no restrito mercado de trabalho ora existente, onde o QI ainda impera absoluto…

E o mais instigante, é a irrefutável constatação, de que a origem de todo este movimento renovador tem sido proposital e politicamente omitido desde o NBB 2, quando iniciei junto ao Saldanha da Gama, com somente 49 dias de trabalho e 11 jogos disputados, tudo o que de forma rudimentar adaptaram no que aí está, demonstrados publicamente através os quatro primeiros vídeos completos de jogos daquela competição (hoje universalizados através redes abertas e fechadas de TV, Facebook e Twitter), nos quais todos aqueles avanços acima mencionados em conquistas técnico táticas foram divulgadas em 2010, bem antes das mudanças atuais, que estão sendo propagandeadas como as desencadeadoras do “moderno basquetebol”, mas que vem sendo copiadas e empregues sem o mais remoto reconhecimento de como, ou através de quem se iniciaram, numa canhestra apropriação, porém capenga e confusa, pois não conseguem penetrar no âmago de suas concepções, onde o didatismo acima mencionado se torna impenetrável para essa turma que se convenceu que o grande jogo nasceu junto com ela, esquecendo que desde o fim do século dezenove ele já existia, com a complexidade e a grandeza que desconhecem, e sequer se interessam em estudar, dando razão ao Alberto Bial em seu depoimento na matéria do O Globo reproduzida acima…

Mas duro mesmo é você testemunhar um ala pivô galardoado em seleções nacionais, a cinco segundos do final do jogo entre Corinthians e Franca, partir driblando de frente para a cesta, tentar uma finta com troca de mãos, perder a bola por pura inabilidade fundamental, dando adeus a uma possível vitória, numa condensação da dolorosa realidade em que lançaram o grande jogo, numa padronização e formatação absurda, quando inverteram com suas obtusas e midiáticas pranchetas e”filosofias” de jogo a prioridade dos fundamentos, substituídos e minimizados  pelo sistema único, num acordo e conluio inter pares, que nos lançou num poço que parece não ter fim, porém enfeitado e glamourizado com penduricalhos voltados aos poucos frequentadores das enormes e desertas arenas, também transformadas em rinhas de torcidas de camisa, onde o esporte cede vez ao pugilato e gratuitas agressões…

Fico por aqui, mas antes sugiro a leitura a seguir, de um blog de basquetebol de Joinville. elucidativo e revelador, pecando somente em não enfatizar os aplausos espontâneos de sua torcida pelas grandes jogadas da esquecida equipe do Saldanha (que podem ser ouvidos no vídeo), com seu basquetebol fluido e realmente apaixonante, executado por excelentes jogadores, nada valorizados ou mesmo bem remunerados, mas plenos da importância de praticarem um basquetebol proprietário e evoluído, o mesmo que tentam desde então copiar, sem no entanto reconhecer de onde vem o canto do galo. Se quiserem atestar o que aqui exponho, se aboletem na poltrona, curtam, aprendam, e se humildes forem, acompanhem os aplausos da torcida catarinense, num ginásio repleto e pulsante frente a uma forma inovadora de jogar o grande, grandíssimo jogo

Amém.    

Fotos – Reproduções da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

Vídeo – Arquivo particular.

Outros vídeos disponíveis no espaço Multimídia deste blog.

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O CORONABASQUETE…

Em tempos bicudos de coronavirus, eis que o NBB dá uma pausa sem data para voltar, que para muitos prejudicará as franquias, todas super aquecidas na competição, na hora próxima dos playoffs, onde apregoam estarem as mesmas no ápice técnico e tático, quando os jogos apresentam o máximo de emoções, de alta e refinada técnica, com jogos que nada devem às maiores ligas, afinal, “é um NBB como você nunca viu”, onde os craques nativos e os importados elevam o jogo a seu patamar superior, colocando-o ao lado do internacional, ao qual nada devemos, segundo a mídia auto proclamada especializada…

Ledo e comprometedor engodo, pois em tempo algum de nossa história basquetebolistica estivemos tão mal técnica e taticamente, estrategicamente então, sem comentários. Jogamos um pastiche de jogo onde o individualismo esmaga toda e qualquer tentativa coletiva, imperando o 1 x 1 mal jogado, pois peca pela ausência dos fundamentos básicos definidores dessa forma de atuar, modelada e divulgada por uma NBA, para a qual toda e qualquer burla aos mesmos deve ser consentida , para dinamizar e acelerar jogadores cada vez mais descompromissados com a correta utilização das regras, como as cada vez mais difundidas conduções de bola nos dribles, passadas a mais nos arremessos, bloqueios faltosos e carregadas violentas, sem falar nos cada vez mais distantes arremessos, em confrontos individuais por toda a quadra, onde o sentido grupal vem sendo celeramente mandado às calendas gregas…

Tudo aceito, deificado e divulgado por jogadores, muitos técnicos e uma mídia cada vez mais empolgada pelo novo modelo de basquetebol, estratosférico para muitos, autofágico para uns poucos, que teimam em retorná-lo ao coletivismo de origem, que o tornou no grande jogo…

Tal cenário se tornou o campo fértil para a formulação de equipes clones uma das outras, com jogadores andarilhos e repetitivos, seja  a equipe que se destinam, fruto de agenciamentos padronizados, dirigentes cumpliciados com o esquema, e técnicos ansiosos e saltitantes por americanos, que mesmo meia boca, ainda são melhores nos fundamentos individuais do que os nossos tupiniquins, até os mais deificados e  endeusados, por uma mídia mais voltada ao “grandioso espetáculo”, do que o jogo em si, que aliás, nada entendem…

Assistir um jogo da liga, é assistir a todos eles, clones técnicos e táticos uns dos outros, com as mesmas jogados, uma ou outra débil tentativa defensiva, haja vista a exponencial escalada dos placares, fruto da desvairada artilharia de três pontos, na qual ninguém marca ninguém, numa competição bestificada de quem chega e chuta mais, e mais, e mais, descortinando a arena adorada do batalhão ianque, e de alguns platinos, onde a “meteção de bola” paira muito acima de qualquer hieróglifo rabiscado em pranchetas tidas e havidas como mágicas, geniais, estratégicas, quando, representam na realidade, nada mais do que uma vitrine voltada a plebe ignara, como testemunhas vitais de um trabalho magistral…

No entanto, magistral deveria ser o trabalho criativo, evolutivo e ousado do treino, que se bem feito e realizado, dispensaria a teatralidade de beira de quadra e o enfoque enganoso de uma prancheta, substituídos pela postura centrada na ajuda naqueles sutis e furtivos detalhes de um jogo para ser pensado, jamais coreografado. Porém, como todo trabalho realizado ao largo da visão popular, já que restrito ao grupo a que se destina, torna-se necessário visualizá-lo publicamente, gerando os espetáculos circenses em que estão transformando o nosso indigitado basquetebol…

Mesmice endêmica técnico tática, engessamento estratégico, e autofagia proposital nos arremessos, fazem parte hoje do absurdo cardápio do basquetebol nacional, tornando-o fértil campo para empregar jogadores de últimas opções para ligas americanas, européias e asiáticas, mas que encontram na LNB uma boa saída para suas aventuras globais, e com um precioso bônus, a cumplicidade de estrategistas, torcedores fervorosos de seus “gatilhos mortais”, “tocos monstruosos” e “enterradas indecentes”, levando a reboque nossos calejados veteranos e deslumbrados prospectos, todos num barco a deriva pelo abandono do esforço coletivo, onde o individualismo exacerbado atinge as raias do inconcebível…

Precisamos reencontrar o coletivismo perdido nesse tsunami imoral e suicida, que em tempo algum nos guiará a novos rumos vitoriosos, pois sempre estaremos alguns passos atrás tática e tecnicamente dos países que professam e veem um basquetebol habilidoso individual e coletivamente, e que destinam as defesas como prioridades no desenvolvimento binário do grande jogo, ou seja, a cada evolução tático ofensiva, é gerada outra de caráter defensivo, alternada e ciclicamente, elevando tecnicamente o grande jogo, e não mudando-o, como alguns deslumbrados contritos profetizam…

Enfim, a parada forçada pela ameaçadora virose, poderia vir a ser, com os devidos cuidados com a saúde, uma excelente oportunidade de introspecção e recriação de um basquetebol perdido para o culto estelar, voltando-o ao treino dos fundamentos individuais e os coletivos, tão ausentes nas franquias da liga, ao reaprendizado defensivo, isso mesmo, reaprender a defender, que é uma técnica elaborada e difícil, desencadeando com sua aplicação enérgica e sempre presente dentro e fora do perímetro, o sentido coletivista para vencê-la, nosso maior e mais poderoso óbice na prática do grande jogo, servindo de exemplo aos iniciantes, aos jovens de todas as faixas etárias. Será um tempo estendido, porém suficiente para mudanças que se fazem necessárias, como sistemas ambivalentes de ataque, que funcionem contra defesas individuais e zonais, indiferentemente, assim como ações equânimes dentro e fora do perímetro, e não essa hemorragia de arremessos irresponsáveis a que assistimos monocordicamente temporada após temporada, sem ser estancada deliberadamente, um crime hediondo contra o grande jogo, ou que foi grande um dia neste imenso, desigual e injusto país…

Amém.

Fotos – Reproduções da WEB.

O SUTIL GRANDE JOGO…

Ontem recebi um email com a seguinte mensagem – Paulo, boa noite. Você viu as estatísticas do jogo Facisa x Paulistano, com 28 de 80 bolas de três e 41 de 72 bolas de dois? Os times jogaram para 213 e 205 pontos. Ninguém marca ninguém.-

Confesso que daria um tempo as críticas que venho fazendo sistematicamente aqui nesse humilde blog sobre o carnaval ( é pouco, sim palhaçada…) em que estão transformando o grande jogo, mas a simples mensagem acima, a primeira recebida após tantos artigos publicados a respeito, me encorajou a dar continuidade na divulgação e decorrente luta contra a insana autofagia que o vem esmagando e humilhando seguidamente…

Isso mesmo, caro leitor, sob a batuta (não a prancheta) de uma horda de americanos inteligentes e razoavelmente habilidosos, que rapidamente se inteiraram da realidade de nossos geniais estrategistas, todos em busca dos famigerados “resultados”, não importando os meios para alcançá-los, desencadearam, seguidos de um ou outro “especialista” nacional e alguns bons jogadores platinos, a era do “chega e chuta”, institucionalizando-o pragmaticamente, onde o termo defesa fica de lado, aceito por todos, numa refrega descerebrada, mas repleta de “grandes emoções” sacudindo entranhas de torcedores, dirigentes, estrategistas ensandecidos de beira de quadra, e principalmente, uma mídia absolutamente ignorante do que venha a ser o grande jogo, onde as pouquíssimas exceções se perdem nas vãs tentativas de comentar e analisar um jogo totalmente diferente daquele que é transmitido aos berros, com menções e palavreado de duplo sentido, ufanismo descabido, palavrões, mascarando o que não enxergam, por não entender, a representatividade de um genial desporto, meca de decisões inteligentes e criativas desde sempre (fatores que passam muito ao largo das prosaicas, ridículas e midiáticas pranchetas), onde a improvisação consciente atinge o incompreensível para todos eles, ou quase todos, vamos ser justos…

O resultado de tanto obscurantismo temos visto e testemunhado na grande maioria de nossos resultados internacionais, em todos os segmentos, masculinos e femininos, quando nos deparamos de frente com equipes nacionais que professam um outro tipo de grande jogo, aquele fundamentado numa base sólida e responsável, nutrindo equipes em permanente evolução, a luz dos verdadeiros preceitos do esporte, da educação, da cultura enfim, e não esse pastiche bolorento que nos impingem ano após ano, décadas de liderança de um corporativismo sem vergonha e criminoso…

No jogo em questão atingimos a marca de 28/80 bolas de 3, e 41/72 de 2 pontos, e mais cedo do que pensamos atingiremos as 100 bolinhas mágicas e salvadoras de 3 pontos, aquelas incensadas e suplicadas por comentaristas e narradores a serviço de uma hecatombe que nos lançará no Guinness da incúria e da estupidez, é só aguardar mais um pouco, um pouco, um pouco…

Um dia antes pensei em assistir um jogo do Bauru, pois me aguça a idéia de ver uma equipe sair um pouco da mesmice endêmica que nos assola, mas qual nada, tive de retroceder, pois dividindo a tela com os jogadores, um cara de boné bradava aos céus uma narração escalafobética, ininteligível, e o pior, sem um botão ou comando em que eu pudesse me desfazer da insigne intromissão televisiva, me obrigando a seguir a sugestão de um twitter na coluna do lado que dizia – Se não está gostando, mude de canal”-, que foi o que fiz contristado por não poder assistir um pouco das novas idéias sistêmicas da equipe paulista…

Finalmente, consegui assistir o jogo do Flamengo na Argentina contra o Córdoba, quando a equipe carioca começa a ensaiar um modo de atuar, contando com a já costumeira dupla armação, agregando uma movimentação interna mais atuante de seus alas pivôs nas curtas distâncias, onde o pivô Vargas destôa por sua baixa velocidade ofensiva, porém com boa presença defensiva, principalmente nos rebotes, travando bastante, quando em quadra,  a proposta de livre trânsito no perímetro interno platino por parte de uma equipe que aos poucos, descobre que o jogo de proximidade de seus bons e ágeis homens altos bem dentro das defesas adversárias, em muito evoluirá, na medida em que muitas de suas longas bolas de três deem preferência ao jogo interno, mais preciso e eficiente, pois de 2 em 2 também se vence jogos com placares dilatados, pela otimização lógica das muitas bolas falhadas na festança de uma artilharia estatísticamente inferior, em todos os sentidos (foram perdidas 21 tentativas de 2 pontos e 23 de 3, de um total de 13/34 e 9/32 respectivamente, assim como os argentinos obtiveram 18/39 e 3/26), bastando que seguissem as continhas primárias de substituírem metade das bolas de 3 falhadas, no caso 11, por tentativas de 2, onde estavam absolutos, para vencerem com muita folga aquele, e quem sabe, futuros jogos, numa evolução técnico tática de relevante bom senso, exemplificando para as futuras gerações de jovens uma atitude diametralmente oposta a que se instalou em nossa forma de atuar, tornando-a medíocre e  previsível, logo facilmente contestada e defensável, para gáudio de nossos adversários na esfera internacional, muito mais evoluídos nos fundamentos básicos individuais e coletivos, onde a defesa é aspecto prioritário em sua forma de jogar…

Equipe juvenil do CR Flamengo – 1965

Quem sabe me anime continuar a assistir o “NBB que você nunca viu”, com todos os jogos veiculados pela TV e Internet, morto de saudades de um tempo em que percorria quadras e ginásios para, ao vivo, sem narradores e comentaristas como a maioria que aí está, testemunhar jogos de alta qualidade, aquela que nos brindou com três títulos mundiais e quatro medalhas olímpicas, também colaborando humildemente no preparo de grandes jogadores, de maravilhosos cidadãos, ensinando, preparando e treinando-os nas duras competições, nos jogos e na vida, através o grande, grandíssimo jogo, com seriedade e sacrifício, jamais com palhaçadas, de quem, no fundo, bem lá no fundo, o odeia por não ter acesso a sua sutil e magnífica grandeza…

Amém. 

Fotos – Reproduções da TV. Desculpem a qualidade, meu editor de imagens apresentou falhas, que serão corrigidas.

MITIFICAR, MISTIFICANDO II…

E não deu outra de novo, cópia xerox da primeira partida, na repetição monocórdia de erros contabilizados de fundamentos (29/30), e outros relevados pela arbitragem, vide as constantes “carregadas” de bola do Yago nas mudanças de direção ao driblar excessivamente, no estilo “enceradeira”, seguido pelo George, e o Parodi do lado de lá, infração que é punida lá fora regularmente, mas não aqui, em prol da extrema habilidade de nossos armadores, não tão hábeis assim, pelo menos frente às regras do grande jogo…

Na artilharia insana promovida por ambas as equipes (25/70 na primeira partida, 26/71 na segunda nos 3 pontos, assim como 27/48 e 28/57 respectivamente nos 2 pontos), convergindo escandalosamente, sem freios ou limites, e claro, sem contestações de nenhuma ordem, onde a 48 segundos do final do último quarto, vencendo o jogo por 1 ponto (68 x 67), com ainda 8 segundos de posse, uma bolinha errada de 3 foi perpetrada por um dos nossos qualificados especialistas, para um pouco à frente, faltando 8 segundos estando empatados (68 x 68), outro dispara mais uma, errando também, com 3 segundos ainda por jogar, levando o jogo para a prorrogação, quando em ambas as situações, o correto, o obrigatório, seria a tentativa pelos 2 pontos, penetrando fundo, quando a possibilidade factível de uma falta pessoal teria de ser considerada, possibilitando a vitória no tempo normal (vide as duas fotos acima). Mas não, nossos abençoados reis do gatilho, acobertados pela direção técnico tática que permite, incentiva e corrobora com tais escolhas, como se o grande jogo fosse, ou estivesse sob o signo imutável da precisão cósmica de suas perfeitas (?) empunhaduras, lançam a pera, como definem a insânia (foram 26/77 nos dois jogos), que, a cada dia se desnuda, como uma absurda e irresponsável maneira de coisificar e arruinar a mais bela e coerente modalidade dos desportos coletivos, individualizando-o egoísta, e egolatricamente…

Neste jogo, a equipe brasileira tornou a arremessar mais bolas de 3 do que 2 pontos (13/36 e 16/29, mais 12/15 nos lances livres), e a uruguaia idem (13/35 e 12/28, mais 13/22), sendo que dessa vez pegou um rebote a mais que a brasileira (38/37) quando na primeira partida levou um capote de 45/25, não vencendo a partida pelas falhas seguidas de seu bom, porém cansado e desgastado pivô Batista que cometeu 8 erros de fundamentos dos 16 de sua equipe…

Nossos armadores, aqueles que deveriam alimentar com suas habilidades intrínsecas os alas pivôs atuando dentro do perímetro interno, vem forçando a especialização na chutação de fora (1/13 e 6/21 nos dois jogos), por dois motivos. um pela formação aberta (o “espaçamento” milagroso, artimanha daqueles que não dominam os fundamentos de drible ambidestro e as fintas) da equipe a cada ataque, outra, decorrente, pois os homens altos vem para fora do perímetro, ou para ensaiarem frágeis bloqueios (simplesmente não diferem os interiores dos exteriores, vide as duas fotos acima, provocando faltas de ataque ao se movimentarem equivocadamente pelo desconhecimento em si), ou mesmo para eles mesmos tentarem as tão sacrossantas bolinhas, fruto de ausência contestatória, mitificadas e endeusadas pela mídia tonitruante e cúmplice do festim, mas claro, em nome das emoções desencadeadoras do “você nunca viu nada igual”…

Então resta a tremenda dúvida, um doloroso impasse caindo no colo croata para selecionar a equipe para o importante pré olímpico que se avizinha, frente a duas realidades, uma, a dos mais experientes que atuam lá fora, com os da NBA lustrando os bancos (quando mudam de roupa) de suas equipes, jogando o mínimo de tempo possível, ou cedidos a equipes conveniadas de qualidade técnica inferior, e os que atuam em outras ligas europeias, com uma ou outra exceção, jogando por mais minutos, e outra, a dos veteranos que aqui atuam duelando no desenfreado “chega e chuta” com americanos e argentinos, que inteligente e rapidamente assimilaram a proposta midiática que clama por bolas “indecentes” de três, tocos e enterradas de “sacanagem”, colimadas com narrações e comentários f*…s, e daí para pior, se não acordarem do extremo ridículo a que também estão lançando nossos jovens talentosos, porém ainda muito aquém da genialidade interesseira que imputam aos mesmos…

Porém, temos de lembrar que todos os convocáveis, daqui e lá de fora, experientes e convenientemente rodados, ou não, atuam dentro do sistema único, fator altamente limitador quando enfrentamos equipes utentes do mesmo, porém com fundamentação técnica mais evoluída, tornando-os superiores nos confrontos individuais e coletivos, pela mais acurada leitura de jogo, que sob a ótica de uma engenharia reversa, os dotam da capacidade antecipativa sobre jogadas que dominam com perfeição, principalmente por desenvolverem defesas engajadas anos a fio no âmago daquele sistema…

Resta, no entanto, uma única porta de saída, de evolução, a busca de um sistema diferenciado de jogar, ofensiva e defensivamente, que se incutido nesses promissores jovens, realçando seus fundamentos básicos, acompanhados de alguns jogadores mais experientes e receptivos a novos caminhos, fazendo-os atuar de forma proprietária de algo somente seu, fator que poderia inverter leituras de jogo por parte de seus adversários, confundindo-os pela inversão de algo que dominam mais do que nós. Por isso, se torna urgente, sensato, inadiável, a começar pela base, o início de uma nova perspectiva de aprender, treinar, sentir e atuar no grande, grandíssimo jogo, e não nesse doentio marasmo em que se encontram, tentando demonstrar em quadra os devaneios advindos de pranchetas descerebradas e toscas, onde a criatividade e a improvisação consciente, cede espaço a mediocridade, ao arrivismo e a aventura irresponsável, principalmente quando punhos são cerrados pela conversão de uma improvável bola de três, depois de muitas tentadas, originando vitórias no áspero, porém condescendente  terreno de casa, bem diferente dos bem defendidos e contestados lá de fora…

Jamais perderei a esperança de ver nossos jovens jogarem o bom basquetebol, na defesa, no ataque, nos fundamentos individuais embasando os coletivos, lendo e pensando o grande jogo, sendo muito mais jogadores do que atletas puxadores de ferro, originando “pesquisas” que nunca vem ao público que pensam ignaro, que dominem, por conhecer profundamente, sua ferramenta de jogo, a bola, o seu comportamento técnico e tático, assim como de seus companheiros, pedindo e ajudando nas falhas comuns, e aplaudindo quando todos, uníssona e coletivamente cumprem um bom projeto de equipe, ao lado e sob a responsabilidade de professores e técnicos de verdade, e não… Ora, deixemos de lado, pois quem sabe, um dia lá chegaremos, pelo mérito, e não pelo Q.I. politico e corporativo…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV.

MITIFICAR, MISTIFICANDO…

E não deu outra, o croata teve de assistir sua equipe cometer a façanha de arremessar 16/21 bolas de 2 pontos, e inenarráveis 13/41 de 3, vencendo uma fraca equipe uruguaia por 83 x 72, que pelo seu lado concretizou 11/27 e 12/29 respectivamente, numa agressão ao grande jogo, quando ambas perpetraram uma convergência de 26/48 nos 2 pontos, e 25/70 de 3, fruto da mais absurda ausência defensiva de ambas, como num convescote de compadres, onde o último a chutar lá de fora apagasse a luz e fechasse a porta de uma arena paranaense vítima de um engodo em nenhum momento disfarçado…

Mesmo assim, a turma cisplatina apertou a seleção, mesmo apanhando 20 rebotes a menos (45/25), cedendo a vitória no quarto final, quando visualizei  constrangido os punhos croatas se cerrarem na comemoração de uma bolinha lá de fora do ala Demétrio, folgando o placar nos 7 pontos. Realmente preocupante o que essa jovem turma promete desenvolver daqui para diante, se não for orientada ao jogo coletivo, pensado, lido com perspicácia e atenção, melhorando substancialmente seus fundamentos (foram 16 erros contra 13 dos uruguaios), principalmente aqueles que conotam tecnicamente os arremessos, numa equipe onde os três armadores chutaram 1/13 nas bolas longas (Yago 0/4; Luz 1/6 e George 0/3), os alas 10/24 e os pivôs 2/4, numa equipe em que nove jogadores dos doze, se consideram especialistas nos 3 pontos, e logo onde, numa seleção nacional, claro, autorizados por seus técnicos nos clubes de origem, três dos quais compõem a comissão assessora do croata, que a cada etapa do seu trabalho mais se aproxima do que ocorreu com seus antecedentes estrangeiros, ou seja, aderindo e aceitando um status contrário ao seu discurso inicial ao assumir a seleção…

Sem dúvida alguma, e de forma positiva, vem adotando a dupla armação, e convocando alas pivôs de grande mobilidade, porém, incoerentemente, frente ao seu vasto currículo de bom estrategista nas competições europeias, se mantém fiel ao viés da mesmice técnico tática que nos tem escravizado a décadas, com seu sistema único de caráter estanque, onde pontifica o extremo individualismo dos jogadores americanos que aqui aportam, sublevando todo e qualquer orientação de seus técnicos nacionais, atuando de forma independente, face ao seu preparo superior nos fundamentos, originando o norte da grande maioria de nossos jovens prospectos, cada vez mais afastados do coletivismo e o altruísmo colimador das boas equipes, e cada vez mais próximos do pseudo e fugaz estrelismo, patrocinado por uma mídia ufanista e imediatista, onde a mitificação precoce vem gerando de forma ascendente, falsos craques, de um mistificado “NBB como você nunca viu”…

Algumas fotos aqui publicadas nos últimos dez anos, praticamente são idênticas em sua aparência formal. mudando somente os participantes das mesmas, como as duas acima, onde a figura solitária de um pivô, combate, à sombra inerte de seus companheiros, uma defesa inteira, assim como a disposição inicial do famigerado sistema único, com seus cinco jogadores fora do perímetro interno, como se a proximidade da cesta adversária fosse uma zona proibida de ser ocupada, naquele que se constitui no erro mais trágico que uma equipe de alta competição possa cometer, a fuga dos pontos estatisticamente mais produtivos e coerentes, aqueles em que as técnicas individuais, a serviço do coletivo, vencem partidas, competições nacionais, e principalmente internacionais, onde a aventura irresponsável e comodista dos longos arremessos, fatalmente será contestada, estrategicamente contestada, e o nosso croata sabe muito bem disso, ou não?

Enfim, ou por fim, chegamos a uma encruzilhada, onde o bom senso tem a obrigação de se manifestar com força, determinação, e acima de tudo competência, conhecimento e humildade. Ou mudamos definitiva e estrategicamente nossa forma de jogar, de preparar a base, ensinando-a correta e tecnicamente o grande jogo, ou nos afundaremos comemorando de punhos cerrados por mais uma bolinha convertida, das cem (a continuar logo logo lá chegamos) absurdamente tentadas…

Que os já cansados e enfastiados deuses, nos orientem por mais uma vez…

Amém.

Fotos – Reproduções do You Tube/CBB