A PREDIÇÃO DE UM FORUM…
Muito se tem falado e comentado sobre sistemas de jogo nestes últimos tempos, e qual deles melhor se adequariam ao modo de agir, pensar e jogar do jogador brasileiro. São debates apaixonados e muito pouco ligados a uma evidência inquestionável, a de que discutem, como muito poucas variações, um sistema único de jogo, aqui implantado a mais de 20 anos, e continuado através uma difusão maciça, desde as categorias de base, até nossas seleções representativas, o sistema NBA, considerado o supra sumo das ações técnico táticas no universo do grande jogo.
Desde sempre discordei desse sistema, desse modo de agir e pensar o basquete, pois o mesmo se fundamenta numa realidade somente existente no basquete americano, com sua base voltada aos fundamentos e o sistema em si, através muitos milhares de praticantes nas escolas e universidades, e de modo parecido nos países europeus, com suas prioridades voltadas à educação, onde o desporto ocupa um lugar de primordial importância no processo da formação integral de seus jovens.
Ante tão profícuas e evidentes questões, nossa realidade se situa na contra mão daquele primeiro mundo, numa contundente constatação de que não possuímos e sequer dominamos um mínimo de conhecimentos básicos, não só no campo desportivo, como, e principalmente, no aspecto acadêmico em geral, nos situando, infelizmente, na situação de puros imitadores dos resultados finais alcançados por aquelas nações, sem os estágios probatórios das etapas necessárias por que passaram ao longo de décadas, como se o fato de pularmos etapas nos alinhassem aos mesmos nos conhecimentos e na produtividade, num ledo e triste engano.
Então, e no caso do basquetebol, discutir sistemas de jogo, dissociado da formação básica nos fundamentos, soa falso e sem propósito, já que sistemas, sejam lá quais forem, somente se materializam e exequibilizam quando têm como base sólida de apoio, o pleno domínio dos fundamentos, sem os quais perdem todo o sentido prático.
Portanto, desde muitos anos atrás, quando do preparo das muitas equipes que dirigi, o foco prioritário sempre foram os fundamentos, o pleno domínio dos mesmos, para todos os jogadores, fossem baixos ou altos, fossem armadores, alas ou pivôs, de equipes infantis ou de elite, todos, aprendendo de forma igual, com os mesmos requisitos e exigências, sem exceções, para mais adiante, optarmos por sistemas que melhor se coadunassem com as características de cada um, e não mergulhando-os num sistema único, padronizado e engessado a jogadas pré estabelecidas e coreografadas. E assim foi por longos 50 anos, apostando na capacidade que cada jogador se desenvolvesse no domínio, leitura e amor ao grande jogo.
Finalmente, em 2010 dirijo uma equipe na LNB, que por ser da elite despertou uma enorme curiosidade pelo fato de treinar fundamentos e jogar de “forma diferente”, quando na realidade o fazia fora dos rígidos e engessados padrões que nos impuseram nos últimos 20 anos, tanto em sua preparação baseada nos fundamentos, como no sistema de atuar com dupla armação e tripla atuação no perímetro interno, o que despertou alguns interessantes debates, como esse fórum que surpreendentemente descobri ao percorrer os muitos existentes no blog Draft Brasil – Um pouco de táticas e algumas reflexões – que apesar de não ser muito extenso, descobre uma forma não usual de discussão, pois situa o sistema por nós utilizado, numa possível utilização por equipes da NBA, sem mencionar como possível utente do mesmo aquela que veio a se sagrar campeã esta temporada, a equipe do Dallas, que se utilizou de um sistema correlato, cujos detalhes em muito se assemelhavam ao nosso, quebrando de uma vez por todas o rígido sistema da grande liga, num processo que teve no Coach K, quando da direção da seleção americana, vencedora do último mundial, o seu grande incentivador.
Vale a pena dar uma olhada no fórum, quando muito, para avaliarmos o quanto de positivo avanço técnico tático incrementou aquela grande equipe, no âmago do grande e portentoso basquetebol que praticam, ao mesmo tempo compararmos o que ocorreu com o “basquete diferente” desenvolvido pelo Saldanha no NBB2, varrido e jogado para baixo do tapete da história, como uma contravenção indesculpável e inimaginável dentro dos medíocres padrões que teimamos em seguir, disseminar, formatar e padronizar no país, muito mais agora através uma ENTB investida nessa tenebrosa e suicida continuidade, numa progressão aritmética que já alcança 490 técnicos graduados no nível 1 em 3 cursos de 4 dias, autêntico e dantesco recorde mundial, tendo antes graduado em seu curso inicial técnicos de nível 3, também em 4 dias. E pensar que estudo, pesquiso, ensino, divulgo e pratico o basquete a mais de meio século, e sequer imagino, por não me importar, o nível a que pertenço, já que me situo e considero um humilde professor e técnico, com muito ainda por aprender, e ensinar o grande jogo.
Amém.